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A Fórmula 1 antes de Ayrton Senna

1º de maio de 1994. Ayrton Senna da Silva sofre um acidente trágico e fatal. A partir de então, esse dia nunca mais foi o mesmo, não somente para a família e fãs do piloto, mas, principalmente, para os amantes do automobilismo. Enquanto muito se sabe sobre a carreira de Senna e o quanto sua …

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1º de maio de 1994. Ayrton Senna da Silva sofre um acidente trágico e fatal. A partir de então, esse dia nunca mais foi o mesmo, não somente para a família e fãs do piloto, mas, principalmente, para os amantes do automobilismo. Enquanto muito se sabe sobre a carreira de Senna e o quanto sua performance na Fórmula 1 foi simbólica, pouco se fala sobre o que era o campeonato antes da chegada do brasileiro. 

Fundado em 1950, a Fórmula 1 possui muito mais história para contar do que se imagina. Ayrton Senna, sem dúvidas, foi um divisor de águas para o esporte, e a respeito do antes e depois de sua atuação, Cassio Cortes, jornalista e apresentador do programa Acelerados, conversou com o Arquibancada e desmistificou o passado do campeonato.

 

Onde tudo começou

É fato que a fundação da Fórmula 1 se deu em 1950. Contudo, o automobilismo começara a emergir antes disso. O automóvel foi inventado pelo alemão Karl Benz, em 1886, e essa nova criação seria uma das mais importantes da história da humanidade. Em consequência, a praticidade de locomoção e a inovação que o novo feito proporcionava fez com que no milênio seguinte, a partir dos anos 1920, o carro começasse a se popularizar. Na mesma medida, provocou a ânsia por aperfeiçoamentos por parte da indústria e de seus consumidores.

“O automobilismo surge originalmente como um campo de provas para as montadoras desenvolverem novas tecnologias. Então, o fascínio que o carro gerava na humanidade, principalmente no mundo ocidental, o esporte aproveitou”, revela Cassio sobre como a direção dos automóveis começou a conquistar sua identidade como esporte.

A iniciativa, no entanto, não parou por aí. O jornalista conta que conforme o carro ia se tornando mais popular, o automobilismo seguia o mesmo caminho. Os testes das montadoras se tornaram mais sérios com as equipes de fábrica da Mercedes-Benz e Auto Union (atual Audi Sports) dentro da Alemanha e foram para outros países da Europa, mas sempre em corridas isoladas. Começava a era Grand Prix.

É então que a Fórmula 1 surge. Em 1950, em busca de unificar cada Grand Prix em uma competição só, foi criado o campeonato que, com seus 70 anos de existência, possui um público fiel e uma trajetória fantástica no mundo do esporte. Mas, afinal, se o automobilismo surgiu a partir de testes tecnológicos para a indústria, ele pode ser considerado um esporte?

Cassio afirma que sim, mas que desde seu surgimento essa atribuição é polêmica: “Tem gente que ainda não entende o tamanho da demanda física do automobilismo de ponta. Quando a gente fala de Fórmula 1, Fórmula Indy, a gente está falando de caras super atletas. Muitas vezes a pessoa comum que só tem a experiência de dirigir carro de rua não entende o que é”, detalha.

 

Os Primeiros Ídolos

Não há dúvidas que Ayrton Senna seja o grande ídolo do automobilismo para o Brasil. “Ele era um herói nacional em um momento em que o país passava por um momento econômico e social muito ruim, e o Senna era uma das únicas coisas que orgulhava o brasileiro”, explica o jornalista usando como cenário a crise política e econômica sofrida pelo país na década de 1980. 

Porém, antes do início de sua atuação, existiam outros nomes relevantes ao redor do mundo e, até mesmo, no território nacional. De 1950 até os dias atuais, a Fórmula 1 não é nem um pouco modesta em relação ao grande acervo de atletas memoráveis que correram em suas pistas.

