Por Lázaro Campos Júnior
Mais de dez anos se passaram, e a pergunta “Foi ou não pênalti?” recebe respostas diversas de cada torcedor quando se trata do lance capital entre o meia colorado Tinga e o goleiro corintiano Fábio Costa, no Corinthians e Internacional da 40ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2005. A jogada está envolta de toda a polêmica da pontuação daquela edição do Brasileirão. Apesar disso, o Inter, até então comandado por Muricy Ramalho, garantira a vaga para Copa Libertadores de 2006.

O ano de 2006, para o Internacional, foi de algumas mudanças para a almejada conquista da Libertadores. Muricy Ramalho deixou Porto Alegre para comandar o São Paulo. Em seu lugar foi contratado Abel Braga. No mesmo ano chegou ao Internacional o lateral-esquerdo Rubens Cardoso, entrevistado pelo Arquibancada. Segundo ele, o elenco já estava montado, o que foi um grande mérito do dirigente Fernando Carvalho. Desse ponto se iniciou a preparação para o torneio continental – ao qual o Internacional voltava a disputar depois de 13 anos, ainda sem título.
Rubens destaca que a preparação não foi apenas técnica e tática, mas também emocional: “Um profissional motivacional, Evandro Mota. Na primeira reunião ele colocou [a imagem de] o título do São Paulo em 2005. Deixou aquele gostinho na boca. Aquilo me marcou bastante. Ele disse: ‘Vocês gostariam de estar naquele lugar? Vocês têm a oportunidade hoje.’”
Para o ex-lateral, o momento particularmente mais marcante da campanha foi a estreia no Beira-Rio, em que o Internacional aplicou um convincente 3×0 sobre o Nacional do Uruguai. “Eu pude fazer um gol também, e esse jogo deu uma esperança para a imprensa, pra torcida e uma convicção pra gente [jogadores].”
Dificuldades como tropeços e lesões são sempre presentes em uma temporada no futebol. E foi em momentos como esses que o elenco colorado demonstrou o que Rubens chama de maturidade. “Não tinha vaidade e competição desleal no grupo. Quando me contundi, o Jorge Wagner entrou, mas ele respeitou meu espaço e eu respeitei o espaço dele. O elenco todo foi assim. Isso fez com que o Inter se tornasse forte.” Além disso, segundo Rubens, o técnico Abel Braga também agregava motivação não só aos 11 que jogavam, um time só, mas ao elenco todo.
Após superar as equipes do Nacional (Uruguai), LDU (Equador) e Libertad (Paraguai), o Internacional chegou à final contra o São Paulo, comandado pelo ex-treinador do colorado, Muricy Ramalho. Rubens comenta: “O Internacional respeita muito o Muricy, ele fez um trabalho fantástico. Acima de tudo, se respeita dentro de campo se esquece o carinho pelo Muricy. Tínhamos um respeito muito grande, mas ele foi atropelado, passado por cima pela vontade de vencer.” Ironicamente, a decisão do campeonato foi contra a equipe que serviu do motivação e espelho para o colorado. “Não esperávamos chegar na final contra o São Paulo, um time brasileiro. O São Paulo tinha tradição. Mas agora era a nossa vez”.

Depois de vencer por 2 a 1 no Morumbi, no jogo de volta no Beira-Rio, o Internacional garantiu o título com um empate em 2 a 2. O segundo gol, o gol do título, foi marcado por ninguém menos que Tinga. O jogador que ficou marcado pelo pênalti não marcado e expulsão do jogo decisivo do Brasileiro de 2005. A expulsão veio novamente, porque Tinga levantou a camisa na comemoração. Mas o gol anotado foi a redenção de um jogador injustiçado no ano anterior. Rubens Cardoso comenta: “Ele sofreu bastante principalmente em 2005, quando ele foi penalizado injustamente. Até hoje lembramos da imagem da falta, sendo expulso e o Internacional, de alguma forma, sendo prejudicado e perdendo o título. Mas mereceu [em 2006] por estar no momento certo e na hora certa”.

O dia 16 de agosto de 2006 será relembrado dez anos depois, com um jogo comemorativo no Beira-Rio, realizado pelo Internacional por iniciativa do próprio Tinga. A partida reunirá os heróis de 2006 contra os craques de toda história do colorado para festejo da torcida e da história do clube.
A comemoração, no entanto, terá a ausência do ídolo do Internacional, Fernandão – falecido em 2014. Perguntado sobre Fernandão, Rubens comenta: “Ele foi capitão não só de exemplo, mas de caráter e liderança. Víamos que ele tinha algo a nos passar. Acima de tudo, ele deixa saudade para todo mundo. Se a gente não deixa saudade é porque não se fez um bom papel. E ele deixa saudade e um legado e isso a gente vai lembrar eternamente. Ele fica marcado pra história como o cara que levantou a taça do Internacional. Acredito que faremos uma grande homenagem também a ele.”
