Por Aline Noronha (alinenoronha@usp.br)
Depois de Jenni Hermoso falar que as brasileiras “não jogam futebol” após sofrer uma goleada na semifinal, o saldo das Olimpíadas foi: uma medalha de ouro para os Estados Unidos, uma de prata para o Brasil e uma de bronze para a Alemanha. As alemãs derrotaram as atuais campeãs do mundo em um placar de 1 a 0, com gol de pênalti de Giulia Gwinn no segundo tempo.
O primeiro tempo da disputa pelo bronze foi morno e com poucas oportunidades de finalização. A primeira chance de gol surgiu apenas aos 18’ pelos pés da meio-campista alemã Bühl, que recebeu a bola de Linder, mas a goleira espanhola Cata Coll defendeu a jogada. Apesar das chances de gols surgirem dos dois lados, a Espanha soube controlar melhor o jogo no primeiro tempo, com 70% de posse de bola.
Já aos 30’, as espanholas tiveram uma grande chance de abrir o placar com Castilho, mas a goleira alemã Berger saiu da pequena área, antecipou o passe e defendeu a bola. Paralluelo tentou marcar no rebote, mas a goleira defendeu. Após o susto, o impedimento do lance foi marcado.
Aos 44’, outra grande chance de gol, desta vez legal, surgiu para a Espanha, mas a bola que Bonmati chutou foi de encontro ao travessão e Hermoso — que errou muitos passes na primeira etapa — mandou a bola para cima das redes no rebote, após desvio. O rendimento alemão foi caindo no decorrer do jogo e, apesar dos três chutes ao gol, nenhum deles ofereceu um grande perigo à goleira Cata Coll.
Dois pênaltis e uma chance de prorrogação
O segundo tempo começou diferente para as atuais campeãs do mundo, que tiveram mais facilidade em conduzir os passes, conquistando mais oportunidades e mantendo a Alemanha em um jogo mais reativo. Mesmo assim, o jogo não estava totalmente confortável às espanholas: aos 54’, as alemãs assustaram a sua defesa.
A resposta veio aos 58’, quando Paralluelo chutou entre as zagueiras alemãs em direção ao gol, mas a bola foi de encontro aos braços de Berger. No geral, a Espanha perdeu muitas oportunidades claras para balançar as redes, mas também a defesa da Alemanha estava suportando a pressão ofensiva ao antecipar alguns lances perigosos.
A Espanha teve as melhores e mais claras chances de gols ao pressionar a saída de bola alemã, mas teve dificuldades para mantê-la [Reprodução/Instagram: @fifawomensworldcup]
O placar mudou em um lance de erro individual de Cata Coll. Ao sair da pequena área para afastar a bola do ataque alemão, a goleira derrubou a meio-campista Giulia Gwinn dentro da área. Gwinn cobrou o pênalti e abriu o placar para as alemãs.
Em seguida, aos 70’, as alemãs perderam uma chance clara de ampliar o placar quando Lea Schüller errou a finalização quando esteve cara a cara com a goleira rival. Já as espanholas não desanimaram e foram em busca de, ao menos, um empate para levar a decisão do bronze para a prorrogação. Mesmo assim, a Espanha continuou perdendo gols. Aos 74’, Olga cruzou para Hermoso, que cabeceou em cima da bem posicionada goleira Berger.
Essa foi a quarta medalha de bronze da Alemanha em uma Olimpíada no futebol feminino. Além dessas, a seleção possui uma de ouro no Rio 2016. [Reprodução/Instagram: @sefutbolfem]
Faltando três segundos para acabar os 7’ de acréscimos, Janina Minge colocou a medalha de bronze em risco ao cometer pênalti em Alba Redondo. A cobrança foi feita por Alexia Putellas, eleita duas vezes a melhor do mundo, que errou a meta. Após 90+9’, a árbitra mexicana apitou o final da partida e sacramentou a vitória da Alemanha.
A trajetória da Alemanha foi a seguinte: a seleção ficou em segundo lugar no grupo B na fase de grupos, com duas vitórias, oito gols marcados e cinco sofridos. Além disso, empatou com o Canadá nas quartas de final e passou para a semi através dos pênaltis, mas perdeu para os Estados Unidos por 1 a 0.
Berger é vitoriosa dentro e fora de campo
Ann-Katrin Berger, goleira titular da Alemanha, teve o primeiro diagnóstico de câncer na tireoide em novembro de 2017, quando teve que parar sua carreira para realizar o tratamento e cirurgia. Em fevereiro de 2018, ela retornou aos gramados como titular do Birmingham City.
Na temporada de 2018/2019, Berger viveu o auge de sua carreira no Chelsea, onde ajudou o time a conquistar o terceiro lugar na Liga das Campeãs Feminina. Anos depois, em 2022, a goleira recebeu o seu segundo diagnóstico de câncer na tireoide e teve que parar novamente sua carreira para o tratamento.
Em 2024, Berger se despediu do Chelsea, onde se tornou uma lenda e assinou um contrato de um ano com o Gotham City com possibilidade de extensão [Reprodução/Instagram: @fifawomensworldcup]
“Foi um bom ano [2022]. Não deixei minha doença aparecer e dizer: ‘Ei, você não deve ter um bom ano porque estou de volta’”
Ann-Katrin Berger, goleira da Alemanha
O novo diagnóstico foi revelado pouco tempo depois da Eurocopa Feminina, mas durante a competição ela não revelou a doença para suas colegas de equipe. Em entrevista para a BBC em fevereiro de 2023, disse: “Foi um ano difícil, mas eu saí mais forte. Estar em uma Euro [quando] ninguém sabia [que o câncer havia voltado]… A emoção da Euro tirou a parte negativa do meu cérebro”.
Imagem de capa: [Reprodução/Instagram: @annkatrin.berger]