Alain Prost foi um dos grandes adversários de Senna, e a rivalidade entre os dois é considerada a mais agressiva que o campeonato já teve. As discordâncias entre ambos existia de longa data, mas explodiu de uma vez por todas quando o brasileiro, que já havia conquistado renome no esporte, passou a competir pela McLaren, a então equipe do francês.

A troca de farpas entre os pilotos, que variava entre jogos psicológicos e ataques dentro das corridas, não foi nada comparado à confusão que se instaurou a partir do GP de San Marino, em abril de 1989. Nele, Senna propôs a Prost que ambos não se atacassem durante as primeiras voltas, para que nenhum deles acabasse provocando a saída do outro tão cedo.

O acordo foi cumprido, em um primeiro momento, sem maiores problemas. Porém, a corrida foi interrompida em razão de uma batida do veículo de Gerhard Berger, da Ferrari, o que resultou na programação de uma nova largada. No entanto, enquanto o francês mantinha-se firme no combinado firmado com o brasileiro, Senna partiu para o ataque logo na segunda volta, conquistando, assim, o segundo lugar.

Enquanto Alain exibia sua fúria para a mídia, dando a entender que fora enganado por Ayrton, ele se justificava dizendo que o trato valia somente para a primeira corrida. A confusão chegou ao chefe da McLaren, que reuniu os rivais para uma repreensão nada amigável. 

O acontecimento, que não deveria ser de conhecimento externo, foi exposto para os jornalistas pelo piloto francês. O fato encerrou sua jornada na equipe, e resultou na assinatura de contrato com a Ferrari. “Acho que o grande legado dessa rivalidade entre Senna e Prost é ‘comprovar’ que você não pode ter dois ‘machos alfa’ na mesma equipe. É muito difícil administrar”, comenta Cassio a respeito das intrigas que ocorreram.

Prost entregando o troféu de sua última corrida com a McLaren para os fãs da Ferrari, em provocação à sua antiga equipe. [Imagem: Reprodução/Sportskeeda]
Prost não foi a única desavença de Senna na Fórmula 1. O conflito também era algo recorrente entre ele e Nelson Piquet, outro grande piloto brasileiro. Antes de Ayrton estrear no campeonato, em uma corrida da Fórmula 3, na Inglaterra, o chefe da Brabham, Bernie Ecclestone, ofereceu uma vaga na equipe a ele, que já estava escalando possíveis equipes em que pudesse realizar sua estreia no mundial. No entanto, em vista do desagrado com o contrato proposto, Senna optou por integrar a Toleman e, em seu lugar, Ecclestone selecionou o italiano Teo Fabi para se juntar ao seu time.

Na época, Ayrton acreditava que o fracasso na negociação com a equipe inglesa foi motivada por Nelson, que não queria dividir os holofotes com o compatriota no mesmo time. Contudo, até hoje, o carioca afirma não ter nenhuma participação no conflito, e atribui a culpa à Parmalat, empresa de laticínios que era uma das maiores patrocinadoras da Brabham nos anos 1980, a qual ele diz ser responsável pela escolha de Fabi para a vaga.

Os desentendimentos não cessaram por aí. A partir de então, em equipes diferentes, os adversários não se poupavam mais, e Piquet provava cada vez mais da fúria de Ayrton nas pistas. No GP da Hungria de 1986, o paulista ficou em segundo lugar, atrás apenas do carioca, e mesmo conquistando o pódio, ele demonstrou estar insatisfeito com o resultado. “Esperem só o ano que vem. A história dessa prova seria muito diferente se eu tivesse o motor do Piquet, e ele o meu”, declarou em entrevista ao Jornal do Brasil após a corrida, referindo-se à diferença de desempenho entre os dois veículos no GP.

