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O TikTok é o novo caminho para o sucesso?

Como a plataforma impactou a indústria musical ao impulsionar diversas canções por meio de vídeos de curta duração

Por Supuesto, Assalto Perigoso, Malvadão 3, Sentadona… Atualmente, seria difícil encontrar um brasileiro que não ouviu essas músicas. Os hits estão presentes nos vídeos em redes sociais, nas maiores rádios do país e são tocadas até mesmo em supermercados. O que poucas pessoas sabem, entretanto, é que elas obtiveram sucesso por meio da plataforma do TikTok. Mas o que elas têm em comum? Geralmente, aquelas canções que conseguem viralizar no aplicativo possuem a mesma batida marcante, curta duração e possibilidade de montar coreografias simples.

Essa combinação de música com danças fascinou a Geração Z, coisa que popularizou muito a plataforma, tornando-a, hoje, o principal instrumento da indústria musical para alcançar o sucesso. “Agora é muito recorrente os artistas fazerem músicas para criar uma dança no TikTok e tentar criar hits. Se você for parar para ouvir a música, nem é tudo isso — ela é só feita para ter a dancinha. Muitos artistas contratam TikTokers para fazer a coreografia, então, gira muito em torno dessa cultura de massa”, opina Camilla Almeida, usuária do aplicativo. 

Para além da produção de coreografias e beats similares, o TikTok se tornou palco para a divulgação de projetos musicais exclusivos. No início de 2022, o DJ e produtor Pedro Sampaio participou de uma experiência audiovisual inédita na plataforma: uma live especial em que apresentou exclusivamente seu primeiro álbum, Chama Meu Nome. A cantora Aya, ainda em 2020, também apostou no TikTok para alavancar seu conteúdo e lançou seu primeiro single, aMoR aNTiSSoCiaL, com um clipe de apenas um minuto, exclusivo para a plataforma.

 

In Da Club, P.I.MP., 21 Questions: algumas músicas do rapper 50 Cent que fizeram muito sucesso no início dos anos 2000 e foram popularizadas novamente no TikTok. [Imagem: Reprodução/Spotify]

 

A plataforma também deu espaço para que músicas que não são lançamentos fossem novamente popularizadas e alcançassem as mais ouvidas mundialmente. Entre elas, não apenas hits, mas também baladas das décadas de 1990 e 1980, e canções pouco conhecidas. Artistas do início dos anos 2000, como Nelly e 50 Cent, e também artistas mais recentes na indústria, como Demi Lovato e seu hit Heart Attack, foram recordados pelo grande público. “Muitas músicas antigas que foram esquecidas estão ressurgindo por conta do TikTok. Por exemplo, não sei se Dreams do Fleetwood Mac chegou a ser esquecida, mas cresceu muito por causa da plataforma. Babooshka também. Várias músicas antigas que o pessoal simplesmente fez um vídeo que viralizou e a música cresceu de novo”, observa Otávio Aguiar, artista independente e integrante da banda glover

 

Há oito pessoas brancas fazendo poses engraçadas para a câmera, um ao lado do outro em roupas de casamento, em um fundo azul. É a capa da trilha sonora do filme Mamma Mia, que fez sucesso no Tiktok.
O filme Mamma Mia (2008) e a música Angel Eyes (ABBA, 1979) foram mais uma vez popularizados por um grande público que acompanha as trends que marcam o aplicativo. [Imagem: Reprodução/Spotify]

 

Além disso, houve um processo de ressignificação de canções, no qual as pessoas na plataforma as transformam em produtos culturais distintos: “No TikTok, as pessoas criam trends para revisitar o passado. No começo do TikTok, eu me lembro que haviam muitos “POVs” (points of view), peças artísticas, inspiradas nos anos 1950, nos anos 1960. Também, remixes de músicas antigas, por exemplo, a música Angel Eyes do filme Mamma Mia. As pessoas relembram, ressignificam. Colocam no lugar que faz sentido para elas e, desse jeito, podem inovar e fazer uma arte diferente”, relata Camilla, que utiliza o TikTok desde 2019 e pôde observar diversas fases do aplicativo.

 

Como a plataforma alimenta a indústria cultural e a cultura de massa?

A “Indústria Cultural” é um conceito utilizado para debater as várias camadas da cultura que são, a partir dessa teoria, planejadas para uma lógica mercadológica, sem pretensões estéticas ou críticas. A padronização das músicas que viralizam na plataforma pode ser utilizada como base para o questionamento de como esse viés mercadológico afeta a essência da arte, em específico a música.

Em entrevista à Revista Redes, Verlaine Freitas, professor de Filosofia da UFMG, relatou a atualidade do pensamento de Adorno e Horkheimer, que desenvolveram a teoria da “Indústria Cultural”. Ele afirma que a aproximação com aquilo que é consumido impede momentos de reflexão e traz também imediatismo para o consumo. No caso do Tiktok, os produtos em questão são vídeos tidos como “líquidos”.

Apesar de não ser possível saber se o sucesso da plataforma de vídeos curtos vai durar, é bem claro que o modo de produzir do TikTok criou um padrão que está sendo reproduzido e implementado em diversas outras redes sociais. Além da ferramenta chamada reels do Instagram, o Youtube também criou uma opção para fazer vídeos curtos parecidos com os stories. Os vídeos, independentemente das plataformas, estão sendo programados para atender ao imediatismo do público, e favorecer a cultura de massa citada pelos filósofos alemães.

“Não tem muita diversificação, salvo exceções, mas, se você analisar a For You Page não tem muita coisa diferente, mas nós acabamos consumindo de qualquer forma”, reflete Camilla. Essa visão ampara a afirmativa sobre o lado mercadológico da cultura atual. Quem produz continua produzindo do mesmo jeito, pois sabe que o público irá consumir e o levar ao sucesso.

 

Uma nova alternativa para artistas independentes

Uma mulher pelada com uma faixa de miss com as mãos para trás olha para a câmera em cima de um quadrado iluminado num fundo vermelho. É Marina Senna, cantora que fez sucesso no Tiktok.
Marina Sena é uma artista independente que pôde caminhar para os holofotes com seu grande hit no TikTok, Por Supuesto. [Imagem: Reprodução/Spotify]

 

Mesmo com a problemática da indústria, a plataforma foi um meio para que diversos artistas iniciantes tivessem seu trabalho reconhecido. Nos dias atuais, muitos jovens que antes não tinham oportunidades de popularizarem sua arte podem tentar criar sua própria trend, com sua própria música, e obter sucesso. 

“O mundo artístico — principalmente as mídias audiovisuais — dos últimos dois anos mudou completamente, porque se você é um artista independente, a sua principal fonte de renda é fazer show, não é através das plataformas de streaming. Na pandemia não tinha show, e muitos artistas tiveram que se adaptar à internet. Eu não entrei nisso ainda, mas provavelmente em um futuro próximo vou entrar no TikTok, vale a pena”, confessa Otávio. 

A perspectiva que fica para artistas independentes, portanto, é essa: a necessidade de adaptação em um cenário musical que mudou tão rapidamente. É válido, porém, refletir se no momento em que o TikTok se mostra como caminho mais fácil para crescer, cantores que não aderiram a esse modo de produzir música serão esquecidos ou ignorados do cenário musical.

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