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Por dentro da NBA

Por Camilla Freitas Quando o primeiro jogo de basquete foi realizado na quadra da atual universidade de Springfield, nos Estados Unidos, utilizando-se 18 jogadores e cestas de pêssego, não se poderia imaginar, naquele momento,  que aquele esporte, o “Bascket Ball”, se tornaria um dos mais populares do país e do mundo. Foi somente depois de 40 …

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Por Camilla Freitas

Quando o primeiro jogo de basquete foi realizado na quadra da atual universidade de Springfield, nos Estados Unidos, utilizando-se 18 jogadores e cestas de pêssego, não se poderia imaginar, naquele momento,  que aquele esporte, o “Bascket Ball”, se tornaria um dos mais populares do país e do mundo. Foi somente depois de 40 anos da criação do esporte que uma liga foi estabelecida para organizar uma competição entorno das 13 regras criadas por James Naismith.

Primeiro jogo de basquete (Foto: Reprodução)
Primeiro jogo de basquete (Foto: Reprodução)

O início de uma grande história

Até o ano de 1946, os jogos eram organizados apenas através de ligas universitárias, não havia ainda uma liga profissional. A BBA, Associação de Basquete da América, se fundiu com a sua rival NBL, Liga Nacional de Basquete, para unir o que cada uma tinha de melhor em suas competições: a BBA, estádios e recursos financeiros e a NBL, os grandes astros. Foi dessa fusão que nasceu a NBA, Associação Nacional de Basquetebol.

No decorrer dos anos 50, a NBA teve por um lado sua menor franquia de times associados mas por outro o surgimento de um time que mudaria a história da competição, o Boston Celtics, de Bill Russell. A partir desse momento, a competição passou a ganhar mais visibilidade, principalmente com o aparecimento do astro Wilt Chamberlain, que além de brilhar com a camisa do Philadelphia Warriors, e posteriormente no Los Angeles Lakers, atraia muitos fãs para as quadras devido a sua popularidade.

Bill Russell no Celtics (Foto: Reprodução)
Bill Russell no Celtics (Foto: Reprodução)

Foi a rivalidade técnica de Russell e Chamberlain que acendeu a maior rivalidade de times da NBA, Celtics vs. Lakers, a qual não só movimentou diversas pessoas em torno dessa torcida, como fez com que as franquias de times associados à competição aumentassem. Nesse confronto, entretanto, quem saiu ganhando foi o clube de Boston, que levou 9 campeonatos seguidos desde 1959.

Contudo, uma liga paralela à NBA é criada, a ABA, Associação Americana de Basquete, que traz não só grandes astros para sua competição, como inicia um estilo de jogo hoje usado no basquete mais famoso do mundo, como a linha de arremesso de 3 pontos e uma competição de enterradas na All-Star Games. Mas é quando essas competições se fundem que o basquete da NBA que conhecemos hoje nasce. “A cada noite que vejo um jogo da NBA, vejo a ABA” disse o ex-jogador Erving.

É a partir dos anos 70, entretanto, que a competição começa a alavancar e se tornar o que conhecemos hoje. Foi através de astros como Pete Maravich, Kareem Abdul-Jabbar, Larry Bird, Magic Johnson e Michael Jordan que a NBA foi se globalizando.

O rei das quadras, o rei do marketing

Michael Jordan em anuncio da Nike (Foto: Reprodução)
Michael Jordan em anuncio da Nike (Foto: Reprodução)

Michael Jordan foi o nome dos anos 90. Dentro de quadra, ele levou o Chicago Bulls a uma sequência de 3 títulos consecutivos, 1991, 1992, e 1993. Fora dela, fez com que seu nome estivesse não só na televisão, como em revistas, rádios, bebidas esportivas, tênis, dentre outros.  Sua visibilidade pessoal acarretava em uma visibilidade ainda maior à NBA que, nos jogos do astro, indicava sempre recordes de público e de audiência nas transmissões.

