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Moda de luxo e produção popular: duas forças que se atraem

Setores opostos da indústria fashion impactam um ao outro

Jóias, peças únicas e tecidos caros. Bijouterias, produção em larga escala e tecidos baratos. A distância demarcada por um simples ponto final, também aparece nos consumidores de cada pólo deste mercado. A moda, no entanto, não é maniqueísta, cabível de separação entre 8 ou 80, e sim composta por fatores diferentes que se influenciam mutuamente.

A indústria de luxo, para Iza Dezon, expert em macrotendências, é a maior ditadora do mercado popular. Por existir em um meio em que a liberdade é privilegiada, permite que expressões artísticas e criativas aconteçam. O formato promove a admiração de novas tendências e, consequentemente, impossibilita a repetição da produção, uma vez que o anseio social é pelas inovações.

Camila Yahn, editora-chefe do portal FFW e head de conteúdo do Icomm Group, explica que um dos exemplos da influência do luxo é Maria Antonieta. “A monarca é associada à criação de modismos porque, na época, tudo o que ela usava era novo. Ela conseguiu inovar nos tecidos, nas cores, em estilos de penteado e em sapatos”. Dessa forma, a francesa inspirou não só a aristocracia, mas também as camadas mais populares. Como não era possível fazer uso dos mesmos elementos de composição, seja por falta de dinheiro, seja pela impossibilidade de trabalhar usando o mesmo volume de roupas da rainha, as mulheres adaptavam as referências de Antonieta para algo que se encaixasse na realidade delas.

A editora-chefe do FFW explica a influência mútua entre camadas mais populares e a alta sociedade. [Imagem: Reprodução/Camila Yahn]

De acordo com Dezon, essa corrente de influência também acontece de forma contrária. “As tendências periféricas impactam o luxo, ou seja, não é um sistema que só vem de cima para baixo”. Maria Antonieta pode servir de exemplo, do mesmo modo, para ilustrar a prática: a aristocrata fez uso do algodão — tecido comumente utilizado entre as classes mais pobres.

O brazilian aesthetic, também conhecido como Brazilcore, é uma estética que privilegia o uso de símbolos e cores que remetem ao Brasil. A ideia se popularizou no TikTok depois de fashions icons nacionais e internacionais utilizarem camisetas da seleção brasileira ou cores da bandeira do país. O uso desses elementos, no entanto, já era comum nas periferias. O verde da Bottega Veneta e a valorização de cores quentes pelas grandes marcas também podem ter trazido à tona a admiração pelos usuários da rede social, o que demonstra a conexão do mercado.

O Brazilcore têm aparecido entre celebridades e personalidades conhecidas nas redes sociais. [Imagem: Reprodução/Instagram @rubylyn_]

O desejo pelo hype e suas consequências 

Para Iza Dezon, “o mercado de luxo acessa o mundo das celebridades, status e, portanto, impacta o desejo popular”. No entanto, o consumo dessa produção era distante pelo preço das peças e pela quantidade restrita — muitas vezes são coleções limitadas —, ou seja,  a população conseguia seguir “a moda” apenas através de micro referências, como de famosos em revistas e em sites. O que, nos últimos 20 anos, têm mudado com a chegada das fast fashions, pois houve uma democratização do acesso a itens que remetem às tendências que, anteriormente, não chegavam a esse público, completa Dezon.

A especialista indica que esse acesso facilitado de roupas similares às de passarela gerou efeitos no mercado de prêt-à-porter e de passarela. “A alta-costura demandava um grande período de produção e, por isso, as roupas demoravam para entrar em circulação. Mas, com a chegada do fast fashion, em que há uma reação de 6 semanas ou menos para tudo acontecer, isso ficou muito complexo”.

Camila Yahn ainda lembra como a indústria de larga escala, para garantir o barateamento dos produtos, perpetua o trabalho análogo à escravidão. Ainda, segundo ela, o impacto também envolve o meio ambiente pelo uso excessivo da água e do descarte incorreto de substâncias químicas. “Há uma enorme falta de informação, às vezes o consumidor pensa que está fazendo um ótimo negócio, mas não sabe os problemas por trás daquilo. O grande desafio é que haja uma democratização do acesso às roupas de maneira sustentável e justa com os trabalhadores”.

Para se livrar da busca incessante por tendências que geram o consumo inconsciente e, com isso, a compactuação com o mercado, uma das saídas é a busca pela autonomia do estilo. Mas, Dezon explica que é uma tarefa extremamente difícil, pois “o mercado já te oferece as opções, para sair dele precisaria criar uma estética própria que envolveria muito estudo de moda e de autoconhecimento — principalmente sobre o seu corpo”. Uma alternativa mais eficiente e mais rápida, segundo ela, é optar por marcas sustentáveis e que não promovem o trabalho análogo à escravidão.

Para Iza Devon, a indústria da moda tem se mantido viva por conta dos reposts. [Imagem: Reprodução/Iza Dezon]

Mundo dos clicks e do plágio

Segundo Iza Dezon, “hoje, a indústria da moda tem se mantido viva por conta dos reposts. Raramente se cria, mas constantemente ‘se reposta’. Para a especialista, a urgência de pertencer ao núcleo que consome coisas similares, e o relacionamento com o espetáculo criado nas plataformas digitais são maiores do que fazer a peça e a modelagem em si, em uma ideia genuinamente criativa. Assim, em todas as circunstâncias que você se baseia em um desenho, ou você está parafraseando, ou plagiando ele. Da mesma maneira que ocorre com quadros, livros e artigos.

Camila Yahn explica que os ateliês são espaços de inovação. “Além de fazer todo trabalho a mão e reunir os melhores profissionais, eles conseguem potencializar a criatividade pelas ferramentas disponíveis”. Ela afirma que eles fazem algo que marcas populares não poderiam construir, seja pela falta de tempo para pensar no processo criativo, ou pela própria liberdade. Então, quando buscam fazer algo muito parecido, pode-se chamar de cópia”.

Por outro lado, grifes também copiam artistas independentes ou que trabalham no setor popular, o que prejudica os criadores originais, uma vez que as marcas de luxo têm um alcance muito maior.

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