Por João Pedro Malar (joaopedromalar@gmail.com)
Da reunião de históricos inimigos a resultados eleitorais surpreendentes e marcantes, 2018 continuou uma tendência observada em anos anteriores: o avanço de líderes e partidos populistas e, muitas vezes, associados a um discurso autoritário e nacionalista. Geradores de tristezas ou alegrias, esses acontecimentos impactaram cada um de um jeito, e sem sombra de dúvidas ficarão registrados na história.
Nessa matéria, todos os esses acontecimentos estarão resumidos e divididos por continentes. Além disso, a América foi dividida em América do Norte, Central e do Sul, e o Oriente Médio foi separado da Ásia, devido a quantidade de casos nas regiões. A matéria também conta com análises de especialistas em relação ao ano de 2019 para cada continente, destacando em qual país (ou quais países) deveremos ficar de olho.
África
O continente africano já teve, logo no começo do ano, uma inesperada mudança no comando do seu país mais rico e poderoso. Em meio a acusações de corrupção e com a derrota da sua esposa nas eleições para o comando de seu partido, o presidente Jacob Zuma se viu obrigado a renunciar para evitar passar por um voto de confiança no parlamento sul africano. O voto teria sido o nono no seu mandato, e foi marcado pelo seu próprio partido para o dia 15 de fevereiro. Zuma renunciou no dia 14.
Em seu lugar, assumiu o vice presidente de Zuma, Cyril Ramaphosa. Foi ele quem derrotou a esposa de Zuma nas eleições para o comando do partido Congresso Nacional Africano. Favorável à renúncia do antigo presidente, Ramaphosa conseguiu aprovação do Parlamento para governar pelo resto do mandato de seu antecessor. A maior marca de Ramaphosa é o seu discurso anticorrupção. O novo presidente deve governar até dezembro de 2019.
Outro elemento marcante em 2018 foi o fim de um conflito que já durava décadas. A Eritréia e a Etiópia assinaram um acordo de paz em julho, pondo fim ao conflito que se iniciou em 1998. Mesmo sem grandes combates armados desde 2000, o acordo foi significativo pois, com um fim formal da guerra, os dois países poderão dar início a acordos de cooperação, diplomática e econômica, reiniciando as relações entre eles. Além disso, a Etiópia elegeu sua primeira presidente mulher, Sahle-Work Zewde, em outubro.
Ainda sobre conflitos, o Sudão Sul parece caminhar para um possível fim de sua Guerra Civil. Iniciada em 2013 e com mais de 380 mil mortos até o momento, o conflito entre o presidente Salva Kiir Mayardit e o ex-vice presidente Riek Machar pelo controle do Sudão do Sul já devastou a economia do mais novo país do mundo e espalhou uma crise de fome no local. A guerra civil começou depois que Machar declarou ter a intenção de concorrer contra Kiir nas eleições, Kiir o retirou do cargo, o que fez com que Machar declarasse que o presidente estava tentando impor uma ditadura e deflagrasse o conflito. Com um acordo de cessar-fogo assinado neste ano, Machar voltou ao cargo de vice-presidente e retornou do seu auto imposto exílio para oficializar o documento.
Diversas eleições também marcaram o continente africano. No Mali, Gabão, Djibuti e em Ruanda, elas mantiveram os atuais partidos governantes. O presidente egípcio Abdah Fattah el-Sisi também manteve-se no poder, mas sob acusações de repressão de seus opositores. Grupos de direitos humanos classificaram as eleições egípcias como uma farsa. Emmerson Mnangagwa também se manteve como presidente do Zimbabué, cargo assumido após um golpe de estado que retirou o ditador Robert Mugabe do poder após 30 anos. A eleição foi a primeira verdadeiramente democrática em décadas.
Serra Leoa, Suazilândia, São Tomé e Príncipe e Mauritânia tiveram mudanças após as eleições. No primeiro país, assumiu Julius Maada Bio, ex-militar conhecido por ter posto fim a um período ditatorial no país. No segundo, Ambrose Mandvulo Dlamini, empresário. No terceiro, assumiu o esquerdista Jorge Bom Jesus. Já na Mauritânia, o vitorioso foi Mohamed Salem Ould Béchir, membro de um partido populista.
A mudança no poder não foi a única ocorrida na Suazilândia. O país é governado por uma diarquia, o rei Mswati III e a rainha Ntfombi Tfwala, sua mãe. Em abril, o rei Mswati III anunciou que o país passaria a se chamar Reino de eSwatini, abandonando o que é visto por ele como “um nome advindo do período colonial pelo qual o território passou.”
Um caso especial foram as eleições no Camarões. O país foi marcado por revoltas nas partes que falam majoritariamente inglês — o idioma mais falado no território é o francês — que buscam criar um Estado próprio e se opõe ao atual presidente. As revoltas foram violentamente reprimidas por Paul Biya, que está no poder desde 1982 e alterou a constituição do país, eliminando o limite de mandato. A violência nessas partes fez com que grande maioria da população não comparecesse às urnas. No país como um todo, apenas da metade da população em condições de votar compareceu às urnas.
A ilha africana de Madagascar também teve eleições neste ano. O atual presidente Hery Rajaonarimampianina não conseguiu chegar ao segundo turno do pleito, que foi disputado por dois ex-presidentes, Andry Rajoelina, do Jovens Malgaxes Determinados, e Marc Ravalomanana, do Eu Amo Madagascar. Ambos haviam concordado em não participar das eleições de 2013 para evitar conflitos políticos no país, após o golpe de estado de 2009. Rajoelina ganhou o pleito, mas Ravalomanana questionou o resultado, mesmo com organizações internacionais não tendo apontado nenhuma fraude nas eleições.
Por fim, a República Democrática do Congo ainda deve ter eleições no final deste ano, importantes para a democratização do país. O pleito irá definir o sucessor do presidente Joseph Kabila, que vem adiando as eleições desde 2016, ano que marcaria o fim de seu mandato. Era esperado que elas ocorressem no dia 20 de dezembro de 2018, entretanto, conflitos étnicos e protestos violentos no país com motivação política levaram a um adiamento do pleito para o dia 30, após um incêndio em um dos centros eleitorais do Congo que destruiu diversas das urnas eletrônicas que seriam utilizadas. Os dois principais candidatos são Emmanuel Shadary, escolhido por Kabila para ser seu sucessor, e Félix Tshisekedi, principal representante da oposição. Kabila está no poder desde 2001, quando assumiu após a morte de seu pai, que por sua vez se tornou presidente após derrubar o ditador Mobutu Sese Seko.
Para João Paulo Charleaux, repórter especial do Nexo Jornal que cobre política internacional há mais de 10 anos, o país para ficar de olho em 2019, no continente africano, é a Etiópia. Atual sede da União Africana, organização internacional que busca a integração do continente, vem tentando obter um papel político regional cada vez maior.
América Central
Um dos países mais conhecidos da região, Cuba, teve uma importante troca de poder. O presidente Raúl Castro declarou que não iria governar por mais um mandato, e indicou o seu vice, Miguel Díaz-Canel, como sucessor. Canel foi eleito pela Assembleia Nacional Cubana, mas Castro ainda deve manter muita influência, continuando na presidência do Partido Comunista e liderança das forças armadas. Canel deve dar continuidade à política dos irmãos Castro, e muitos esperam que ele continue a abrir a economia cubana, visando o seu crescimento e recuperação.
Já em relação à eleições, os habitantes da Costa Rica, Barbados, Trinidad e Tobago, São Martinho e Granada foram às urnas. Em Barbados, foi eleita a primeira presidente mulher da ilha, Mia Mottley, que conquistou todos os 30 assentos do parlamento. Mottley é líder do Partido Trabalhista de Barbados, e recebeu o apoio da cantora barbadiana Rihanna. Os primeiros-ministros Keith Mitchell e Leona Marlin-Romeo conquistaram mais um mandato em Granada e São Martinho, respectivamente.
