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Renascimento da Águia: A história recente do São José Basketball é marcada por superações

Por João Vitor Silva Quem acompanha o NBB (Novo Basquete Brasil) desde seu início, na temporada 2008-09, guarda na memória um dos times mais tradicionais do campeonato e do basquete nacional, o São José. Time do interior paulista, a “Águia do Vale”, como é conhecido por seus torcedores, foi uma das maiores equipes de basquete …

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Por João Vitor Silva

Quem acompanha o NBB (Novo Basquete Brasil) desde seu início, na temporada 2008-09, guarda na memória um dos times mais tradicionais do campeonato e do basquete nacional, o São José. Time do interior paulista, a “Águia do Vale”, como é conhecido por seus torcedores, foi uma das maiores equipes de basquete do início da década de 80, conquistando dois campeonatos estaduais e a primeira Taça Brasil (o NBB da época), e, após um hiato nos anos 90, o clube foi figura carimbada em todas as edições do campeonato nacional até a temporada 2015-16. No seu período áureo, chegou a ser o melhor colocado na primeira fase do torneio, sucumbindo na final diante do Brasília.

Como nem tudo são flores, o time passou, e ainda passa, por diversos problemas financeiros, que o levaram a não participar de alguns campeonatos mais recentes. Mas, assim como a fênix (ou a águia, nesse caso), ressurge aos poucos das cinzas, voltou a conquistar seu espaço no cenário nacional. Para contar melhor toda essa trajetória, conversamos com dois personagens que escreveram e ainda escrevem a história do clube. São eles: Régis Marrelli, ex-técnico do time e atual treinador do Paulistano, e Paulo César Jaú, auxiliar técnico de Régis enquanto este treinava o São José e atual treinador da equipe.

O trabalho de Régis começou em 2006. O time havia conseguido o título da segunda divisão do campeonato paulista no ano anterior, classificando-se para disputar o Torneio Novo Milênio. Além da classificação para a divisão principal, o São José conseguiu também o vice-campeonato neste torneio, aumentando ainda mais o prestígio com o torcedor.

Após esse feito, o clube mudou sua administração. Antes o time era administrado pelo Tênis Clube (clube de lazer de São José dos Campos que atualmente gerencia diversas outras equipes da cidade), e então passou para a Associação Esportiva, atual administradora. Com isso, não apenas o nome mas também o investimento na equipe mudaram, como conta Régis. “A equipe foi crescendo, foi aumentando o investimento. Falam que não existe mágica, é investimento mais trabalho. Até que em 2009 a gente montou uma equipe competitiva. Não era a equipe mais forte do campeonato, com certeza, mas era uma equipe competitiva e acabou surpreendendo com o primeiro título paulista“, o primeiro título da “Era Régis” e o terceiro paulista no geral. Na fase classificatória, o time havia ficado em segundo, atrás somente da equipe de Franca, e na final bateu o Paulistano por 3 a 0, na série de cinco. O último jogo foi realizado com o Ginásio Linneu de Moura, casa do time, completamente lotado pela sempre presente e apaixonada torcida joseense.

“Junto com o crescimento da equipe veio o crescimento da torcida. A cada ano que passava aumentava o público, até que em todo jogo tinha fila para entrar no ginásio”, lembra Régis. ”Eu até me lembro quando foi a primeira final em 2009. Eu dormi em São José, e quando acordei fui correr de manhãzinha. A final era às onze horas, eu fui correr às sete horas da manhã. Estava a quatro ou cinco quadras do ginásio e já tinha fila. Dizem que às três horas da manhã chegou a primeira pessoa para ficar na fila. Isso aí mostra todo o carinho que a torcida tinha pela equipe.”

A partir daí, todo jogo em São José dos Campos tinha uma certeza: casa cheia. Era comum nesse período entre 2009 e 2012 o ginásio estar lotado em todos os jogos. O Linneu de Moura não era um dos maiores ginásios, mas isso era o diferencial. A pressão que a torcida colocava no adversário era gigante, tornando o São José um dos times mais fortes quando jogava em casa. Na temporada 2011-12, o time fez a melhor campanha jogando em casa, junto com o Brasília, somando um total de 13 vitórias e apenas uma derrota. O ginásio cheio foi um reflexo não só da boa fase do time, mas também do belo trabalho da prefeitura da cidade, que investiu no time e ajudou a divulgar o esporte.

