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Uma Liga Global: a internacionalização da NBA dentro das quadras

Como a NBA abriu suas portas para o mundo e se manteve suprema no segundo esporte mais popular do planeta

A NBA é a melhor e maior liga de basquete do mundo. Não há muito o que discutir sobre isso. Composta pelos melhores jogadores do planeta e com uma base de fãs global, a liga está acima de qualquer outra competição da bola laranja. Mas apesar de seu atual reconhecimento internacional, a NBA, durante décadas, teve suas portas fechadas para o resto do mundo, assim como o próprio mundo também não se abria tanto para o basquete norte-americano.

Isto mudou durante os anos 80. Diversos fatores fizeram com que a liga norte-americana passasse a ter ambições globais, enquanto cada vez mais estrangeiros se interessavam pelo basquete jogado na terra do Tio Sam. A globalização da NBA é fruto de um processo muito bem planejado e organizado em várias frentes, e não apenas uma ocorrência do destino, evidenciada pela enorme quantidade de jogadores estrangeiros em quadra, assim como uma audiência presente em todos os continentes. 

A trajetória que passa pelos primeiros peregrinos na NBA até futuros MVPs, como Giannis Antetokounmpo e Nikola Jokic, é composta por diversos capítulos e histórias únicas, que mostram como a liga conquistou o universo do basquete e expandiu suas fronteiras de uma forma poucas vezes vista no mundo do esporte, dando a segunda modalidade mais popular do planeta um rosto próprio e diversificado.

 

ANOS 80 – O nascimento de uma ambição global

David Stern, comissário da NBA (1984-2014), em seu último draft. [Imagem: Youtube/NBA]
Durante a década de 80, vários fatores tornaram a globalização da NBA uma realidade. Em 1984, David Stern assumiu o cargo de Comissário, iniciando uma gestão que duraria exatos trinta anos. Seu objetivo era mudar completamente a imagem da instituição, que, na época, sofria dificuldade em atrair patrocinadores e público no próprio país. Seguida desta transformação, o comissário tinha a ambição de expandir o nome da NBA pelo mundo, criando uma base de fãs global. 

Já nos seus primeiros anos, foram assinados diversos contratos de televisão com emissoras estrangeiras, como na China e na América do Sul, para que os jogos pudessem ser transmitidos internacionalmente. O enfoque na divulgação das superestrelas do basquete norte-americano, como Magic Johnson e Larry Bird, fez com que os jogadores se tornassem ídolos nos Estados Unidos, mas também no resto do mundo. Faltava ainda, porém, uma oportunidade de ouro para que a NBA pudesse exibir seus ídolos e estilo de jogo para os fãs do esporte espalhados pelo globo. Em 1992, este palco surgiu em Barcelona.

Antes dos Jogos Olímpicos de Barcelona, não havia a possibilidade de jogadores da NBA disputarem o evento. Uma regra da International Basketball Federation (FIBA) proibia atletas da liga norte-americana de representarem seus países na maior confraternização de esportes do planeta e em outros torneios entre seleções. A equipe dos EUA era normalmente representada por jogadores universitários, o que não era um problema para as ambições do país. 

Até o boicote americano nos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980, os EUA haviam deixado o torneio sem a medalha de ouro em apenas uma ocasião, em 1972. E mesmo esta derrota para os soviéticos é duramente contestada pelos próprios americanos devido a questões relacionadas à arbitragem. À época, os atletas estadunidenses chegaram até a rejeitar a medalha de prata em protesto. De alguma forma, poderia ser dito que os americanos nunca tinham saído de uma Olimpíada derrotados em quadra de forma justa. 

E então vieram os Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. Invictos na primeira fase, os americanos caíram diante da mesma União Soviética na semifinal, deixando o evento com uma amarga medalha de bronze. A derrota acabou intensificando uma antiga discussão dentro da própria FIBA. Dois anos antes, a principal organização do basquete mundial já havia mostrado interesse em derrubar a regra que impedia os jogadores da NBA de participar dos torneios de seleções. 

