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‘Rise’ e a ascensão de Giannis Antetokounmpo

O MENINO GREGO QUE TRABALHAVA COMO CAMELÔ NAS RUAS DE ATENAS SE TORNA UM DOS JOGADORES MAIS IMPORTANTES DA NBA E É ADMIRADO NO MUNDO DO BASQUETE

Um menino, que vivia com a família como imigrantes ilegais na Grécia, consegue a oportunidade de ingressar e brilhar no mundo da NBA, uma das maiores ligas de basquete do mundo. Parece ser um conto de fadas, mas não é: “Rise”, filme produzido pela Disney+ e lançado no dia 24 de junho deste ano, conta um trecho da história de Giannis Antetokounmpo e revela as dificuldades vividas pela família em uma sociedade xenofóbica e hostil aos imigrantes. Depois de quase 10 anos na liga, Giannis continua demonstrando ser uma figura única no mundo do basquete, com a influência da sua história pessoal na determinação que levou à conquista do segundo título do Milwaukee Bucks e do seu primeiro título de MVP das Finais em 2021. Destrinchamos um pouco da história de Giannis, o Greek Freak que saiu da Grécia para ganhar o respeito do mundo.

As origens de Giannis

Giannis Sina Ugo Antetokounmpo nasceu em 6 de dezembro de 1994 em Atenas, Grécia. Três anos antes de seu nascimento, seus pais, Charles e Veronica Antetokounmpo, haviam se mudado de Lagos, Nigéria para morarem no continente europeu, deixando o primogênito Francis com os avós. Os pais escolheram intencionalmente o nome do jovem grego: “Giannis” (o mesmo que João, em português) significa “agraciado por Deus”; enquanto Ugo, na língua nigeriana ibo, significa “uma coroa”.

Família Antetokounmpo, ainda na Grécia
A família Antetokounmpo na Grécia, da esquerda para a direita: em pé, Thanasis e Giannis; sentados, Alex, o pai Charles, a mãe Veronica e Kostas. [Imagem: Reprodução/Facebook]
Antes de Charles e Veronica saírem do país natal, o casal tentou adquirir a cidadania grega para que pudessem ter uma vida melhor. No entanto, terem os vistos negados ⇁ ressalta-se o contexto da xenofobia acentuada pelas imigrações na Grécia ⇁ os fizeram entrar ilegalmente no país a partir da Turquia. Isso dificultou a estabilidade financeira e a busca por melhores condições de vida para a família. Nesse cenário, os pais de Giannis tiveram de sobreviver como camelôs nas ruas e praças no bairro de Sepolia, em Atenas. A mãe e os filhos ajudavam no comércio, enquanto o pai buscava por trabalhos braçais ⇁ colheita em fazendas, trabalhos em construções civis, limpeza em estádios etc.

Apesar da gradativa estabilidade trabalhista do pai de Giannis, a burocracia grega não favorecia a família: mesmo com um registro de trabalho regular como faxineiro, Charles não conseguiu a residência grega porque “não era um trabalho de verdade” e, portanto, precisava de um emprego que provasse as habilidades específicas do pai da família. A xenofobia na época barrava qualquer pessoa que tentasse a legalização no país ⇁ a obtenção de cidadania exigia um trabalho registrado, mas os contratantes não empregavam pessoas sem cidadania e imigrantes ilegais. Assim, Giannis, apesar de ter nascido na Grécia, não teve a cidadania grega e viveu como apátrida, sem documentos da Nigéria nem do país natal.

Família Antetokounmpo
Família Antetokounmpo. [Imagem: Reprodução/Facebook
Além da questão trabalhista, o registro do sobrenome foi uma outra barreira enfrentada pela família. Na grafia iorubá, o sobrenome é redigido como Adetokunbo, que significa “o rei do além-mar voltou”. No entanto, os tradutores gregos transcreveram como Antetokounmpo, a forma como a família é reconhecida hoje.

