Por Matheus Ribeiro (matheus2004sa@usp.br)
Na última terça-feira (6), a seleção brasileira de basquete foi eliminada em confronto válido pelas quartas de final contra os Estados Unidos. Confira toda a preparação e campanha realizada pelo Brasil para disputar os jogos olímpicos desta modalidade.
Pré-Olímpico
A jornada brasileira no basquete em Paris se iniciou quase um mês antes da maior competição de esportes do mundo. Para poder sonhar com alguma medalha olímpica, a seleção precisaria primeiro vencer o torneio Pré-Olímpico, disputado em Riga, na Letônia, para garantir sua participação nos jogos parisienses.
As qualificatórias foram disputadas em duas fases. A primeira foi composta por dois grupos de três times — o Brasil estava alocado no grupo B, junto de Camarões e Montenegro — em que as equipes disputaram o primeiro e segundo lugar de cada conjunto para avançar à próxima etapa. A última parte do torneio foi disputada em um mata-mata que se iniciou a partir das semifinais, sendo que o campeão estaria classificado às Olimpíadas.
A campanha brasileira na primeira fase não foi das melhores, já que apesar da vitória na estreia contra Montenegro por 81 a 72, o Brasil ficou marcado por desempenhos cheios de erros e pouca efetividade no ataque, o que colaborou para uma derrota no último jogo, contra Camarões, por 77 a 74. Entretanto, a combinação de resultados no grupo e o saldo de pontos acumulado permitiu ainda que os Canarinhos avançassem na liderança às semifinais.
No último Pré-Olímpico, nas preparatórias para os jogos de Tóquio, o Brasil foi eliminado na final contra a Alemanha [Reprodução/X: @basquetebrasil]
A primeira partida do mata-mata, contra as Filipinas, foi tão tensa quanto às anteriores, com a vaga sendo garantida somente no último quarto com a ajuda do duplo-duplo de Bruno Caboclo (15 pontos e 11 rebotes). O jogo foi finalizado com o placar de 71 a 60 a favor dos brasileiros. Para evitar que acontecesse o mesmo que nas preparações para Tóquio, era necessário uma melhora no desempenho.
Na final, surpreendentemente, o Brasil demonstrou uma nova atitude e dominou a Letônia, em seu próprio país, durante o jogo todo e garantiu uma vitória tranquila com o placar amplo de 94 a 69. Esse resultado não foi apenas fruto de um maior entrosamento do time, mas também dos excelentes desempenhos de Caboclo, Léo Meindl e Marcelinho Huertas, destaques brasileiros de todo o torneio. Assim, os Canarinhos garantiram a vaga para Paris e animaram seus torcedores.
Caboclo (centralizado na foto) atua como pivô no KK Partizan Mozzart Bet, clube sérvio [Reprodução/X: @basquetebrasil]
Olimpíadas
Fase de grupos
Por mais que a classificação deixasse impressões otimistas aos brasileiros, a seleção não teve tanta sorte na definição de seus oponentes na primeira fase da competição. O Brasil foi sorteado no grupo B, ao lado de França, Alemanha e Japão.
Nossa campanha olímpica se iniciou contra os donos da casa, os franceses. O primeiro quarto foi dominado pelos brasileiros, que mostraram uma efetividade ofensiva que não foi vista nas eliminatórias: cestas de dois e três pontos eram convertidas com facilidade; além de shows de Huertas, Meindl e João Pereira, o “Mãozinha”, que cravou a enterrada mais bonita do duelo.
Porém, a partir do segundo período, os franceses entraram de vez no jogo. Victor Wembanyama, jovem estrela da NBA que atua no San Antonio Spurs, liderou a remontada contra os brasileiros, usando de sua habilidade e altura para pontuar e dominar os rebotes disputados no garrafão — tanto que se tornou líder nessas duas estatísticas durante o confronto. No fim deste quarto, o time da casa conseguiu assumir a liderança, que se manteve durante o resto da partida. O Brasil conseguiu equilibrar o jogo nos últimos dez minutos, mas não foi suficiente para liquidar a vantagem do adversário, finalizando com o placar de 78 a 66.
A segunda partida, contra os alemães, foi mais disputada. O primeiro período ficou marcado pelo domínio alemão, comandado pelo astro do Bayern de Munique, Andreas Obst. Mas logo nos dois quartos posteriores, o Brasil reagiu com os destaques de Yago dos Santos, Vitor Benite e Gui Santos, o que reduziu a vantagem dos adversários e possibilitou que os brasileiros assumissem a liderança por diversas vezes.
Yago dos Santos foi o principal pontuador da equipe brasileira contra os alemães, colaborando com 18 pontos [Reprodução/X: @basquetebrasil]
No final do terceiro quarto, entretanto, o cenário favorável ao Brasil mudou quando Caboclo cometeu sua quinta falta e foi expulso da partida. Dessa forma, liderados por outro jogador da liga de basquete estadunidense, Dennis Schroder, do Brooklyn Nets, a Alemanha disparou na frente do placar, que acabou em 86 a 73. Com esse revés, os brasileiros dependiam da combinação de outros resultados para avançar de fase.
Por mais que o resultado da última partida da fase de grupos não fosse o único fator determinante à classificação, era de extrema importância que o Brasil vencesse o Japão por um placar elástico como forma de acumular um bom saldo de pontos e tentar o avanço como um dos dois melhores terceiros lugares.
Em confronto disputado na Arena Pierre Mauroy, Japão e Brasil travaram uma disputa equilibrada. Com o destaque novamente de Bruno Caboclo, cestinha da partida com 33 pontos e sacramentando mais um duplo-duplo, os brasileiros conseguiram abrir larga vantagem no final do último quarto, finalizando a partida em 102 a 84. Horas depois da partida, o saldo de pontos conquistado pelos Canarinhos se mostrou útil com a vitória da Grécia contra a Austrália, que confirmou o avanço brasileiro.
Em sua última participação olímpica, no Rio 2016, o Brasil foi eliminado ainda na fase de grupos [Gaspar Nóbrega/COB/Fotos Públicas]
Quartas de final
Mesmo com a classificação à fase eliminatória, a comemoração brasileira não durou muito tempo, já que foi levantada a alta probabilidade de que seu próximo adversário seria os Estados Unidos, o que fez com que a torcida brasileira fosse à loucura.
O temor com os norte-americanos não era somente por ser o país anfitrião da principal liga do esporte, mas também pelo elenco convocado para disputar essa edição dos jogos olímpicos, composto por estrelas da NBA: Lebron James, Kevin Durant, Stephen Curry, Joel Embiid, Anthony Davis, entre outros. A equipe recebeu o apelido de Dream Team — em portugues, “Time dos sonhos” — referência à qualidade do plantel selecionado e ao time estadunidense das olimpíadas de 1992, que contou ícones do basquete como Michael Jordan, Larry Bird, Magic Johnson, Scottie Pippen, etc.
Os brasileiros já venceram os Estados Unidos em 14 oportunidades, enquanto os norte-americanos ganharam do Brasil em 70 partidas [Reprodução/X: @usabasketball]
Com a confirmação da partida, os Estados Unidos disputaram as quartas de final contra os brasileiros. O Brasil abriu o placar e conseguiu sustentar a liderança até o segundo minuto do primeiro quarto, o que já foi o bastante para que a torcida comemorasse e produzisse memes.
Os americanos assumiram a liderança no placar em pouco tempo e não largaram mais, abrindo uma grande vantagem que foi mantida com facilidade durante o restante do jogo. Nem mesmo o bom desempenho de Caboclo, que foi o cestinha do embate com 30 pontos, foi o suficiente para evitar o “passeio” estadunidense. Desta forma, com a partida finalizada em 122 a 87 aos norte-americanos, o Brasil se despediu das Olimpíadas de basquete masculino.
Huertas, veterano da equipe brasileira, se aposentou da seleção ao fim das Olimpíadas [Reprodução/X: @basquetebrasil]
Foto de capa: [Reprodução/X: @NBB]