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Observatório | Novo aumento no valor dos combustíveis ameaça a política de preços da Petrobras

Novo aumento no valor dos combustíveis ameaça a política de preços da Petrobras

A Petrobras anunciou, no dia 17 de junho, um reajuste no preço dos combustíveis vendidos no Brasil. Implementado na sexta-feira (18), o ajuste instaurou um aumento de 5,18% no valor da gasolina, e de 14,26% no diesel. A medida desagradou o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, que esperava manter números mais baixos até as eleições de outubro.

 

Por que os preços aumentaram?

O principal motivo para os recentes reajustes é a defasagem do preço em relação ao mercado internacional, que é, atualmente, o norteador do valor do barril vendido no Brasil.

 Em 2016, durante o governo Temer, a Petrobras passou a adotar a política de Preços por Paridade Internacional (PPI), que atrela o custo de venda do petróleo no Brasil aos valores do mercado internacional. A estipulação final do preço “leva em consideração o preço dos combustíveis no mercado internacional e os custos logísticos de importação do petróleo e dos combustíveis, além de uma margem de cobertura aos riscos dessa operação de importação e a variação do câmbio”, segundo o economista Guilherme Grandi, professor doutor na FEA, instituto da Universidade de São Paulo (USP). 

Assim, a variação no preço dos combustíveis depende do mercado externo. Em 2022, as sanções ao petróleo russo por causa da Guerra na Ucrânia reforçaram a pressão sobre os combustíveis. A medida diminuiu ainda mais a oferta, o que prejudicou as cadeias de distribuição. No Brasil, a desvalorização do real frente ao dólar também elevou os custos do diesel e da gasolina. 

Fonte: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)

 

O embate entre o governo e a Petrobras

Em ano de eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL) já manifestou, publicamente, sua insatisfação com os preços praticados pela Petrobras. Segundo Grandi, “o governo está tentando convencer a diretoria da empresa a protelar um pouco esses aumentos e a retardar esses reajustes, com o objetivo eminentemente político-eleitoral”. 

Com o anúncio dos aumentos, a Petrobras sofreu fortes pressões do Governo Federal, que é o maior acionista da empresa. Frente à coerção, o Presidente da estatal, José Mauro Coelho, renunciou ao cargo na segunda-feira (20). A mudança de direção não é um caso isolado: desde 2019, a Petrobras tem passado por alterações de pessoas nos cargos mais importantes. 

“Na minha visão, essas sucessivas trocas na direção da empresa são só um teatro, porque isso não interfere necessariamente no preço final dos combustíveis. Acho que não adianta você mudar o presidente da empresa se o presidente não estiver disposto a alterar a política [de preços em vigor na Petrobras]”, explica o professor.

Tal substituição não é a única medida adotada pelo governo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, estuda lançar o PIX caminhoneiro, um auxílio que pode variar de R$600,00 a R$1000,00, destinado aos caminhoneiros autônomos. A ação visa mitigar os efeitos da alta dos diesel e agradar parte do eleitorado do presidente Bolsonaro, composto, também, por essa categoria.

 

Quem sairá prejudicado?

Brasil é dependente do transporte rodoviário, feito principalmente por caminhões. [Reprodução: Wikimedia Commons]

Os caminhoneiros não serão os únicos afetados pela crise, haja vista o reajuste encarecerá a locomoção dos brasileiros. Em um primeiro momento, os donos de automóveis enfrentarão maiores despesas, mas o usuário do transporte público também poderá se deparar com um aumento nas passagens, já que o diesel é o principal combustível consumido pelos ônibus.

Esse reajuste, contudo, não afeta somente o âmbito do transporte. A previsão para os próximos meses é de aumento nos preços de diversos outros setores, como alimentação, construção civil e vestuário. Todos esses dependem do transporte rodoviário, abastecido pelo diesel. Com o novo custo do combustível, prevê-se um aumento nos valores de diversos produtos consumidos pela população brasileira. 

Também não se nega a possibilidade de um agravamento na inflação, como explica Grandi: “Ninguém escapa da inflação: remédio, comida — todo mundo precisa se alimentar — transporte, e saúde são também bens essenciais. De alguma maneira ou outra, o impacto dos valores  sobre os combustíveis acabam sendo repassados para esses produtos também”.

Para Augusto Santana, motorista de aplicativo em Goiânia há 4 anos, esse aumento nos combustíveis apresenta uma séria ameaça à sua profissão: “Meu maior receio é que chegue uma hora em que fique impossível ter lucro [como Uber]”. O motorista também relata que, com os últimos reajustes, passou a gastar cerca da metade do seu rendimento bruto com gasolina. “Não quer dizer que sobra 50% de lucro, já que ainda tem o aluguel do carro e a manutenção”, acrescenta.

Luís Carlos Maciel, que trabalha há sete anos no transporte de carga, também teme por sua profissão: “Se os aumentos persistirem, muitos motoristas serão obrigados a mudar de ramo”. Ele afirma que, apesar do preço do diesel ter aumentado nos últimos anos, não houve qualquer alteração no valor do frete. A solução encontrada por Luís foi realizar o transporte apenas em sua região, evitando viagens longas. “Quando termino o serviço, já estou próximo de casa”, afirma o caminhoneiro.

 

As possíveis soluções

Além do PIX caminhoneiro, outra solução encontrada pelo governo para mitigar o impacto da medida foi a aplicação de um teto de gasto sobre o ICMS, aprovado pelo Congresso na última quinta-feira (23). Esse teto limita a cobrança de impostos relativos a itens como diesel, gasolina, gás natural, energia elétrica e transporte coletivo. A medida pode ter impacto no valor final dos produtos e pode atenuar o novo reajuste. “Na prática, provavelmente vai abaixar um pouco o preço, mas é uma coisa que você só pode fazer uma vez”, afirma o professor doutor em economia na FEA-USP, Pedro Henrique Forquesato.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, defende a mudança na política de preços da Petrobras para reduzir a dependência internacional. Essa medida, contudo, não é viável a curto prazo e, segundo Grandi, “ao que tudo indica, existe uma pressão muito grande dos acionistas da empresa para que essa política não se altere.”

Refinaria Presidente Getúlio Vargas em Araucária, Paraná. [Reprodução: Divulgação Pettrobras/Flickr]

Para o economista, uma alternativa viável para reduzir o risco de desabastecimento de diesel e contornar a alta dos custos é “o Brasil aumentar sua capacidade de refino do petróleo no combustível”. Mas a medida não é simples de ser realizada. “O cenário do ambiente econômico atual no Brasil não tem se mostrado muito atrativo”, afirma, uma vez que os investimentos teriam que ser altos e exigiriam interesse da iniciativa privada.

“Uma outra alternativa seria aumentar a utilização de recursos renováveis e não depender tanto dos combustíveis fósseis, como é o caso do petróleo”, complementa. Grandi ainda ressalta que essa tecnologia já está presente no Brasil, mas é pouco usada e muito cara. 

 

*Imagem em destaque: Thais Morimoto/Jornalismo Júnior

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