Régis aponta esse como um dos principais motivos pela grandiosidade da equipe. “Foi uma somatória de várias coisas. Primeiro o amor que a cidade tem pelo basquete e o carinho da torcida. A gente tinha um prefeito ex-jogador de basquete, que gostava de basquete e incentivava. Isso foi muito importante, junto com o apoio da Secretaria de Esportes e todos os envolvidos. Os jogadores chegaram na cidade e perceberam o quanto a cidade gostava, que o projeto era sério. Isso ajuda muito para que o jogador se dedique mais.”

Régis Marrelli (à direita) foi o principal responsável por montar a equipe, deixando seu legado para seu auxiliar Jaú, que atualmente comanda a equipe. Foto: Reprodução.

Com esse ótimo retorno à elite do basquete nacional, o São José passou a ser uma das equipes mais respeitadas do Estado de São Paulo. Desde 2008 até 2015, a equipe joseense disputou todos os playoffs do campeonato paulista, levantando o caneco três vezes. O ex-treinador relembra com saudosismo dessa época: “A equipe foi crescendo. Em 2010, fomos campeões dos Jogos Abertos. Em 2011, ficamos com o vice paulista, perdemos para o Pinheiros por 3 a 1. Em 2012, fomos campeões em cima do Pinheiros, conseguindo o nosso segundo título paulista. Na sequência, teve a final do NBB, em que fomos a melhor equipe da fase classificatória, mas infelizmente não jogamos bem e perdemos por uma diferença grande do Brasília.”

A final do NBB: esse foi o ponto máximo do time. Mas, além de ser um dos maiores orgulhos, também é uma das maiores decepções. A equipe havia feito a melhor campanha da primeira fase, com 23 vitórias e 5 derrotas. O quinteto formado pelo armador Fúlvio, o ala-armador americano Laws, o ala Dedé, o ala-pivô Jefferson e o gigante pivô Murilo Becker, eleito o JVP (equivalente ao MVP da NBA) daquela competição, faziam o Linneu de Moura lotar em todas as partidas.

O time era realmente muito bom, tanto no coletivo como no individual, e os jogadores que ajudavam na rotação da equipe não deixavam a desejar, como Chico, tido como o sexto homem da equipe, e Ricardo Fischer, atualmente um dos melhores armadores do Brasil. Além do entrosamento dentro da quadra, a amizade fora dela também contribuiu muito para os bons resultados. Em entrevista para o G1, os cinco titulares deixaram bem claro como aquele grupo era amigo e unido.

Infelizmente, esse time não teve um final feliz. Devido à pequena capacidade do Linneu de Moura, o São José teve que mandar o jogo único da final em Mogi das Cruzes. Mesmo com a distância, a torcida joseense foi em peso e era maioria no ginásio, mas o time não correspondeu. Como dito por Régis, a diferença foi grande: 78 a 62 para o Brasília. Desde o começo da partida o São José foi dominado. A primeira cesta da equipe só ocorreu aos quatro minutos do 1º quarto, uma eternidade no basquete, e foi assim o jogo inteiro: a equipe paulista tendo que correr atrás do placar. Ao final da partida, apenas a menor porção de torcedores do Brasília que se concentravam atrás de uma das cestas comemorava, o resto do ginásio ficou em silêncio.

A ficha do torcedor joseense não caía: como pode um time tão bom ter jogado tão mal? Realmente é muito difícil explicar. Régis Marrelli tenta apontar alguns fatores que levaram àquele desastre: “Nós tivemos alguns erros. Tava todo mundo muito “em cima” e eu quis afastar o time desse auê, então a gente foi muito cedo para Mogi, uns quatro ou cinco dias antes da final. Aí aconteceram algumas coisas não muito legais. Por exemplo, nós ficamos em um hotel que estava muito ruim, as camas estavam ruins. Chegamos lá e resolveram em cima da hora que iam trazer o piso de Brasília. Naquela época, a quadra de Mogi era toda poliesportiva, com todas as linhas, então para a TV Globo ficava muito ruim. Isso acabou atrapalhando os nossos treinos e, com a quantidade de gente em volta, não conseguimos treinar direito, foi um erro de logística.

