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Lealdade, Humildade e Procedimento: 55 anos da Gaviões da Fiel 

Com início de resistência na ditadura militar, a torcida organizada ultrapassa as arquibancadas e atua em diversas ações sociais pelo “time do povo”

Por Guilherme Bianchi (guifavaro240306@usp.br) e Yasmin Constante (yasminconstante@usp.br)

No dia primeiro de julho, o Grêmio Gaviões da Fiel Torcida, a maior torcida organizada corinthiana, comemora o seu 55º aniversário. Desde 1969, o grupo apoia o Sport Club Corinthians Paulista, movidos com o ideal de dar todo o seu amor e apoio ao clube, dentro e fora dos gramados, seja em momentos bons ou nos de dificuldade.

Lutamos, vibramos, torcemos e seguimos todas as atividades esportivas nas quais o Corinthians esteja presente, procurando sempre colaborar com a mística corinthiana, seja um fator concreto de desenvolvimento moral e físico.

Gaviões da Fiel Torcida, em site oficial

Com sede localizada no bairro do Bom Retiro, zona oeste de São Paulo, local de criação do clube, a Gaviões da Fiel, além de torcida organizada, é uma tradicional escola de samba do estado. 

Como surgiram os Gaviões da Fiel?

A primeira discussão para a criação da Gaviões da Fiel aconteceu na garagem do avô de Chico Malfitani, um dos fundadores da organizada. Em entrevista ao Arquibancada, ele explica que os doze jovens presentes na reunião de criação do grupo eram amigos e frequentavam juntos o estádio, por isso a ideia de formar uma torcida organizada surgiu facilmente. Entre os presentes estava também Flávio Tadeu Garcia La Selva, o primeiro presidente dos Gaviões. 

Homenagem ao primeiro presidente da torcida organizada [Imagem:Reprodução/Instagram: @gavioesoficial]

Por mais que a data oficial de fundação da torcida seja em 1969, a união entre membros da torcida em prol do seu amor pelo clube começa em 1965, quando esses jovens se reuniam nas arquibancadas para reivindicar questões políticas sobre o Corinthians. O clube estava a nove anos sem conquistar um título e as medidas tomadas pela presidência não agradavam aos torcedores. 

Esse movimento de reivindicação aconteceu em um frágil momento político do país, a Ditadura Militar. Mesmo quando a liberdade de expressão era limitada, o grupo de torcedores não escondia sua posição ativa ao fazer parte das decisões internas do clube.

Danilo Silva, o “Biu”, como é conhecido o ex-vice presidente da Gaviões, revelou em entrevista ao Arquibancada acreditar que a torcida organizada do Corinthians foi o primeiro grupo do povo a se opor à ditadura, dentro e fora do clube. “A galera que estava [se opondo à ditadura] era importante, comunista e politizada. Nós não, nós é tudo pobre louco, favelado, analfabeto funcional mesmo, que mano entendeu e falou ‘opa, o inimigo é o ditador’.” 

No período, o clube tinha Wadih Helu como presidente, que impediu a criação da torcida por muitos anos. Em 1971, três anos após sua fundação, os Gaviões mostraram pela primeira vez sua influência dentro do clube: após XX anos, a chapa de Helu perdeu a eleição para a presidência corinthiana. O eleito foi Miguel Martinez, apoiado pela torcida organizada. Na visão dos Gaviões essa situação representa a queda de um ditador que estava à frente do clube, algo possível graças à torcida. 

Chico Malfitani, relata que em primeiro lugar a Gaviões da Fiel foi criada para apoiar o time, mas também para representar uma força política quanto à disputa pelo poder no clube. “O objetivo inicial era de apoiar o clube, ao mesmo tempo, fazer um movimento na arquibancada para dentro do clube para derrubar Wadih Helu, que estava há mais de 10 anos no poder, se perpetuava lá e usava o nome do Corinthians politicamente para se reeleger”. Ele acredita que esse motivo faz com que a Gaviões seja uma torcida organizada diferente das demais.

O mascote oficial do clube é o mosqueteiro, mas graças à sua principal torcida organizada, o gavião se tornou também um grande símbolo corinthiano. O animal foi escolhido por algumas características importantes, como voar alto, enxergar longe e não errar uma presa. “A gente era Gaviões da Fiel Força Independente, não existe um animal mais independente e forte do que o gavião, por isso que a gente adotou. Com o tempo ele foi tomando uma dimensão maior do que o próprio mosqueteiro, pelo próprio crescimento dos Gaviões. Nós já viemos para ser uma força”, explica Chico. 

O lema que une a torcida é “Lealdade, Humildade e Procedimento”, esses ideais podem representar bem o que faz a torcida ser famosa por ser a mais fiel. “Nascemos em um momento de desalento, quando até a torcida parecia não acreditar no Corinthians. Nós acreditamos sempre, por isso partimos para a luta. Uma luta que sempre existirá pois o ideal de perfeição é eterno”, diz o site da torcida. 

“Eu nunca vou te abandonar”

“A fiel não vaia. A fiel apoia os 90 minutos”, esse é o quarto, dos dez mandamentos do Corinthianismo. A torcida acredita que, acima de qualquer coisa, deva apoiar o time enquanto joga. As cobranças existem, mas acontecem fora de campo. 

A torcida corinthiana é conhecida como a mais fiel do futebol brasileiro por sua presença em momentos de dificuldade do clube [Imagem: Reprodução/Instagram: @corinthians]

“Não importa se está ganhando ou perdendo, sempre foi assim, não tinha essa coisa de vaiar time durante o jogo, historicamente você apoia e, quando o jogo termina, vai no clube protestar” afirma Chico Malfitani, o qual completa dizendo não apoiar os excessos dos torcedores quanto aos protestos, mas acredita que isso acontece pois os torcedores esperam que os jogadores demonstrem a “raça corinthiana”. 

O período em que a torcida mais cresceu foi durante o jejum corinthiano, 23 anos sem conquistar nenhum título despertou ainda mais desejo para que fosse possível gritar “é campeão!”. Em 1977, após a conquista do título paulista, a equipe já acumulava cerca de 6 milhões de torcedores.

Biu conta que um momento marcante na sua vivência como participante ativo da torcida organizada foi em 2007, ano em que o Corinthians foi rebaixado para a segunda divisão. Era a penúltima rodada, o Corinthians jogava em casa contra o Vasco e perdia por 1 a 0, enquanto a torcida cantava incansavelmente: “eu nunca vou te abandonar, porque eu te amo”. Ele ainda completa dizendo, “Aí veio do coração, a fiel cantou, foi inesquecível.”

“Corinthians minha vida, Corinthians minha história, Corinthians meu amor”

O amor marcado na pele [Imagem: Reprodução/Instagram: @corinthians]

Se apoiar o clube é o quarto mandamento, o primeiro não poderia demonstrar outra coisa que não fosse o amor. “Amar o Corinthians acima de qualquer resultado, partida ou jogador”, é o que ele diz. 

Até que ponto a paixão por um time de futebol pode moldar a sua história? Biu considera o Corinthians sua escola, e diz que é graças ao clube que hoje ele é professor. Explica seu raciocínio dizendo que desejava acompanhar todos os jogos no estádio, mas que para isso precisava de um emprego que lhe desse, além de um salário, flexibilidade para frequentar os jogos. Foi a partir disso que surgiu sua motivação para os estudos.

“Corinthians é a minha escola, mano. É o meu norte, a minha bússola, faz a gente fazer coisas que nem imaginava […] Olha a engrenagem que o Corinthians fez”

Biu, ex-vice-presidente dos Gaviões

O amor pelo Corinthians já fez os seus torcedores chegarem muito longe, como em 2012, do outro lado do mundo, quando a torcida se deslocou por mais de 18 mil quilômetros até Yokohama no Japão para acompanhar o que seria a segunda conquista mundial do clube. Ou até o Rio de Janeiro em 1976, quando mais de 70 mil corinthianos saíram de São Paulo para seguir o clube até o Maracanã, registrando o maior deslocamento humano em tempos de paz. Feito repetido também no estado fluminense em 2000, quando o bando de loucos reuniu 30 mil torcedores, para acompanhar a partida entre Corinthians e Vasco, que resultou no primeiro título mundial do clube paulista. 

No aniversário do Rio de Janeiro, Corinthians relembra a invasão do Maracanã, em 1976 [Imagem: Reprodução/Facebook: @SC Corinthians Paulista]

Em entrevista ao Arquibancada, “Melão”, membro da Gaviões há 28 anos, diz que o Corinthians e a própria torcida organizada ensinam muita coisa, incluindo o respeito. Ele acredita que, atualmente, as pessoas têm menos paciência e não buscam ouvir o lado do outro, mas que todos os torcedores ali presente têm a mesma crença e objetivo. “É o único lugar que, do nada, você abraça uma pessoa, joga ela para o alto e dá um beijo sem nem conhecer ela. Porque está ali, no meio de todo mundo, com o mesmo intuito, a mesma vibe, sabe? É muito louco”.

“Aqui tem um bando de loucos!”

Como principal organizada do clube paulista, a Gaviões da Fiel carrega a torcida alvinegra e empurra o Corinthians em seus maiores desafios. A torcida não é conhecida como a mais fiel e “um bando de loucos” à toa. Os corinthianos se autodenominam sofredores e reconhecem a necessidade de apoiar o time quando ele mais precisa.

Em 2012, pela primeira vez em sua história, o Corinthians foi campeão da Taça Libertadores da América, principal competição sul-americana de clubes. Na época, o Corinthians enfrentou memoráveis equipes do futebol brasileiro, como o Vasco da Gama de Juninho Pernambucano e o Santos de Neymar.

Melão, esteve presente em todos os jogos mandantes da equipe corinthiana na competição e falou sobre os confrontos: “Passando o Vasco, a gente pega o Santos, atual campeão da ‘Liberta’, um time a ser batido, Santos com Neymar jogando, a sensação era que se passasse desse ninguém parava a gente. Estava no Pacaembu para o jogo contra o Santos, saímos em vantagem de 1 a 0 com o gol do [Emerson] Sheik lá [jogo de ida na Vila Belmiro]. Chegando aqui, Neymar fez um gol, empatou e todo mundo pensando se a gente iria passar essa vergonha de novo. Quando o Danilo faz aquele gol, tomamos pressão, mas classificamos para a final. Aquele dia eu saí chorando tanto, tanto… porque ali a gente já sentia que não podia mais perder aquele título, podia ser ‘Boca’ [Boca Juniors], quem fosse, a confiança estava maior que tudo”.

E, de fato, ninguém parou aquele time. Em duas partidas emocionantes na final diante do Boca Juniors (Argentina), a equipe comandada por Tite sagrou-se campeã com placar agregado de 3 a 1. Romarinho marcou no empate em 1 a 1 na Argentina, e Emerson Sheik marcou os dois na vitória alvinegra no Pacaembu.

Emerson Sheik marcou os dois gols da vitória corinthiana diante do Boca Juniors no Pacaembu [Imagem: Reprodução/Instagram: @corinthians]

Após a festa da fiel torcida, o Corinthians teria pela frente mais um grande desafio: o Mundial de Clubes. Para muitos, o torneio é o mais valioso para um clube sul-americano tendo em vista os rivais europeus. Na ocasião, o Corinthians enfrentaria o Chelsea-ING, campeão daquela edição da Liga dos Campeões. Mesmo sabendo da qualidade do clube inglês repleto de craques, como Lampard, Ashley Cole, Peter Cech e Fernando Torres, a torcida alvinegra não decepcionou e mais uma vez impressionou o mundo.

O dia 3 de dezembro de 2012 ficou marcado para a história e mostrou ao mundo que a torcida corinthiana é fanática e apoia o time em qualquer local. A equipe paulista embarcava para Dubai, onde faria escala rumo ao Japão para disputar o Mundial de Clubes. O incentivo da torcida começou ainda na saída do elenco do CT Dr. Joaquim Grava em direção ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, onde dois mil corinthianos acompanharam o elenco com muita festa. 

Ao chegar no aeroporto, o elenco corinthiano presenciou um verdadeiro espetáculo de cerca de 15 mil torcedores alvinegros que lotaram um dos terminais do local com bandeiras, instrumentos musicais e cantos de apoio para a despedida do time paulista. Mas a festa não se encerraria em Guarulhos. Cerca de 40 mil corinthianos, fazendo o possível e impossível, embarcaram em uma viagem para o outro lado do planeta para assistir e apoiar ao Timão.

