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Concerto de Dia do Meio Ambiente e a universalidade da música clássica

Espetáculo promovido pela Osesp, com o objetivo de chamar a atenção das pessoas para a preservação do meio ambiente, consegue demonstrar que música também pode conscientizar

Muitas vezes, a música clássica é alvo de desconhecimento e de desinteresse das pessoas. Essa postura muito se deve a preconceitos propagados por muito tempo na sociedade. Entretanto, ao avaliar um concerto sem a influência desses filtros pré–estabelecidos, pode-se chegar a uma conclusão muito distinta sobre esses espetáculos. 

 

A escolha das peças musicais apresentadas

O concerto especial de Dia do Meio Ambiente, apresentado no dia 6 de junho pela Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), na Sala São Paulo, contou com a regência de ilustres maestros, como Emmanuele Baldini e Wagner Polistchuk.  

 

A frente da sala São Paulo, onde foi o espetáculo de música clássica, iluminada na noite, encontra-se na imagem.
Entrada da Sala São Paulo. [Imagem: Reprodução/Raquel Tiemi Himeno Okamura]

 

O programa foi escolhido especialmente em homenagem à natureza e à sua preservação, optando por composições em que o meio ambiente serviu como inspiração central, com o intuito de, a partir da arte, informar os telespectadores acerca do assunto. Em conversa com Baldini, ele afirma: “A arte, em geral, é sempre um veículo muito impactante para conscientizar as pessoas, porque a música e a arte não precisam de palavras”. O uso das palavras, nos dias atuais, tem sido muito abusado, uma vez que passam por diversos meios tecnológicos, ou até mesmo de pessoa em pessoa, para seu receptor, possibilitando uma manipulação do conteúdo. A transmissão de uma mensagem pode ser mais orgânica e efetiva por meio da música, pois não há imposições entre o receptor e a informação. Além disso, as harmonias e melodias conseguem tocar o íntimo de cada pessoa e representam uma alternativa àquela das palestras ou dos discursos panfletários sobre o assunto. 

 

Por isso, as peças tocadas carregam tamanho significado, a fim de, ao menos, possibilitar a reflexão no telespectador  sobre a presença da natureza na vida de cada um. Assim, o “entendimento” das obras, o qual é algo singular de cada um e suas referências, pode ir  além de um maniqueísmo ditado por um conhecimento específico do assunto. Ao contrário, segue uma interpretação e imaginação própria das músicas, do mesmo modo que acontece com a leitura de um livro, como é comparado pelo maestro Baldini.  

 

“Inverno” de As Quatro Estações, Antonio Vivaldi

Talvez a mais famosa das quatro peças performadas, Inverno simboliza o início  da estação aqui no Brasil — 21 de junho. Acima disso, apresenta uma percepção sobre a valiosidade dos fenômenos ambientais no dia a dia das pessoas. Por exemplo, há momentos em que é possível comparar o som dos violinos com gotas de chuva, o qual, junto com uma melodia agradável, pode remeter ao aconchego de uma casa em dias frios.

 

Na imagem da Sala São Paulo, há a orquestra de frente.
Músicos se preparando para tocar no palco. [Imagem: Reprodução/Raquel Tiemi Himeno Okamura]

 

“Invierno” de Las Cuatro Estaciones Porteñas, Ástor Piazzolla

Na sequência, a orquestra toca uma obra com relação direta à primeira, só que dessa vez, percebe-se referências notáveis ao tango, famoso estilo musical que foi a grande paixão do argentino Piazzolla. Além disso, há adição de elementos do “Verão”, de Vivaldi, no “Inverno”, de Piazzolla, como forma de mostrar os paralelos entre as estações do hemisfério norte Itália e do hemisfério sul Argentina

 

Abertura Helios, Carl Nielsen 

Inspirada em uma viagem feita às ilhas gregas, na qual Nielsen encontrou um Sol mediterrâneo deslumbrante, Abertura Helios surge como um culto ao grande astro, acompanhando todo seu movimento durante 24 horas. A apresentação evolui de forma que os instrumentos vão sendo adicionados aos poucos: no início, apenas sons lentos e baixos, simulando o “acordar” do Sol; no meio, todos tocam vibrantes e rápidos, como o Sol radiando em seu pico; e, por fim, retoma-se o ritmo lento e suave, em que a noite retorna e o pôr do sol surge. A experiência torna-se ainda mais hipnotizante ao perceber que a iluminação da sala acompanha a posição da estrela. 

 

Na imagem, o teto da sala São Paulo está iluminado como o Sol, seguindo a movimentação da estrela.
A iluminação da Sala São Paulo, acompanhando a posição do Sol, após a apresentação da Abertura Helios [Imagem: Reprodução/Raquel Tiemi Himeno Okamura]

 

Uirapuru, O Canto da Nossa Terra e O Trenzinho do Caipira, Heitor Villa-Lobos 

Em um contexto de centenário da Semana de Arte Moderna, as obras de Villa-Lobos são abrangidas. Uirapuru, lenda amazônica sobre um pássaro especial e um canto único, serve de ponto de partida para a criação da obra. Além disso, as  peças de “Bachianas Brasileiras nº 2”, O Canto da Nossa Terra e O Trenzinho do Caipira  transmitem o ideal convívio da cidade e do campo, conectados pela ferrovia. Com isso, o espetáculo se encerra com uma apreciação da fauna e flora brasileiras, em conjunto harmônico com o urbano. 

 

A música clássica como cultura popular  

Mesmo para as pessoas não acostumadas com a música erudita, o programa tem seu valor cultural e recreativo reconhecidos. Não é necessário um conhecimento prévio para a apreciação do concerto, mas sim a disposição de se deixar levar pela imaginação dos sons. Além disso, apenas o local da apresentação, a Sala São Paulo, já faz o passeio valer a pena, junto da beleza dos salões e da acústica impressionante da sala de concerto, o local engloba um significado histórico por abrigar a Estação Júlio Prestes, uma das principais linhas que transportavam café nas décadas de 1930 e 1940. 

 

O concerto, além de abordar  a conscientização sobre o meio ambiente, também  abre espaço para discutir sobre como a música clássica ainda é vista como uma arte elitizada. Tal perspectiva é muito arcaica, já que não condiz com a maior acessibilidade desses eventos atualmente, haja vista a promoção  de apresentações gratuitas, as quais, geralmente, ocorrem em concertos matinais, como o coro acadêmico da Osesp, além de ensaios abertos de futuros espetáculos com ingressos de 20 reais. Entretanto, mesmo que a barreira econômica do acesso aos concertos de música erudita tenha se reduzido, ainda é cedo para falar sobre uma democratização deste campo da arte.

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