O cotidiano da família era esse: ganhavam dinheiro como camelôs e enfrentavam os obstáculos da xenofobia todos os dias. Moravam em uma pequena casa alugada e, enquanto os pais dormiam no sofá da sala, os quatro irmãos dividiam uma única cama de casal. Era uma situação de vulnerabilidade para todos, mas a família praticava e valorizava todas as conquistas de cada integrante, sempre unidos e fortes.

Primeiras cestas no basquete

Nos tempos livres, o pai de Giannis levava os filhos para espaços comuns de lazer para jogar futebol com os meninos ⇁ Charles Antetokounmpo, ex-jogador na África, buscava divertir os seus filhos com a sua experiência no esporte. Pelo futebol, o pai ensinava a importância do trabalho em equipe e enfatizava: “se um acerta, o time todo acerta”.

Entre essas diversões, Giannis e Thanasis viam meninos de idades próximas aos irmãos (13 e 15 anos, respectivamente) jogando basquete, um esporte que nunca haviam praticado com a família. No primeiro contato com a bola, se animaram com a modalidade e foram convidados pelos outros meninos a praticarem no Centro Juvenil de Filathlitikos, onde forneciam espaço e treinamento gratuitos, a 1h20 de Sepoia. Escondidos dos pais, Thanasis e Giannis foram ao primeiro dia de treinamento e a altura dos dois já ganharam a atenção do treinador Takis Zivas, que orientava as práticas gratuitas e a Terceira Divisão Grega de Filathlitikos.

O pai de Giannis, ao descobrir a fuga dos dois irmãos, repreendeu-os pelo seu medo de serem expostos e deportados. No entanto, deixou os filhos praticarem o basquete para alimentar e preservar a infância deles. Após a aula na escola, Giannis e Thanasis iam direto para o treinamento em Filathlitikos. Ao chegar em casa, assistiam a jogadas de suas primeiras inspirações do basquete, como Sofoklis Schortsanitis (o Baby Shaq), nascido em Camarões, e Hakeem Olajuwon (o Hakeem The Dream, mesmo jogador que colaborou no desenvolvimento de LeBron James), que nasceu em Lagos, na Nigéria.

Ao decorrer dos treinamentos, Thanasis mostrava-se mais ágil no desenvolvimento, enquanto Giannis tinha mais dificuldade no esporte. A desconfiança dos outros jovens gregos e a linguagem do basquete foram barreiras enfrentadas por Giannis, como comenta Camilo Pinheiro Machado, repórter do Globo Esporte: “Levantam-se questões de como o jogador vai conseguir se adaptar não somente ao jogo, mas ao país, a língua, a linguagem ⇁principalmente a linguagem mais do que a língua, porque existe toda uma linguagem própria para o basquete”.

Em 2011, a evolução dos dois irmãos os fizeram participar da Terceira Divisão Grega pelo Filathlitikos. Thanasis se destacava no time, o que o fez receber duas propostas de times profissionais. No entanto, a questão da cidadania e a lesão no pé o impediu duas vezes de prosseguir com a carreira profissional no basquete. Giannis continuou se esforçando nos treinos ⇁ até conseguiu elevar seus arremessos com saltos ⇁ e, ao ver seu irmão lesionado, se viu na posição de liderar o time e brilhou nos jogos.

Apesar desse cenário promissor no basquete, a família Antetokounmpo continuava enfrentando dificuldades: o pai buscava trabalhos ofertados em jornais, enquanto a mãe e os irmãos vendiam as mercadorias como camelôs e continuavam com seus treinos ⇁ os irmãos revezavam o único tênis que tinham e, para não perder tempo, Giannis dormia em colchonetes na quadra de treinamento.

Durante os jogos de Filathlitikos, Haris Eleftheriou viu um grande potencial em Giannis, conquistou a confiança do jovem grego e tornou-se seu agente para impulsionar seus talentos, que foi seu primeiro cliente. Com a barreira da cidadania, Haris sugeriu a inscrição de Giannis nos testes regionais, onde olheiros de times europeus estariam avaliando os possíveis potenciais de jovens jogadores.