A Fiel torcida invade o Aeroporto Internacional de Guarulhos em despedida do elenco corinthiano para o Mundial de Clubes em Yokohama. [Imagem: Reprodução/Site: Corinthians]

Mais uma vez a Gaviões da Fiel provou porque é considerada a maior torcida organizada do país e invadiu o Japão. Na época, inclusive, foi emitida uma convocação no jornal “O Gavião” para os Gaviões cruzarem o mundo pelo Corinthians. Na grande final, cerca de 30 mil corinthianos estavam no estádio e comemoraram o bicampeonato do clube paulista.

O Corinthians entrou em campo na disputa pelo mundial no dia 12 de dezembro para enfrentar o Al Ahly, do Egito. O confronto terminou em vitória corinthiana por 1 a 0, gol marcado por Paolo Guerrero. Classificado para a final, o clube retornou à campo no dia 16 e, após grande atuação da equipe, principalmente do goleiro Cássio, Guerrero novamente marcou o único gol da partida que coroou a conquista corinthiana.  

Jornal O Gavião. São Paulo: Gaviões da Fiel, edição de outubro/novembro de 2012. [Imagem: Reprodução/Site: Acervogavioes.com]

“Os Gaviões nasceram para poder reivindicar”

Porta-voz do bando de loucos, a Gaviões da Fiel ultrapassa as barreiras das arquibancadas, atuando dentro e fora de campo. Representante do popularmente conhecido como “time do povo”, a torcida organizada é voz ativa em pautas sociais e é presente em causas humanitárias.

No dia 22 de junho de 2021, por exemplo, Danilo Avelar, ex-jogador do Corinthians, foi acusado nas redes sociais de fazer comentários racistas durante uma partida em jogo eletrônico. Na ocasião, a Gaviões se posicionou prontamente por meio de publicação nas redes sociais pedindo a expulsão imediata do ex-atleta: “não há paciência e muito menos compreensão para qualquer ato de racismo”. Ainda, a torcida organizada citou a nota divulgada por Danilo Avelar em pedido de desculpas, na qual admitiu seu erro ao ofender um adversário com frase de conotação racista. 

O Corinthians, por sua vez, também utilizou de suas redes para anunciar a apuração dos fatos e contexto do caso para a tomada de decisão: “Atualizaremos nossa posição tão logo seja possível”. Em nota oficial, na quarta-feira (23), o Corinthians anunciou que o defensor não atuaria mais pelo clube.

Bandeira dos Gaviões contra o racismo e a exclusão social. [Imagem: Reprodução/X: @gavioesoficial]

Em outro caso, no dia 1º de novembro de 2022, a Gaviões da Fiel novamente mostrou posicionamento e desfez bloqueios bolsonaristas em duas vias do estado de São Paulo a caminho do Rio de Janeiro para a partida diante do Flamengo. Os bloqueios eram parte dos protestos após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais, nos quais cartazes com pedidos de intervenção militar e ameaças aos ministros do Supremo Tribunal Federal foram levantados pelos manifestantes. Em resposta às manifestações, os torcedores da Gaviões retiraram os cartazes, furaram os bloqueios, e, na altura da Ponte das Bandeiras na Marginal Tietê, estenderam faixa: “Somos pela democracia”.

Membros da Gaviões da Fiel acabam com manifestação bolsonarista e estendem faixa “Somos pela democracia” [Imagem: Reprodução/X: @Vessoni]

Presente na ocasião, Biu falou sobre o ocorrido e descartou qualquer relação política: “Fomos por questões óbvias, o Corinthians jogava no Rio de Janeiro e a faixa dos Gaviões tinha que chegar no Rio de Janeiro. Fizemos um favor pro Corinthians e não para a esquerda brasileira que surfa na nossa onda. Na verdade, fica mais um capítulo para a história da Gaviões da Fiel que mostra para o Brasil como se faz, como combate nosso inimigo número 1: o sistema. Se a gente existe por 55 anos é mostrando que a gente resiste contra um sistema burguês que está para nos eliminar”.

Do mesmo modo, Biu acrescentou um de seus momentos mais marcantes em sua história na Gaviões da Fiel, onde, durante as caravanas para os jogos, os Gaviões distribuíam alimentos para famílias carentes: “Se não me engano foi em 2006, estávamos indo para Minas. A gente fazia doações de feijão, tínhamos uma parceria com a Camil, o feijão da Gaviões da Fiel. A gente parava em várias cidades no meio do nada, pobres, a gente entregava os feijões e a reação das famílias… é inesquecível. Para mim, foi impactante. Mas isso não é questão de virtude, fazemos isso porque a gente quer sobreviver, é questão de sobrevivência, queremos que os nossos sobrevivam”.

“Se o Corinthians não ganhar… o pau vai quebrar”

Apesar das diversas ações sociais e causas humanitárias apoiadas pelas torcidas organizadas, elas cotidianamente protagonizam inúmeros casos de violência que mancham suas reputações. Segundo levantamento do setorista do Corinthians,  Rodrigo Vessoni, desde 1988 são pelo menos 384 mortes oriundas da violência das torcidas organizadas. Apenas onze dentro dos estádios.

Homens são a maioria das vítimas, somando 372 vidas perdidas. Outro fato que impressiona, segundo o jornalista, é a impunidade: em 384 assassinatos, 263 ficaram impunes. Em entrevista à Band, Vessoni afirma que o problema está na legislação: “eu acho que uma legislação mais dura com prisão, com tempo de condenação maior poderia ajudar muito no combate a essa violência e a impunidade”.

Com a Gaviões da Fiel não é diferente, a maior organizada alvinegra protagonizou uma das maiores brigas entre torcidas de todo o país: “a batalha da Inajar”. A avenida Inajar de Souza, localizada na Zona Norte de São Paulo, é uma das mais importantes do estado e, no dia 25 de março de 2012, 12 anos atrás, uma briga entre os Gaviões e seus principais rivais, a Mancha Verde, mudou o futebol de São Paulo. 

Mesmo após a determinação de torcida única nos clássicos paulistas, as torcidas organizadas ainda protagonizam cenas violentas [Imagem: Reprodução/X: @gavioesoficial]

A briga teve sua origem ainda em agosto de 2011, quando a Polícia Civil do estado de São Paulo, identificou o corpo de um rapaz corinthiano de 27 anos boiando no rio Tietê. A causa da morte era suspeita de uma briga entre torcedores do Corinthians e Palmeiras. De acordo com Jorge Carrasco, diretor do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa da época, o confronto entre torcedores dos times paulistas na avenida Inajar foi um ato de vingança dos torcedores corinthianos.

Douglas Karin Silva foi morto em 2011 após conflito entre corinthianos e palmeirenses [Imagem: Reprodução: TV Globo]

Na ocasião, há 13 quilômetros do estádio Pacaembu, torcedores se cruzaram na avenida e, ao som de estouros de rojões e pancadas de barras de ferro, duas pessoas, ambas vestidas de verde, morreram por golpes na cabeça. As investigações da briga apenas foram encerradas em 2015, quando o Ministério Público denunciou 16 corinthianos, enquadrados nos crimes de duplo homicídio e associação criminosa, enquanto 13 palmeirenses foram denunciados por associação criminosa.

Não houve prisões em ambas as fatalidades. Segundo a delegada Margarete Barreto, em entrevista concedida à TV Globo, os membros das torcidas organizadas não costumam ajudar nas investigações: “isso é uma prática das torcidas, elas não colaboram nas investigações. Elas nunca dizem quem são os autores, (mas) eles sabem quem são. Mesmo porque eles pretendem cobrar essa dívida nas ruas“.

Para Biu, a mídia possui grande influência no estereótipo violento das torcidas organizadas: “quando tem um clássico na televisão, quem eles mostram? Mostram nós, torcida organizada, mostram a gente fazendo uma festa a qual é proibida. Olha que perverso, a mídia te incentiva a ver um ‘bagulho’ ilegal, aquilo te dá prazer para você assistir… eles querem eliminar as torcidas, criminalizar, isso vem desde a abolição em exterminar todo coletivo.” 

O ex-vice-presidente da Gaviões ainda criticou a medida estatal  da torcida única em clássicos paulistas: “O estado de São Paulo é a vanguarda do atraso. Isso é balela. Para combater a violência, o método é outro, tem que chamar todo mundo envolvido, a discussão é muito mais profunda. Se alguém mexer com sua família no supermercado ou no shopping, você não vai fazer nada? A violência está instaurada por conta do machismo, vários ‘bagulho’, a torcida organizada não pode carregar essa culpa, somos apenas consequência dela”.

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