Régis, por fim, destaca a diferença entre as equipes na época como fator decisivo: “Ser um jogo só atrapalhou muito! E a experiência também, todos os jogadores do Brasília com experiência e que já tinham participado de várias finais, isso aí foi o que pesou mais. A nossa equipe entrou muito ansiosa, errando bolas muito fáceis e não jogou bem. Até hoje eu nunca assisti esse jogo, não tive coragem, porque eu acho que a equipe jogou muito abaixo do que fez a temporada toda.”

Quinteto vice-campeão do NBB. Da esquerda para a direita: Murilo Becker, Dedé, Fulvio, Jefferson e Laws.
Foto: Reprodução

Após a derrota no NBB, o time se consagrou campeão paulista do ano seguinte, mas, a partir de então, as coisas começaram a desandar. No ano de 2013, o clube perdeu peças importantes, como Murilo, substituído pelo bom pivô vindo do Flamengo, Caio Torres. Os maus resultados, somados às contusões de Fúlvio e do recém-chegado Caio, geraram um clima muito tenso dentro da equipe, mas nada que justificasse a decisão tomada pela direção do clube em seguida.
No dia 11 de novembro de 2013, é anunciada a demissão de Régis, algo que chocou os torcedores e o próprio Régis. O ex-treinador é bem franco ao falar sobre esse caso: “Quanto à demissão eu sou um cara muito sincero, sempre fui. Eu fiquei sete anos com o governo do Eduardo Cury e, quando entrou o PT, eu continuei no projeto – inclusive meu contrato de dois anos foi feito pelo PT, não foi coisa do governo anterior. Na minha leitura, foi muito mais uma demissão política, porque eles achavam que eu era PSDB. E eu não tenho envolvimento político nenhum, meu partido é o basquete. Até aí, a demissão é um direito deles, eu sou um funcionário. A única coisa é que não foi cumprido o contrato, ninguém me procurou para conversar. Inclusive, o vice-prefeito que me demitiu, Itamar Coppio, foi até o ginásio e disse que a Secretaria de Esportes ia me procurar. Eu nunca fui procurado e acabei entrando na justiça. O processo até hoje está em andamento.”

O ano de 2014 não foi nada bom para a equipe. Após duas saídas precoces nas quartas de final, tanto do Paulista como do NBB, o time que havia sido vice do NBB perdeu mais duas peças: Jefferson e Fúlvio, a alma da equipe. Em 2015, o time viveu um drama, quase ficando de fora das ligas estadual e nacional. Contudo, nos últimos instantes, a notícia boa veio para o alívio da torcida: São José estava inscrito para as duas competições. Naquele ano, o time perdeu as duas últimas peças que sobraram do quinteto titular de 2011 – Dedé deixou a Águia e foi atuar pelo Rio Claro, Andre Laws se aposentou. As perdas, somadas ao baixo investimento da nova gestão, fizeram com que a equipe fosse montada às pressas para a disputa do estadual. Mas, mesmo sendo criado de última hora, o elenco não decepcionou e o São José ganhou um título heroico sobre o Mogi das Cruzes. O ginásio do Hugão, que antes havia sido palco da maior decepção joseense no basquete, se tornou um lugar de superação.

O atual técnico Jaú conta um pouco dessa história e explica de onde vem essa força joseense no basquete: “Em 2015, o técnico era o Cris [atual auxiliar de Jaú] e realmente nós tínhamos um time desacreditado que foi montado de última hora, mas que tinha boas peças. O campeonato também foi um pouco atípico, porque as grandes equipes começaram a jogar o campeonato paulista depois, começaram a jogar só nos playoffs e São José já começou com força total. Nos playoffs, São José encaixou bons jogos, contra Rio Claro e outras equipes e na final contra Mogi fizeram dois grandes jogos. A força de jogar em casa é muito grande. Quando se tem uma equipe forte, jogando aqui em São José com o ginásio lotado é um algo diferente.”

