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A volta dos anos 2000: a influência da tendência Y2K sobre o jovem

Como e por que, mesmo partindo de gerações jovens, as tendências atuais retomam décadas passadas

Minissaias, calças largas, óculos de sol finos, camisetas baby look e muitas cores. Esses são alguns dos elementos que compõem o guarda-roupa dos jovens mais populares do Instagram e do TikTok atualmente. Entretanto, essas peças poderiam fazer referência a outro período: às combinações exageradas de Paris Hilton, Britney Spears, Naomi Campbell e tantas outras celebridades em seus tapetes vermelhos no início dos anos 2000, que influenciaram e moldaram a cultura de toda uma geração. Com tantas similaridades entre o estilo das fashionistas atuais e a aparência nostálgica de grandes celebridades, fica o questionamento se essas tendências tão populares entre os jovens pertencem ao passado ou ao presente. 

A moda é cíclica

Em um período em que o consumo é tão incentivado pela internet, as tendências são criadas e destruídas rapidamente — em alguns casos, em questão de semanas. É natural que exista essa confusão entre a moda do passado e a do presente, especialmente porque esse movimento acelerado de produção que é empregado pelas marcas do chamado fast fashion limita as possibilidades criativas e gera a necessidade de revisitar o passado. “A moda é muito cíclica. Ela é um reflexo da sociedade. A geração que dita a moda atualmente não necessariamente viveu os anos 2000, ou seja, para ela, o que estava em alta naquela época é uma novidade, mesmo que, para quem viveu o período, seja algo ultrapassado”, afirma Nathalie van der Zee, designer de moda para a marca Mindse7

Ainda assim, tendências que partem da Geração Z não são exatamente uma cópia das revistas ou passarelas do passado. É característica desse público o pensamento criativo, voltado para a sustentabilidade, visível, por exemplo, no nicho de upcycling do TikTok. As referências são do passado, mas a forma com que elas são aderidas é extremamente atual. À primeira vista, o guarda-roupa dos jovens do TikTok e Instagram pode parecer idêntico ao dos típicos adolescentes dos anos 2000, que liam a revista Capricho e eram “influenciadores” do Orkut. Porém, em uma análise mais detalhada, notam-se recortes, pinturas, misturas de tecidos e modelagens diferentes, que demonstram toda uma nova identidade e personalidade próprias dos tempos atuais.  Exemplo disso são os vestidos inspirados na personagem Maddy, da série Euphoria, e as peças de tule com estampa psicodélica ou que simulam mapas de calor, como as usadas por Jade Picon, em sua participação no Big Brother Brasil 2022. 

Slow fashion e upcycling: as novas palavras da moda que representam um movimento maior 

Apesar de incentivarem a criatividade por meio de postagens que compartilham ideias e partes do processo artístico, algumas redes sociais, como o TikTok, também impulsionam o consumo. A indústria da moda não fica fora dessa lógica, pois a tentativa de atender o consumidor cria uma produção massificada e padronizada de roupas que logo serão descartadas. Para Nathalie van der Zee, a criação de moda pelos estilistas atuais não se desvincula dos interesses do público, sendo ele, muitas vezes, quem dita o que será ou não produzido. “Ao contrário do que ocorria no passado, hoje, as pessoas ditam a moda e os desfiles a concretizam”. 

Mesmo com a estrutura mercadológica controlando cada vez mais o mundo fashion, há estilistas que vão na contramão desse processo ao buscarem uma produção autêntica. De acordo com Ju Barbosa, criadora de conteúdo para as redes sociais e consultora de estilo: “Ainda há designers novos, autorais, que investem muito na criação, e estão tentando inovar e usam tecidos tecnológicos. Tem uma parte da moda que tenta criar coisas novas e apresentar novidades para o público, mas com certeza a moda de massa está mais preocupada em atender o consumidor”. 

Nessa mesma lógica, na Geração Z, cada vez mais preocupada com questões ambientais, existe um nicho de jovens que tentam ressignificar o consumo da moda. Brechós, bazares e pequenas marcas têm sido muito atrativos para esse público. Trata-se da mentalidade slow fashion, na qual o respeito pelo meio-ambiente e pelas pessoas está acima da necessidade de compra e descarte de tendências.  

Romantização de um tempo não vivido

A “nostalgia” de algo que não foi vivido abre espaço para uma romantização que não considera os aspectos negativos que estavam atrelados a essas tendências Y2K. A estética Y2K surgiu no final da década de 1990, momento no qual as pessoas temiam o bug do milênio, enquanto ainda celebravam o surgimento da tecnologia. Desse modo, a moda futurística e o consumismo luxuoso eram moldados através do vestuário. 

A maior parte da inspiração dessa onda vinha de ícones da cultura pop com seus materiais brilhantes, óculos de sol coloridos e mix de estampas e estilos, além disso, silhuetas justas e expostas eram cultuadas. Para van der Zee, “Sem dúvida é uma romantização de décadas passadas. Não é tão distante, mas é distante o suficiente para ser cool. As pessoas não viveram aquelas décadas, e é aí que está o perigo: nos anos 2000, as meninas usavam cintura baixa, barriga de fora, as coisas todas cortadas: estamos falando da magreza de novo, as pessoas tinham que ser super magras para conseguir caber nas roupas”.

Outros elementos culturais também influenciam como a moda se manifesta na Geração Z. O acesso a plataformas de streaming facilita o contato com o passado por meio de filmes, séries e músicas, contribuindo para essa idealização. Gilmore Girls (2000-2007) , Sex and the City (1998-2004), Dawson’s Creek (1998-2003) e Friends (1994-2004) são alguns dos exemplos de séries que ainda fazem sucesso entre adolescentes, mesmo que tenham acabado em torno de 2010. “A moda retoma gerações passadas porque gostamos de olhar para trás, de ressignificar as coisas. Por ser uma década ainda recente, fazemos essa retomada, é algo natural. Talvez por vermos essas roupas no armário dos nossos pais e por acompanhar também filmes e séries que remetem a década de 2000”, afirma Ju Barbosa. 

Saias balonê, calças de cintura baixa, minissaias e cachecóis finos: a moda y2k vista nas passarelas de grifes de luxo
[Imagem: divulgação / Vogue Runway]

A volta (ou continuação) do culto à magreza

Uma discussão recente no Twitter gerou opiniões controversas sobre o culto à magreza que tendências dos anos 2000 trouxeram consigo. Por trás das roupas chamativas, com muito brilho e cores vivas, existem aspectos negativos da cultura dos anos 2000 que não se encaixam nas discussões atuais, especialmente em um momento em que tantos padrões de beleza são questionados. Para Barbosa, “O culto à magreza não tinha acabado, mas estamos criando novos caminhos. Na internet há mais espaço para se falar sobre diferentes pessoas e corpos. Porém, com a volta dos anos 2000, também está voltando o culto ao corpo extremamente magro”. 

Por outro lado, há quem acredite que é possível subverter as crenças e paradigmas associados à estética Y2K. Nathalie van der Zee é uma dessas pessoas: “Hoje, estão tentando ressignificar isso com os aprendizados que nós temos. Por mais que, no começo, a volta da tendência assustou, hoje não acho que precise ser um tamanho 34 para usar uma cintura baixa. Temos que ressignificar, e fazer com que pessoas de qualquer tamanho possam se sentir bem.”. 

Na realidade, o culto à magreza não necessariamente acabou. A sua manifestação foi amenizada por movimentos como Body Positive e discussões na internet. Mesmo nas lojas de departamento, onde as roupas são mais acessíveis em questão de tamanhos, é difícil encontrar peças que sirvam em todos os corpos, além de haver um forte julgamento por parte da sociedade. As pessoas têm a liberdade de se vestir como quiserem, mas a própria indústria da moda e as redes sociais estigmatizam corpos gordos e qualquer característica que foge do padrão, negligenciando a diversidade. 

https://www.instagram.com/p/CTlUBAnsbVR/?igshid=YmMyMTA2M2Y=

O olhar mais amplo sobre as pessoas ajuda o processo criativo e a produção de moda, o que pode ser incentivado por uma maior abertura da mídia e da indústria em si. A nostalgia no mundo da moda pode ser benéfica, contanto que foque nos aspectos positivos de cada era. “Quando falamos de moda, temos que aprender a olhar para o lado. Porque, do seu lado, a moda já está sendo ditada, tudo em volta de nós tem poder de influência e referência”, completa Nathalie van der Zee.

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