Para o então Secretário-geral da entidade, Boris Stankovic, não fazia sentido “ter 200 milhões de jogadores espalhados pelo mundo como membros da FIBA, mas não os 300 melhores”, referindo-se aos atletas da NBA. Naquele ano a resolução foi derrotada, mas em 1989, meses após as Olimpíadas de Seul, a ideia ganhou novos adeptos. Em abril, uma nova votação foi aberta para as 70 delegações pertencentes à organização. Desta vez, 56 delas votaram à favor. 

Curiosamente, a própria USA Basketball, representante dos EUA na FIBA, posicionou-se contra a resolução, pois tinham interesse em ainda disputar as competições com atletas universitários. Mas a vontade da FIBA se unia à ambição global da liga. E desta união, surgiu o “Dream Team”.


ANOS 90 – A vitrine em Barcelona e os primeiros peregrinos da NBA

O elenco do “Dream Team” dos Jogos Olímpicos de Barcelona-92 [Imagem: Youtube/Olympics]
Na Olimpíada de Barcelona, a seleção norte-americana, pela primeira vez representada majoritariamente por atletas da NBA, passou por cima de todos os seus adversários, vencendo-os por no mínimo 32 pontos de vantagem. Um verdadeiro exemplo da superioridade do basquete americano. 

Então o recado para o mundo estava dado: a NBA era sim a melhor liga do planeta e, mais importante, estava aberta para todos que quisessem fazer parte dela, seja como espectador ou, quem sabe, atleta. Nos anos 90, explodiu não só o interesse pela NBA por parte da audiência internacional, mas também entre os jogadores. 

Ricardo Bulgarelli, comentarista de basquete dos canais ESPN, reflete: “Os norte-americanos tiveram que se render ao basquete jogado no mundo inteiro. Antes, eles achavam que eram os donos do mundo, que só havia basquete lá. Mas viram que o basquetebol é bem jogado em qualquer parte do planeta. Para ser a melhor liga do mundo, tem que ter os melhores jogadores do mundo, e não necessariamente eles são americanos ”

Sem dúvida os melhores atletas fora dos EUA se encontravam em nações do Leste Europeu, como a União Soviética e a Iugoslávia, que frequentemente disputaram medalhas com os estadunidenses em décadas anteriores. Mas a questão geopolítica surgia como um dos principais empecilhos para que jogadores desses países pudessem se aventurar na NBA. No início da década, no entanto, a “cortina de ferro”, que dividia os dois pólos da Guerra Fria, foi dissolvida e a liga teve permissão para adentrar nas ex-repúblicas comunistas. 

Foi desta região do continente europeu que vieram os primeiros jogadores estrangeiros de impacto. Já em 1989, Drazen Petrovic deixou o Real Madrid (Espanha) para jogar pelo Portland Trail Blazers, enquanto Vlade Divac saiu do Partizan (Sérvia) para compor o elenco do Los Angeles Lakers e Sarunas Marciulionis trocou o Statyba (Lituânia) pelo Golden State Warriors. Em 1995, foi a vez de Arvydas Sabonis também trocar o clube madrilenho pela franquia de Oregon.

Obviamente, estes jogadores não representaram a primeira experiência estrangeira na NBA. A liga já contava há muito tempo com atletas nascidos em outras regiões do mundo, como Patrick Ewing e Dominique Wilkins, nascidos respectivamente na Jamaica e na França. A novidade dos anos 90 foi a chegada de jogadores completamente desenvolvidos fora do país, sem passagem pelo basquete universitário. Alguns nomes, como Petrovic e Sabonis, já eram ídolos no basquete europeu, tendo ganhado diversos títulos profissionais e por seleções. Não se tratavam de prospectos, mas sim de atletas que vinham para os EUA já no seu auge.

A ambição de Stern, no entanto, era clara: a melhor liga do mundo precisava ter os melhores jogadores do mundo integralmente. A NBA, então, passou a investir nos próprios países de origem de seus atletas estrangeiros, promovendo clínicas de basquete para jogadores e técnicos em todos os continentes. Assim, scouts das franquias poderiam observar atletas de outras nações em toda a sua formação, e não apenas no auge. 

Foi criada a NBA International Basketball Operation (Operação de Basquete Internacional da NBA), departamento com a função de comandar as relações internacionais da liga, além de auxiliar os atletas estrangeiros na adaptação após a mudança para solo americano.

Eduardo Agra, comentarista de basquete dos canais ESPN e ex-jogador, analisa: “Tudo começa com a NBA se globalizando. O [David] Stern teve um papel importante nisso. A NBA levou clínicas de técnicos e jogadores para a América Latina, África e Europa. Era uma troca. Eles ofereciam o serviço e recrutavam jogadores.”

Em um primeiro momento, as franquias, apesar de embarcarem com Stern na jornada global, ainda tinham suas ressalvas em relação aos prospectos estrangeiros. Quando comparadas as décadas de 80 e 90, a diferença de jogadores de fora do país draftados foi minúscula: 57, entre 1980 e 1989, contra 66, entre 1990 e 1999. Questionamentos em relação a capacidade dos países mundo afora em desenvolver seus jogadores ainda eram levantados. Ao final dos anos 90, essa visão mudou de forma brusca.

Em 1998, o Milwaukee Bucks decidiu fazer algo jamais feito na história da liga: draftar, ainda no top 10, um jogador estrangeiro sem passagem pelo basquete americano. Na mesma noite, porém, a franquia do Wisconsin preferiu não manter o recém-draftado no elenco e se envolveu em uma troca que mandou o calouro para o Dallas Mavericks. Este jovem prospecto era Dirk Nowitzki.

 

ANOS 2000 – Uma liga efetivamente global

Dirk Nowitzki em partida pelas finais da NBA, em 2011 [Imagem: Instagram/@dallasmavs]
A chegada de Nowitzki na liga marca o início de um dos mais belos e vitoriosos capítulos da presença estrangeira na NBA. Com apenas 20 anos, o alemão embarca para o Texas apenas com a experiência de ter jogado a segunda divisão do basquete de seu país.

 Após duas temporadas de adaptação, Nowitzki já foi honrado com a seleção para o terceiro time dos melhores da liga (All-NBA Third Team), após alcançar médias de quase 22 pontos e 9 rebotes por partida. Os Mavericks ainda garantiram vaga nos playoffs pela primeira vez em uma década. 

No ano seguinte, veio a primeira seleção para o All-Star Game. Em 2003, o alemão levou Dallas para apenas a segunda final de conferência na história da franquia. O sonho do título, no entanto, acabou diante de seu rival texano, o San Antonio Spurs. Do outro lado do estado, os estrangeiros também deixavam a sua marca.

Três jogadores com troféu da NBA
Tony Parker, Tim Duncan e Manu Ginobili comemoram o quinto título dos Spurs [Imagem: Instagram/@spurs]
Durante os anos 2000, o San Antonio Spurs, comandado por Gregg Popovich, reinou na NBA, vencendo títulos em 2003, 2005 e 2007. Além dos anéis, a franquia texana ficou lembrada por outros dois elementos inéditos: a grande presença de jogadores estrangeiros e um estilo de jogo altamente inspirado no melhor do que se praticava em solo europeu. 

Na temporada de 2004/05, por exemplo, que acabou em título, três estrangeiros sem nenhuma passagem pelo basquete americano antes da NBA foram titulares em, no mínimo, setenta jogos durante a temporada regular. Entre eles, o francês Tony Parker e o argentino Manu Ginóbili, ambos dignos de seu próprio capítulo na história internacional da liga. A dupla completava o trio de protagonistas do time, junto do pivô Tim Duncan. Parker, em 2007, tornou-se o primeiro jogador estrangeiro sem formação americana a levar o prêmio de MVP das finais, antes mesmo de Nowitzki, que receberia a honra quatro anos mais tarde.

