Luís Henrique Franco
Certamente o futebol brasileiro possui um grande número de craques, alguns famosos por suas jogadas memoráveis, outros por sempre estarem no lugar certo na hora certa e outros por darem toda a sua determinação pelos seus times. Mário Sérgio Pontes de Paiva foi um jogador memorável por sua criatividade e habilidade, sendo capaz de enganar os adversários com jogadas nas quais olhava para um lado, mas tocava para o outro, demonstrando grande conhecimento da movimentação de seus companheiros pelo campo. Tal jogada lhe valeu o apelido de “Vesgo” e foi imortalizada em seus pés muito antes de ser usada por Ronaldinho Gaúcho.
Vencedor da Bola de Prata da Revista Placar nos Campeonatos Brasileiros de 1973 e 1974, pelo Vitória, e em 1980 e 1981, pelo Internacional, Mário Sérgio ainda se tornou reconhecido como um dos melhores jogadores brasileiros de todos os tempos.
Início da carreira
Como jogador, Mário Sérgio atuou por treze equipes no total, tendo jogado de 1969 a 1987. Seus primeiros passos como futebolista foram no time de futsal do Fluminense, clube do qual o pai era sócio, permitindo a ele poder jogar de graça. Naquela época, contudo, o esporte ainda não lhe dava dinheiro, e Mário seguiu carreira em uma empresa de computadores logo após terminar o curso superior em processamento de dados.
Como profissional, seu primeiro time foi o Flamengo, na época dirigido por Dorival Knipel, ou Yustrich, técnico conhecido por seu temperamento explosivo e exigência, adepto do futebol força, com quem o jogador entrou em grandes conflitos. As primeiras implicâncias foram para com os cabelos longos e roupas coloridas de Mário, comuns em uma época de explosão da ideologia hippie, mas desaprovadas pelo treinador. Depois, o treinamento voltou-se para corrigir a postura “fominha” do jogador, adquirida de seus anos no futsal.
“Yustrich era adepto do futebol força e tinha seus métodos rígidos e absurdos de preparação. Um dia, joguei mal e ele me tirou do time. Achei injustiça, mas continuei a treinar entre os reserva”, afirmou o próprio Mário Sérgio sobre a rigidez do técnico. O desentendimento entre os dois era tão grande, que um dia o jogador, enquanto fazia embaixadinhas, ao ouvir a nova reclamação de Yustrich, chutou a bola para fora do estádio e disse que naquele time não jogaria mais.
Os anos como jogador
Após sair do Flamengo, Mário Sérgio entrou para o Vitória em 1971, e já em 1972 brilhou na conquista do Campeonato Baiano, formando, ao lado de André Catimba e Osni, o melhor trio de ataque da história do clube. Em 1973, faturou a Bola de Prata como ponta-esquerda. Em 1974, mudou de posição e se tornou armador, mas a mudança não provocou complicações, e Mário Sérgio fez outro grande campeonato, conquistando sua segunda Bola de Prata.
Em 1975, foi contratado pelo Fluminense, onde compôs a “máquina tricolor” ao lado de craques como Roberto Rivelino, Paulo César, Gil, Manfrini e Edinho. Chegou a conquistar um Campeonato carioca, mas sua passagem pelo time foi curta e, em 1976, foi contratado pelo Botafogo, onde jogou até 1979.
Em 1978, porém, sofreu uma contusão no joelho que o afastou por quatro meses. Forçando para se recuperar com rapidez, acabou piorando a situação e ficou afastado por mais um ano. Depois disso, foi negociado com o Rosario Central, da Argentina, onde durou pouco, devido ao temperamento explosivo.
Contratado pelo Internacional a pedido de Falcão, na época o melhor jogador do time, Mário Sérgio fez parte da conquista invicta do Brasileirão em 1979 e disputou a final da Libertadores em 1980, ano em que faturou mais uma Bola de Prata. O jogador também passaria pelo São Paulo e pelo Ponte Preta antes de chegar ao Grêmio.
De acordo com o técnico da época, Valdir Espinosa, “ninguém queria o Mário Sérgio no Grêmio”. Sua fama de irreverente e bagunceiro fazia os diretores e presidentes dos clubes terem uma visão ruim dele. Sob a insistência do técnico, foi contratado apenas para o Mundial Interclubes. Seu papel na conquista do título foi de suma importância e demonstrou seu poder para ditar as movimentações da partida e confundir os adversários.
Seu reconhecimento como jogador foi tanto que, em sua segunda passagem pelo Internacional, Mário Sérgio disputou o clássico gaúcho contra o Grêmio. O jogador acreditou que, por serem torcidas rivais, uma das duas iria chamá-lo de traidor quando entrasse em campo. Na troca de faixas do clássico que abriu o Campeonato Gaúcho em 1984, porém, Mário, vestido com a camisa do Internacional e com a faixa de campeão do mundo do Grêmio, foi aplaudido por ambas.
Em 1987, agora jogando pelo Bahia, Mário Sérgio anunciou sua aposentadoria no intervalo do jogo contra o Goiás, e não voltou para disputar o segundo tempo. Depois, tornou-se técnico, e sua carreira passou por times como o Vitória, Corinthians, São Paulo, Botafogo e Internacional, sempre muito polêmico. Sua carreira como treinador, porém, não obteve o mesmo brilho da de jogador, e ele logo a abandonou.
E a Seleção?
Apesar de sua habilidade como jogador, Mário Sérgio nunca chegou a disputar um torneio vestindo a camisa da Seleção Brasileira. No auge de sua carreira, no início dos anos 80, foi cogitado para integrar a Seleção de 82, que também contava com Zico, Sócrates e Falcão. Que era habilidoso, não havia dúvida, mas seu jeito questionador, irreverente e indisciplinado, e as confusões nas quais já havia se metido pesaram na escalação oficial.
Mário Sérgio chegou a participar da equipe durante a fase preparatória, e chegou a constar entre os 40 nomes da lista de espera. No último minuto, porém, foi cortado da equipe oficial e substituído por Éder, do Atlético Mineiro.
“Eles não entendem o que eu falo nos treinos, vou virar comentarista”
Aposentado dos campos, o jogador estreou como comentarista na TV Bandeirantes, na qual chamou a atenção pela facilidade em se comunicar e analisar futebol. Trabalhou nas Copas de 1990 e 1994, ao lado do lendário Silvio Luiz, de quem era o principal comentarista. É dele também a frase já muito difundida pelos comentaristas, “O time X está começando a gostar do jogo”.
Durante a narração das Copas, Mário aproveitava para criticar duramente o jogador Dunga, chegando a afirmar que, quando ele entrava como volante em 94, “a Seleção jogava com dez jogadores”.
Depois de alguns anos parado, após deixar o comando do São Caetano em 2003, Mário foi contratado pelos canais Fox Sports e assinou um contrato até a Copa de 2018, exigindo uma clausura que o permitisse ser técnico sem que, para isso, tivesse que pagar multa.
Atuando por muitos anos em diferentes Canais, o ex-jogador sempre foi alvo de inúmeras polêmicas, como uma discussão ao vivo com seu colega de trabalho, Rodrigo Bueno, após esse insinuar que os técnicos brasileiros eram inferiores aos técnicos de outros países, e o infame comentário após a morte do ex-técnico Cláudio Coutinho, no qual ele teria dito, em tom sarcástico, que “o último que via ponto futuro morreu afogado”. Apesar disso, sua análise de jogo fora de campo era tão boa quanto dentro, mostrando sempre um homem capaz de ler precisamente a movimentação de todos dentro do estádio.
A morte inesperada
Ainda trabalhando pela Fox Sports, Mário Sérgio fora enviado para cobrir a final da Copa Sul-Americana de 2016, jogo que deveria ser disputado entre a Chapecoense, do Brasil, e o Atlético Nacional, da Colômbia.
Tendo embarcado junto com a equipe brasileira, Mário se dirigia para a cidade de Medellín a bordo de um avião da empresa boliviana Lamia, quando este caiu na região entre as cidades de La Ceja e La Unión, causando a morte de mais de 70 pessoas, entre as quais estava o ex-jogador e comentarista.