Em 2013, Giannis participou dos testes regionais da Federação Internacional de Basquete (FIBA) e a família inteira foi apoiá-lo. De início, não se mostrava um retorno agradável ao Giannis, mas o empenho dele fez com que o clube Basket Zaragoza, da Espanha, ofertasse uma proposta para o jogador ⇁ enquanto os times gregos se preocupavam com a documentação, os times espanhóis focavam nos negócios e encaravam a questão da cidadania como algo contornável. No entanto, a proposta condicionava a separação da família Antetokounmpo, já que apenas o jovem Giannis receberia o visto espanhol.

Para que pudessem encontrar uma outra forma de mantê-los unidos, Haris conseguiu uma grande negociação: o agente incluiu uma cláusula sobre a NBA no contrato com o Zaragoza para que, assim que Giannis assinasse, o grego estivesse qualificado para o draft de 2013. O agente de Giannis mostrou os vídeos do jogador a um agente americano que viu uma grande chance do grego ser escolhido por um dos times no draft da NBA. Sua inserção no draft só foi possível porque uma das únicas duas formas de qualificação foi atendida: a veiculação a um time internacional ou a uma universidade estadunidense. A possível integração de Giannis em algum time da NBA faria com que a família inteira se unisse nos Estados Unidos, mais atrativo que a Espanha.

Barclays Center: o começo da carreira de Giannis Antetokounmpo

Os irmãos Giannis e Haris foram recebidos pelo agente americano Kevin Stefonides, que ajudou nas negociações do jovem grego para o draft. Logo nos primeiros dias em terras nova-iorquinas, Giannis tem um encontro com a Nike para que pudesse receber monetariamente pelo uso dos produtos da empresa. Mesmo não sendo um dos preferidos e comentados pelas emissoras esportivas, Giannis manteve a fé, a determinação e a honestidade.

Os agentes Haris e Kevin conversaram com vários representantes de times da NBA, como Philadelphia 76ers, Oklahoma City Thunder e Utah Jazz, mas a maioria não enxergava uma disposição imediata que fosse útil para os times ⇁ buscavam um jogador que atuasse em uma outra posição ou temiam a questão da cidadania de Giannis.

A conversa com o Milwaukee Bucks foi mais esperançosa: John Hammond, gerente geral da franquia, ficou impressionado com os vídeos do jovem grego e se interessou pelo talento de Giannis. Ainda era uma decisão incerta quanto a 15º escolha do time, já que a falta de documentos do jogador poderia colocar o time em posições complicadas.

No dia 27 de junho, o Barclays Center reuniu as possíveis escolhas dos times da NBA. A tensão sobre Giannis, Thanasis e os agentes aumentava a cada nome anunciado: após os nomes mais previsíveis às escolhas (Anthony Bennett como a 1ª escolha pelo Cleveland Cavaliers, Victor Oladipo como a 2ª pelo Orlando Magic e Otto Porter como a 3ª pelo Washington Wizards), as chances de Giannis diminuíam conforme os jogadores eram anunciados  os agentes previam que o jovem poderia ser escolhido entre a 11ª e a 16ª escolha.

Depois de minutos da 14ª escolha (Shabazz Muhammad pelo Utah), as orações de toda a família foram atendidas e o nome de Giannis Antetokounmpo é anunciado como a 15ª escolha do draft de 2013 pelo Milwaukee Bucks. O ingresso do grego no time foi símbolo de esperança para a família de Giannis e para a carreira do jovem.

O ex-comissário da NBA David Stern e Giannis Antetokounmpo no draft de 2013.
O ex-comissário da NBA David Stern e Giannis Antetokounmpo no draft de 2013. [Imagem: Reprodução/Facebook]

Primeiras aparições no All-Star Game e os prêmios de MVP

Após o draft, Giannis Antetokounmpo assinou um contrato de 4 anos e R$19,6 milhões com o Bucks. Em 2014, a família conseguiu o visto americano e se mudou para os Estados Unidos.

