Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Resenha | O mistério brando, porém impactante, de ‘A Pequena Caixa de Gwendy’

KING E CHIZMAR CRIAM UMA HISTÓRIA QUE BAGUNÇA OS LIMITES ENTRE FANTASIA E REALIDADE

“Sei que o presente que tenho aqui foi feito pra alguém como você. Uma jovem que não tem a cabeça nas nuvens”.

A Pequena Caixa de Gwendy, 

de Stephen King e de Richard Chizmar 

 

Escrito por Stephen King e Richard Chizmar, A Pequena Caixa de Gwendy (Suma, 2018) é o primeiro livro da trilogia Caixa de Botões da Gwendy (em tradução livre), e conta a história de Gwendy Peterson, uma garota de 12 anos que vive junto de seus pais na pacata Castle Rock, no estado de Maine. Em determinado dia, ao fazer sua corrida matinal pela Escadaria Suicida, ela se depara com um homem misterioso esperando por ela. 

 

De início relutante, Gwendy não parece entender muito o que o homem deseja. Porém, em pouco tempo, ele começa a conversar com a garota e a oferece uma Caixa de Botões. Dessa Caixa saem chocolates em formato de animais, moedas valiosas e botões de cores diferentes que representam cada um dos seis continentes do planeta. O botão vermelho pode ser apertado quantas vezes Gwendy quiser, representando um dos mistérios da Caixa a ser revelado ao longo da história, e o preto significa… tudo. Ou nada. É assim que Gwendy o interpreta, um botão que pode gerar catástrofes ou milagres, mas que ela jamais saberia.

 

Uma tartaruga, um coelho e um pássaro estão no centro da imagem.
Ilustração dos chocolates oferecidos pela Caixa [Imagem/Reprodução: Serial Cookies]

Camadas de vulnerabilidade

Gwendy é uma garota que sofre bullying por conta de seu peso e tem problemas de autoestima decorrentes dessa violência. Isso explica porque a garota sobe correndo a Escadaria Suicida — ponto turístico da cidade de Castle Rock — todos os dias pela manhã. Essa carência de afeto causada pelo bullying e o desejo oculto de Gwendy em se sentir valorizada é o principal fator que a atrai a ouvir a proposta de Richard Farris, o homem misterioso, embora seus pais sempre lhe dissessem para nunca conversar ou aceitar nada de estranhos. 

 

Para alguém que não se sentia especial, ter a honra de receber um valioso objeto de alguém que finalmente enxergou em Gwendy algo além de seu peso ou aparência, a faz aceitar a Caixa. 

 

Além de Farris ter sido criterioso em sua escolha, o aceite da protagonista é decisivo, e a partir disso King e Chizmar fazem um jogo com as vastas hipóteses em torno do evento principal da história: e se Gwendy tivesse recusado a Caixa? Farris teria ido atrás dela em outro momento? Era o destino da garota ter a Caixa sob seus cuidados? São algumas dúvidas que tomam o leitor durante a trajetória com o livro. 

 

Uma obra com poder próprio 

A narrativa começa de forma direta e pontual: desde o primeiro capítulo se tem contato com a Caixa e se sabe como ela foi entregue à Gwendy. Esse é um dos pontos mais positivos do livro, pois deixa clara a intenção dos autores em prender o leitor pelo sentimento de desconforto por não ter respostas sobre o que é a Caixa e o que ela representa na vida de Gwendy. 

 

Como todo bom livro de King, os diálogos são envolventes, sem exageros e metafóricos. Tal característica não deixa óbvio para o leitor até que ponto essa conversa levará os personagens. 

 

Em contraste à objetividade dos diálogos, a narrativa tem um tom fantasioso que pode, de início, afastar os fãs de terror aficionados pelos enredos de Stephen King. No entanto, a fantasia dessa história ultrapassa a mera ficção e gera consequências significativas na realidade dos personagens, inspirando reflexões sobre moral, escolhas e poder.

 

São muitos os méritos da obra, porém, vale ressaltar que ela escorrega na apresentação dos conflitos finais, que parecem colocados de forma avulsa em meio aos acontecimentos da vida de Gwendy. Eles aparentam existir apenas para desestabilizá-la, sem que sejam bem desenvolvidos ao longo do enredo. 

 

Considerações finais

O mistério por trás da Caixa não é algo que cause medo, mas deixa um receio em seus leitores. Trata-se de um objeto imprevisível e que exige uma grande responsabilidade de Gwendy, àquela altura uma criança de 12 anos, inocente, ingênua e vulnerável. Ao longo dos capítulos, esse mistério vai sendo melhor compreendido, tanto pela menina, quanto pelos leitores, quase que simultaneamente.

 

Por conta disso, é fácil se identificar com Gwendy, mesmo que você não seja uma criança de 12 anos que mora em Castle Rock na década de 70. Da mesma forma que a garota desenvolve certa possessividade pela Caixa, nós leitores também nos apegamos à existência dela e à ideia de descobrir tudo que ela pode proporcionar. 

 

Foto de capa: Reprodução/Twitter: @alvyheus

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima