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Toco: o basquete brasileiro é bloqueado em estados menos competitivos

Isadora Nunes conheceu o basquete aos oito anos. Ela buscava pelo vôlei mas, devido à pouca idade, não podia praticar nos grupos estabelecidos no projeto em Quirinópolis. O destino (ou chame como quiser) acertou uma bela cesta de três pontos.  Aos 10 anos, competiu o primeiro campeonato Mão na Bola, realizado em Rio Verde,  Goiás, …

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Isadora Nunes conheceu o basquete aos oito anos. Ela buscava pelo vôlei mas, devido à pouca idade, não podia praticar nos grupos estabelecidos no projeto em Quirinópolis. O destino (ou chame como quiser) acertou uma bela cesta de três pontos. 

Aos 10 anos, competiu o primeiro campeonato Mão na Bola, realizado em Rio Verde,  Goiás, na categoria mista sub-12. “Basquete se tornou minha paixão! Amava, principalmente, a adrenalina das competições”, relata Isadora em entrevista ao Arquibancada. Assim, nasceu o sonho de jogar profissionalmente quando adulta. 

Mais tarde, seria campeã de tantos campeonatos pela equipe de Quirinópolis que perderia as contas. Ela foi um exemplo a ser seguido pelas colegas não apenas pela sua qualidade técnica, como também pela responsabilidade, dedicação e respeito fora da quadra.

O sonho de jogar profissionalmente se aproximou em 2018, quando Isadora se mudou para Santo André, em São Paulo, com apenas 17 anos, após passar em teste para participar do time feminino. Ela relata que o nível das competições foi um choque inicial: com jogos frequentes, a vontade de vencer permanecia constante e o empenho nos treinos era total, porque no final de semana teria de ganhar (ou perder) de novo. Naquele ano, a equipe se tornou Campeã da Série Prata do Paulista sub-17.

Sozinha e com pouco auxílio financeiro, ela decidiu voltar para sua cidade natal, no interior de Goiás, após um ano em Santo André. Atualmente, cursa fisioterapia influenciada pelas experiências no esporte. Ela ainda agradece ao basquete pelas diversas experiências que viveu e lembra que o esporte feminino precisa ser valorizado.

Essa história ilustra a realidade de centenas de crianças no Brasil, principalmente aquelas que moram distante dos grandes centros como São Paulo ou Rio de Janeiro. Esses jovens apostam no êxodo buscando viver do esporte. Mas essa prática se torna ainda mais difícil com a falta de recursos financeiros e competições que poderiam revelar atletas.

Isadora Nunes armando pela equipe de Quirinópolis no Campeonato Brasileiro de Desporto Escolar [Imagem: Reprodução/Facebook]
 

Panorama competitivo

Em Goiás, o principal campeonato é realizado em três finais de semanas durante o ano. O Campeonato Goiano de Basquete abriga jogos da base até o adulto. Durante a realização, é comum atletas jogarem mais de uma categoria, o que ocasiona uma série de jogos no mesmo dia e com poucas horas de recuperação de uma partida para a outra. 

Tal escolha era necessária para que se tivesse mais competitividade, já que o sub-15 completava o sub-17, e este, por sua vez, completava a categoria acima. Outras competições eram realizadas paralelamente ao Goiano, como a Copa Caldas e o Mão na Bola, que são torneios rápidos.

Em comparação com São Paulo, o cenário competitivo é diferente em volume. Como relatou Isadora, os jogos eram frequentes, dificilmente tinha intervalo de meses entre os jogos, normalmente havia competição todo final de semana, mesmo quando a quantidade de equipes era pouca.

No feminino em Goiás, geralmente há apenas duas equipes: Quirinópolis e Mozarlândia, independente da categoria — poucas vezes aparece uma terceira equipe. É realizada a competição no modelo melhor de três jogos. Já em São Paulo, com quatro equipes em 2021, serão realizados dez jogos, de acordo com o calendário da Federação Paulista de Basquete

Para Carlos Fontenelle, secretário geral da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), essas diferenças entre federações são devido ao êxodo esportivo e às condições financeiras de cada estado. O que pode ser uma simples viagem de poucas horas para jogar se torna impossível para atletas em condições vulneráveis socioeconomicamente, o que exemplifica a dificuldade de alguns estados realizarem mais competições e, mesmo com poucas viagens, ainda é comum ver atletas desistirem quando precisam escolher entre ajudar no sustento em casa ou a prática esportiva desamparada. 

A falta de verba inviabiliza o desenvolvimento esportivo e, consequentemente, prejudica a formação educativa dos jovens, que tem no esporte seu caráter desenvolvido, além da chance de crescer economicamente. Uma das soluções encontradas pelo estado de Goiás é a oferta do Pró-Atleta, bolsas distribuídas entre todos os esportes estaduais no valor de R$250,00, R$500,00 e R$750,00, conforme o rendimento e conquistas da pessoa. Projetos parecidos existem nos outros estados e podem ser encontrados nos sites governamentais.

A falta de competitividade não é problema exclusivo dentro de estados menos valorizados. O Campeonato Brasileiro de Basquete de Base, um dos principais campeonatos do país, não é realizado desde 2015. Ele é responsável pela revelação de jovens atletas e a porta de entrada de muitos em equipes maiores, como foi o caso da seleção Sergipana sub-15, que subiria para a segunda divisão do campeonato caso a edição seguinte ocorresse, sendo que duas de suas atletas foram jogar fora do estado.

O antigo projeto, que buscava aprimorar o esporte em busca de medalhas olímpicas, foi abandonado logo após a realização da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, que revelou o fracasso da iniciativa, já que as equipes brasileiras ficaram em nono no masculino e em 11⁰ no feminino. Mesmo em 2021, o problema ainda não foi resolvido, sem campeonatos que abarquem o país e a falta de investimentos resulta em prejuízos ao esporte, que não se classificou para a Olimpíada de Tóquio

Fontenelle também pontuou a ausência de um atleta como foi Oscar e Hortência, que move a torcida e faz história no basquete nacional. No cenário atual, jovens estrelas como eles estão sendo perdidas pela falta de exploração do território brasileiro. Na própria Seleção Feminina de Basquete só tem uma convocada que nasceu e fez sua base fora de São Paulo: Kamilla Cardoso, nascida em Montes Claros, Minas Gerais, e que atualmente joga pela South Carolina, nos Estados Unidos.

https://www.instagram.com/p/CP_Aft-JtDx/?utm_source=ig_web_copy_link

A crise na CBB na ex-gestão de Carlos Nunes, a qual resultou na suspensão da CBB de competições da Federação Internacional de Basquete (FIBA), em 2016, tornou a situação do basquete brasileiro  tão dramática que se visualiza consequências até hoje. As dívidas — que somaram aproximadamente 20 milhões de reais — ainda estão sendo pagas. Contudo, com a Lei 14.073, que possibilita remanejar os recursos financeiros das entidades esportivas durante situações de calamidade pública, Fontenelle afirma que o basquete poderá ser salvo e espera não terminar como a Confederação Brasileira de Canoagem, que foi à falência após a Olimpíada de Tóquio, competição esta que a seleção brasileira de basquete não se classificou. 

O problema financeiro é mais um pilar que sustenta a dificuldade da entidade em atentar-se a mais de 20 estados no país. A CBB cita que prioriza levar jogos amistosos do Brasil para cidades interioranas como Uberlândia, em Minas Gerais, e Anápolis, em Goiás, na intenção de estimular o basquete em diferentes regiões, mas não adianta muito se as Federações Estaduais não conseguem realizar competições de interesse público. Como Isadora citou antes, a adrenalina da competição move seu sentimento pelo basquete.

Seleção Brasileira de Basquete jogando em Goiânia-GO no ano de 2018 [Imagem: Ide Gomes/ FramePhoto / Estadão]
 

Medidas sendo tomadas pela Confederação Brasileira de Basquete

A Confederação Brasileira de Basquete, entidade responsável pelo desenvolvimento do desporto no país, cuidando de campeonatos como o Novo Basquete Brasil (NBB), Jogos estudantis, universitários e militares, criou o projeto CBB Cuida, que busca abraçar os projetos sociais que usam o basquete como caminho do desenvolvimento do caráter e distribuir oportunidades diferentes para os jovens. 

No site, você encontra oito projetos para doar, sendo eles Aurora, de Recife-PE, Basquete Sem Fronteiras, em Foz do Iguaçu-PR, Casa do Basquete, de Jundiaí-SP, Monsters Basquete, em Curitiba-PR, Esporte Esperança, em Belo Horizonte-MG, Girafinhas do Basquete, em Mauá-SP, Núcleo de Formação Social, em Brasília-DF, e 3 Pontos Para o Futuro, em Promissão-SP. 

Fontenelle informou que a meta para o final desse ano era de 50 projetos, porém, com a pandemia, o cronograma se atrasou. Todos os projetos enviados são analisados e recebem algum tipo de orientação para se desenvolverem com estabilidade, mesmo quando não aceitos. A iniciativa se faz importante, pois é a chance de telespectadores contribuírem e conhecerem novos projetos distantes da sua realidade. 

Vale ressaltar a necessidade de buscar a diversidade.O basquete resiste nas quadras com a cesta quebrada, no tênis furado, entre os rios da Amazônia e na sequidão do Cerrado. O basquete está de norte ao sul do Brasil, as competições de alto nível como Liga de Desenvolvimento de Basquete (LDB) precisam chegar em outros estados para descobrir novos atletas, desenvolver o esporte e beneficiar socialmente a formação dos jovens. O Brasil é o país do futebol porque tem diversas equipes e campeonatos, em cada esquina nasce um novo Pelé. O basquete também pode ter novas Hortências inexploradas. A estrutura do Basquete brasileiro precisa ser mudada com urgência e isso a FIBA tinha apontado em 2016 com a suspensão.

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