Moonage Daydream (2022) documenta a vida e a visão existencialista de David Bowie tentando emular a perspectiva do próprio artista. O diretor Brett Morgen constrói todo o longa a partir das diversas imagens de arquivo do cantor, pintor, ator, escultor, compositor, modelo e performista britânico, misturadas com cortes de filmes antigos como Metrópolis (1927), O Mágico de Oz (The Wizard of Oz, 1939) e Nosferatu (1922). As referências servem para marcar uma das muitas temáticas do filme dentro do escopo da vida do artista, a transição do modernismo para o pós-modernismo.
A história do artista não é contada da maneira que o espectador pode estar acostumado. Não se fala de datas, de nomes, pouco se comenta lugares, não existe uma linha do tempo bem estabelecida. As falas de Bowie vão e vêm intercaladas por suas músicas, contando a perspectiva sobre a própria vida e as várias fases do artista. Aqui é mais importante sentir do que realmente entender.
A edição de Moonage Daydream é primorosa nesse sentido e conquista logo nos primeiros momentos. Com sobreposições que criam significados e um senso estético apurado, as imagens selecionadas sempre dialogam de forma construtiva com os áudios das muitas entrevistas de Bowie. Na ausência de narração e depoimentos, a voz dele impera durante toda a duração do filme.
O que mais chama a atenção no filme é justamente o quanto tudo é voltado para a essência “bowieana”. O documentário simula a maneira que funcionava a mente genial de um dos maiores artistas generalistas, como o próprio se considerava, do século passado. As sobreposições aceleradas de imagens demonstram sua inquietação. Os momentos de quietude representam seu eventual isolamento. Planos super fechados de fãs se esgoelando de excitação ao ver o ídolo nos passam a claustrofobia que Bowie pode ter sentido.
Por isso também, a experiência pode ser um pouco cansativa. Com 2 horas e 10 minutos de duração, Moonage Daydream se excede um pouco na metragem. Mas tem o mérito de não subestimar o espectador e entregar um filme que o próprio Bowie gostaria de assistir.
O longa está disponível em cinemas por todo Brasil. Confira o trailer legendado:
*Imagem da capa: Divulgação/Universal