A final da Supercopa do Brasil foi disputada entre Palmeiras e Flamengo, na tarde do último sábado (28). No que diz respeito a grandes jogos, títulos e disputas, ambos os times são os grandes protagonistas do futebol brasileiro nos últimos anos. Para se ter uma ideia, cinco das últimas sete edições do Campeonato Brasileiro, três das últimas oito da Copas do Brasil, três das últimas quatro da Supercopa, as últimas quatro Libertadores e duas das últimas três Recopas Sul-Americanas foram conquistadas por Verdão ou Mengão. É uma dominância impressionante e fruto de dois projetos de estruturação e reconstrução que começaram de formas diferentes e que têm seus contrastes até os dias atuais.
De uma forma ou de outra, a dominância se mantém, e ambas as equipes já disputaram algumas finais entre si desde que suas fases dominantes se iniciaram (2015 para o Palmeiras e 2016 para o Flamengo). Na Supercopa do Brasil de 2021, um jogaço: 2 a 2 e título carioca nos pênaltis, em Brasília. Na final da Libertadores do mesmo ano, conquista paulista com vitória por 2 a 1 na prorrogação, em Montevidéu. Mesmo no Brasileirão, que não conta com uma final, Palmeiras e Flamengo ficaram entre os primeiros na maior parte das últimas edições. Em 2016 e em 2018, o rubro-negro foi terceiro colocado e vice do alviverde, respectivamente, enquanto em 2019 foi a vez do time de São Paulo ser terceiro colocado em ano de título do time do Rio de Janeiro.
O retrospecto recente é reforçado pela rivalidade crescente entre as equipes e até pela política diversa de suas gestões de futebol dentro e fora de campo – o Flamengo investindo em grandes nomes, em um futebol ofensivo e colocando-se como soberano em decisões que envolvem o futebol brasileiro, o Palmeiras focando em desenvolver atletas nas categorias de base, contratar atletas em ascensão, sem muito alarde e em um futebol competitivo. Isso fez com que o jogo disputado no Mané Garrincha valesse muito mais do que um troféu de início de temporada. Estava em jogo a soberania entre os soberanos. O supercampeonato entre os já supercampeões.
Homenagem a Pelé
Apesar de toda a confusão causada pela troca e escolha da sede a pouco mais de duas semanas da decisão, a CBF definiu o Mané Garrincha, em Brasília, como palco da Supercopa do Brasil – torneio disputado entre o campeão brasileiro e o campeão do Brasil do ano anterior. Em 2022, o Palmeiras foi o campeão brasileiro e o Flamengo o vencedor da Copa do Brasil.
A Supercopa do Brasil marca o jogo inaugural do calendário do futebol nacional. Por essa razão, a CBF preparou uma série de homenagens a Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé – falecido em 29 de dezembro do ano passado – antes da partida. Flávia e Kely, filhas de Pelé, entraram no gramado ao lado de Ednaldo Rodrigues, presidente da entidade. Eles seguravam as taças Jules Rimet conquistadas pelo Rei em 1958, 1962 e 1970. O telão do estádio exibiu imagens do maior jogador da história do futebol, enquanto todos os jogadores entraram em campo vestindo uma camiseta com o número 10, eternizado por Edson quando atleta. O uniforme dos atletas também contava com um patch em homenagem à figura de Edson. Eles se reuniram no centro do gramado para que fosse respeitado um minuto de aplausos – em vez de um minuto de silêncio. A seguir, a torcida do Flamengo, que estava virada para as câmeras, ergueu um bandeirão com uma foto de Pelé, o símbolo do infinito e a palavra “Rei”, em referência à eternidade. Por fim, a contagem regressiva para a partida foi feita em ordem crescente, para que no final aparecesse o número 10.
Respeito. A homenagem ao eterno Rei Pelé trouxe ares de emoção e de grandiosidade à final da Supercopa, na capital do país. [Foto: Reprodução/Twitter @diarioonline]
Depois da partida, já durante a comemoração do título, Flávia pediu para que Abel Ferreira gravasse um vídeo para sua sobrinha. Ambos tiveram uma conversa que acabou em um abraço emocionante e apertado. A entrega das medalhas também contou com a participação das filhas do Rei.
Primeiro tempo: Palmeiras mais competitivo, Gabigol e Veiga decisivos
As equipes foram a campo com o que tinham de melhor. Para 2023, o Palmeiras perdeu Danilo e Gustavo Scarpa, dois dos principais jogadores do elenco, e não trouxe reposições até o momento, fato que gerou protestos da torcida nas arquibancadas e pichações nos muros do clube, mas principalmente nas redes sociais. A novidade no time era Endrick, menino de 16 anos que estreou no final do ano passado sob grande expectativa após brilhar nas categorias de base do clube e no título inédito da Copinha, marcou três gols no campeonato brasileiro e foi vendido para o Real Madrid por cerca de 60 milhões de euros, recentemente. Para a vaga de Danilo, o treinador Abel Ferreira e sua comissão escolheram Gabriel Menino, que vem de ano irregular após surgir muito bem em 2020, mas se saiu melhor que seus concorrentes para a posição, quando testado.
Do lado do Flamengo, a base da equipe é a mesma que venceu a Libertadores no final de 2022. O time também sofreu duas perdas: Rodinei, que foi para o Olympiacos, da Grécia, e João Gomes, que acabou de ser vendido ao Wolverhampton, da Inglaterra. A perda de João Gomes foi imediatamente reposta com o retorno de Gerson, que brilhou pelo rubro-negro em 2019 e 2020, principalmente, foi para o futebol francês e custou 15 milhões de euros aos cofres do clube. Rodinei, por sua vez, deu vaga a Varela, uruguaio que já tinha chegado à Gávea na temporada passada. Isso tudo, é claro, somado à troca de treinador. A diretoria flamenguista optou por trocar Dorival Júnior, campeão da Libertadores e da Copa do Brasil pelo clube em 2022, pelo português Vítor Pereira, que saiu de forma conturbada do Corinthians, time pelo qual foi vice do próprio Flamengo na Copa do Brasil.
O time paulista começou melhor no jogo, vencendo a maioria dos duelos no meio de campo e tomando as principais ações ofensivas, sempre com um jogo objetivo. O início de temporada em um campeonato estadual mais exigente parecia favorecer ao Palmeiras fisicamente, enquanto os mais de dois anos de trabalho de Abel Ferreira frente a menos de um mês de Vítor Pereira davam uma vantagem tática ao Verdão. A primeira grande chance, porém, veio somente aos 20’. Após bola recuada, o goleiro Santos demorou a tomar uma decisão e foi pressionado por Endrick, que desviou a bola. Na sobra, Rony tentou o cabeceio, mas a bola passou ao lado do gol.
Aos 23’, Zé Rafael se descuidou na saída de bola e perdeu a bola após dividida com De Arrascaeta. Como consequência, tentou recuperar a posse e derrubou o camisa 14 do Flamengo dentro da área. Pênalti para o rubro-negro! Os palmeirenses reclamaram de uma possível falta no lance que fez Zé Rafael perder a bola, mas manteve-se a decisão de campo. Na cobrança, ele, sempre ele, Gabigol, mandou para as redes. 1 a 0 Mengão!
O lance que originou o pênalti convertido por Gabigol. [Fotos: Reprodução/Twitter @SportsCenterBR]
Com o placar adverso, o Palmeiras tinha que reagir. Aos 34’, Endrick recebeu de Zé Rafael e finalizou rasteiro no meio do gol para a defesa de Santos. A joia do Verdão fazia bom jogo e no lance seguinte provocou um cartão amarelo para David Luiz, após dar belo drible de corpo e receber a falta. Aos 38’, o bom jogo do time alviverde foi revertido em gol pela primeira vez: após disputa de bola pela direita, Endrick recebeu de costas na entrada da área, fez a parede e tocou para Dudu. O camisa 7 cortou a marcação e bateu rasteiro, sem muita força. A bola respingou em David Luiz e sobrou para Raphael Veiga, de perna direita, dominar e bater no canto direito de Santos. Tudo igual no Mané Garrincha e o duelo Palmeiras x Flamengo ganhava as mesmas nuances de decisões anteriores.
O retrospecto de Raphael Veiga (foto) contra o rival carioca já era positivo antes mesmo do jogo de sábado, com quatro gols marcados. Mas ele fez questão de aumentar a conta da forma mais decisiva possível.
Nos minutos seguintes, o Palmeiras seguiu no ataque, e exigiu defesas de Santos após arremates a longa distância de Dudu e de Piquerez. Aos 44’, um lance polêmico: depois de uma jogada que terminou em lateral para o Flamengo em seu campo de ataque, Abel Ferreira entrou na frente de De Arrascaeta, impedindo que o arremesso lateral fosse cobrado rapidamente. Nos casos em que isso é proposital – e parece ter sido o caso – o protocolo é expulsar o profissional que retarda o reinício do jogo. Na final da Libertadores 2020, por exemplo, Cuca, então treinador do Santos, impediu que Marcos Rocha cobrasse o lateral e foi expulso pela arbitragem, minutos antes do gol de Breno Lopes, que deu o título ao Palmeiras. Em Brasília, porém, Wilton Pereira Sampaio, árbitro que representou – e muito bem – o Brasil na Copa do Mundo do Catar, optou por apresentar o cartão amarelo a Abel Ferreira e controlar os ânimos.
Já com três minutos de acréscimos (Wilton acrescentou seis ao todo), o Flamengo fez boa jogada da esquerda para o meio e a bola sobrou para Gabigol. Ele dividiu com Raphael Veiga e a bola sobrou para Éverton Ribeiro chapar de perna esquerda para fora. Mas esse não seria o último lance da primeira etapa. Aos 45’+4, Raphael Veiga e Piquerez tocaram a bola pelo meio até que o lateral encontrou Gabriel Menino. O garoto de 22 anos dominou e não pensou duas vezes: bateu de perna esquerda, de longe. A bola pegou o efeito que ele queria e caiu no ângulo direito de Santos. Um chute indefensável para o arqueiro do Mengão e um gol mais do que comemorado por Menino, que agarrava da melhor forma possível a chance dada por Abel. O Palmeiras terminou o primeiro tempo não só jogando melhor, mas conseguindo o resultado, de virada! 2 a 1.
Na comemoração do 1 a 0, Gabi tirou a camisa e a mostrou para a torcida do Palmeiras. Ele recebeu o cartão amarelo pelo gesto. Ao empatar o jogo, Veiga devolveu a provocação, fez questão de comemorar em frente à torcida rival e até bebeu água de um copo que foi arremessado no gramado. [Fotos: Reprodução/Twitter @CentralDaSEP e @Pesgrau]
Segundo tempo: final da Copa, é você? Que jogo!
O Flamengo voltou mais ofensivo na segunda etapa. E não poderia ser diferente. O Palmeiras, por sua vez, parecia menos focado em recuperar a bola rapidamente como no primeiro tempo, e os primeiros minutos foram de pressão rubro-negra. Aos 50’, duas grandes chances do time carioca: Éverton Ribeiro lançou Gabi, que levantou a bola na área para Pedro cabecear no chão e Weverton espalmar. No rebote, Murilo não conseguiu proteger, De Arrascaeta girou e bateu forte para mais uma grande defesa do goleiro da seleção brasileira.
O gol estava ficando quente, até que, no lance seguinte, após uma linda enfiada de bola de Éverton Ribeiro nas costas da defesa palestrina, Gabigol tocou por cima de Weverton para empatar o jogo. 2 a 2 com praticamente um tempo inteiro pela frente! Esse foi o 14º gol de Gabriel Barbosa contra o Palmeiras. São seis pelo Santos e oito pelo Flamengo – destes oito, cinco em finais. Decisivo! Pelo Mengão, o agora camisa 10 também tem número estratosféricos em decisões. Em 14 finais disputadas, são 14 gols marcados.
Pior no jogo, o Palestra tentou responder imediatamente depois em cobrança de falta de Gabriel Menino. A bola passou por toda a extensão da grande área e Gustavo Gómez não conseguiu alcançar. Após boa troca de passes, Gabriel Menino cruzou a bola na área, Endrick matou no peito e tentou dar um chapéu em Éverton Ribeiro, que abriu os braços e impediu a passagem da bola com a mão. Pênalti para o Palmeiras no melhor momento do Flamengo no jogo. Endrick disse após o jogo: “Não é fácil jogar no profissional, ainda estou me adaptando. Eu não tenho medo, tenho que ir para cima”. E assim foi ao cavar o pênalti.
Vale lembrar que, se o Flamengo tem um craque que decide grandes jogos, o Palmeiras também tem. Raphael Veiga foi para a cobrança e pela 24ª vez em 26 cobranças pelo Verdão no tempo normal, balançou as redes. Foi o 11º gol do camisa 23 em 11 finais pelo Palmeiras, mais duas assistências. Isso contempla decisões de Mundial de Clubes, Libertadores, Copa do Brasil, Campeonato Paulista, Recopa Sul-Americana e Supercopa do Brasil, isto é, todos os torneios possíveis.
Eleito craque do jogo, Raphael Veiga (E) se tornou o segundo maior artilheiro do Palmeiras no século, ultrapassando Willian Bigode e chegando a 67 gols. Dudu (D) lidera a lista com 85 tentos. [Foto: Reprodução/Twitter @gabrilamorim]
Já por volta dos 58’, quando saiu o gol do 3 a 2, Abel Ferreira conversava com Mayke no banco de reservas. O lateral direito entraria em campo no lugar de Endrick, passando Rony para o centro do ataque e jogando como um falso ponta, de forma a auxiliar Marcos Rocha na marcação pelo lado direito, como foi feito em várias ocasiões em anos anteriores. Abel só não contava com o fato de que o Flamengo exploraria exatamente o lado direito da defesa do Palmeiras enquanto ele preparava a alteração. Três minutos depois do gol de Veiga, o rubro-negro fez uma troca de passes envolvente na entrada da área alviverde. Éverton Ribeiro tabelou com Gerson e abriu bom passe para Ayrton Lucas. O lateral passou por Gustavo Gómez e cruzou rasteiro para Pedro desviar de calcanhar da entrada da pequena área para o fundo do gol. Que classe! O jogo estava empatado mais uma vez e ganhava ares de tensão conforme o cronômetro passava e os gols saíam.
Após o gol de Pedro, Mayke finalmente entrou em campo. Na coletiva de imprensa, o treinador do Verdão explicou que Gustavo Gómez estava responsável por marcar Pedro individualmente, mas que, na jogada do terceiro gol flamenguista, como Rocha e Rony tinham ficado para trás, o capitão teve que sair para “caçar” Ayrton Lucas, restando a Murilo a tarefa de marcar o camisa nove do Mengão. Acontece que Pedro conseguiu escapar do zagueiro do Palmeiras e receber a bola livre de marcação. Isso é só um exemplo de como uma peça pode mudar tudo no tabuleiro que é o futebol e o quanto uma ação leva a outra, como em um jogo de dominó.
Aos 63’, Weverton e Gabigol entraram em uma discussão dura. Por ter tirado a camisa ainda no primeiro tempo, o atacante estava pendurado com o cartão amarelo, diferentemente do goleiro. Para Weverton, era interessante que ambos sofressem a punição com o amarelo, pois o artilheiro rival seria expulso. Foi necessária a intervenção dos reservas do Flamengo, principalmente Rodrigo Caio, para que o conflito cessasse. Minutos depois, João Martins, auxiliar do Verdão, foi expulso por reclamação. Na contramão desses eventos, o Palmeiras crescia no jogo. Aos 68’, Dudu fez bonita jogada individual e acionou Raphael Veiga, que cruzou para Rony bater, sem muito equilíbrio. Santos fez a defesa. O torcedor palmeirense não sabia, mas essa jogada era um prenúncio do que estava por vir no jogo.
Apesar da entrada de Mayke no jogo, o time da Gávea ainda conseguiu criar uma boa oportunidade pelo lado esquerdo. No contra-ataque do lance perdido por Rony, Pedro recebeu livre e disparou em direção ao gol. Ele cortou Gustavo Gómez e foi travado brilhantemente por Marcos Rocha, que evitou um gol feito do rubro-negro e compensou qualquer falha que possa ter tido em outros momentos do jogo. A torcida palmeirense nas redes sociais chamou a atenção para a semelhança entre esse lance e um outro, que ocorreu na final da Libertadores entre os dois times, em 2021. Na ocasião, Bruno Henrique avançou pelo mesmo corredor, do mesmo lado do campo, cortou Luan e foi travado por Mayke.
Os minutos que sucederam essa jogada foram de alternância de situações ofensivas entre as equipes. Gabigol finalizou por duas vezes sem muito perigo para Weverton, que fez as defesas, enquanto Rony desperdiçou boa oportunidade dentro da área, arrematando para fora.
Você se lembra daquela jogada que aconteceu com o Dudu pela esquerda, tocando para o Veiga fazer a ultrapassagem e rolar para o Rony no meio da área? Pois é, ela se repetiu da mesma forma aos 74’, o que mostra que nem tudo no futebol é aleatório e improvisado – a maior parte não é, aliás. Desta vez, porém, Rony passou da bola, que sobrou limpa para Gabriel Menino bater. Ela desviou em seus dois pés, pegou um efeito e encobriu o goleiro Santos. 4 a 3 para o Palmeiras e o jogador menos elogiado antes da partida decidia uma final com dois gols no jogo. É de se apontar, no entanto, que o lance do quarto gol do alviverde gerou muita polêmica, uma vez que, no momento em que Menino finaliza, Mayke, em posição de impedimento, aparece ao lado e depois nas costas do goleiro flamenguista, chegando a tocá-lo levemente com a mão. Embora isso não esteja escrito na regra, a orientação da arbitragem costuma indicar para a marcação do impedimento nesse tipo de lance.
A revisão do VAR, comandado por Rodrigo D’Alonso Ferreira, Helton Nunes e Rafael Traci, de Santa Catarina, entendeu, porém, que o evento não interferiu diretamente na ação de Santos, que se posicionou mal e não fez questão de saltar para tentar a defesa. “Ele [Mayke] está atrás do goleiro [Santos]. Em momento algum ele atrapalha”, disse a cabine ao juiz de campo, que manteve o gol e afirmou: “Em momento algum o Santos tem reação”. Após quase dois minutos de checagem, o gol do Verdão foi validado.
Após o jogo, Abel elogiou Menino e alertou: “Só espero que não olhe nem para baixo, nem para cima. Que olhe nos olhos. Se ele fizer isso, tem grande futuro”. A frase dita pelo treinador foi uma das tantas que ele utilizou na emocionante preleção para seus atletas, cada uma dita por um deles. Essa em específico foi trazida pelo zagueiro chileno Kuscevic. [Foto: Reprodução/Twitter @diario1914]
O gol de Gabriel Menino implicou mudanças em ambos os times. Vítor Pereira sacou De Arrascaeta, Varela e Gerson para as entradas de Everton Cebolinha, Matheuzinho e Vidal, enquanto Abel tirou Menino, esgotado, e promoveu a entrada de Jailson. O Flamengo passou a ter mais a posse de bola, mas pouco criava, enquanto o Palmeiras levava perigo nos contra-ataques. Aos 80’, Piquerez avançou pela esquerda, bateu de fora da área com desvio e a bola passou perto do gol flamenguista. Jailson também arriscou, mas chutou para longe do gol.
Com 87’, Abel Ferreira decidiu mexer pela última vez. Zé Rafael, Dudu e Rony saíram para as entradas de Luan, Breno Lopes e Rafael Navarro. Luan passava a integrar o trio de zaga ao lado de Gómez e Murilo, e Piquerez abria na esquerda, ocupando uma faixa que antes era de Dudu, mas que no momento defensivo poderia ser de Breno Lopes. O Verdão se fechava como podia. Sem criar ofensivamente, Vítor Pereira também fez mais uma mudança no time – embora tivesse duas à disposição – e colocou o jovem Matheus França (18) que jogou bem nos últimos jogos e já recebeu propostas do exterior. Ayrton Lucas foi o escolhido para sair.
Wilton Pereira Sampaio deu oito minutos de acréscimos, que deram uma ponta de esperança ao torcedor flamenguista. Mas a grande chance nos primeiros minutos adicionais foi do Palmeiras: em cobrança de falta feita a partir do campo de defesa com Marcos Rocha, Breno Lopes dominou e deu ótimo passe para Jailson, que finalizou para fora. A bola contou, porém, com um desvio, que foi ignorado pela arbitragem, fato que gerou revolta da comissão técnica do Palmeiras, que pedia o escanteio. A raiva foi tanta que Abel Ferreira chegou a chutar um microfone para longe. Tanto ele, como Vítor Castanheira, seu auxiliar, foram expulsos pelo ocorrido, e Wilton acresceu mais dois minutos ao tempo de jogo. Na entrevista após o jogo, o técnico reclamou da não marcação a favor de sua equipe, e brincou com a questão envolvendo o microfone: “Tinha um ratinho passando perto de mim… Eu estava falando “escanteio, escanteio”. Peguei no ratinho que estava ali e foi direto na televisão. Vi eu e todo mundo que estava no estádio”. Durante a confusão, Marinho levou cartão amarelo no banco de reservas rubro-negro.
A partir daquele momento, o Flamengo foi ao ataque na base do chamado “abafa”, e quase empatou o jogo no último lance, já aos 100’. Éverton Ribeiro cobrou escanteio na área, a bola desviou e sobrou para Thiago Maia tocar de cabeça. O camisa oito do Mengão não conseguiu acertar o alvo, porém, e Wilton Pereira Sampaio apitou o término da partida. O Palmeiras era campeão da Supercopa do Brasil pela primeira vez!
