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Na minha pele: o reflexo do Brasil racista

Evidente que você já ouviu falar em Lázaro Ramos, ator, apresentador, cineasta, pai, escritor, marido de Taís Araújo e dono de uma biografia invejável que lhe rendeu até uma página no Wikipédia com algumas informações sobre a sua vida. Porém, há muito mais detalhes da bela jornada desse ser humano incrível que, óbvio, não iam …

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Evidente que você já ouviu falar em Lázaro Ramos, ator, apresentador, cineasta, pai, escritor, marido de Taís Araújo e dono de uma biografia invejável que lhe rendeu até uma página no Wikipédia com algumas informações sobre a sua vida. Porém, há muito mais detalhes da bela jornada desse ser humano incrível que, óbvio, não iam comportar apenas em um site da web. Por isso, no finalzinho de 2007 começa o processo de desenvolvimento de Na Minha Pele (Companhia das Letras, 2017) compilado mais minucioso das histórias marcantes da vida do ator.

O livro é conduzido através dos olhos e vivências do jovem Lazinho, menino franzino e bastante perspicaz, que descobre a paixão pelas artes cênicas, faz grandes conquistas ao lado do Bando de Teatro Olodum. Em seguida entra em contato com o cinema; não demora muito para conseguir um espaço nas novelas da TV Globo; depois ganha um programa no Canal Brasil, onde tem a oportunidade de ser apresentador, é aí que tudo muda. Lázaro vê nessa oportunidade a chance de entrevistar grandes personalidades da cena artística e intelectual do país, investigando assuntos que permeiam o cotidiano, mas sempre com a premissa de valorizar a cultura negra.

A narrativa, contada em 1ª pessoa, é singela e começa com uma declaração emocionante do ator para sua falecida mãe que, infelizmente, deixou-o cedo demais. Logo após, somos levados a conhecer a Ilha de Paty, na Bahia, local aprazível com pouco mais de duzentos habitantes onde passou boa parte de sua infância. É interessante notar, prontamente, ao desenrolar do primeiro capítulo, Lázaro busca construir a história da pequena ilha por intermédio de memórias recolhidas de antigos moradores. Pensar nessa volta ao passado, em um local fundado por negros, possivelmente ex-escravos, mostra-se uma tarefa árdua e incerta por receio de reviver um passado carregado de sofrimentos. Fica evidente, neste momento, o grande descaso histórico a qual essa população fora acometida. O pequeno relato é responsável por causar uma introspecção profunda no leitor, esse sentimento perdura até os capítulos finais.

Não dar voz ou simplesmente possuir registros documentados, que não as referencie como mercadoria, foi a forma que a elite branca arranjou de excluí-las da linha do tempo. Diga-se de passagem, este recurso utilizado pelo autor é bem interessante. Agregar nas histórias de sua vida, valores que levam à reflexão, torna os assuntos mais palpáveis. Como diria aquela velha máxima: “entendendo a parte, você consegue compreender o todo”. Basicamente, ao folhear as páginas do livro você irá encontrar causos da vida de Lázaro que lhe trarão algum tipo de ensinamento, sendo possível aplicá-los em outros contextos também. Ele consegue de maneira fantástica transformar um assunto polêmico em uma simples conversa de mesa de bar. É possível visualizar o seu sorriso encantador nas piadas soltas com o intuito de suavizar os temas abordados.

Na minha pele é muito mais do que um livro quase autobiográfico. Seu objetivo é, por meio das vivências do ator, demonstrar algumas questões raciais que estão latentes e afetam a vida da população negra. “Todos nós somos educados de uma maneira muito torta acerca do outro. O que a gente pode fazer é admitir que estamos em obras e ir corrigindo isso” (Emicida em entrevista para Lázaro Ramos no programa Espelho em 2016).  Acompanhar a narrativa nos faz ponderar sobre a  maneira como consumimos tudo que é exibido na TV, nas rádios e anúncios publicitários. São vários os dilemas abordadas que questionam o tipo de sociedade que estamos vivendo, e são esses os valores que queremos levar adiante.

Por Wender Starlles
wenderstarlles@usp.br

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