Na Costa Rica, o partido de centro-esquerda Ação Cidadã manteve-se no poder, com Carlos Alvaredo Quesada sucedendo Luis Guillermo Solís. Em Trinidad e Tobago, foi eleito como presidente — cargo mais simbólico no país parlamentarista — a independente Paula-Mae Weekes, primeira mulher a assumir o posto. O presidente hondurenho Juan Orlando Hérnandez assumiu seu segundo mandato em meio a protestos de partes da população, que não reconheceram os resultados das eleições em 2017. A oposição alerta para um crescimento do autoritarismo no país, governado pelo partido de direita Nacional. A OEA (Organização dos Estados Americanos) encontrou inúmeras irregularidades no pleito.
Já na Guatemala, o presidente Jimmy Morales, do partido de direita Fronte de Convergência Nacional, enfrentou diversos protestos após decidir extinguir um órgão com apoio internacional que visa fiscalizar possíveis escândalos de corrupção no país. Morales e alguns dos seus familiares já receberam acusações de corrupção, as quais eles negam. O país terá novas eleições presidenciais em 2019.
O que mais marcou a região, entretanto, foram os acontecimentos em Nicarágua. O país, governado pelo esquerdista Daniel Ortega desde 2007, enfrentou uma série de protestos após a publicação de um decreto presidencial que implementou uma reforma previdenciária a qual aumentou a contribuição de trabalhadores e empresários. O governo reprimiu as manifestações de forma extremamente violenta, e mais de 400 pessoas foram mortas desde abril deste ano. As manifestações, agora, pedem a renúncia de Ortega e da sua mulher e vice-presidente, Rosaria Murillo. Uma brasileira, Raynéia Gabrielle Lima, foi morta em meio ao clima de insegurança e conflitos. Ortega enfrenta acusações de corrupção e ações autoritárias e repressivas.
Para Charleaux, o país a se ficar de olho em 2019 é a Nicarágua, exatamente devido a estes protestos. O presidente Ortega chegou ao poder com características de esquerda, mas, no governo, adotou medidas mais neoliberais, e a resposta da população e subsequente repressão do governo devem continuar no ano que vem.
América do Norte
Neste ano, o país que passou por eleições presidenciáveis foi o México. As históricas eleições marcaram a grande derrota do centrista Partido Institucional Revolucionário, que governou o México de 1929 a 2000 e depois de 2012 a 2018. O rival histórico do PIR, Partido da Ação Nacional — de centro-direita — também saiu derrotado. As eleições foram marcadas por um profundo sentimento de renovação política, em especial após as inúmeras denúncias de corrupção que atingiram diversos políticos do PIR, além de um descontentamento profundo com os elevados níveis de violência e desigualdade no país.
O grande vencedor foi Andrés Manuel López Obrador, que havia ficado em terceiro lugar em 2006 e 2012 — resultados contestados por ele. Obrador é líder do Movimento de Regeneração Nacional (conhecido como MORENA no México), partido de esquerda. Ele será o primeiro político de esquerda a assumir a presidência do país, e promete combater a violência, corrupção e desigualdade existentes no México, garantindo aumento drástico com os gastos sociais. Apesar das claras diferenças ideológicas, Obrador foi comparado a Donald Trump pelo discurso populista e nacionalista.
E falando em Donald Trump, o ano foi bastante movimentado nos Estados Unidos. Uma das grandes constantes em 2018 foram os problemas na fronteira com o México, com a entrada de imigrantes ilegais. Mais de uma vez, o governo implementou medidas de retenção de crianças que acompanhavam seus pais, numa tentativa de coibir a vinda de pessoas para o país. Essa atitude foi muito criticada e, no fim, as crianças acabaram sendo liberadas e devolvidas aos pais. Recentemente, porém, duas crianças, uma de 7 e outra de 8 anos, vindas da Guatemala com os pais foram retidas pela guarda migratória e mantidas sob custódia. Elas acabaram morrendo, devido à desidratação e desnutrição, enquanto estavam sob os cuidados dos EUA.