Rivalidade? Só dentro de campo. Após o apito final, Abel Ferreira e Gabigol, dois dos mais exaltados e decisivos no Mané Garrincha, conversaram amistosamente, assim como tinham feito em 2021 no Estádio Centenário, em Montevidéu. [Foto: Reprodução/SporTV]
O Verdão se isolou ainda mais como o maior campeão de títulos nacionais no país. Com a Supercopa, são 17 troféus, contra 15 do segundo colocado, que é o próprio Flamengo. A vitória também fez com que Abel Ferreira se tornasse o primeiro técnico da história a vencer todos os títulos de primeira linha do futebol sul-americano por uma equipe brasileira (Libertadores, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Campeonato Estadual, Recopa Sul-Americana e Supercopa do Brasil). Apesar de uma “conquista-bônus”, a Supercopa deve trazer à diretoria do Palmeiras mais tranquilidade na busca por reforços e no planejamento da temporada, e propiciar a Abel que faça mais testes com o elenco no Paulistão. Foi o sétimo título do português em 26 meses no comando do time paulista, e o primeiro no Mané Garrincha, após dois fracassos: Supercopa do Brasil e Recopa Sul-Americana, ambos em 2021.
Do lado do Flamengo, o trabalho de Vítor Pereira ainda é incipiente. Há um grande trabalho a ser feito, especialmente no quesito defensivo, para que o time chegue bem preparado para o Mundial de Clubes, no mês que vem, no Marrocos, quando deve enfrentar o Real Madrid em uma eventual final. A definição de um substituto para João Gomes, seja com outro jogador do grupo, seja com a mudança de esquema para que Gerson possa atuar bem, seja com uma contratação, será crucial nesse processo.
O fato é que Palmeiras e Flamengo são a “cara” do futebol brasileiro nos dias de hoje, e acompanhar uma partida entre ambos valendo taça é um privilégio para qualquer amante do esporte. No Mané Garrincha, mais de 56 mil assistiram a esse espetáculo de perto. Um recorde na atual temporada do futebol brasilero.
Abaixo, alguns números atualizados envolvendo a Supercopa do Brasil:
Lista atualizada dos campeões da Supercopa do Brasil:
Flamengo: 2 (2020 e 2021)
Palmeiras: 1 (2023)
Atlético-MG: 1 (2022)
Corinthians: 1 (1991)
Grêmio: 1 (1990)
Lista atualizada dos artilheiros da Supercopa do Brasil:
Gabigol (5)
Raphael Veiga (4)
Bruno Henrique (2)
De Arrascaeta (2)
Gabriel Menino (2)
Ficha técnica:
Palmeiras (4-2-3-1): Weverton; Marcos Rocha, Gustavo Gómez, Murilo, Piquerez; Gabriel Menino (Jailson, 79’), Zé Rafael (Luan, 87’); Rony (Rafael Navarro, 87’), Raphael Veiga, Dudu (Breno Lopes, 87’); Endrick (Mayke, 64’). T.: Abel Ferreira. [Arte: Ricardo Thomé]
Flamengo (4-3-1-2): Santos; Varela (Matheuzinho, 76’), David Luiz, Léo Pereira, Ayrton Lucas (Matheus França, 89’); Éverton Ribeiro, Thiago Maia, Gerson (Vidal, 80’); De Arrascaeta (Everton, 76’); Gabi e Pedro. T.: Vítor Pereira. [Arte: Ricardo Thomé]
Gols: Raphael Veiga (38’ e 58’ (P)) e Gabriel Menino (45’+4 e 74’) – PAL / Gabi (26’ (P) e 51’) e Pedro (61’) – FLA
Cartões amarelos: Gabriel Menino (45’+7) e Abel Ferreira (banco, 44’) – PAL / Gabi (27’), David Luiz (37’), Éverton Ribeiro (90’+6), Pedro (90’+9), Luís Miguel (comissão técnica, 45’) Marinho (banco, 90’+6) – FLA
Cartões vermelhos: João Martins (comissão técnica, 20’), Abel Ferreira (comissão técnica, 90’+6) e Vítor Castanheira (comissão técnica, 90’+6) – PAL
*Imagem de capa: Reprodução/Twitter @LibertadoresBR