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Magic Johnson: o grande embaixador do basquete e causas sociais

O legado de um dos maiores jogadores, dentro e fora das quadras, completa exatos trinta anos, tempo no qual saltou com estilo por cima dos preconceitos.

Há 30 anos, no dia 07 de novembro de 1991, o jogador de basquete Earvin Johnson Jr, mais conhecido como Magic Johnson, anunciava repentinamente a sua aposentadoria. Se isso por si só já chocou a todos, o motivo para esse afastamento foi ainda mais inesperado: o diagnóstico positivo para o vírus do HIV. 

Para além do estigma de quem porta a infecção, Magic Johnson tornou-se um ícone do basquete, dentro e fora das quadras. Mesmo após os 30 anos de sua aposentadoria, é lembrado como um dos maiores nomes que o esporte já teve a honra de ver jogando no alto nível da NBA, tanto por seu estilo inovador de jogo quanto pela bandeira que levantou ao longo de toda sua vida.

 

O anúncio repentino

Magic Johnson foi campeão da NBA cinco vezes, além de ter sido MVP (prêmio dado ao melhor jogador) das finais em três ocasiões. [Imagem: Reprodução/Flickr]
Em 07 de novembro de 1991, Magic Johnson anuncia uma coletiva de imprensa através de sua equipe, os Los Angeles Lakers, onde jogou por toda a sua carreira. O clima era de apreensão: não se sabia qual era o assunto da coletiva. Nada se especulava, nada se sabia. Johnson havia ligado para alguns outros companheiros próximos, também jogadores, minutos antes do anúncio e dado-lhes a notícia em primeira mão. 

O jogador havia feito alguns exames regulares, antes do início da temporada, como é de praxe para jogadores profissionais. No entanto, uma anomalia foi detectada em seu sangue, e após realizar alguns testes constatou-se que o astro havia testado positivo para HIV. Se hoje ainda existem muitos tabus acerca do vírus, naquela época isso era ainda mais gritante. 

A atmosfera na coletiva ficou muito pesada, era como se Magic Johnson estivesse anunciando junto com a aposentadoria, a sua própria morte. De fato, ainda eram raros e pouco desenvolvidos qualquer tipo de tratamento contra a doença, que até hoje não possui cura. Por isso, a reação dos jornalistas, dos seus fãs e do público em geral não foi completamente despropositada. Levando tudo isso em conta, Magic Johnson decide anunciar sua aposentadoria das quadras, seguindo a recomendação de sua equipe médica

Conversamos com Renan Ronchi, podcaster do “Na Era do Garrafão” e do “Basquete FM” sobre o assunto. Segundo ele, o motivo da aposentadoria de Johnson não levou a um afastamento por parte de seus fãs, por mais espinhosas que fossem as questões relacionadas ao HIV. Na verdade, o que houve realmente foi um grande espanto: “Pelo desconhecimento e quantidade enorme de notícias falsas associadas a isso (HIV), acabou sendo um choque muito grande para a comunidade do esporte.”

 

Inovação no basquete 

Nos anos 1980, a NBA passava por uma crise financeira. O estilo dos jogos era devagar e demasiadamente burocrático e, por causa disso, o público do basquete era restrito a parcelas específicas da população. Isso impedia rendas mais volumosas por parte dos clubes e da federação, levando a uma crise. 

Mas em 1979, eis que Magic Johnson faz a sua estreia na NBA. Renan afirma que “[Johnson] era tudo o que as pessoas gostavam de ver em um jogo de basquete. Ele era a personificação do jogo bonito.” Além disso, pode-se dizer que ele foi o primeiro unicórnio do basquete, termo que se usa hoje para designar os atletas que jogam em múltiplas posições: “Nos anos 1980 não tinha nenhum outro jogador que fazia o que ele fazia, nesse sentido.”

Johnson representou uma revolução na maneira como o basquete era jogado até então. Ele praticamente criou o Showtime, um novo estilo de jogo, em que a velocidade, a elasticidade e o contra-ataque rápido eram características marcantes. Junto disso, ele ainda agregava jogadas de efeito, como passar a bola sem olhar para ela. Com essa outra dinâmica que passava a marcar os jogos, a NBA também se viu muito beneficiada. 

“Em muitos aspectos, é graças ao jogo dele que o esporte evoluiu e se expandiu. O basquete torna-se uma coisa diferente de tudo o que era antes nos EUA em termos de status. Depois, ele ajuda a levar isso a um nível mais global. As pessoas acabaram pegando gosto por aquilo”, comenta Renan. A NBA, já em melhores condições, se vale dessa onda que modernizava o esporte, para levar o basquete ao mundo. 

É nesse âmbito que os dirigentes da associação conseguem liberar os seus jogadores para disputarem as Olimpíadas de Barcelona, em 1992. Formava-se, então, um dos maiores times de basquete da história, o Dream Team (Time dos Sonhos, em português). Sem dúvida hoje a NBA não seria a quarta maior liga esportiva do mundo, com um valor de 25 bilhões de dólares, se não fosse essa expansão propiciada em grande parte pelo Showtime de Magic Johnson e por esses Jogos Olímpicos.