O país também enfrentou uma caravana com mais de 6 mil imigrantes vindos de países da América Central, fugindo da pobreza, fome, violência e perseguições políticas. O presidente Trump afirmou que não permitiria a entrada deles no país e chegou a enviar o exército para a fronteira. Atualmente, a caravana encontra-se sem ter para onde ir, aguardando, no México, um lento processo de entrada para o território estadunidense.
Em âmbito global, os Estados Unidos abandonaram o Conselho de Direitos Humanos da ONU, visto por eles como detentor de um viés contrário a Israel. Também anunciaram a saída do país do acordo com o Irã que visava impedir o desenvolvimento de armas nucleares iranianas e anunciaram a mudança da embaixada norte americana em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém, na prática reconhecendo esta última como capital e agravando o conflito Israel-Palestina.
Outro marco deste ano foi uma rápida aproximação entre o Trump e o ditador norte-coreano Kim Jong Un, indicando uma possível redução das tensões entre os dois países. Por outro lado, os EUA também entraram em uma forte guerra comercial contra a China, que ainda promete perdurar pelo ano de 2019 e ameaça a economia global. Sobre economia, Trump também renegociou o acordo de livre comércio com o Canadá e o México, pondo fim ao NAFTA e criando um acordo que, segundo o republicano, é mais justo e benéfico para os EUA. O documento ainda precisa ser aprovado pelo Congresso americano.
Nesse ponto, Trump terá grande dificuldade. Em 2018 ocorreram as eleições de meio de mandato, conhecidas nos Estados Unidos por serem um termômetro da popularidade e força do presidente atual e seu partido. Foram eleitos, a nível federal, todos os integrantes da Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados do Brasil) e ⅓ dos senadores. Favorecido por um mapa com disputas em estados que votaram massivamente em Trump, os republicanos conseguiram ampliar sua maioria no Senado em dois assentos. Já na Câmara, os republicanos tiveram perdas maciças, com os democratas conquistando 40 assentos (talvez 41, dependendo de um resultado ainda não declarado) e obtendo maioria. Com isso, os democratas detém agora um controle dos comitês responsáveis por investigar Trump (do partido republicano), e prometem dar um ano difícil para o presidente em 2019.
Já no Canadá, o principal acontecimento do ano no país foi a aprovação, no parlamento canadense, da liberalização da maconha para uso recreativo. Com a medida, apoiada pelo primeiro-ministro Justin Trudeau, o Canadá se tornou o segundo país do mundo a permitir esse uso, o primeiro foi o Uruguai.
Segundo Charleaux, o país a se ficar de olho são os Estados Unidos, devido à importância política, econômica e militar que possui. Além do fato do governo atual, do Presidente Trump, inspirar um setor de partidos de extrema-direita e/ou que vem adotando um discursos mais nacionalista, isolacionista e populista que vem crescendo no mundo, com um discurso com alto poder de reverberação internacionalmente.
América do Sul
O ano de 2018 na América do Sul foi marcado por inúmeras eleições gerais, que mudaram, e muito, o quadro político do continente, marcando um retorno da centro-direita ou direita ao poder em vários países.
O primeiro país a realizar eleições foi o Paraguai. O embate foi entre Mário Abdo Benítez, do histórico partido Colorado — de direita, e Efraín Alegre, representante de uma ampla coalizão que envolveu seu partido e, entre outros, o partido do ex-presidente Fernando Lugo, que foi deposto em 2012 após um processo de impeachment. O partido Colorado estava no poder desde 2013, com Horacio Cartes. Cartes causou polêmica ano passado ao tentar aprovar um projeto de lei que permitia a reeleição para a presidência, mas, após protestos, desistiu. Benítez, cujo pai foi secretário pessoal do ditador Alfredo Stroessner e que já fez comentários a favor do ditador paraguaio, foi eleito, firmando a volta do Partido Colorado ao poder.
Depois do Paraguai, foi a vez da Venezuela. O território enfrenta uma das piores crises econômicas da história, com inflação que chegou aos um milhão por cento, e repressão violenta liderada pelo presidente Nicolás Maduro. O principal grupo de oposição a Maduro decidiu boicotar a eleição, alegando que elas eram uma farsa. No fim, Maduro foi reeleito com ampla vantagem em relação aos outros candidatos. Grupos internacionais, governos e a própria oposição criticaram o processo eleitoral, caracterizando-o como repleto de manipulações, irregularidades e um baixíssimo comparecimento de eleitores. Em meio a críticas e um endurecimento do discurso contra Maduro por parte dos EUA, o venezuelano intensificou sua aproximação com a Rússia, China e Turquia, principais aliados do regime.
O terceiro país foi a Colômbia. Lá, o assunto principal foi o acordo de paz entre o governo colombiano e as FARC, grupo paramilitar que quer realizar uma revolução socialista no país. O acordo, que deu anistia aos meus membros do grupo e o transformou em um partido, foi duramente criticado por ser visto como leniente demais, e inclusive foi rejeitado pela população em referendo, o que não impediu sua implementação. O embate foi entre Iván Duque Márquez, do direitista Centro Democrático e crítico do acordo e Gustavo Petro, do esquerdista Movimento Progressista, ex-guerrilheiro e favorável ao acordo. Duque, que tem o apoio do ex-presidente Álvaro Uribe, foi vitorioso, e pretende realizar mudanças no acordo de paz.
O último país que passou por eleições foi o Brasil. Em meio a um clima elevado de divisão e um crescente desejo por mudanças na política, o candidato Jair Bolsonaro, cujas posições são classificadas como de direita e extrema-direita, se elegeu, derrotando o candidato de centro-esquerda Fernando Haddad, que substituiu o ex-presidente Lula, impedido de concorrer após sua condenação em segunda instância. Bolsonaro promete mudanças na política internacional brasileira, com uma reaproximação com os Estado Unidos e até cogitando mudar a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém.
Já na Argentina, Mauricio Macri continua a enfrentar problemas para tirar o país da sua grave crise econômica. Recentemente, em meio a falha das medidas de seu governo em gerar a recuperação esperada, Macri se viu obrigado a pedir mais um empréstimo para o FMI, e deve continuar com medidas de austeridade para controlar os gastos, tais como aumento de impostos. Ao mesmo tempo, sua maior rival, Cristina Kirchner, enfrenta diversos escândalos de corrupção que vem afetando sua popularidade. Recentemente, porém, o pai e irmão de Macri também foram implicados em um escândalo de corrupção.
No Equador, diversos escândalos de corrupção vem atingindo a presidência de Lenín Moreno. O sucessor de Rafael Correa tem buscado definir seu governo pelo combate à corrupção, inclusive com críticas a Correa — de quem foi vice-presidente — pelo seu autoritarismo. Moreno, porém, já perdeu dois vice-presidentes por escândalos de corrupção. Primeiro, Jorge Glas, que esteve envolvido com a empresa Odebrecht e foi preso em 2017, tendo perdido o cargo em 2018 e agora María Alejandra Vicuña, que renunciou em dezembro de 2018. Moreno buscou se afastar e criticar seus dois vices, e deve indicar um novo nome para a aprovação do Congresso.
O presidente da Guiana, David Granger, do partido Congresso Nacional Popular, teve o seu mandato derrubado após perder um voto de confiança na câmara legislativa do país. Granger assumiu o poder em 2015 a partir de uma coalizão que visava unir os dois principais grupos étnicos do país, os indo-guianenses (descendentes de indianos trazidos durante a colonização britânica) e os afro-guianenses (descendentes de africanos trazidos durante a colonização holandesa). O governo de Granger foi criticado por não estar conseguindo preparar o país para a exploração de enormes jazidas de petróleo descobertas recentemente, e teve uma grande divisão interna. As novas eleições devem ocorrer até março de 2019.