A equipe de Popovich também ficou marcada pelo alto nível de coletividade em seu estilo de jogo. Durante a primeira década do século, apenas em uma temporada um jogador ultrapassou a marca de 25 pontos de média por partida — Duncan, com 25.5 pontos em 2001/02. A distribuição de jogo e o sacrifício da individualidade egoísta fazem a essência do basquete praticado na Europa, onde os jogadores aprendem que um time unido e entrosado, e não apenas um grupo de jogadores talentosos, ganham jogos e campeonatos.

Na mesma época, outras franquias obtiveram sucesso ao mesclar talentos americanos com peças estrangeiras. O Sacramento Kings, liderado por Chris Webber, Peja Stojakovic e Vlade Divac foi competitivo na conferência Oeste durante alguns anos, enquanto o Los Angeles Lakers venceu dois títulos, em 2009 e 2010, com Kobe Bryant e o espanhol Pau Gasol, outro nome que facilmente pode ser listado entre os grandes estrangeiros que passaram pela liga.

O saldo total desta década foi o mais positivo, até então, para os jogadores estrangeiros da liga. Nowitzki se tornou o primeiro jogador estrangeiro não formado no basquete americano a levar o MVP da liga, em 2007. No mesmo ano, Parker repetiu a marca ao conquistar o MVP das Finais. Em 2002, Pau Gasol já havia se tornado o primeiro estrangeiro — de qualquer formação — a vencer o prêmio de calouro do ano. Além disso, os atletas internacionais contribuíram para a dinastia de Spurs e Lakers, sendo esta última já no final da década. 

A marca de 66 jogadores estrangeiros draftados na década anterior foi superada pela impressionante quantidade de 185 jogadores de fora dos EUA selecionados entre 2000 e 2009. Sobre o recrutamento, Agra enxerga dois caminhos para um estrangeiro que deseja entrar na NBA: “O basquete universitário continua sendo um caminho para os estrangeiros. O [Joel] Embiid ficou um ano lá em Kansas. O Doncic veio direto da Europa, mas também já estava no Real Madrid desde os 16 anos. Isso vai fazer diferença também”.

Na parte corporativa, foi durante os anos 2000 que a NBA inaugurou duas de suas iniciativas de maior sucesso para realizar scout e desenvolver jogadores de todo o planeta. Em 2001, foi lançado, em conjunto com a FIBA, o programa “Basketball Without Borders” (“Basquetebol Sem Fronteiras”) com o propósito de realizar camps — acampamentos de basquete — ao redor do planeta para descobrir novos prospectos estrangeiros. 

A princípio realizado somente na Europa, o evento passou a ocorrer em pelo menos quatro continentes a partir de 2005, quando foram anunciados na Argentina, China, Itália e África do Sul. Todos os anos, o programa recebe em média 150 jovens, que participam de torneios e se apresentam para diversos scouts das franquias da NBA.

Ainda em 2001, a NBA fundou a National Basketball Development League (NBDL), a sua própria liga de desenvolvimento de atletas. O objetivo da iniciativa era providenciar uma competição em que jogadores sem contrato — ou com contrato, mas sem tempo de jogo —, pudessem continuar participando de partidas de alto nível e evoluindo dentro de quadra, enquanto eram observados pelas franquias da liga principal. 

Com o passar dos anos, e depois de algumas reformulações, o campeonato é conhecido atualmente como G-League. Inicialmente possuindo apenas oito equipes em sua temporada de estreia, a liga hoje conta com 29 franquias, sendo 28 delas filiadas a alguma outra franquia da NBA, e uma nova recém-criada para receber jogadores vindos diretamente do high school.


