Em nosso cotidiano, lidamos diariamente com diversas tecnologias que nos mantêm seguros, facilitam nossas vidas ou apresentam novas funcionalidades, usando muitas delas sem saber como elas nos provêm dessas utilidades. Nessa matéria, selecionei duas dessas tecnologias: o mouse de computador e o extintor de incêndio. Ao descobrir o básico de seu funcionamento, podemos lidar melhor com esses itens no futuro, estando mais preparados tanto para cliques no computador, como para prevenir incêndios!
Mouse
Apesar de ser um instrumento comum em praticamente todos os computadores atuais, o mouse nem sempre esteve presente. Os primeiros computadores não possuíam uma interface visual para nossa interação, eles eram controlados através de comandos enviados pelo teclado. Portanto, não havia necessidade de um mouse para clicar em objetos de uma tela, já que esta exibia somente linhas de texto. Segundo Renato Paiotti, do Instituto Newton Braga, “o mouse surgiu como uma necessidade quando os primeiros ambientes gráficos surgiram”. Anteriormente, “as setas do teclado e as teclas de atalhos atendiam à necessidade”. Dessa forma, mesmo depois do surgimento do primeiro protótipo de mouse, ele “tinha as mesmas funções das setas do teclado, logo as teclas ainda eram mais fáceis”.
O mouse somente se tornou mais relevante com a popularização dos sistemas gráficos, que são comandados interagindo com botões na tela, ao invés de linhas de texto. Segundo Paiotti, “somente na década de 80, quando a Apple lançou seu Sistema Operacional […] gráfico, foi que este periférico teve grande utilidade (com apenas 1 botão) e o Windows (com 2 botões)”. O surgimento desses novos sistemas operacionais ajudou muito a popularizar os computadores, que começaram a sair dos escritórios e locais especializados para aparecer também nas casas: os famosos Personal Computers (PCs). A invenção do mouse foi essencial para esse processo de popularização, já que, através dele, esses sistemas podiam ser operados por pessoas com menos conhecimento técnico. Essa foi a ideia da Apple e do Windows, nomeado justamente porque se clica em ‘janelas’ para usá-lo.
Assim, é possível dizer que o surgimento do mouse ao mesmo tempo foi fruto e impulsionou os sistemas operacionais gráficos, que precisavam de um meio para o usuário navegar e apontar na tela. Esses primeiros mouses, portanto, precisavam superar o desafio de passar para a tela virtual um movimento feito pelo usuário. A solução encontrada foi uma pequena bolinha na parte debaixo do aparelho, que girava conforme o mouse era arrastado na superfície. Segundo Paiotti, “conforme a bolinha girava, rodava uma roda dentada que interrompia a passagem de luz do sensor”. Na parte interna do mouse, existem duas dessas rodas dentadas (uma para movimentos “verticais” e outra para “horizontais”), conectadas à bolinha. Na frente de cada uma delas, uma luz é emitida e recebida por um sensor, quando a roda gira, seus dentes cobrem essa luz por breves momentos, sinalizando a ele o quanto o mouse se movimentou em uma certa direção.
Por exemplo, se o mouse é movimentado para frente por uma certa distância, a bolinha girará e esta fará a roda dentada rodar, obstruindo a luz cada vez que um dente passa em frente dela. Esse sensor ‘conta’ o número de vezes que a luz foi obstruída e envia essa informação para o computador através do cabo que os conecta. O computador, por sua vez, recebe essa contagem e converte em uma certa distância para o ponteiro do mouse, na tela. Se, em seguida, o mouse for movimentado para frente novamente, mas por uma distância menor, a bolinha girará menos. Assim, a roda dentada girará menos e a luz será obstruída menos vezes, diminuindo a contagem do sensor e, portanto, movimentando o ponteiro na tela por uma menor distância. Movimentos mais complexos funcionam da mesma maneira, e são detectados pela composição dos dados recebidos pelas duas rodas dentadas.
Mas, segundo Paiotti, há outra opção: “Atualmente temos o mouse óptico, que ao invés de ter dois sensores para as posições X e Y [esquerda-direta e cima-baixo], possui um led que emite a luz para baixo e sensores leem as diferenças de sinais recebidos e convertem em movimento”. Essa tecnologia é hoje a mais comum (você provavelmente pode enxergar o led na parte debaixo de seu mouse), mas ainda funciona pelos mesmos princípios. A diferença mais notável entre os sensores ópticos e a bolinha é que os mouses da bolinha precisam estar encostados em uma superfície para funcionar e, por ter que girar a bolinha, o atrito adicional pode torná-los mais “pesados”. Já os ópticos podem funcionar a uma pequena distância da superfície, desde que seja próximo suficiente para que a luz do led reflita de volta aos sensores internos, podendo rastrear os movimentos. Se a luz não é refletida, o sensor não consegue detectar as pequenas diferenças na superfície que mostram o movimento, deixando o ponteiro estático na tela.
Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: pacotes de dados com as contagens de movimento (como coordenadas) são enviadas para o computador, que traduz isso em um movimento do ponteiro na tela. Mas Paiotti explica que essa conversão é arbitrária: um pequeno movimento do mouse pode fazer o ponteiro percorrer a tela inteira, ou somente poucos centímetros. “A velocidade do mouse é configurada no próprio sistema operacional, você pode aumentar ou diminuir a sensibilidade do mouse, tanto em movimento, como o clique, via configuração”.
Assim, o nome desse ajuste é sensibilidade, e é definido não pelo mouse que só fornece as ‘contagens’, mas no computador em que isso é convertido. Para Paiotti, “temos pessoas com necessidades especiais que limitam os movimentos das mãos, e deixar a configuração padrão as prejudica, por isso que ajustes via sistema se fazem necessários”. Esse ajuste da “velocidade” do mouse também pode ajudar a ter mais precisão nos cliques, sendo importante em jogos de computador e quando se trabalha com pequenas áreas na tela (edição de fotos, por exemplo). A unidade de medida da sensibilidade é DPI (da sigla em inglês, pontos por polegada, medindo quantos pontos na tela o ponteiro se move para cada polegada da movimentação do mouse). Dessa forma, menores DPIs permitem maior precisão, mas diminuem a rapidez para percorrer a tela, necessitando também de um grande espaço para o mouse (já que o ponteiro se move pouco em relação ao mouse, precisando mover este por uma distância maior).
Já os botões do mouse são praticamente iguais aos do teclado, completam uma corrente elétrica ao serem pressionados, enviando um sinal correspondente ao computador. A rodinha do mouse possui um funcionamento parecido com sensor da bolinha: conforme esta roda, também gira uma roda dentada, com um sensor que funciona da mesma maneira, enviando os sinais ao computador.
Esses são os princípios de funcionamento do mouse. Sua inovação impulsionou um modo mais acessível de usar computadores e, por sua grande praticidade, nem mais os imaginamos sem este acessório. Hoje, com o avanço tecnológico, formas diferentes de rastrear os movimentos estão surgindo (como os trackpads dos notebooks) e os mouses parecem ganhar cada vez mais botões, mas a ideia de fazer uma ponte entre a tela e os movimentos do usuário continua a mesma.
Extintor
Já o extintor de incêndio é uma invenção diferenciada para resolver um problema pré-existente. Ao longo da história, diversos dispositivos foram usados para controlar chamas e evitar desastres maiores, mas a popularização do extintor moderno acompanhou as tendências de industrialização e urbanização. Estas deixavam moradias mais compactas e amontoadas, espalhou eletricidade, gás e máquinas pelas cidades — além das fábricas — tornando o risco de incêndio e seus possíveis danos muito maiores. Assim, os extintores se tornaram cada vez mais populares e importantes, especialmente depois da criação de normas de segurança para grande parte dos edifícios.
Diogo, da empresa Munhoz Extintores, especializada na venda e instalação de equipamentos contra incêndio, afirma que “todas as edificações, exceto residências unifamiliares, são obrigadas a cumprir os requisitos de segurança contra o incêndio, o que inclui o extintor de incêndio”, dessa forma, o extintor não é de nenhuma forma raro nos dias de hoje e conhecer seu funcionamento e utilização pode ser útil.
Segundo Caio Pereira, do site Escola Engenharia, “um extintor de incêndio é um equipamento composto basicamente por um cilindro — que contém o agente extintor — uma mangueira e uma alavanca que controla a quantidade expelida”. Assim, os extintores de incêndio são apenas invólucros para seu conteúdo, o agente extintor, que é a substância utilizada para extinguir o fogo. Geralmente esse material está sob grande pressão dentro deste cilindro e, quando ativado, é expelido. Segundo Diogo, “a maneira de retirá-lo do equipamento é introduzindo um gás expelente. Geralmente o nitrogênio ou dióxido de carbono são os […] utilizados para isso”. Os gases expelentes também ficam pressurizados no cilindro, mas sua função não é agir sobre as chamas, e sim ajudar a expulsar o material que que realmente apaga. Diogo ainda faz uma segunda distinção: entre extintores de pressurização direta, em que o gás expelente está em meio ao agente extintor, ou indireta, em que é mantido separado, utilizando-se somente da pressão do gás no momento de uso.