Neste ano, a Guiana também enfrentou uma grande tensão com a Venezuela, sua vizinha, por questões territoriais. Os dois países, até hoje, não chegaram a um acordo em relação a suas fronteiras, e desde que enormes quantidades de petróleo foram descobertas por toda a Guiana, as tensões pioraram. A Venezuela vem buscado impedir a presença de empresas petrolíferas em regiões fronteiriças e no extremo da zona econômica exclusiva da Guiana, piorando as relações entre os dois países. Recentemente, a Venezuela abordou e obrigou navios da empresa Exxon Mobil a dar meia volta após eles terem adentrado uma área oceânica disputada pelos dois países, que é rica em petróleo.
Charleaux aponta que o país para se ficar de olho em 2019 é a Venezuela, já que há cada vez mais políticos que sinalizam estar dispostos a dar uma solução de força, como os EUA. Charleaux analisa que o novo governo brasileiro também deve seguir nesse discurso. “A problemática da Venezuela talvez esteja chegando num momento crítico do ponto de vista das pessoas que acham que a solução passa pelo uso da força”, diz Charleaux.
Oceania
O principal acontecimento no continente esse ano foi a mudança de governo na Austrália. O primeiro-ministro Malcolm Turnbull, do Partido Conservador, enfrentou um voto de desafio de liderança do seu partido, cuja derrota levaria à perda do cargo de primeiro-ministro. O voto foi proposto por membros mais conservadores do partido de Turnbull, visto como um moderado, após a tentativa do governo australiano de estabelecer um plano de proteção do meio ambiente. Turnbull chegou a revogar o plano, ganhou um primeiro voto de desafio mas perdeu o segundo, renunciando ao cargo. No seu lugar, foi escolhido Scott Morrison, também um moderado no partido mas que tinha apoio de conservadores. Turnbull também renunciou do seu cargo de membro do parlamento, e o Partido Conservador perdeu a eleição especial para escolher seu sucessor. Com isso, Morrison agora possui um governo minoritário. A medida mais significativa do primeiro-ministro até o momento foi reconhecer Jerusalém Ocidental como capital de Israel, sem mudar a embaixada para a cidade.
O continente teve eleições na Polinésia Francesa, Ilhas Cook e Fiji, com os seus respectivos governantes sendo reeleitos para seus cargos. Foram reeleitos o primeiro-ministro de Fiji Frank Bainimarama do partido de centro-direita Fiji Primeiro, o primeiro-ministro das Ilhas Cook Henry Puna do nacionalista Partido das Ilhas Cook e o presidente da polinésia francesa Édouard Fritch do partido de centro-direita Tapura Huiraatira.
A Nova Caledônia, território francês, passou por um referendo de independência neste ano. No fim, a maioria da população decidiu continuar a fazer parte da França, em especial devido ao medo de perder a ajuda financeira e os recursos que o país fornece e com a promessa francesa de manter e até expandir a autonomia que a ilha possui.
Enquanto isso, na Nova Zelândia, a primeira-ministra Jacinda Ardern fez história ao se tornar a segunda chefe de governo no mundo ao dar a luz enquanto está no cargo. Ardern deu a luz em junho de 2018 a uma menina, Neve Te Aroha e se tornou a primeira chefe de governo a estar presente na Assembléia Geral da Ano junto com seu bebê. Ardern chegou ao poder em 2017 após uma surpreendente vitória nas eleições, após ter assumido o controle do Partido Trabalhista no mesmo ano, atualmente é a mais jovem mulher chefe de governo no mundo.
Para Ricardo Oliveira, professor e coordenador adjunto da graduação em relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), o país para ficar de olho em 2019 na Oceania é a Austrália. O país, em especial devido a uma melhor situação econômica no continente, atrai diversos fluxos migratórios, mas possui uma política migratória extremamente rígida. Para o professor, o aumento de desastres ambientais na região irá aumentar esses fluxos nos próximos anos, para ele, a tendência é que o “governo australiano endureça ainda mais suas políticas migratórias e de segurança, justificando-as como uma questão de soberania nacional em defesa do terrorismo.” O país também passará por eleições no ano que vem.