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‘Nosso Sonho’: o legado de Claudinho & Buchecha eternizado no cinema brasileiro

Assim como as canções da dupla, o filme consegue divertir e emocionar na medida certa enquanto representa os jovens brasileiros de periferia

Dentre seus muitos hits, Claudinho e Buchecha cantavam em uma de suas músicas “nossa história vai virar cinema”, em 1999. Passados 24 anos do lançamento de Coisa de Cinema, essa profecia se cumpre com a estreia de Nosso Sonho – A História de Claudinho e Buchecha (2023) no dia 21 de setembro. O longa chegou muito perto de concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, já que esteve na lista de pré-indicados

Nosso Sonho se inicia com o nascimento da amizade da dupla, ainda durante a infância em Boaçu, bairro de São Gonçalo no Rio de Janeiro, quando – em uma brincadeira no valão – um dos meninos se afoga e é salvo pelo outro. Assim, a narrativa caminha pela juventude da dupla no Salgueiro, comunidade onde eles iniciaram sua carreira de sucesso nacional e internacional. O trágico final do duo com a morte de Claudinho, aos 26 anos, por acidente de carro em 2002, também é retratado implicitamente no longa. 

O filme acompanha a trajetória dos artistas de uma forma singular, com narração comovente de Buchecha (Juan Paiva), que presta homenagens ao parceiro e expõe as lições aprendidas com ele. Entretanto, o diretor Eduardo Albergaria consegue apresentar de forma leve essa amizade profunda, sem sobrecarregar o espectador com peso emocional. Afinal, Claudinho e Buchecha sempre representaram alegria, e no cinema isso não é diferente, mesmo que outras faces dos ícones do funk melody sejam apresentadas. 

“Faixa, era assim que a gente se chamava. Faixa quer dizer muito amigo, mais que irmão”. [Imagem: Divulgação/Manequim Filmes/Angela Goudinho]

As interpretações dos atores Lucas Penteado e Juan Paiva, que assumem os papéis dos protagonistas Claudinho e Buchecha, respectivamente, são brilhantes. “Eu acho que os dois estão muito bem. Realmente eu vejo a dupla ali. Vejo um pouco do Buchecha no Juan e muito do Claudinho no Lucas”, declarou o cantor Buchecha em entrevista ao Fantástico. De fato, Lucas Penteado surpreende por sua verossimilhança com o carismático e divertido Claudinho. Juan Paiva ficou conhecido por seu bom desempenho com um personagem difícil na última novela das nove e, com o filme, o ator se consagra como um dos atores mais promissores da nova geração. Juntos, eles têm uma química capaz de vencer o desafio de representar uma dupla de ícones.

Além deles, o longa ainda carrega um elenco de peso, com destaque para Vinicius “Boca de 09” e Gustavo Coelho, que fazem Claudinho e Buchecha na infância; Tatiana Tiburcio e Nando Cunha, que vivem Dona Etelma e Souza, os pais do Buchecha; e Clara Moneke e Lellê, que interpretam Vanessa e Rosana, namoradas de Claudinho e Buchecha, respectivamente.

A obra também agrada por sua boa ambientação e fotografia lindíssima. O espectador é imerso nos cenários da periferia do Rio de Janeiro, nos bailes funks e nos figurinos típicos do final dos anos 1990 e início dos 2000, que, aliás, estão de volta à moda. 

Como era de se esperar de um filme sobre artistas musicais, a trilha sonora é ótima e retoma os sucessos da dupla Claudinho e Buchecha. Quero te Encontrar, Nosso Sonho, Só Love, Conquista e Fico Assim sem Você são alguns dos hits chicletes e duradouros que aparecem no longa. É quase impossível assistir ao filme sem ter vontade de cantar junto com os MCs. Entretanto, as músicas de fundo instrumentais são cansativos clichês de outras produções dramáticas, principalmente novelas brasileiras. Apesar disso, elas ainda conseguem moldar o clima e a emoção das cenas quando necessário.

O longa representa o sonho de muitas famílias pretas brasileiras de alcançar o sucesso financeiro. [Imagem: Divulgação//Manequim Filmes/Angela Goudinho]

Além de apresentar toda a trajetória do duo, há uma narrativa paralela da relação conflituosa de Buchecha e seu pai, que, ao mesmo tempo em que incentiva a carreira artística do filho, tem um comportamento destrutivo por seu alcoolismo. Durante a história, Souza repete o discurso meritocrático de “quem tem talento não tem patrão”, que infelizmente não reflete a realidade da indústria musical, já que muitos jovens enterram seus sonhos por falta de oportunidade. Essa relação entre pai e filho ajudou a construir o personagem de Buchecha e deu profundidade à história.

Outros aspectos da vivência dos jovens cantores também são abordados, como o subemprego e as dificuldades até conseguirem se consolidar na música. Os romances dos cantores não são aprofundados, mas se tornam encantadores de assistir. 

Claudinho e Buchecha tiveram um importante papel na diminuição do estigma em torno do funk e da favela, pois suas músicas são universais e atingem diferentes esferas da sociedade. Entretanto, a narrativa do filme prefere focar na trajetória pessoal dos cantores, com ênfase para a amizade e dramas familiares. A escolha de enfoque é compreensível, pois representa a periferia sem falar de violência, como explica o diretor Eduardo Albergaria em entrevista à Folha de São Paulo: “A periferia aparece como um lugar onde os personagens têm conflitos subjetivos. É um lugar que a periferia merece. Estamos acostumados a ver a periferia e o funk, não por acaso, presos no estigma da violência”.

Albergaria não considera o filme biográfico uma produção política, e sim um longa sobre arte, música, fé e superação. “Pretendo, de alguma maneira, contar uma história que me emocionou, me fez rir, me fez dançar. É uma tentativa pessoal de resgatar um sentimento que talvez eu tenha perdido em um dado momento, e que a dupla Claudinho e Buchecha tipifica: a possibilidade de ser alegre e ter esperança. Se isso, para as pessoas, é ser político, tudo bem. Mas, para mim, é mais sobre o mistério da vida”, declara.

Nosso Sonho acerta como um filme de superação que inspira a quem assiste. A história é identificável e traz aspectos presentes em grande parte das casas do Brasil. Tudo isso enquanto traz nostalgia para quem vivenciou os bailes funks dos anos 1990 e dá um gostinho para aqueles que vieram depois, como os próprios atores. Apesar da baixa divulgação, vale a pena assistir essa nova pérola do cinema nacional e se preparar para rir e chorar nas quase duas horas de filme.

O filme já está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer:

*Imagem de capa: Divulgação/Manequim Filmes/Angela Goudinho

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