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Resenha I Superache, de Conan Gray

O mais novo álbum do artista é um retrato cru de como jovens saindo da adolescência precisam de terapia

Você tem 17 anos e é um péssimo dia. Chega em casa da escola e vai direto para o quarto. O mundo te odeia, nada faz sentido, parece que o universo conspira contra você. Então, você tranca a porta, coloca um álbum para tocar no volume máximo e começa a chorar. Se o álbum escolhido não foi Superache, do Conan Gray, você está sofrendo errado.

 

Lançado em junho de 2022, o recente álbum de Conan continua tão íntimo e pessimista quanto seus trabalhos prévios. Mas, o diferencial de Superache é a dramaticidade utilizada pelo artista, típica de sua faixa etária e de seu público, para revelar paradoxos de seu amadurecimento: amargo e doloroso, mas também lírico e romântico. 

 

O  single do álbum, Astronomy, lançado em 7 de maio de 2021, já anunciava o tom reflexivo do novo projeto. Na canção, Conan canta sobre um amor jovem, esperançoso e aventureiro, mas que acabou. As pessoas crescem, se separam e, às vezes, o amor acaba, o que é natural, como astronomia e  a morte de estrelas. Mas o artista não entoa seus versos com tristeza, e sim com aceitação, como uma despedida. Os ouvintes mais fiéis e  atentos podem associar esse “adeus” ao antigo, mais jovem e ingênuo, Conan, pois alguns dos versos lembram um pouco as palavras ditas em canções do álbum anterior, Kid Krow, especialmente as de Generation Why. 

 

“We drive through the woods, rich neighborhoods to watch

We joked as we looked that they were too good for us”

(Nós dirigimos pelas florestas, vizinhanças ricas para assistir 

Nós brincávamos, enquanto víamos que eles eram bons demais para nós) 

Astronomy, Conan Gray

 

Superache tem a energia de filmes coming of age, e a própria música inicial do disco, Movies, é o que insere o ouvinte nesse universo. Destaque de uma geração de “contadores de histórias”, o cantor se consagra neste álbum como um liricista, capaz de transformar suas próprias vivências, felizes ou traumáticas, em contos musicais magnéticos, que prendem o público na narrativa. Conan Gray não apenas cria histórias baseadas em sua própria realidade, mas também as elabora em uma perspectiva externa, que apenas um olhar sensível poderia captar. Ele mesmo se classifica como “alguém assistindo”, e talvez esse seja seu diferencial. 

 

O álbum segue com a faixa Disaster, que lembra a sonoridade oitentista pelo seu ritmo acelerado e uso de sintetizadores, facilmente reconhecível em músicas pop atuais como Boys Don’t Cry, da brasileira Anitta. Ao contrário das fórmulas cada vez mais repetidas, que se parecem com descartes de Dua Lipa e de The Weeknd, a faixa soa mais como uma versão mais ingênua e juvenil do trabalho desses artistas. É uma das mais fracas do álbum em questões de produção e liricidade e, mesmo sendo a mais comercial, é genérica demais para se tornar um hit das rádios, e não suficientemente esperta para se tornar um hit do TikTok.

 

Conan ainda dedica grande parte do álbum para desabafar sobre sua infância e sua relação com a família. Jigsaw, Family Line e Summer Child retratam ciclos de abuso e de violência doméstica que foram presentes em sua vida. Na oitava faixa de Superache, em especial, o cantor expõe de forma muito honesta e aberta essas questões. Uma novidade na carreira do artista, que costuma ser muito reservado em relação a sua vida pessoal.

 

“My father never talked a lot

He just took a walk around the block […]

And then he’d hit

My mother never cried a lot

She took the punches, but she never fought”

(Meu pai nunca conversou muito

Ele apenas fazia uma caminhada ao redor do quarteirão […]

E depois ele batia

Minha mãe nunca chorou muito

Ela levou os socos, mas ela nunca lutou)

Family Line, Conan Gray

Outro elemento que chama atenção no álbum é a estrutura de composição que, em algumas faixas, foge do tradicional. O cantor tem um talento nato para construir pontes. Não apenas a ponte inesperada de Yours, que quebra o tom melancólico tranquilo da canção e abre espaço para os sentimentos de raiva e decepção, demonstrando as diferentes fases de sofrer por amor. Mas uma ponte entre a adolescência e a vida adulta, entre suas letras e seu público, entre as melhores e as mais miseráveis partes de ser jovem. É a dramaticidade que o torna tão único e é nesses momentos musicais que ele explora os sentimentos hiperbólicos.

 

A melhor música do álbum é, definitivamente, Memories. Seu refrão potente é quase como feito para cantar gritando. É o tipo de música que faz você aumentar o volume dos fones de ouvido conforme vai evoluindo,   que faz você voltar para o início se alguém ou algo te distraiu durante o primeiro refrão, porque você não “sentiu o suficiente”. Conan Gray é uma voz tão genuína e honesta dessa geração que torna fácil se identificar com seus versos. E, mesmo que você não se identifique, a musicalidade pode fazer você querer se identificar. Memories é exemplo disso.

 

Superache é um álbum coeso, exagerado, dramático, teatral e honesto. Sua produção minuciosa é mais um trabalho talentoso de Dan Nigro, mesmo produtor do aclamado Sour de Olivia Rodrigo. Talvez Nigro esteja para a nova geração do pop como Jack Antonoff, produtor queridinho de artistas como Taylor Swift, Lana Del Rey e Lorde, está para a geração que os inspirou, logo, é alguém para prestar atenção. Superache é um álbum que eu não gostaria que ficasse na memória, para poder escutá-lo todos os dias como se fosse a primeira vez.

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