Jogando pelo Milwaukee Bucks, na cidade mais populosa de Wisconsin, Giannis teve um desenvolvimento precoce: em 13 de outubro de 2013, o grego de 18 anos estreou pelo time e acumulou 6,8 pontos, 4,4 rebotes e 0,8 bloqueios. Em 77 jogos na temporada de 2013/14, Giannis finalizou a temporada com 61 bloqueios e líder entre novatos da Liga. Logo em seu primeiro ano, foi convidado para participar do Rising Stars Challenge no NBA All-Star Weekend, em Nova Orleans, e foi nomeado para a segunda equipe da NBA All-Rookie.

Na segunda e terceira temporada de Giannis, o seu desenvolvimento individual foi evidente nos números dos jogos. Em 2014/15, foi nomeado o Jogador da Semana da Conferência Leste pelos jogos disputados entre 2 e 8 de fevereiro e, mais tarde, competiu no Campeonato de Enterradas no All-Star Game de 2015. Ainda na mesma temporada, Giannis marcou 29 pontos na derrota para o New Orleans Pelicans em 9 de março. Já na temporada de 2015/16, o grego conseguiu aumentar a sua pontuação média para quase 17 pontos. Em fevereiro de 2016, Giannis Antetokounmpo marcou seu primeiro triplo-duplo com 27 pontos, 12 rebotes e 10 assistências na vitória contra Los Angeles Lakers, tornando-se o mais jovem jogador dos Bucks a alcançar a marca.

Para a temporada de 2016/17, Giannis concordou com uma prorrogação de contrato de quatro anos e R$348 milhões com os Bucks. O quarto ano de Giannis no time alavancou o seu desempenho: em dezembro, o grego marcou 39 pontos, 8 rebotes e 6 assistências na vitória por 123 a 96 contra Washington Wizards. Em 19 de janeiro, foi nomeado titular pela Conferência Leste no NBA All Star-Game de 2017, tornando-se o jogador mais jovem da franquia a ser titular em um All-Star Game e o primeiro All-Star grego da NBA.

Nessa temporada, Giannis liderou o Bucks em cada uma das cinco principais categorias de estatísticas (pontos, rebotes, assistências, roubos de bola e bloqueio), tornando-se o quinto jogador a realizá-lo, atrás de Dave Cowens, Scottie Pippen, Kevin Garnett e LeBron James. Para fechar, o grego foi nomeado como o Jogador que Mais Evoluiu na temporada 2016/17, marcando a primeira conquista desse prêmio pelo Bucks. Em 80 jogos, Giannis teve uma média de 22.9 pontos, 8.8 rebotes e 5.4 assistências.

Já na temporada de 2017/18, Giannis começou com 175 pontos nos cinco primeiros jogos. Ele teve uma média de quase 27 pontos e ganhou a sua segunda indicação ao All-Star Game e à seleção para a Primeira Equipe da NBA. Conseguiu quebrar o recorde de triplo-duplos de Kareem Abdul-Jabbar e levou os Bucks para a primeira rodada dos playoffs, mas acabaram derrotados no sétimo jogo contra Boston por 96 a 112.

A temporada de 2018/19 foi um marco essencial na história do Milwaukee Bucks: a contratação do atual técnico Mike Budenholzer trouxe um recorde de 25 vitórias ainda antes do Ano Novo. Giannis levou seu time a conquistar a 1ª colocação na Conferência Leste e só foram derrotados nas finais de Conferência pelo Toronto Raptors, por 4 a 2 na série de jogos. Ainda nessa temporada, o grego foi nomeado MVP da NBA, juntando-se a Kareem Abdul-Jabbar como segundo jogador a ganhar o prêmio pela franquia.

Na temporada seguinte, Giannis conduziu o Bucks para o melhor recorde da NBA, com 25-4 até dezembro de 2019. Em janeiro de 2020, Giannis Antetokounmpo foi nomeado capitão do All-Star Game ao lado de LeBron James. Essa temporada foi interrompida em março devido à pandemia da COVID-19 e as competições retornaram apenas em julho. Os Bucks chegaram aos playoffs quando os jogos foram retomados na Bolha da Disney, mas perderam para o Miami Heat por 4 a 1 na segunda rodada; no entanto, apesar da interrupção dos treinos pela pandemia, a equipe fechou a temporada com o melhor recorde da NBA pelo segundo ano consecutivo (56 vitórias e 17 derrotas). Giannis levou seu segundo prêmio de MVP, juntando-se a Hakeem Olajuwon e Michael Jordan como os únicos jogadores a ganharem os prêmios de MVP e de Jogador Defensivo da NBA na mesma temporada.

Playoffs de 2020/21

O contrato de Giannis havia chegado ao fim e havia rumores de que o jogador optaria por sair do time para ser melhor aproveitado em uma outra franquia. No entanto, com seu histórico de lealdade e determinação, Giannis anunciou a renovação do contrato para jogar pelo time por mais 5 anos recebendo R$1,16 bilhão ⇁ é o segundo maior contrato financeiro da NBA, apenas atrás de Nikola Jokic (R$1,41 bilhão por cinco anos pelo Denver Nuggets).

No All-Star Game de 2021, Giannis participa do time de LeBron James, conquista a vitória, com 35 pontos, e se torna o primeiro não americano a ganhar o MVP do All-Star Game. Os Bucks finalizaram a temporada com  46 vitórias e 26 derrotas, com a 3ª colocação na Conferência Leste.

Na primeira rodada, os Bucks enfrentaram o Miami Heat e, como uma boa revanche,  Giannis venceu o time de Jimmy Butler por 4 a 0. O primeiro jogo da série mostrou o espírito competitivo de ambos os times e a bandeja de Butler no estouro do cronômetro levou a partida à prorrogação. No entanto, os Bucks venceram o jogo por 109 a 107 com um chute desequilibrado de Khris Middleton (o Khash Money) auxiliado por Brook Lopez.

A semifinal foi contra um dos times favoritos ao título da temporada: Brooklyn Nets. O primeiro jogo, disputado em Nova Iorque, foi vencido pelo time da casa com uma boa vantagem. Giannis marcou 34 pontos, 11 rebotes e 4 assistências, mas não foi o suficiente para derrubar o Big Three formado por James Harden, Kevin Durant e Kyrie Irving.

Após a derrota na primeira partida, os Bucks conseguiram engatar uma sequência de três vitórias seguidas para continuar na série: a partir do segundo tempo, o time de Wisconsin abriu vantagem, mas enfrentaram uma prorrogação após o empate em 109 a 109. A 7ª prorrogação da história da NBA em um jogo 7 de playoffs foi tensa, mas o esforço de Antetokounmpo e de Middleton liderou o final do jogo e os Bucks triunfaram por 115 a 111.

Entrando nas Finais de Conferência, o time verde enfrentou o Atlanta Hawks, outro time da Divisão Sudeste. A franquia de Georgia, liderada por Trae Young, surpreendeu Wisconsin ao vencer por 116 a 113, com 48 pontos de Ice Trae e 19 rebotes de Clint Capela. Os Bucks receberam o choque e reagiram liderando os dois jogos seguintes até encarar uma das situações mais difíceis da temporada: no 4º jogo da série, Giannis Antetokounmpo sofreu uma lesão no joelho esquerdo ao tentar bloquear Capela. Thanasis, que estava no banco de reserva dos Bucks, auxiliou seu irmão para sair da quadra e o grego foi aplaudido pela torcida dos Hawks em sinal de respeito. Com isso, os Bucks perderam sua sequência de triunfos e foram derrotados por 88 a 110.

Com dificuldades para adaptar o jogo com o desfalque de Antetokounmpo, o esforço de Jrue Holiday, Brook Lopez, Khris Middleton e Bobby Portis manteve o time a nível de competição. No jogo 7 da série, Khash Money e Holiday atingiram 59 pontos em conjunto e os Bucks venceram o último jogo por 118 a 107.

Finais contra Phoenix Suns

As finais da temporada 2020/21 colocaram dois oponentes com históricos diferentes: os Bucks, um time que tinha um título da liga (conquistado pelo Kareem Abdul-Jabbar) e 17 títulos da divisão; e o Phoenix Suns, que já estiveram em 3 finais (em 1976, 1993 e 2021) e conquistaram 8 títulos da divisão, mas é uma das franquias que nunca foram campeãs na NBA.

Giannis estava de volta para jogar as Finais, mas ainda era acompanhado pela equipe de fisioterapia dos Bucks. A série começou em Arizona e agradou os torcedores da casa, que viram Chris Paul (o CP3) marcar 32 pontos, Devin Booker atingir 27 pontos e DeAndre Ayton com 22 pontos e 17 rebotes defensivos. Nem a atuação de Giannis, que marcou 20 pontos e 17 rebotes, e o reforço de Middleton, que registrou 29 pontos, conseguiu fortalecer o time verde, dando a vitória para os Suns por 118 a 105.

No segundo jogo da série, Giannis mostrou-se mais apto a colocar seu jogo em ação: o grego liderou o time com 42 pontos, 12 rebotes e 4 assistências, apesar de ainda estar em recuperação. Ainda assim, o segundo quarto do jogo foi decisivo para que os Suns tivessem uma grande vantagem ⇁ nesse quarto, os Bucks marcaram apenas 16 pontos, contra 30 do time de Arizona – e a franquia de Wisconsin acabou derrotada por 118 a 108.

Com duas derrotas seguidas, os Bucks prevaleceram nos dois jogos seguintes. Na terceira partida, o gigante grego marcou 41 pontos, 13 rebotes e 6 assistências, conquistando a vitória por 120 a 100. O quarto jogo foi mais acirrado: contra os 42 pontos de Booker e os 17 rebotes de Ayton, Giannis uniu seus 26 pontos, 14 rebotes e 8 assistências com os 40 pontos de Middleton para vencer o jogo por 109 a 103.

Com a série empatada, ambos os times buscavam forças para liderar a série. Apesar dos 40 pontos registrados por Booker e das 11 assistências do CP3, o time de Wisconsin conquistou a vitória, com ajuda dos 32 pontos de Giannis, por 123 a 119. Um momento marcante da atuação de Giannis foi o toco dado em DeAndre Ayton nos últimos minutos do quinto jogo ⇁ o grego deu o seu nome surgindo “do nada” e evitou a enterrada do pivô dos Suns.

Milwaukee Bucks estava a uma vitória do título da Liga e Giannis estava mais próximo do que nunca do seu primeiro título de MVP das Finais. O famoso “Bucks in Six” berrava entre a torcida no Fiserv Forum, que recebeu 18 mil pessoas ⇁ 65 mil pessoas acompanharam a partida do lado de fora.

O jogo começou e o time visitante venceu o primeiro tempo por 47 a 42, mesmo com o Giannis liderando as estatísticas com 17 pontos. No terceiro quarto, Giannis reuniu suas forças, marcou 20 pontos pelo Bucks e fez com que seu time empatasse por 77 a 77 contra os Suns. O último quarto não seria tão emocionante se não fosse decisivo para os Bucks, além de considerar a vulnerabilidade do joelho de Giannis. Mesmo assim, o time da casa brilhou e triunfou: contra os 26 pontos totais de Chris Paul, que liderou os Suns, o “Bucks in Six” reinou sobre as terras de Wisconsin e Giannis finalmente recebeu seu anel de campeão da liga. Com o joelho em recuperação, o grego de apenas 26 anos registrou 50 pontos, 14 rebotes e 5 bloqueios no jogo decisivo.

A conquista do segundo título do Milwaukee Bucks trouxe diversos prêmios ao grego: ele é o mais jovem jogador, desde Kawhi Leonard em 2014, a ser nomeado o MVP das Finais; é o primeiro europeu desde Dirk Nowitzki em 2011 a fazê-lo; e junta-se ao Michael Jordan e Hakeem Olajuwon a conquistar o título de MVP, MVP das Finais e Jogador Defensivo do Ano durante o período das suas carreiras.