Mas estas não são as únicas partes do extintor. Caio Pereira ainda destaca “lacre, pino de segurança e um manômetro […], que mede a pressão interna do cilindro e demonstra a quantidade de agente extintor que ainda pode ser utilizado”. Para ativação do extintor, o procedimento recomendado é trazê-lo até a proximidade das chamas, apontar para o material queimando (ou “base do fogo”), mantendo o cilindro sempre na vertical e, “uma vez que o lacre é retirado e a alavanca ativada, com a mangueira apontada para o base do fogo, o agente extintor é pressionado no interior do cilindro e é forçado a sair pela mangueira”, podendo assim apagar as chamas.
Porém não é tão simples assim. Segundo Diogo, “cada extintor de incêndio é projetado para apagar certos tipos e tamanhos de fogo. Em seu quadro de instruções (rótulo) vem esta especificação, bem como se há proibição da utilização em algum [caso] específico”. Dessa forma, não é possível utilizar qualquer extintor para qualquer incêndio, devendo-se prestar atenção tanto para o tipo de extintor disponível como para qual é a origem das chamas.
Assim, deve-se prestar atenção nos tipos de incêndio antes de utilizar um extintor. As classificações podem variar, mas, segundo Caio Pereira, no geral, são:
“Classe A: Causado pela queima de materiais combustíveis sólidos como papel, madeira, borrachas, dentre outros.
Classe B: Causado pela combustão de líquidos ou gases inflamáveis.
Classe C: Causado pela queima de equipamentos e instalações elétricas energizadas.
Classe D: Causado pela queima de metais combustíveis como magnésio, titânio, potássio, lítio, sódio e zircônio.” (Porém este último ainda não foi implementado em nível nacional, segundo Diogo).
A importância de prestar atenção a esses detalhes é destacada por Caio: “utilizar um tipo de extintor que não é recomendado para um tipo de incêndio é muito perigoso e pode assumir papel contrário no combate, contribuindo para o aumento do fogo e para os danos causados”.
Para saber qual extintor utilizar em cada momento, é importante pensar no triângulo do fogo. Esse triângulo é formado pelas três condições necessárias para que um incêndio se inicie ou se alastre: calor, comburente e combustível. O combustível é o que será consumido pelas chamas, alimentando-as. Já o comburente é outra substância, geralmente o gás oxigênio presente no ar, que participa da reação da queima, também sendo consumido. É importante lembrar que a queima é uma reação química exotérmica, liberando calor. Assim, um incêndio, ao consumir o combustível em que ele se inicia, libera o calor necessário para que se alastre, causando uma reação em cadeia que acaba com a sua proliferação. Para evitar isso, os diferentes extintores buscam combater uma ou mais dessas condições, quebrando o triângulo e interrompendo o alastramento. Geralmente, eles irão tentar retirar o comburente (afastando o oxigênio do fogo, abafando-o para que não possa mais se alimentar e apague) ou resfriar o material queimando, já que retirar o combustível é difícil e perigoso.
Os tipos mais básicos são classificados a partir dos agentes extintores que possuem: água (busca resfriar o material queimando, utilizado para classe A), líquido gerador de espuma (líquido que quando expelido se expande e forma uma camada de espuma, resfriando, isolando ou abafando o combustível, utilizado para as classes A e B), pó químico (busca abafar o combustível ou reagir com ele, tornando-o não inflamável e quebrando a reação em cadeia do fogo, dependendo do pó pode ser utilizado para A, B e C ou somente B e C), gás carbônico (busca afastar o comburente (oxigênio) das chamas, extinguindo-as, utilizado para classe C), entre outros tipos, especiais para incêndios mais intensos como os de classe D ou para casos especiais. É importante checar qual extintor se está utilizando e quais são suas adequações pelo rótulo, geralmente colado nos lados do cilindro.
