Como nasce uma estrela na música brasileira atual? Talento? Looks? Apelo comercial? Talvez um pouco de tudo isso, mas aqueles que realmente se destacam são os que conseguem trazer representatividade e intimidade com o público. O cantor de 27 anos Jão é um dos grandes exemplos de sucesso para as novas gerações e prova disso são os 44 shows da turnê Pirata que esgotaram ingressos pelo Brasil inteiro.
27 de maio: o show
Típico menino do interior que vai para a cidade grande carregando sonhos imensos, Jão transmite aos fãs uma energia diferenciada que já era perceptível na fila que rodava a quadra do Espaço das Américas, em São Paulo. Na noite de 27 de maio, milhares de jovens cobertos de glitter, que usavam roupas coloridas e carregavam orgulhosamente bandeiras LGBTQIA+ esperavam enfileirados a abertura da casa de shows, enquanto cantavam as músicas do cantor, conversavam alto e tiravam fotos para marcar aquele momento especial. É essa alegria jovem, o sentimento de euforia e a vontade de viver a vida ao máximo que o torna tão atrativo: Jão escreve músicas para cantar gritando, aquelas que precisam ser colocadas no volume máximo para sentir cada palavra dita. Mesmo as letras tristes criam o ímpeto energizante de querer sair correndo pela rua, viver uma grande aventura e um grande amor.
Quando a cortina cai e revela no palco um imenso navio futurístico, cenário acompanhado pelas primeiras notas da música Clarão, o público já se sente imerso no universo pirata de Jão, no qual ninguém é muito santo, alguns vão morrer sozinhos e amores de uma noite ainda são amores.
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A personalidade, carisma e sensualidade de Jão criam uma órbita ao redor do cantor que atrai o espectador. É quase impossível tirar os olhos dele durante o show, especialmente porque ele canta exatamente aquilo que seu público vive e sente, ou quer viver e sentir. A presença de palco do artista, sua técnica vocal impecável e seu figurino brilhante criam uma atmosfera quase cinematográfica que romantiza a vivência dos jovens. Grandes amores, drogas, sexo, corações partidos e imprudências em festas pela madrugada são os grandes temas das letras de Jão. É fácil associar sua própria vida à linguagem dele quando se vive a adolescência e o início da vida adulta: não surpreende que essa seja a faixa etária majoritária da audiência.
Mas uma coisa eu senti mudar
Apesar de toda a magia que envolveu o público no show, o período entre a abertura do Espaço das Américas às 20h e o início da apresentação, que estava previsto para começar às 22h, não foi tempo de glória para os fãs do cantor. A aglomeração de jovens espremidos na tentativa de ficarem mais próximos do palco, juntamente com a iluminação da casa de shows, contribuiu para aumentar o cansaço e o calor, especialmente para aqueles que já estavam há mais de cinco horas na fila. Não era permitido entrar com água ou alimentos no local, mas haviam bebidas à venda por preços exorbitantes. Quem levou garrafas de água na bolsa teve que jogar fora antes de entrar e, durante toda a apresentação, era possível ver pessoas passando mal com queda de pressão ou falta de ar, o que gerou um movimento contínuo de saída da área do show para buscar a ajuda médica do espaço.
Além disso, Jão começou sua performance com aproximadamente 40 minutos de atraso. Considerando que a apresentação durou em torno de uma hora e meia, o público deixou o Espaço das Américas depois da meia-noite, o que dificultou para muitos um retorno seguro para casa, pois, nesse horário, o metrô já havia fechado. Esse tipo de situação em shows não é incomum. Acontece, mas não deveria.
As figuras do universo pirata
Os personagens que auxiliaram Jão na construção de seu mundo pirata foram parte importante da construção da atmosfera convidativa da apresentação. A banda extremamente talentosa que o acompanhou ajudava na presença de palco do cantor, além de ter seus momentos de evidência como nos solos de saxofone e guitarra.
As belíssimas e carismáticas backing vocals Francine e Marta também foram figuras essenciais na apresentação. As duas já são conhecidas por sempre aparecerem nas redes sociais do cantor em momentos de descontração, mas, independentemente dele, possuem um brilho próprio e vozes tão encantadoras e potentes que tornam as suas presenças necessárias.
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A participação especial do duo Anavitória também foi um momento especial da noite do dia 27. O público da dupla e de Jão são muito parecidos e interligados, então, a presença das duas foi uma surpresa agradável e divertida. As expectativas para uma colaboração foram alimentadas pelas suas vozes e personalidades, que combinam muito.
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Acolhimento para meninos e meninas que amam meninos e meninas
Outro aspecto importante da apresentação e da própria persona criada ao redor de Jão é a representatividade e orgulho LGBTQIA+. Bissexual assumido, o artista canta sobre sua sexualidade e amores diversos com muita naturalidade e em clima de celebração. Durante a música Meninos e Meninas, considerado pelos fãs um hino bissexual, o palco era iluminado com as cores da bandeira que representa essa sexualidade — azul, roxo e rosa —, enquanto o público cantava junto a plenos pulmões, dançava e pulava. Definitivamente, um dos pontos mais altos do show.
Diferentemente de outros exemplos na mídia, a música de Jão não é sobre o sofrimento e as dores de fazer parte de uma minoria tão violentada, mas sobre o orgulho de ser quem se é e amar quem se ama. É lindo e esperançoso ver tanta gente jovem festejando o amor, a liberdade e a identidade própria num espaço de segurança e conforto.
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Jão entrega no seu show tudo o que se espera de um artista e influenciador das novas gerações. Apesar de imaturo em questão de idade, o cantor não tem nada de fraco, frágil e estúpido, pois fala do amor com a sensibilidade de quem é capaz de amar como um idiota ama e que está disposto a se perder, incendiar e nadar além do mar, se isso significar viver o máximo da vida e da juventude.
[Imagem de capa: Divulgação/Jão]