Equipe que bateu o Mogi fora de casa e conquistou o campeonato Paulista de 2015
Foto: Danilo Sardinha/GloboEsporte.com

Mas o bom momento acabou aí. Na temporada 2015-16 do NBB, a equipe joseense amargou a penúltima colocação na fase de grupos e nos dois anos seguintes a situação foi ainda pior. Devido a problemas financeiros, o time não participou nem do campeonato paulista, nem do NBB de 2016 e 2017. Jaú explica que, além da falta de recursos financeiros, também faltou planejamento para a equipe: “O problema foi financeiro, e uma outra coisa que eu acredito que tenha acontecido foi não ter um planejamento ideal. Teve muita troca de técnico, pressão para trocá-los.” Segundo o atual técnico, foram quatros nesse período, até a sua chegada.

Após esse período conturbado na equipe, o ano de 2018 começou melhor. Mesmo com um orçamento baixo, de cerca de 1,5 milhão de reais, a equipe foi inscrita para a Liga Ouro, campeonato que dá acesso ao NBB. A campanha foi muito boa, o time foi o vice-colocado, perdendo a final para o Corinthians. Mesmo não sendo o campeão, a equipe conquistou a vaga para o campeonato nacional após convite da Liga Nacional de Basquete (LNB), organizadora do torneio. Após uma pequena incerteza sobre a participação, o time conseguiu a verba que a LNB julgava necessário para que o time entrasse na competição e se inscreveu não só para o NBB, como também para o Paulista.

Técnico Jaú (de branco) com os primeiros contratados para a disputa da Liga Ouro.
Foto: /Arhur Marega Filho/São José Desportivo

Jaú tenta explicar o que levou a essa novela de incerteza em um ano que começou para a equipe: “Nossa diretoria fez um trabalho de bastidor junto a Liga Nacional. Eles vieram até aqui, assistiram a todos nossos jogos com casa lotada, mais de mil torcedores no ginásio, uma equipe competitiva. Então fizemos uma solicitação para o corpo técnico da Liga e eles convidaram. Só que eles nos convidaram no dia 29 de junho, e nós tínhamos até o dia 3 para fazer a inscrição e comprovar todo o investimento. Nós não conseguimos com as empresas privadas a verba necessária. Pedimos mais um prazo e a Liga aceitou, e no último dia conseguimos viabilizar um patrocinador. Antigamente o patrocínio era 100% público, agora temos uma série de patrocinadores pequenos e fechamos com um master.”

O treinador também falou da importância da categoria de base para a montagem do elenco atual e como ela foi importante nos dois anos em que o time adulto não participou de competições: “Quando eu cheguei no São José, em 2002, o time não tinha uma categoria de base estruturada e nós conseguimos estruturá-la. Hoje, o São José só está novamente no cenário nacional devido à não paralisação das categorias de base. Nos anos em que o adulto não jogou, nós jogamos a liga sub-21, sub-20. Então, a categoria de base deu toda essa sustentação para o basquete não morrer na cidade. Hoje a categoria de base é muito importante porque, se cortarem a verba, nós ainda temos um time juvenil muito forte”. Do atual elenco, o ala-pivô Pastor é prata da casa. João Guirro e William treinam com o time adulto.

Atualmente a equipe disputa o NBB e está no meio da tabela, com oito vitórias e doze derrotas. O desempenho é, até agora, regular, porém satisfatório considerando-se o baixo investimento, muito distante da realidade de outras equipes – situação apontada pelo próprio Jaú. O São José, hoje na nona posição, está brigando por uma vaga na fase de oitavas de final da competição.

Um time que oscila entre períodos de glórias, como no início dos anos 80 – e, mais recentemente, em 2010, 2011 e 2012 –, e hiatos inexplicáveis, mas que nunca perde a força. A grandeza da Águia do Vale está nessa sua capacidade de ressurgir. Com uma torcida apaixonada em uma cidade que abraça o basquete, muitas vezes colocando-o acima do futebol, o São José encontra aí a sua força, que, independente de investimento, sempre se mostra competitiva e surpreende quando os grandes menos esperam.

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