Johnson foi o responsável por acalorar as partidas de basquete nos anos 80, e trazer respiro ao esporte. [Imagem: Reprodução/Flickr]


Estigmas dentro do esporte

Em uma época de grandes incertezas, Magic Johnson foi arrebatado por preconceitos e estigmas que rondavam tanto a doença quanto a orientação sexual dos que a portavam — que na época era apenas relacionada de forma pejorativa à homossexualidade. O jogador foi questionado inúmeras vezes por suas relações sexuais, e mesmo negando qualquer grau de envolvimento com homens, nunca demonstrou qualquer tipo de intolerância com as indagações direcionadas à ele diante do tópico.

Não muito diferente do que ocorre hoje em dia, sobre os mais diversos assuntos, as informações que circulavam sobre o vírus eram escassas e, muitas vezes, falsas. As dúvidas sobre os sintomas virais, quais as possíveis sequelas conhecidas, por ser uma doença recentemente descoberta. Tudo era muito obscuro, não era sabido com o que se lidava na época, e justamente por conta da parcela da população afetada pelo vírus, tornava o desinteresse pelo conhecimento ainda maior. E tal incerteza ocasionou uma série de dúvidas sobre o anúncio do jogador. 

Como comenta Ronchi, “até pelo nível de desconhecimento que existia na época, foi um choque muito grande. [O jogador] se aposenta não porque se achava que ele ia colocar outros jogadores em risco, mas porque não se sabia se jogar no alto nível da NBA, naquela intensidade física, agravaria a situação de saúde dele”. 

Sua aposentadoria foi decidida por uma questão de saúde e integridade física do jogador, não por receios de transmissão dentro de partidas, ao contrário do que muitos imaginam quando pensam sobre a comunicação de diagnóstico do jogador. O choque causado dentro da comunidade esportiva deveu-se enormemente ao desconhecimento científico, aliado com a quantidade de notícias falsas e preconceitos que se espalharam sobre o vírus, a doença e a sexualidade de Earvin.

Tal combinação errônea tornou-se um combustível ideal para movimentos reacionários, com patrocinadores afastando-se do jogador – empresas como Nestlè, Pepsi e a própria Spalding –, mas também dentro do próprio esporte, que, na época, apesar de não terem ressaltado a estigmatização e suposta ligação entre homossexualidade com o vírus da HIV, tiveram como porta-voz o jogador Karl Malone, berço de inúmeras polêmicas, ao longo de sua carreira que pedia o afastamento de Magic Johnson das quadras de basquete, alegando risco em contrair a doença caso jogadores da NBA entrassem em contato com Magic Johnson, sem nenhuma justificativa científica que embasasse tal argumento. 

“Isso vinha até de companheiros de time dele, que eram mais discretos […] Não vou dizer que não houve essa questão da homofobia, mas quando a gente olha os registros históricos, eu nunca encontrei nenhuma coisa do tipo, ele [Magic Johnson] nunca falou nada nessa linha. Mas existia muito esse pensamento de ‘jogar com ele é um risco’”, comenta Renan.

Magic Johnson falando com um microfone
Magic Johnson tornou-se uma voz potente na luta contra fake news sobre a aids. [Imagem: Reprodução/Flickr]


Para além das quadras, um embaixador da causa 

Se por um lado Earvin “Magic” Johnson alegrou e entusiasmou os fãs da NBA, e levantou a moral dos Lakers, por outro estimulou a discussão e envolvimento sobre causas sociais por parte dos jogadores de basquete. Hoje vemos uma relação frequente entre movimentos sociais e jogadores de alto nível do basquete, e deve-se muito desse cenário à Magic Johnson. Renan aponta que “no passado, você tinha jogadores que foram militantes e muito importantes, como Kareem Abdul-Jabbar, mas você não tinha, como hoje, a comunidade do basquete tão envolvida com a questão da militância.” 

No dia seguinte ao anúncio do jogador, a procura por testes de hiv mais que dobrou, e no mês seguinte a testagem na cidade de Nova York aumentou em 60%. Ao longo dos trinta anos,  Johnson vestiu com bravura e dedicação a camisa de embaixador da causa contra a disseminação de notícias falsas sobre a AIDS, estudando sobre o vírus e a doença e levando para todos os cantos informações corretas sobre a questão. Um discurso delicado, mas sério, sobre cuidar-se nas relações sexuais, usar proteção e que homens e mulheres, de diferentes sexualidades, podem contrair o vírus da HIV, estiveram sempre presentes nas falas de Magic.

Até mesmo no Brasil o jogador viu a oportunidade de repassar suas experiências e conhecimentos sobre o assunto para a garotada. Em entrevista para Serginho Groisman, em 1996, o jogador fala sobre sua campanha mundial para a NBA e sua luta contra a AIDS. Ao final, ressalta Ronchi, “ele está ensinando as pessoas sobre o HIV positivo […]. Depois que ele se informou, ele foi pra um lado bem batalhador da parte dele de lutar contra as fake news que tinham contra o HIV […]. Em termos de atleta, você não teve nenhum outro como ele”.

3 comentários em “Magic Johnson: o grande embaixador do basquete e causas sociais”

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