Apesar do confronto existente entre os pilotos, Cassio afirma que havia espaço no automobilismo para dois ídolos brasileiros, mas essa simultaneidade entre as atuações não durou muito: “A ascensão de carreira do Ayrton Senna coincide com o declínio natural do Piquet na Fórmula 1, pois ele se aposenta no fim de 1991. Houve espaço para os dois por muito tempo, de 1984 ao ano de sua aposentadoria, e nesse período em que ele competiram juntos, ambos foram campeões do mundo. Piquet ainda conquistou seu tri em 1987 e Senna em 1988, 1990 e 1991”, explica.

 

Dentro das equipes

As equipes que competem na Fórmula 1 também sofreram os impactos da chegada de Ayrton Senna nos anos 1980, principalmente a Toleman, Lotus, McLaren e Williams, que foram as quatro em que o paulista competiu.

Senna fez a sua estreia no mundial com a Toleman, considerada equipe de pequeno porte. No campeonato, é incomum que as equipes pequenas alcancem altos rendimentos e, segundo o apresentador, seus melhores desempenhos são em corridas de sobrevivência, com estratégias firmes e em que a chuva nas pistas não seja um obstáculo a mais. 

Contudo, o paulista foi além das expectativas e causou alarde desde o começo de sua trajetória no campeonato. Em sua segunda corrida com a equipe, alcançou a sexta colocação e seu primeiro ponto, e tal desempenho não foi um caso isolado. Diferente do que era esperado, isso passou a ser comum para Senna, chegando até a compor pódio pela Toleman em uma corrida em Portugal.

Com o passar do tempo, ficou evidente que a performance do piloto era muito melhor do que a equipe podia e esperava investir, e essa conclusão mudou o rumo de sua carreira. Ayrton, então, assinou contrato em 1987 com a Lotus, decisão que não foi bem recebida pelo seu time de estreia.

“Para a Toleman a atuação do Senna não significou muito, mas para ele mesmo, sim. Teve um cartão de visita na Fórmula 1 com essas atuações, mostrando que era muito maior do que a Toleman. Por isso, no ano seguinte, ele vai pra Lotus, tendo assinado contrato antes mesmo do fim da temporada”, explica o jornalista.

Na Lotus, o cenário não mudou muito para Ayrton. De 1985 a 1987, seu curto período de atuação na equipe, apesar de atingir altas velocidades nas corridas, o veículo não era construído para competir por grandes performances. Em vista disso, o piloto foi o grande herói do time, mas venceu apenas seis corridas com o carro, e isso estava longe de ser condizente com o que ele procurava no campeonato.

Em busca de melhores estruturas, Senna assina contrato com a McLaren, em 1988, e dá início ao auge de sua carreira. Pilotando um carro compatível com a sua direção competitiva, conquista seus três títulos mundiais e soma mais de dezenas de vitórias ao currículo. Com ele e Alain Prost compondo o time, era a combinação perfeita de talento e estrutura para alavancar ainda mais o sucesso dos pilotos e da montadora britânica.

Em 1994, por fim, o piloto passa a integrar o time da Williams. A entrada na equipe já era almejada por ele muito antes disso, de modo que, no ano anterior, o brasileiro tentou negociá-la até mesmo se oferecendo para competir sem nenhum pagamento em troca – mas fora vetado por Prost devido a cláusulas de contrato. Contudo, a satisfação em finalmente fazer parte da grande montadora não durou muito, pois após somente três corridas, as quais não conseguiu finalizar nenhuma, Senna sofreu o acidente fatal que chocou o mundo todo.

O que já foi um acontecimento inesperado e impactante ao público, era muito mais para a Williams. Ayrton encontrava-se em uma fase de sua carreira em que seu sucesso era incontestável. Assim, sua admissão pela equipe seria muito bem aproveitada por ela, como havia sido para a McLaren anos atrás. Porém, o ganho foi curto, logo substituído pela tristeza e frustração do time. “Diria que o Senna é o maior trauma da história da Williams”, observa Cassio.

Senna em teste oficial com a Williams antes de sua contratação [Imagem: Reprodução Ayrton Senna]

O Legado

A partida de Senna no trágico acidente no GP de San Marino, na Itália, marcou o fim de uma era na Fórmula 1. Porém, é inegável que sua memória permanece viva. Atualmente, o piloto ainda é um dos maiores ídolos da história do automobilismo em escala nacional e mundial, e sua trajetória transcende inspiração para além do esporte.

Antes do acidente, o piloto já havia compartilhado com sua irmã, Viviane, o desejo de fazer algo grande pelo seu país, principalmente pelos jovens e crianças. Ayrton não teve tempo de colocar seu sonho em prática. No entanto, não somente Viviane como toda a família abraçou a ideia e, no mesmo ano, fundaram o que hoje é uma das maiores organizações sem fins lucrativos do país: o Instituto Ayrton Senna.

Tendo como causa a ampliação da educação em tempo integral no país, o instituto conta com parcerias e apoio vindos de gestores públicos, pesquisadores e outras organizações para promover a iniciativa. Questionada sobre o por quê da escolha pela educação integral, Bianca Senna, CEO da Senna Brands e sobrinha de Ayrton, contou ao Arquibancada que ela e todos os envolvidos no projeto acreditam que essa seja a chave para preparar as futuras gerações do século.

“Em um mundo cada vez mais complexo, dinâmico, diverso e incerto, é preciso preparar as crianças e jovens a fazer e seguir escolhas que resultem em um futuro melhor para elas e para o mundo. Mais do que expandir o tempo na escola, a educação integral expande as oportunidades de aprendizagem, promovendo as competências cognitivas e socioemocionais necessárias para que nossas crianças e jovens se desenvolvam plenamente no caminho das suas escolhas e do bem coletivo”, explica.

Em seus quase 26 anos de existência, o instituto cumpre com êxito a sua principal proposta: a transformação dos jovens. Com orgulho, Bianca lembra de uma das histórias que já passaram por lá, enfatizando que são casos como este que os motivam a trabalhar em prol da educação, e que esta é uma sensação única “Ele [o ex-aluno] era conhecido por ser ‘bagunceiro’ e o nosso projeto impactou tanto em sua vida que acabou se tornando um professor dedicado na recuperação de outros estudantes. Hoje, ele possui essa motivação de reverter a situação de estudantes considerados os ‘piores da sala’ para os ‘melhores da sala’, compartilhando uma importante lição de vida que ele aprendeu no passado”

Em virtude das limitações causadas pela pandemia de COVID-19, o instituto teve que se adaptar ao novo cenário, mas isso não impediu que o sucesso de sua atuação fosse prejudicado. Bianca afirma que a equipe tem se voltado ao apoio para outras redes de ensino, prestando o suporte necessário para que não seja necessário o interrompimento de seus planejamentos de aprendizagem. Além disso, ela conta que estão sendo realizados estudos sobre o futuro da educação, dado que uma das consequências da atual crise pública de saúde é a possível modificação de alguns padrões escolares.

Diante de inúmeras vidas que passaram pelo projeto e conheceram a importância da educação sob a perspectiva da família Senna, não é difícil concluir que o nome de Ayrton não será facilmente esquecido pelas próximas gerações. Muito pelo contrário. 

Enquanto dentro das pistas o piloto fez história, na luta por uma educação de qualidade, ele e sua família mudaram histórias. Essas, mesmo sem ter tido a oportunidade de vê-lo conquistar cada um de seus prêmios, deram continuidade em seu legado, mostrando que suas vitórias não terminaram na década de 1980. É isso que Bianca acredita ser a maior lição de vida que ele dá aos jovens brasileiros.

“A imagem que ele passa para os brasileiros é de superação, vitória, garra, amor ao país e de resiliência, mesmo nos momentos mais difíceis, como esse que temos vivido agora com a pandemia. Essa lição de não desistir e acreditar em si mesmo é fundamental para jovens que vão formar o futuro do Brasil”, diz ela, reiterando a atemporalidade do sucesso de Ayrton Senna.

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