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‘Sorria’ e a face mascarada de um sorriso

O diretor Parker Finn brinca com os clichês do terror em uma produção inteligente e frenética

O quiet quitting, ou “demissão silenciosa”, é um fenômeno que reflete a busca pelo equilíbrio entre a vida profissional e o propósito pessoal. Nele, profissionais limitam suas tarefas às estritamente necessárias dentro da descrição de seu trabalho e evitam possíveis burnouts — de modo geral, se o salário é mínimo, o esforço não será máximo. Caso a personagem principal de Sorria (Smile, 2022) fosse adepta ao movimento, todo o enredo do filme seria resolvido nos primeiros 15 minutos de tela.

A produção acompanha Rose Cotter (Sosie Bacon), uma terapeuta que atende na ala psiquiátrica de um hospital. Sobrecarregada com sua jornada de trabalho, Rose recebe uma paciente antes de encerrar um plantão. A estudante universitária tem presenciado cenas aterrorizantes desde que assistiu a um de seus professores cometer suicídio na sua frente.

Após alguns minutos de sessão, a paciente é tomada por algum tipo de entidade e se mata na frente de Rose. A cena, perturbadora o suficiente, é agravada pela face da estudante no episódio: ela não demonstrou nenhum tipo de emoção ao realizar o ato, apenas um sorriso sombrio.

O acidente no hospital psiquiátrico traz à tona uma série de traumas que nunca foram curados. De um lar disfuncional, Rose nunca se recuperou do suicídio de sua mãe. Além de reviver o luto, o episódio conecta a terapeuta a uma corrente maligna, o que sugere uma possível semelhança com filmes do J-Horror, como O Chamado (Ringu, 1998), ou com longas do Ocidente, como Corrente do Mal (It Follows, 2014).

Sorria é um filme voltado para o circuito comercial. Sua essência mainstream é comprovada pelas grandes campanhas de marketing que a Paramount Pictures, estúdio responsável pela produção do longa-metragem, têm realizado nas últimas semanas. Nas redes sociais, vídeos de jogos da Major League Baseball viralizaram por um motivo peculiar. Todos os registros possuem uma pessoa sentada ao fundo, de maneira imóvel, com um sorriso macabro.

Assim, com o intuito de gerar lucro aos estúdios, Sorria aproveita ferramentas que são rotineiras para o gênero do terror: uma entidade maligna que se alimenta dos traumas alheios; alucinações da protagonista, cuja repetição excessiva estraga o mistério ao tornar o final previsível; coadjuvantes que insistem em duvidar da sanidade de Rose; e, o que é imperdoável, o assassinato de um bichinho de estimação (R.I.P Mustache).

O que destaca esse filme dentre outras obras do gênero é a paixão de Parker Finn por sua criação. Sorria marca a sua estreia como diretor de grandes produções e é inspirado em Laura Hasn’t Slept (2020), curta-metragem também dirigido por ele. O profissional abraça suas raízes e se esforça para honrá-las em um longa que desponta como um dos principais terrores de 2022.

Felizmente, a competência do diretor é efetiva e se mostra presente. Nos primeiros dois atos, Finn abre espaço para que as diferentes nuances de Rose sejam apresentadas e, assim, o telespectador possa se empatizar pelo decair da personagem. Apesar de a trama desacelerar durante o terceiro ato, o cineasta recupera o fôlego para entregar um clímax frenético no final (mesmo com o desgaste causado pelas seguintes cenas de alucinações, como citado anteriormente).

Um ponto que talvez incomode é o fato de a trama não explicitar quem são as pessoas ao redor de Rose. Personagens aparecem e Finn torce para que você adivinhe que Holly (Gillian Zinser) é a irmã mais velha da terapeuta, e não apenas uma amiga mimada qualquer. Ou então, que Joel (Kyle Gallner) é ex-namorado de Rose, e não um amigo que se distanciou após um conflito inexplicado. A culpa, obviamente, não é dos atores, que interpretam bem seus personagens.

[Imagem: Divulgação/Paramount Pictures].

De modo geral, Finn conquista o público ao apostar em uma fotografia à la Stanley Kubrick e em um roteiro que, mesmo com seus clichês declarados, diverte o telespectador. A tensão construída ao decorrer do filme é muito bem desenvolvida por Sosie, atriz conhecida por séries como 13 Reasons Why (2017-2020) e Mare of Easttown (2021). Filha dos atores Kyra Sedgwick e Kevin Bacon, ela entende a sua função enquanto “bebê do nepotismo” e se redime por sua participação na  produção da Netflix.

Sorria inicia com pé direito a temporada de Halloween de 2022. Em sua estreia no cinema, Finn se destaca como revelação ao dirigir um longa que guia o telespectador para um combate com o terror visual e psicológico. Ter que sorrir enquanto lida com seus piores traumas não é uma coisa agradável. No entanto, posso garantir que, dessa vez, o sorriso não será amarelo.

O filme estreia nesta quinta-feira (29) nos cinemas. Assista ao trailer:

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