Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Olímpiadas 2024 | Espanha vence o Brasil no futebol feminino, mas o sonho de conquistar a medalha permanece vivo

O time espanhol segue invicto após ser superior em um jogo inteligente e controlado. Apesar da derrota, a seleção brasileira conseguiu a classificação para as quartas de final
Equipe da Espanha fazendo gol no Brasil na fase de grupos do futebol feminino das Olimpíadas de 2024, em Paris
Por Aline Noronha (alinenoronha@usp.br)

“Quem joga para empatar fica mais perto de perder”, afirmou Arthur Elias durante o último treino com a seleção feminina para o confronto contra a Espanha, em uma entrevista para a Comissão Brasileira de Futebol (CBF). O empate já classificaria diretamente o Brasil para as quartas de final no grupo C, mas mesmo tentando uma vitória contra as campeãs do mundo, o Brasil levou a pior com um placar de 2 a 0 para as espanholas. 

Apesar de não ter sido da maneira desejada, o Brasil conseguiu se classificar para as quartas de final devido à derrota da Austrália para os Estados Unidos sob o placar de 2 a 1. O sonho de ganhar a tão aguardada medalha pode ser realizado, mas é necessário que o time brasileiro arrume o mais rápido possível os defeitos apresentados durante a fase de grupos para  se manter vivo nas Olimpíadas.

Pouca criação, inferioridade e medo

O esquema tático proposto para o time brasileiro foi um 5-4-1 em busca de defender, com maior marcação, os ataques das jogadoras espanholas e tentar balançar as redes a partir de contra-ataques, mas a estratégia não funcionou. O Brasil passivamente entrou no esquema de jogo que a Espanha gosta; as atletas europeias trocavam passes tranquilamente enquanto as brasileiras, pressionadas cada vez mais para trás, esperavam o que suas adversárias iriam fazer. 

Isso criou espaços entre a defesa e sobrecarregou o campo de visão da goleira Lorena, o que permitiu que a Espanha ficasse grande parte da partida no campo de ataque brasileiro. Aos 13’, a atacante europeia Lucía García balançou as redes no Estádio de Bordeaux, mas logo foi marcada a posição de impedimento e tudo continuou 0 a 0. 

O segundo problema da estratégia montada pelo técnico brasileiro estava no ataque. As linhas estavam muito espaçadas — algo presente desde a estreia de sua seleção —, o que fez o time demorar para compor os ataques. A Ludmila tinha que esperar, próxima a grande área espanhola, a tomada de decisão das demais jogadoras que estavam muito inseguras em avançar e colocar pressão nas suas adversárias. Esse distanciamento aumentou as possibilidades de roubada de bola da Espanha, que sabia aproveitar essas oportunidades.

Brasil e Espanha jogando em jogo válido pela fase de grupos das Olimpíadas de 2024, em Paris

Para a comentarista da Globo Renata Silveira, a dificuldade na tomada de decisões em campo é um problema geracional no futebol feminino brasileiro [Reprodução/Instagram: @sefutbolfem]

Já na grande área brasileira, uma jogadora mais alta poderia ter ajudado a Tarciane, que estava com dificuldade de conquistar a primeira bola no primeiro tempo, além de perder a segunda, favorita pelas espanholas e na qual o Brasil apresentou mais erros. Ainda, todas as entradas das jogadoras da seleção espanhola pelo lado esquerdo obtinham sucesso, com chutes na intermediária. 

Os sustos eram constantes no lado latino-americano; aos 25’, o Brasil tirou a bola de cima da linha do gol com, além da ajuda da goleira Lorena, o auxílio de Antonia. A espanhola Lucía García tentou balançar as redes e, logo após, foi a oportunidade de Alexandrini tentar finalizar o gol no rebote e quando Eva já se aproximava com perigo para tentar pegar a sobra, a defesa brasileira recuperou a bola. No lance seguinte, aos 26’, Teresa quase cravou o gol com um chute de fora da grande área.

Diferente do Brasil, a Espanha apresenta um modelo de jogo definido e o segue, já no caso brasileiro falta estabilidade. A cada jogo, Arthur Elias leva um time diferente, o que pode prejudicar o entrosamento e confiança em uma competição tão importante.

Marta é expulsa e desequilibra ainda mais o jogo 

Kerolin, que no ano passado se recuperou de uma ruptura no ligamento cruzado anterior, voltou a jogar nas Olimpíadas, uma aposta arriscada do técnico brasileiro. Nessa partida, ela não conseguiu render e acompanhar o ritmo das demais jogadoras — constantemente estava atrasada na tomada de decisão e marcava suas oponentes de costas.

No primeiro tempo, houveram três paradas que possibilitaram os técnicos conversarem com seus times, duas no atendimento de Lorena, que sentiu dores no abdômen repetidamente durante todo o jogo, e durante a pausa para beber água. Apesar dos estímulos, o Brasil continou abaixo da média e deixou as espanholas com muita liberdade.

Nos acréscimos desse tempo, aos 45+5’, a jogadora Marta foi expulsa após acertar um chute na cabeça da europeia Olga Carmona em uma entrada dura, que a fez sair dos gramados em lágrimas e complicou ainda mais o jogo do Brasil. Convém ressaltar que a rainha do futebol feminino brasileiro estava desempenhando um papel defensivo que não era dela, já que, conforme a escalação de Arthur, ela atuava como um meia para dar a bola ao ataque.

Marta chorando após fazer uma falta para cartão vermelho e ser expulsa do jogo, nas Olimpíadas de 2024, em Paris

Após o cartão vermelho, Marta só poderá voltar a jogar em uma possível final ou disputa pelo terceiro lugar e será um grande desfalque para a seleção [Reprodução/Youtube: @cazetv]

A Espanha é superior e balança as redes 

No segundo tempo, os passes rápidos e assustados da seleção brasileira deram a impressão de que as jogadoras queriam se ver sem a bola o mais rápido possível, atitude que culminou no primeiro gol da Espanha aos 67’. A jogada começou pela defesa de Lorena no chute da jogadora Mariona Candentey, mas após a sua espalmada, a bola ficou no meio do gol e Castilho chegou rapidamente para mudar o resultado da partida para 1 a 0.

Tarciane, apesar de alguns erros no jogo, foi a jogadora destaque que pareceu menos se intimidar com as campeãs do mundo. Evidenciou uma grande personalidade e era a única que se arriscava em botes, tentando colocar alguma pressão na defesa brasileira.

A Espanha foi superior em tudo quando comparada ao Brasil, até os 75’ foram 12 escanteios e 448 passes espanhóis, para apenas dois e 112 brasileiros, respectivamente. Além disso, a equipe europeia contou, no segundo tempo, com 54% de posse de bola, enquanto o país sul-americano com 46%.

Uma das maiores chances de gol, e mais outra desperdiçada pelo Brasil, aconteceu aos 78’, quando a atleta brasileira Gabi Portilho acionou o ataque, mas perdeu o timing da bola e não passou para Jhennifer, que estava livre ao seu lado. Ana Vitória até tentou reverter a situação com um passe,mas acabou sendo interceptado pela defesa espanhola.

O árbitro norueguês deu, no segundo tempo, 16 minutos de acréscimo, que poderiam dar ao Brasil a chance do tão esperado empate, mas também o risco de levar outro gol da Espanha — exatamente o que aconteceu aos 90+16 ’20’’. A jogadora espanhola Alexia Putellas, eleita duas vezes melhor do mundo, balançou as redes em Paris pela última vez, nessa partida, em um golaço de fora da área. 

A garra de Antonia e os próximos passos após a classificação 

Antes de um minuto dos acréscimos, a jogadora brasileira Antonia, que se tornou a nova capitã após a expulsão de Marta , caiu em campo com muitas dores na perna esquerda. Arthur Elias já havia feito todas as substituições e não poderia colocar outra atleta no lugar dela, o que fez a zagueira optar por resistir. 

Antonia saiu um pouco do campo e voltou marcando as jogadoras espanholas, mancando ou pulando em um pé só. Evidentemente, essa estratégia não funcionou por muito tempo; faltando dois minutos para os 16’ marcados de acréscimos, ela saiu dos gramados chorando inconsolavelmente, tal como a rainha Marta no primeiro tempo.

No primeiro dia de agosto, em um comunicado oficial nas redes sociais, a seleção brasileira de futebol feminino comunicou que a jogadora Antonia não atua mais nos Jogos Olímpicos de Paris. A atleta sofreu uma fratura na fíbula da perna esquerda, porém, a primeiro momento, não será necessária intervenção cirúrgica e ela continuará em tratamento com o departamento médico da seleção.

Antonia sentindo uma lesão no jogo conta a Espanha, nas Olimpíadas de 2024, em Paris

“É impossível evitar a dor e a frustração quando estas situações [as lesões] acontecem em momentos como este, em uma disputa de Olimpíadas”, expõe a jogadora no Instagram [Reprodução/Youtube: @cazetv]

O próximo jogo da seleção brasileira, pelas quartas de final, acontecerá no próximo sábado (03/08) contra a equipe do país-sede das Olimpíadas de 2024, a França, às 16h no horário de Brasília.

A pergunta que fica é “por quanto tempo o sonho da medalha para a seleção feminina de futebol do Brasil irá continuar?”. Em um jogo que vale “tudo ou nada”, Arthur precisará corrigir os erros graves brasileiros que assola o time desde de sua estreia e, além de montar uma escalação com dois grandes desfalques, precisará que a equipe recupere sua atenção e confiança. 

Imagem de capa: [Reprodução/Instagram: @sefutbolfem]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima