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Lula e Alckmin: o que esperar do possível futuro do Brasil?

Após 20 anos da vitória de Lula na eleição de 2002, o ex-metalúrgico deseja voltar para a presidência do país

“Para quem cresceu durante os governos do PT, é muito nítido que Lula é hoje nossa melhor alternativa. Os governos de Temer e Bolsonaro destruíram nossos sonhos e oportunidades, precisamos urgente de um Presidente que volte a cuidar do Brasil”

Ana Tenório, coordenadora da página USP com Lula

No dia 02 de outubro de 2022, ocorrerão as eleições para os cargos de presidente, governador, senador, deputado federal e estadual. Os eleitores só podem votar em apenas um candidato de cada uma das categorias listadas. Para o cargo de presidente, será eleito somente um candidato, governador e senador também só poderá eleger um candidato por estado. Caso haja uma porcentagem de votos menor que a esperada para garantir vitória, ainda haverá um segundo turno de eleição no dia 29 de outubro de 2022. 

Assim, para conhecer melhor um dos candidatos à presidência da república, aqui está presente uma exposição e contextualização da chapa do ex-presidente, Luiz Inácio “Lula” da Silva, e do seu vice, Geraldo Alckmin. 

Luiz Inácio “Lula” da Silva

No dia 27 de outubro de 1945, em Garanhuns, interior de Pernambuco, nasceu Luiz Inácio “Lula” da Silva. Um ex-sindicalista, ex-metalúrgico e ex-presidente do Brasil que hoje, em 2022, deseja voltar a ser. 

Lula, como é popularmente conhecido, recebeu esse apelido ainda na época que trabalhava como metalúrgico. Foi durante esse período da sua vida que o ex-presidente sofreu um acidente de trabalho, o qual perdeu seu dedo mínimo, conhecido como mindinho. As leis trabalhistas da década de 60 não visavam favorecer o trabalhador e Lula não recebeu os cuidados necessários após a perda de um dos seus dedos. Essas injustiças em seu ambiente de trabalho fizeram com que Luiz Inácio desejasse entrar nos movimentos sindicais para lutar pelos direitos dos metalúrgicos e demais trabalhadores. Lula se tornou uma das principais lideranças dos sindicatos e foi assim que seu apelido ficou mais conhecido. 

Além disso, foi nessa época que o ex-presidente começou a participar mais da vida política do país, como por exemplo, no movimento das Diretas Já, no período da redemocratização do Brasil. Em 1986, foi eleito deputado federal pelo estado de São Paulo, com votação recorde. Depois do seu mandato como deputado federal, Lula concorreu pela presidência do país em 1989, 1994, 1998 e 2002, quando foi eleito o 35º presidente do Brasil.

Lula assumiu a presidência como sucessor de Fernando Henrique Cardoso (FHC) [Imagem: Reprodução / Agência Brasil]

Luiz Inácio “Lula” da Silva governou o Estado brasileiro de 1 de janeiro de 2003 à 1 de janeiro de 2011, ao ser reeleito em 2006, após ganhar de Geraldo Alckmin, seu atual vice-presidente. Em entrevista à Gazeta do Povo, para a cientista política da Universidade Federal do Paraná, Luciana Veiga, alguns aspectos positivos do governo Lula foram o controle da inflação baixa, que associada ao crescimento da economia e a política externa, gerou novos empregos e investimentos no país; e a política social do governo, Bolsa Família trouxa renda para muitas pessoas. 

No entanto, Luciana também pontua que o ex-metalúrgico teve como fatores negativos do seu governo a delegação à costura dos apoios políticos aos seus assessores. Para a cientista política, isso formou uma costura de apoio no varejo, com os pequenos partidos. Lula saiu da presidência do país com 83% de aprovação, sendo o presidente com o maior índice desde que esse dado começou a ser computado, no governo de José Sarney. 

Importante lembrar que, em 2018, Lula seria o candidato do PT pela presidência do país. Entretanto, o ex-presidente foi preso acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação penal envolvendo um triplex na cidade litorânea do Guarujá, no estado de São Paulo. O juiz responsável pelas acusações foi Sérgio Moro que, no governo do presidente Jair Bolsonaro, foi eleito Ministro da Justiça. As condenações contra Lula foram anuladas após uma investigação constatar que a sentença dada por Moro foi irregular, logo, inválida. 

Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho

Geraldo Alckmin já ocupou quatro vezes o cargo de governador do estado de São Paulo, sendo assim a pessoa que mais esteve nessa posição. Além de governador, Alckmin já foi vice-governador, deputado estadual e federal por São Paulo, como também já foi prefeito e vereador da cidade onde nasceu também, Pindamonhangaba. Todavia, sua carreira não é só política. O paulistano também é formado em medicina e já foi professor do mesmo curso na Universidade Nove de Julho (UNINOVE). 

Alckmin começou sua carreira política nos movimentos estudantis católicos e na faculdade de medicina, foi durante esse período que foi convidado para fazer parte do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), o qual deu origem ao Partido Social Democracia Brasileira (PSDB) e ao Partido dos Trabalhadores (PT). O MDB abrigava os opositores da Ditadura Militar e era ante a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) que acolhia os favoráveis ao governo de militares. 

Foi pelo PSDB que Alckmin se elegeu governador do estado de São Paulo e concorreu à presidência do Brasil contra Lula em 2006. Em 2017, o médico foi eleito presidente nacional do PSDB e concorreu à presidência do país em 2018, ano no qual obteve o pior resultado de um candidato desse partido em uma corrida à presidência. Em 2021, após 33 anos filiado ao PSDB, Alckmin se filiou ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) e agora segue sendo vice-presidente da chapa de Lula, em 2022. 

De acordo com a apuração da Agência Pública, a atuação de Alckmin no governo do estado de São Paulo, teve como aspectos positivos a redução dos roubos de carro e do latrocínio, além de uma queda na taxa de homicídios. A gestão de Alckmin também conseguiu controlar a crise hídrica no estado, diminuindo em 23% o consumo de água. Entretanto, segundo entrevista dada pelo conselheiro Antônio Roque Citadini, do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, para o jornal Rede Brasil Atual, as contas do terceiro mandato de Alckmin foram as piores em 10 anos. O paulistano fechou 2015 com o pior déficit orçamentário em 17 anos.   

Geraldo Alckmin chegou a ir para o segundo turno na eleição de 2006 contra Lula [Imagem: Divulgação / PSB Nacional 40]

De opositores para aliados 

Lula e Alckmin já se enfrentaram em uma corrida presidencial brasileira. O PT e o PSDB foram opositores em diversas eleições, não só para a presidência. Por muitos anos, os dois partidos ficaram conhecidos, popularmente, como a esquerda e a direita brasileira, respectivamente. A partir daí, surge o questionamento: como os dois grandes representantes dessa oposição acabaram juntos em uma mesma chapa para um cargo que antes disputaram um contra o outro?

No podcast “Bocas Ordinárias”, o candidato a governador de São Paulo do PT, Fernando Haddad, contou que foi um dos principais responsáveis pela junção de Alckmin e Lula na corrida presidencial. O professor conversou com uns amigos sobre a boa relação que ele estava tendo com o Alckmin para que ele apoiasse a candidatura de Lula à presidência. 

Embora, até aquele momento, Haddad e o médico fossem concorrer para governar o estado de São Paulo, alguém sugeriu que Alckmin fosse o vice do Lula, já que a relação do paulistano estava sendo positiva com o Partido dos Trabalhadores. Fernando Haddad conversou com um amigo de Alckmin para que ele pudesse conferir se este aceitaria a proposta e ele foi falar com o Lula sobre a junção. Segundo Haddad, a resposta do ex-sindicalista para a sugestão de que Alckmin fosse seu vice foi: “A política é extraordinária”.

Geraldo Alckmin é visto como símbolo da chamada “frente ampla” construída por Lula para essas eleições. Ou seja, a sua junção à chapa de Lula traz eleitores que talvez o ex-presidente com outra pessoa não traria. De acordo com cientistas políticos ouvidos pelo jornal InfoMoney, isso ocorre porque o empresariado brasileiro não confia somente a garantia de responsabilidade fiscal da campanha de Lula, uma vez que durante o governo Dilma, presidenta que foi indicada pelo ex-metalúrgico, houveram decisões que não agradaram os grandes empresários do país, como o congelamento de preço dos combustíveis e a desoneração da folha de pagamento. 

Apesar de Lula já ter afirmado que essas não foram decisões que ele concordasse, para muitos industriais esse depoimento não é o suficiente. Por isso, a presença de Alckmin na chapa do petista já apresenta certa influência sobre esse empresariado, ainda que Lula não divulgue sua equipe econômica antes da possível vitória. Portanto, Alckmin desempenha um importante papel para a campanha do ex-presidente e além disso, representa uma função estratégica. 

Segundo o eleitor de Lula, Fernando Fontoura, a escolha do ex-presidente para vice foi uma boa decisão. O eleitor afirma que o fato de Alckmin ser vice-presidente de Lula, facilitou algumas candidaturas do PT e PSB. Essa escolha ajudou também na candidatura de Haddad, uma vez que o professor não teve mais o médico como adversário na disputa para governador de São Paulo, e também a candidatura de Márcio França. O Partido dos Trabalhadores apoiou a candidatura de França para o senado, por ele ser do PSB, partido de Alckmin. 

“Tem um ponto fundamental que é o fato do Alckmin ter um um uma boa votação no interior de São Paulo. O PT é muito forte na região metropolitana, mas ele tem muita dificuldade no interior, que é muito conservador, então o Alckmin navega bem nesses ambientes”, conta Fernando sobre mais um motivo para a decisão de vice do ex-presidente fazer sentido. O eleitor de Lula ainda afirma que a escolha do Alckmin pode ser preocupante, caso o paulistano queira se candidatar em 2026 ou se ele tiver que entrar no lugar do Lula, em eventual problema, mas é um risco que é preciso correr. “Importante nesse momento era tirar o Bolsonaro e todo esforço nesse sentido, eu sinceramente considero válido”, conclui Fernando. 

Entretanto, assim como o médico pode atrair votos para Lula, ele também pode tirá-los. Muitos eleitores de Lula, mais vinculados à esquerda, são contra Alckmin como vice-presidente pelo seu desempenho nas políticas públicas enquanto governador do estado de São Paulo. Como por exemplo, o envolvimento do paulistano em um superfaturamento no fornecimento de alimentos da merenda escolar, o que gerou uma instabilidade na alimentação de diversas crianças em São Paulo. 

Ana Tibério, coordenadora da página “USP com Lula”, é bastante crítica à convocação de Alckmin para ser vice de Lula. “Isso porque Alckmin foi por anos um dos maiores líderes da oposição de direita à Lula e seu partido foi protagonista no golpe que derrubou Dilma e o PT”, conta a estudante. Ana ainda relata que os governos do paulistano foram “nefastos, marcados por ataques econômicos, políticos e sociais” contra a população mais pobre e periférica. 

Todavia, a eleitora de Lula afirma que a chapa Lula-Alckmin é a mais viável e que as críticas ao ex-governador de São Paulo não justificam o não apoio a esse candidato. “[Lula] É o único capaz de derrotar Bolsonaro e voltar a dar dignidade pro nosso povo.” 

O Partido dos Trabalhadores (PT) na eleição de Lula

Durante os últimos anos, foram descobertos diversos escândalos de corrupção no governo brasileiro, muitos deles envolvendo o Partido dos Trabalhadores. Esses escândalos de corrupção foram em sua maioria descobertos durante o governo da presidenta Dilma Rousseff (PT), após a líder do Estado liberar as investigações da Polícia Federal. Dessa forma, muitos eleitores assimilaram a corrupção aos governos do  PT, embora eles não tenham sido os únicos envolvidos. 

Inclusive, o PT não foi o partido com mais participantes investigados pela Lava Jato. Na Câmara dos Deputados, o Partido Progressistas (PP) tinha 40 deputados e 18 foram investigados. Já o Partido dos Trabalhadores e o PMDB tiveram 2 investigados cada um. Dessa forma, o principal foco deveria ter sido no PP, no entanto, como este partido não tinha a mesma relevância que o PT, seus escândalos de corrupção ficaram mais disfarçados. 

Além disso, diversas mídias aproveitaram desses escândalos e também focaram, quase que somente, no Partido dos Trabalhadores como os responsáveis por esses processos. O PT ocupava o cargo executivo máximo do Brasil há praticamente 4 mandatos, ou seja, um dos partidos mais conhecidos do país e que chamaria mais o interesse do público para esses jornais. “A mídia ficou um pouco cega com a Lava Jato. E aí você vê o fiasco que é o Sérgio Moro hoje, você percebe o quanto a mídia foi enganada, o quanto ela foi ingênua. Uma ingênua mais ou menos, foi conveniente para a imprensa”, afirma o eleitor de Lula. De acordo com o ex-presidente, a Lava Jato foi uma invenção que enganou a imprensa e causou mal ao Brasil. 

Outra consequência que pode ter sido causada pelos atos da imprensa foi o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Segundo Ana Tenório, “o desserviço da imprensa foi nítido, por exemplo, no golpe jurídico-midiático-parlamentar contra Dilma e na prisão injusta e ilegal do Presidente Lula”. Ela sofreu um impeachment após as investigações provarem que ela realizou “pedaladas fiscais”, entretanto só esse fato não deveria ser o suficiente para tirá-la da presidência, uma vez que dois dias depois do impeachment, o governo sucessor de Dilma autorizou o “crime” cometido pela ex-presidenta

Um dos fatores que auxiliou os responsáveis pelo processo de impeachment, para que tirassem Dilma da presidência, foram as atividades corruptas dos partidos expostas pelas investigações que a presidenta permitiu em seu governo. Essa exposição gerou um descontentamento da população brasileira com o Partido dos Trabalhadores, que foi o mais exibido nos principais jornais do país, e logo, com Dilma, fazendo com que fosse mais fácil começar a desenvolver a ação que levaria a saída da primeira mulher presidente do Brasil. Mais recentemente, no dia 22 de setembro deste ano, o Ministério Público Federal (MPF) arquivou o inquérito sobre as “pedaladas fiscais” da Dilma que justificaram o impeachment

Nesse aspecto, todo esse movimento investigativo no partido de Lula pode influenciar na nas eleições deste ano, já que a população brasileira ainda associa o Partido dos Trabalhadores aos processos de corrupção que os envolveram. Sendo assim, muitos eleitores preferem não votar no candidato do PT devido aos envolvimentos ilegais do seu partido e até do próprio ex-presidente, que já foi preso por supostos atos de corrupção. Para Fernando Fontoura, a questão com o Partido dos Trabalhadores é mais preconceito do que uma discordância com a ideologia do partido. 

O Partido dos Trabalhadores foi fundado em fevereiro de 1980, em São Paulo [Imagem: Reprodução / Guilherme Serafina]

Terceira via? 

O principal oponente de Lula nessa eleição é o candidato do PL e atual presidente, Jair Bolsonaro, visto que depois de candidato do PT, ele é o que possui a maior porcentagem de votos, de acordo com as pesquisas eleitorais, expostas mais abaixo no texto. Segundo Caio Neumann, eleitor de Bolsonaro, a principal diferença entre seu candidato e o ex-presidente é a ideologia. 

“Um é de esquerda e o outro é de direita”, afirma Caio. Esse depoimento demonstra que Lula e Bolsonaro são dois opostos não só na disputa à presidência, mas também na maneira como os dois agem politicamente, como dito pelo eleitor, suas ideologias. Para Fernando Fontoura, eleitor do Lula, também não faz o menor sentido ficarem comparando o ex-presidente e Bolsonaro. 

Esse debate traz o questionamento do porquê não votar em outros candidatos além do ex-presidente e do atual, uma vez que os dois já exerceram mandatos como líderes do Brasil e suas ideias parecem bem opostas uma da outra, sem um meio termo. Essa pergunta formou o que hoje é popularmente conhecida como a terceira via. A terceira via abrange todos os candidatos que não estão tão presentes na disputa e tem menos chance de ganhar essa eleição. 

Para Fernando Fontoura, a única pessoa que pode ser considerada como parte da terceira via é Ciro Gomes, pois ele tem a maior quantidade de votos depois de Lula e Bolsonaro. Porém, para o eleitor de Lula, com a vinda do ex-presidente para a disputa, Ciro perdeu a vaga para a presidência do país. Fernando reitera que para ele a terceira via é praticamente inexistente, uma vez que as duas outras candidatas com maior porcentagem de votos, Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil), defenderam Jair Bolsonaro na eleição passada e ele não concorda com esse posicionamento. 

Ana Tenório, também eleitora do ex-presidente, concorda que não existe espaço para uma terceira via. “Até hoje, nenhum outro candidato ou partido foi capaz de apresentar um programa de esquerda realmente transformador e, principalmente, respaldado pela classe trabalhadora”, afirma a coordenadora do USP com Lula. A estudante ainda reitera que Lula é o único capaz de derrotar Bolsonaro. “Derrotá-lo é urgente e qualquer outro voto que não em Lula hoje demonstra uma irresponsabilidade histórica diante dessa ameaça.”

Os candidatos à presidência, oponentes de Lula (PT) e Bolsonaro (PL), são: Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Léo Péricles (UP), Sofia Manzano (PCB), Constituinte Eymael (DC), Luiz Felipe D’Avila (Novo), Padre Kelmon (PTB), Soraya Thronicke (União Brasil)  e Vera Lúcia (PSTU) [Imagem: Reprodução / Governo do Estado de São Paulo]

O futuro em mais um governo Lula

A proposta do governo consiste em um programa de 21 páginas com 121 tópicos com enfoque na queda da inflação, da valorização das estatais e o combate à pobreza e à fome que, como destacado no documento, aumentaram nos últimos anos. A proposta é dividida em 4 tópicos, sendo estes: “Vamos juntos pelo Brasil – compromisso para a reconstrução e transformação do país”, “Desenvolvimento social e garantia de direitos”, “Desenvolvimento econômico e sustentabilidade socioambiental e climática” e “Defesa da democracia e reconstrução do Estado e da soberania”.

Lula utiliza o primeiro tópico da sua proposta de governo para defender a esperança de reconstrução do Brasil após anos de uma gestão “negacionista”, como afirma o programa de governo do candidato do PT. Ele defende que a política econômica vigente é a principal responsável pela decomposição de vida da população, além disso, diz que as políticas públicas foram “mutiladas” pelo último governo. 

Com esse contexto, a proposta promete que seu primeiro e mais urgente compromisso é a restauração da vida da imensa maioria da população brasileira. Segundo o documento, haverá um compromisso com a defesa da igualdade, da democracia, da soberania e da paz; um compromisso com o desenvolvimento econômico sustentável com estabilidade; um compromisso com a justiça social e inclusão com direitos, trabalho, emprego, renda e segurança alimentar; um compromisso com os direitos humanos, a cultura e o reconhecimento da diversidade; e um  compromisso com a sustentabilidade social, ambiental, econômica e com o enfrentamento das mudanças climáticas.

Já no segundo tópico, o ex-presidente traz o dever de colocar a população brasileira no orçamento do país, como uma medida de um governo popular, visto que os governos de Lula foram marcados pela ajuda aos cidadãos com diversos projetos sociais. Luiz Inácio afirma que o Brasil precisa criar oportunidades de trabalho e emprego, por isso, sua proposta contém: “investimentos em infraestrutura e em habitação; a reindustrialização nacional em novas bases tecnológicas e ambientais; a reforma agrária e o estímulo à economia solidária, à economia criativa”. 

O documento também defende o apoio ao cooperativismo, ao empreendedorismo e às micro e pequenas empresas. Propõe-se uma retomada da política do salário mínimo e a reconstrução da seguridade e da previdência social, para a ampla inclusão dos trabalhadores e trabalhadoras. Lula defende o enfrentamento da fome e da pobreza, assim como a garantia dos direitos à segurança alimentar e nutricional e à assistência social. A proposta afirma que é preciso fortalecer e reconstruir o Sistema Único de Assistência Social (SAUS) e é preciso implantar um Bolsa Família ampliado e renovado. 

Na questão da educação, o programa afirma que: “O país voltará a investir em educação de qualidade, no direito ao conhecimento e no fortalecimento da educação básica, da creche à pós-graduação, coordenando ações articuladas e sistêmicas entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, retomando as metas do Plano Nacional de Educação e revertendo os desmontes do atual governo”. Lula também comunica que haverá um amplo conjunto de políticas públicas de promoção da igualdade racial e de combate ao racismo estrutural. Além disso, o candidato reitera o compromisso de assegurar os direitos dos idosos com envelhecimento ativo, saudável e participativo, e por fim, proteção e a garantia dos direitos dos animais. 

O terceiro tópico da proposta de Lula visa a retomada do crescimento de empregos, da renda das famílias e a busca pela estabilidade de preços. O programa do ex-presidente também defende uma estratégia nacional de desenvolvimento justo, solidário e sustentável. Ele defende o combate ao uso predatório dos recursos naturais, a recuperação da capacidade de estatais, para que isso seja possível, e o investimento no mercado interno.  

O documento declara que é preciso revogar o teto de gastos e rever o atual regime fiscal brasileiro. Lula propõe uma reforma tributária que simplifique os tributos e que os pobres paguem menos e os ricos paguem mais impostos. A tarefa prioritária é combater a inflação e a carestia, com uma transição de uma nova política de preços de combustíveis e do gás, e também reduzindo a volatilidade da moeda brasileira por meio da política cambial. 

Propõe-se também uma renegociação de dívidas das famílias e das pequenas e médias empresas. No programa do petista, são defendidos o fortalecimento e modernização da estrutura produtiva por meio da reindustrialização, do fortalecimento da produção agropecuária e do estímulo a setores e projetos inovadores. A agricultura familiar, tradicional e sustentável serão as mais beneficiadas, visando o crescimento destas. O documento alega que é preciso haver a garantia da modernização e da ampliação da infraestrutura de logística de transporte, social e urbana, com um vigoroso programa de investimentos públicos. Lula também defende o investimento privado, afirmando que será estimulado por meio de créditos, concessões, parcerias e garantias. 

O governo também irá garantir a soberania e a segurança energética do país, além de recompor o papel indutor e coordenador do Estado e das empresas estatais. A proposta deixa claro que o governo do candidato ao PT será contrário à privatização da Petrobras, da Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), da Eletrobras e dos Correios. Haverá um processo de transformação digital no país, assegurando internet de qualidade em todo território e para todos e todas, e um combate às desigualdades regionais, fortalecendo o desenvolvimento das regiões e estimulando novas experiências de cooperação e organização territorial. 

No último tópico, a proposta do ex-presidente visa recuperar a política externa ativa e altiva, defendendo a soberania do país, e a  prevenção e combate à corrupção e de promoção da transparência e da integridade pública. O programa também defende os jornalistas: “Atuaremos para que o Brasil volte a ser considerado um país no qual o livre exercício da atividade profissional do jornalismo seja considerado seguro, onde a violência contra jornalistas, meios de comunicação, comunicadores e todos os profissionais de imprensa sejam coibidas e punidas”. 

Para os interessados em ler a proposta do candidato do PT, na íntegra, é possível acessá-la clicando aqui.

O programa de governo de Lula em 2022 ainda visa ajudar a população mais pobre [Imagem: Reprodução / Ricardo Stuckert]

A atual proposta do candidato Lula apresenta algumas semelhanças ao seu programa da eleição de 2002, como por exemplo, se vê na defesa de um governo popular, visando a garantia de direitos da população mais pobre brasileira. Além disso, tal qual em 2002, o pernambucano também defendeu uma política tributária justa e o respeito à diversidade e às especificidades regionais e locais nas suas dimensões econômica, social, política, ambiental e cultural. 

A J.Press entrevistou três eleitores brasileiros sobre o programa de governo do ex-presidente Lula. Para o eleitor de Jair Bolsonaro, do Partido Liberal (PL), Caio Neumann, ele não concorda com a defesa da proposta de maior controle do Estado. “Eu acho que o Estado tem que servir o Brasil de uma forma mais enxuta possível para que você não prejudique o país”, afirma o eleitor de Bolsonaro. Caio ainda conta que discorda das ideologias de esquerda, em geral, e por isso, não votará em nenhum partido com esses ideais. 