Existem diferentes extintores porque cada um possui suas vantagens e desvantagens. Por exemplo, um extintor a base de água não é adequado para apagar chamas de óleo quente (classe B, muito comum em cozinhas). Isso pois, como ela não se mistura com o óleo, a água irá descer até o fundo do recipiente (por ser menos densa) e irá vaporizar-se, criando bolhas dentro do óleo e jogando-o para cima, fazendo com que se oxigene ainda mais, aumentando o fogo. Água também não é adequada para incêndios em equipamentos elétricos, pois ela pode conduzir eletricidade e dar choques em pessoas próximas ou danificar esses equipamentos por curto-circuitos. Já extintores a base de gás carbônico não possuem esses problemas, mas, por expelirem gases, são mais difíceis de aplicar às chamas e, se utilizado em ambientes fechados, pode expulsar o oxigênio local, apagando o fogo, mas gerando risco de asfixia.
Para prevenir incêndios de maneira mais efetiva, deve-se também ter um planejamento de acordo com o edifício. Segundo Diogo, “cabe ao projetista das instalações de segurança contra o incêndio (geralmente o engenheiro de segurança do trabalho) analisar os riscos da edificação e indicar o extintor adequado para o risco, ficando a critério desse utilizar equipamentos com maior tempo de descarga e capacidade extintora”. Em seguida, ele explica algumas das normas técnicas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para segurança contra incêndios: “Primeiramente precisamos ter um extintor a menos de 5 m da entrada principal. Posteriormente se faz a distribuição atendendo um limite de distância máxima a ser percorrida das pessoas da edificação até o equipamento. Essa distância varia com a classificação de risco da edificação, entre 15 m e 30 m. Posteriormente se avaliam os riscos pontuais específicos destinando extintores complementares a esses.”
Mas a análise não acaba por aí: “Também precisa-se avaliar as classes de fogo, a capacidade extintora, capacidade física dos ocupantes da edificação etc. Assim sendo, é inconveniente ter um extintor para classe A, se o risco naquele local é para classe B, e vice e versa. Ou um extintor para fogo tamanho 20 B se o potencial risco da edificação é 80 B.” Assim, além do tipo, é importante também fazer uma avaliação de qual o tamanho do fogo que um local pode atingir, para que o extintor posicionado tenha capacidade suficiente para extingui-lo sem que o agente extintor acabe.
Desse modo, um bom planejamento contra incêndio tem de lidar com vários fatores, sempre considerando se os ocupantes do local realmente serão capazes de utilizar os instrumentos colocados diante deles, senão estes não valem de nada: “é interessantíssimo que o projetista facilite os possíveis operadores, aplicando extintores de incêndio multiclasse — como os ABC — avalie o potencial calorífico dos prováveis combustíveis da edificação e evite extintores muito pesados em edificações [onde] a população tenha restrições físicas.”
Caio Pereira ainda adiciona: “Além disso, os extintores devem estar dispostos em locais que não recebam ações de intempéries como sol e chuva e a sua remoção não deve ser dificultada por abrigos e suportes. Da mesma maneira devem ser devidamente sinalizados e seu acesso nunca deve ser bloqueado.”
Outro aspecto importante é a manutenção. Segundo Diogo, “há diversos componentes, principalmente com a função de vedação que se degradam ao longo do tempo e exposição a intempéries, por exemplo. O recipiente ou cilindro também precisa passar por análise de resistência, avaliação de corrosão, etc”. Com isso, Diogo afirma que a manutenção ajuda a regularizar os extintores e deixar a probabilidade do equipamento falhar muito baixa. Destaca também a importância da manutenção para evitar que possíveis poluentes escapem e causem danos ao meio ambiente, sendo reaproveitados em outros extintores.
Por fim, mesmo com o planejamento para garantir que um extintor esteja sempre posicionado para combater um incêndio adequado ao seu tamanho e tipo, um conhecimento de como usá-lo ainda é importante. Ambos os entrevistados destacam a importância de um conhecimento básico sobre o extintor: “o ideal seria que toda pessoa tivesse um conhecimento básico sobre o funcionamento e o uso específico de cada tipo de extintor”, segundo Caio Pereira, e “as instruções de utilização estão em todos os rótulos destes equipamentos e são bem intuitivas e simples, contendo figuras e descrição. Um treinamento prévio é sempre interessante, uma vez que um princípio de incêndio é sempre uma situação de estresse e imprevista”, segundo Diogo. Dessa forma, esse conhecimento é algo importante não só para evitar possíveis incêndios, mas também para evitar maiores danos durante o combate. Espero ter ajudado e, é sempre importante lembrar que nem todo incêndio pode ser apagado sem ajuda do Corpo de Bombeiros, na dúvida, chame (193 para São Paulo)!