ANOS 2010s – Uma liga dominada por estrangeiros

Antetokounmpo, da NBA
Giannis Antetokounmpo em partida dos playoffs da NBA, em 2021 [Imagem: Instagram/@bucks]
Na última década, o salto dado pelo basquete internacional na NBA não foi tão grande quanto o testemunhado na passagem do século. Mesmo assim, conquistas importantes ocorreram tanto dentro como fora de quadra. Apesar das contribuições estrangeiras para diversas equipes vencedoras durante os anos 2000, ainda era difícil encontrar um verdadeiro protagonista vindo de fora dos EUA em uma franquia da liga. 

Nowitzki de fato foi o líder dos Mavericks por várias temporadas. No entanto, outras estrelas, como Parker, Ginobili e Gasol, entraram na história muito mais como importantes coadjuvantes de seus times, atuando por trás da principal peça — no caso dos Spurs, Tim Duncan, e dos Lakers, Kobe Bryant.

Este panorama mudou completamente nos últimos anos. Jogadores estrangeiros se tornaram protagonistas de muitas equipes da liga. Para mencionar alguns, o grego Giannis Antetokounmpo, vencedor do prêmio de MVP em 2019 e 2020, que lidera o Milwaukee Bucks e o sérvio Nikola Jokic, MVP em 2021 e principal jogador do Denver Nuggets. Aliás, foi a primeira vez em que dois estrangeiros sem passagem pelo basquete universitário americano ganharam o prêmio de jogador mais valioso em anos consecutivos. 

Além deles, o esloveno Luka Doncic, superestrela do Dallas Mavericks e até mesmo Domantas Sabonis, que após duas duas seleções para o All-Star Game, pode ser considerado o protagonista do Indiana Pacers. 

O que mais se denota nesta leva recente de estrangeiros que chegam a NBA é, sem dúvida, a versatilidade e domínio de fundamentos do jogo. Jokic se destaca pela sua habilidade com as bolas na mão, como um verdadeiro armador, mesmo com seus 2,11m de altura. O sérvio, junto de Doncic e Antetokounmpo, preenchem o quadro de estatísticas em todos os fundamentos do jogo. Para Bulgarelli, isso vem da formação: “Com 10, 12 anos [na Europa] eles estão trabalhando fundamento. Lá, todo mundo aprende tudo e essa versatilidade chama muito a atenção. Eles são muito capacitados em base, talvez até melhor que os americanos”

Uma outra mudança que pode ser atribuída a ascensão de atletas estrangeiros na liga é vista na mudança de formato no fim de semana do Jogo das Estrelas. Desde 1994, a NBA promove uma exibição entre seus principais prospectos, chamada de Rising Stars Challenge. Ao longo dos anos, o amistoso ganhou diferentes modelos. Entre 2000 e 2011, por exemplo, a partida consistia em um confronto entre rookies (calouros) e sophomores (jogadores em sua segunda temporada). 

Em 2015, uma mudança bastante significativa alterou novamente o formato do desafio. O jogo passou a ser disputado entre uma equipe totalmente formada por rookies e sophomores norte-americanos contra uma outra formada apenas por atletas estrangeiros na mesma situação. O novo modelo ganhou o nome de USA vs. World (EUA x Mundo)

Ainda em uso, este formato não seria possível de ser realizado não fosse pelo cada vez maior impacto de jogadores estrangeiros que chegam na liga e competem de igual para igual com seus companheiros nativos. Sobre isso, Agra atenta: “O basquete americano ainda está acima. Os estrangeiros vêm ocupar o espaço deles na liga. Mas pegando o draft, nem 30% dos jogadores vêm de fora. Os EUA ainda produzem uma quantidade maior de talentos”.

Recentemente, também se observa um maior interesse das franquias por treinadores estrangeiros para comporem seus staffs. Entre assistentes técnicos de fora dos Estados Unidos, destaca-se a contratação de dois head coaches completamente criados no basquete europeu para comandar franquias da liga.

Em 2014, o Cleveland Cavaliers trouxe para o cargo David Blatt, treinador que, apesar de ser norte-americano, construiu toda a sua carreira no basquete europeu, tanto como jogador quanto como técnico. No ano em que foi chamado para assumir a franquia de Ohio, Blatt havia conquistado o título da EuroLeague com o  Maccabi Tel Aviv.

Quatro anos mais tarde, o Phoenix Suns contratou o sérvio Igor Kokoskov para o cargo. Diferente de Blatt, Kokoskov já treinava em solo norte-americano desde 1999. Naquele ano, tornou-se o primeiro assistente europeu a integrar a comissão técnica de uma equipe universitária da primeira divisão da NCAA de forma integral, ao se juntar aos Missouri Tigers. Após quase duas décadas como assistente técnico, passando por franquias como Los Angeles Clippers, Detroit Pistons e o próprio Suns, Kokoskov virou o primeiro treinador não nascido nem criado nos EUA a comandar uma equipe da NBA.

Para Agra, não há motivos para que a contratação de treinadores estrangeiros não continue crescendo: “Existe ainda um certo protecionismo na NBA. Se existe uma dificuldade de adaptação dos técnicos estrangeiros, não é um fator. Você conversa com um [Gustavo de] Conti, um Lon Kruger e um europeu, você ouve a mesma coisa [em relação ao jogo de basquete].”

Bulgarelli também enxerga um futuro promissor para treinadores estrangeiros: “Acho que ainda não pintou a oportunidade de trazer um estrangeiro de ponta, mas a gente percebe que eles estão ganhando espaço.”

A oportunidade de atletas estrangeiros jogarem na melhor liga do mundo também teve um enorme impacto nos torneios de seleções. Enquanto a seleção norte-americana não encontrou dificuldades em 1992, quando passou por cima de seus adversários no caminho do ouro olímpico, os selecionados mais recentes do país têm encontrado verdadeiros empecilhos, mesmo quando providos de sua força máxima. Em 2016, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a seleção formada por diversas superestrelas, como Kevin Durant, Kyrie Irving, Paul George e Carmelo Anthony, conquistou vitórias por apenas dez pontos ou menos em quatro ocasiões.

No último Mundial de Basquete, disputado na China em 2019, os EUA deixaram a competição apenas com o 7º lugar, após levar uma equipe composta por jogadores que à época não seriam considerados como membros de uma seleção A nem B dos melhores atletas americanos. 

Sobre estes torneios, Agra reitera: “Hoje, se você pega do um ao 12 no ranking, todas as seleções estão muito parelhas. Mas os EUA ainda tem mais talento. Uma seleção europeia pode ter um cara muito bom. Mas se colocar os melhores americanos em quadra, eles vão continuar sendo favoritos.”

Bulgarelli completa: “Se a seleção americana não for com os melhores da NBA e não for jogando sério, é capaz de repetir o que aconteceu no último mundial. E também não adianta juntar doze jogadores, treinar uma semana e jogar. A não ser se for o top 12 da liga, aí sim fica mais fácil. É o que aconteceu em 92.”

Para completar os esforços desta década, em 2019 a NBA lançou sua mais recente iniciativa de âmbito global, em associação com a FIBA, a Basketball Africa League (BAL). O novo torneio, que iniciou suas operações neste ano, é uma ação inédita da NBA para desenvolver o basquete no continente africano, instalando a infraestrutura essencial para a prática do esporte em países pouco desenvolvidos. 

O objetivo da liga não é apenas descobrir novos talentos, mas também auxiliar economicamente a região, o que aprofunda ainda mais a presença global da entidade e fortalece o comprometimento da NBA em promover o basquete pelo planeta, desenvolvendo o jogo e dando oportunidade a milhares de jovens. 

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