Já para os eleitores do Lula, as ideias do programa do candidato do PT são válidas por defenderem programas voltados à educação e criarem, ou melhorarem, projetos sociais, como o Bolsa Família, Luz para Todos e Minha Casa, Minha Vida, assim como em seus últimos mandatos. 

“Se o PT conseguir, falando do cenário atual, se o Lula conseguir voltar e restabelecer as políticas do PT até o impeachment da Dilma, com ajustes na economia, pra mim, já estaria de ótimo tamanho”, afirma Fernando. Para Ana Tibério, é importante que o ex-presidente aumente o salário mínimo acima da inflação em todos os seus anos de mandato. “Assim, creio que o povo brasileiro conseguirá obter mais renda para suas famílias e se libertar da cruel situação de fome na qual se encontram hoje mais de 33 milhões de brasileiros e brasileiras.”

Porcentagens eleitorais

Para que um candidato vença no 1º turno é preciso ter mais de 50% dos votos válidos, mesmo que isso signifique apenas um eleitor a mais. Os votos válidos são aqueles que não são nem brancos, nem nulos. De acordo com as últimas pesquisas de intenção de votos para candidatos à presidência, Lula aparece com uma vantagem de eleitores acima de Bolsonaro. Entretanto, em muitas pesquisas, sua vantagem não é suficiente para vencer no dia 2 de outubro. 

Abaixo, estão algumas das pesquisas eleitorais já feitas sobre o 1º turno, com as informações da maneira que a pesquisa foi realizada e a data em que foi divulgada:

Pesquisa Exame/Ideia (21 de julho de 2022)

  • Lula (PT): 44%
  • Bolsonaro (PL): 33%
  • Ciro Gomes (PDT): 8%
  • Simone Tebet (MDB): 4%
  • Luiz Felipe D’Avila (Novo): 1%
  • Vera Lúcia (PSTU): 0,5%
  • Eymael (DC): 0,1%
  • Sofia Manzano (PCB): 0,1%
  • Branco/Nulo: 4%
  • Não sabem: 3%

Datafolha (18 de agosto de 2022)

  • Lula (PT): 47%
  • Bolsonaro (PL): 32%
  • Ciro Gomes (PDT): 7%
  • Simone Tebet (MDB): 2%
  • Vera Lúcia (PSTU): 1%
  • Luiz Felipe D’Avila (Novo): 0%
  • Eymael (DC): 0%
  • Sofia Manzano (PCB): 0%
  • Soraya Thronicke (União Brasil): 0%
  • Léo Péricles (UP): 0%
  • Branco/Nulo: 6%
  • Não sabem: 2%

Ipec (19 de setembro de 2022)

  • Lula (PT): 47%
  • Bolsonaro (PL): 31%
  • Ciro Gomes (PDT): 7%
  • Simone Tebet (MDB): 5%
  • Soraya Thronicke (União Brasil): 1%
  • Vera Lúcia (PSTU): 0%
  • Luiz Felipe D’Avila (Novo): 0%
  • Eymael (DC): 0%
  • Sofia Manzano (PCB): 0%
  • Léo Péricles (UP): 0%
  • Branco/Nulo: 5%
  • Não sabem: 4%

Datafolha (22 de setembro de 2022) 

  • Lula (PT): 47%
  • Bolsonaro (PL): 33%
  • Ciro Gomes (PDT): 7%
  • Simone Tebet (MDB): 5%
  • Soraya Thronicke (União Brasil): 1%
  • Vera Lúcia (PSTU): 0%
  • Luiz Felipe D’Avila (Novo): 0%
  • Eymael (DC): 0%
  • Sofia Manzano (PCB): 0%
  • Léo Péricles (UP): 0%
  • Branco/Nulo: 4%
  • Não sabem: 2%

Dessa maneira, nesses últimos 3 meses de pesquisas eleitorais, Lula as liderou. Na pesquisa do Ipec do dia 19 de setembro, Lula ganharia no primeiro turno, uma vez que considerando os votos válidos, o ex-presidente teria cerca de 52%, garantindo sua possível vitória. Além disso, de acordo com a pesquisa do Datafolha do dia 22 de setembro, caso houvesse um segundo turno, o ex-presidente ganharia também, com 54% dos votos contra 38% de Jair Bolsonaro. 

 

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