No auge de sua popularidade, contudo, o astro afirma que vai se aposentar do basquete para jogar beisebol, decisão esta que não dura mais de dois anos, quando Jordan volta às quadras (leia mais sobre o assunto aqui). Depois de um retorno conturbado, atrelado às más atuações, o jogador garante aos Bulls o “segundo tri” e se despede do esporte pela segunda vez (mas não oficialmente). Essa história é apresentada de forma lúdica no filme Space Jam, estrelado pelo próprio Michael Jordan e que teve como receita mais de 200 milhões de dólares.

A grandeza da competição

O entretenimento é a palavra-chave que rodeia as quadras da NBA. Ir a um jogo não significa apenas assistir a grandes enterradas, mas sim garantir um programa de diversão completo. Há quem chame os espectadores de plateia e não de torcida, justamente por conta dessa característica da competição, mais voltada para um “programa de família”.

Um jogo da NBA é dividido em 4 tempos de 12 minutos cada, além disso, há paradas constantes ao longo dos quartos, tanto para pausas pedidas pelos técnicos quanto para os arremessos de 3 pontos, por exemplo. Com isso, o jogo fica coberto de momentos os quais podem ser aproveitados para outras atividades, nesse caso, lúdicas.

Em algumas partidas da competição, os jogadores não entram simplesmente em quadra; cada um, individualmente vai entrando no momento em que um clipe de suas principais jogadas passam num telão. Há um DJ responsável por tocar as músicas mais populares do momento (em alguns jogos os torcedores ganham até pulseirinhas que brilham de um jeito diferente conforme o DJ toca certas músicas). Nos intervalos há a apresentação de dança, altamente coreografada, das cheerleaders, além do show dos mascotes, e em algumas partidas até a presença de ginastas e circenses.

Com todas essas atrações fica claro que não é só o jogo que importa, não são só os astros que atraem espectadores, há uma movimentação fortíssima dos organizadores para proporcionar ao público uma experiência que vá além do jogo em si, que ultrapasse o esporte.

 

Torcida ou Plateia?

Os torcedores da NBA, assim como de outros esportes estadunidenses como o beisebol, são diferentes do que estamos acostumados a ver no Brasil, principalmente no futebol. Quando entram em quadra, os torcedores encontram cadeiras almofadadas, com um imenso porta-copos, e, às vezes, até camisetas para usarem durante a partida. Isso, de certa forma, os acomoda fazendo com que em alguns casos nem queiram se levantar. Não se vê, assim como nos campos de futebol brasileiro, uma intensa rivalidade entre as torcidas, e são diversos os motivos para isso, como, por exemplo, baixa presença de torcedores adversários (algo em torno de 98% dos ingressos são reservados para a torcida da casa), e a quase inexistência de dois times de um mesmo estado. Segundo Eduardo Agra, ex-jogador da liga universitária, os jogos da NBA não possuem tanto essa rivalidade entre as torcidas justamente pelo fato de os times não serem do mesmo estado, diferentemente dos times da liga universitária que possuem uma rivalidade mais regional.

(Foto: Reprodução)
Alguns jogos têm cadeiras que custam milhares de dólares (Foto: Reprodução)

Além desses fatores, a cultura dos torcedores estadunidenses reforça essa crítica de passividade com relação à rivalidade. “Apesar de o basquete ser um esporte popular, em especial nos guetos americanos, o público que vai a jogos da NBA é em geral de classe média a alta, com muitos turistas do mundo inteiro misturados. Os ingressos dos jogos são em sua grande maioria caros, ingressos populares são menos da metade da capacidade dos ginásios. Esses preços também dificultam e acabam desencorajando grupos de torcedores que viajem pelo país acompanhando a equipe; ou seja, raramente haverá grupos concentrados e de número relevante torcendo contra o time da casa”, afirma o jornalista Adriano Albuquerque, ex-colunista do site NBA no Brasil, atualmente no Globoesporte.com. “Tem muita gente que vai à arena pra ver um time específico que está enfrentando o time da casa, ou um jogador específico, ou está de passagem pela cidade e aproveita a oportunidade para ver um jogo da NBA”, continua. Além disso, ele acredita que a passividade do público nas quadras é que cria a necessidade de meios de entretenimento, e não o contrário, ou seja, como o público é formado por um tipo específico de pessoas que nem sempre são ligadas ao basquete, há uma necessidade por parte dos organizadores de entreter esse público de uma outra forma.

Da para brincar de NBA no futebol?

Stephen Curry e Neymar (Foto: Reprodução)
Stephen Curry e Neymar (Foto: Reprodução)

Comparar basquete com futebol parece loucura, mas nos últimos tempos o chamado “futebol moderno” vem tentando “goumetizar” o esporte e torná-lo, assim, talvez, como a NBA, algo que transcorresse ao esporte e entrasse numa onda de espetáculo. Assim como na NBA, no futebol encontramos grandes astros, que mostram em campo, assim como na quadra, um show a parte, vide os maiores do mundo nos últimos anos, Messi e Cristiano Ronaldo.

Entretanto, mesmo transformando os estádios em arenas, movimentando milhares de dólares, cobrando caro nos ingressos, dentre outras coisas, para Adriano, assim como para Agra, é difícil tornar qualquer campeonato futebolístico em algo próximo ao que seria um jogo da basquete americano. O tempo das partidas de futebol, para Agra, é um dos principais fatores limitantes para isso, mas Adriano acrescenta: “A quadra de basquete é menor, e o público fica mais próximo à quadra. O campo [de futebol] é enorme e mesmo um palco de 100m² fica parecendo minúsculo para o torcedor na arquibancada. O exemplo melhor para o futebol é a NFL, que às vezes realiza cerimônias e shows no meio dos jogos, mas nada próximo à NBA”.

NBB + NBA

A principal competição estadunidense de basquete lançou uma parceria de marketing com o Novo Basquete Brasil, NBB, a jovem competição do basquete nacional. Desde então, segundo o ex-jogador Eduardo Agra, a liga brasileira passou a ter mais investimentos e sofreu notórias melhorias em sua estrutura, principalmente com relação às quadras. Além disso, Adriano completa “O NBB está ainda numa fase de restabelecer o basquete como um esporte popular, de massa. A entrada da NBA como investidor deve ajudar nisso, já que eles têm o know-how de como construir esse produto globalmente”.

Além disso, Eduardo Agra acrescenta que a NBA é mais popular que qualquer campeonato nacional de basquete, o marketing feito não é só para atrair o público local, mas o público de todo o mundo. O fato da NBA ser mais popular que a NBB, nesse caso, não seria um problema só nosso, dos brasileiros, mas de todos os outros países. O que acontece, e que pode ajudar a fomentar o gosto do público pelo basquete nacional, é a presença cada vez maior de brasileiros na liga americana, e possíveis vitórias da seleção brasileira de basquete em jogos importantes. Nesse último caso, as Olimpíadas desse ano seriam uma excelente vitrine do nosso basquete para nosso próprio público.

Uma das maiores competições do mundo

O alto investimento financeiro, a presença de grandes jogadores, a facilidade nas regras do esporte, o entretenimento que envolve os intervalos da partida e o marketing por trás das transmissões e divulgações da marca popularizaram e globalizaram o campeonato da NBA. “A NBA é um modelo de aproximação com os fãs, de investimento em mídias digitais, de organização e infraestrutura, e de atenção ao detalhe. Outras ligas esportivas certamente têm muito a aprender nessas áreas com o case da NBA”, ressalta o jornalista.

A NBA em si é um espetáculo, que não é somente elogiado e apreciado. Há quem afirme que essa transformação da partida em um show distrai o espectador do esporte em si, tira o público realmente interessado na partida das quadras, e privilegia, muitas vezes, quem só está ali para aproveitar um passeio com a família. Contudo, o próprio Agra entende essa transformação do basquete em entretenimento como algo positivo, uma vez que leva um público que talvez não teria contato com aquele esporte às quadras, e pode agregar novos torcedores.

Entre críticas e elogios, o modelo “esporte americano” elevado a máxima potência empregado pela NBA mostra o quanto o esporte pode ser algo que vai além das regras do jogo, o quanto ele pode ser rentável financeiramente e culturalmente, e como ele pode abrigar, num mesmo espaço, diferentes culturas e interesses.

(Foto: Reprodução)
Alguns dos maiores ídolos da NBA (Foto: Reprodução)

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