Giannis com os troféus de campeão da liga e MVP das Finais
Giannis com os troféus de campeão da liga e MVP das Finais. [Imagem: Reprodução/Facebook]
Com tudo isso, a comemoração do jovem Giannis não poderia ser mais única: numa transmissão ao vivo pelo Instagram, ele pede no Chick-fil-A, uma companhia de fast food, 50 nuggets – não 49, não 51, mas exatamente 50 – para comemorar os seus pontos registrados no jogo que lhe deu o prêmio Larry O’Brien e o título de MVP das Finais.

‘I am my father’s legacy’

Giannis marca sua ascensão no mundo do basquete com a sua história de superação e de determinação para chegar onde está agora. O grego não pulou etapas: começou como reserva e foi ganhando espaço no time como jogador jovem e enérgico.

O apelido dado a ele, Greek Freak, devido à sua atuação e pelos seus 2,11 metros de altura, é até aceito por ele, mas o repórter Camilo Pinheiro Machado enxerga uma questão racial e social: “Um jogador negro, muito forte e de destaque (como ele), a gente só olha, muitas vezes, a parte física e atlética do jogador, não vê a parte mental, psicológica e cerebral. Normalmente, o homem branco é o cerebral e inteligente, enquanto o negro é o monstro, a aberração e um animal. E, na verdade, o Giannis demonstra, durante toda a carreira dele, uma inteligência incrível e uma capacidade muito grande para lidar com fatos novos e com grandes desafios”.

Além disso, as famosas contagens dos torcedores adversários nos lances livres de Giannis revela uma reação caricata daqueles que não gostam do grego. enfatizavam a ultrapassagem dos 10 segundos que cada jogador pode ter para realizar o lance livre. Ainda assim, os memes criados sobre isso não o abalavam e ele persistiu no treino dos arremessos para melhorar cada vez mais, como comenta Camilo. “Ele transforma dificuldades em algo forte ou alguma força motriz para ele e consegue se virar”.

Camilo enxerga que o grego não é considerado um dos melhores arremessadores, mas é importante relembrar figuras como Jimmy Butler, DeMar DeRozan e Russell Westbrook que também não são grandes jogadores nesse quesito, mas possuem grande importância no jogo. “Na verdade, ele está se tornando um moderno Shaquille O’Neal, que é um jogador que consegue dominar o garrafão, mas com muito mais agilidade e mobilidade que o Shaquille”, comenta o repórter.

A qualidade de Giannis Antetokounmpo também salta aos olhos de Camillo: o uso do Euro Step (uma passada que troca de direção) e a qualidade no seu passe ajudam Chris Middleton, Jrue Holiday, Wesley Matthews e Grayson Allen a aproveitarem as suas atuações no perímetro. A união de força, agilidade, mobilidade, potência e capacidade brilha na defesa de Giannis. “A capacidade de defender e atacar quase que com a mesma excelência – o Giannis foi escolhido já como o melhor defensor da liga. Isso é algo muito difícil de acontecer: um jogador ser MVP e também o melhor defensor da liga. Ou seja, é muito bom ter um jogador desse nível, com esse impacto nos dois lados da quadra no seu time”, cita Camilo.

Na biografia das contas pessoais dos 4 irmãos gregos, encontra-se “I am my father’s legacy” que, em português, significa “Eu sou o legado do meu pai”, o que demonstra a união e a consideração que todos têm pela família. Atualmente, os irmãos Antetokounmpo estão jogando basquete e mantendo esse esporte na vida da família: Giannis e Thanasis jogam pelo Milwaukee Bucks, enquanto Alex, o caçula, está jogando na G-League do Toronto Raptors, o 905 Raptors, e Kostas está jogando pelo time francês ASVEL Basket ⇁ Kostas conquistou o primeiro anel de campeão da liga da família na temporada de 2019/20 pelo Los Angeles Lakers.

Giannis também construiu a sua família com Mariah Riddlesprigger e tem dois filhos, Liam Charles e Maverick Shai Antetokounmpo. Assim como educado, Giannis sempre tenta estar junto da sua família e tenta apoiá-los.

Charles Antetokounmpo faleceu em 2017, dois anos antes de ver seu filho conquistar o título de MVP em 2019. No evento em que Giannis recebe o prêmio, ele fez um discurso agradecendo ao time e a sua família, lembrando da influência do pai, dos irmãos e da mãe que estava presente na comemoração. Em consideração ao pai de Giannis, o jogador criou a AntetokounBros Academy (a antiga Fundação Charles Antetokounmpo) que visa ajudar a construir outros sonhos de basquete na Grécia e na Nigéria.

O que esperar de ‘Rise’?

O filme conta o lado mais pessoal de Giannis, ou seja, a história que antecede à ascensão do grego e é a parte mais difícil da vida da família Antetokounmpo. A atenção com os detalhes é característica dos filmes da Disney, o que dá um maior toque de profundidade e emoção ao espectador que assiste ao filme. A lealdade é um ponto enfatizado na narrativa e é um sentimento que norteia muitas das decisões tomadas pelo jogador até hoje, tanto no âmbito familiar quanto na sua carreira profissional.

O cuidado com a história de Giannis para a conversão audiovisual conta com uma produção reconhecida no meio do cinema: dirigido por Akin Omotoso (diretor do filme “Vaya”), o filme tem o roteiro escrito por Arash Amel (mesmo roteirista de “A Private War”) e Douglas S. Jones e o próprio Giannis Antetokounmpo são os produtores executivos do longa. A família de Giannis é interpretada por um elenco que aflora a expressividade da obra verídica, contando com a atuação de Dayo Okeniyi (Charles, pai de Giannis), Yetide Badaki (Veronica, mãe de Giannis), Uche Agada (Giannis), Ral Agada (Thanasis) – os atores que interpretam Giannis e Thanasis são irmãos na vida real -, Manish Dayal (Kevin Stefonides, auxiliador do agente de Giannis) e Taylor Nichols (John Hammond, gerente geral – ou general manager – do Bucks em 2013).

A identidade da trajetória de Giannis se mostra única entre as diversas histórias de superação no basquete (há exemplos como Dwyane Wade, que chegou a ficar sem casa aos 16 anos, e Jimmy Butler, que foi abandonado pelos pais na infância). A história de vida do grego é incomparável e, nas palavras de Camilo, “um conto de fadas da vida real”. Além de ter sobrevivido a um ambiente hostil com a sua família imigrante, conseguiu conquistar espaço em uma das maiores ligas de basquete do mundo e construiu seu legado: “se ele só tivesse conseguido ser jogador na NBA, já seria a grande história”, comenta Camilo.

Por mais que o filme mostre uma narrativa lúdica, não se deve considerar a armadilha que os contos de fadas oferecem afirmando que essa seja um destino igual a todos, como ressalta o repórter Camilo, “não é um sucesso para todo mundo”.

Na perspectiva de Camilo, esse é um filme que pode ter um impacto internacional maior do que nos Estados Unidos: “o maior impacto e legado que pode deixar esse filme é inspirar jovens do mundo inteiro a terem um exemplo muito positivo de esforço, perseverança, talento e inteligência. […] inspirar jovens a treinarem mais, irem melhores na escola, trabalharem melhor, tratarem bem seus pais, terem alguma disciplina para poder viver melhor; isso já vai ser um impacto muito grande”.

Giannis Antetokounmpo já tem um impacto no mundo e, através de um filme bem produzido pela Disney, isso pode ser mais impactante. Entre os inúmeros desafios enfrentados pelo grego, o camisa 34 do Bucks ressignificou as dificuldades em resiliência e provou para o mundo que é forte e capaz para enfrentar mais obstáculos. Nenhuma expectativa negativa sobre Giannis irá abalá-lo, porque o Greek Freak provará o inesperado com a sua história de superação, determinação e lealdade com os seus objetivos.

[Imagem: AntetokounBros Academy]

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