Na última terça-feira (11), o mundo do surfe se reuniu para acompanhar o Finals Day da etapa de Rip Curl Pro Bells Beach. Essa foi a primeira das duas etapas australianas que antecedem o corte do meio da temporada — após Margaret River, o número de surfistas será reduzido de 36 para 24, no masculino, e de 18 para 12, no feminino.
E, no fim, o título só poderia ter ficado em casa: os australianos Ethan Ewing e Tyler Wright derrotaram os surfistas compatriotas Ryan Callinan e Molly Picklum para ficarem com a vitória da etapa mais tradicional do Championship Tour (CT) da WSL.
Angústia brasileira
Tatiana Weston-Webb, a única representante feminina do Brasil no CT, encerrou sua participação na etapa de Bells Beach nas quartas de final, quando foi eliminada pela veterana e atual campeã mundial Stephanie Gilmore. Apesar disso, Tatiana conseguiu manter-se na quinta colocação do ranking da temporada, com 18.185 pontos, o suficiente para passar pelo corte do meio da temporada.
Entre os homens, os primeiros a serem eliminados foram Samuel Pupo, Caio Ibelli e Ítalo Ferreira, no round de 32. Caio caiu do quarto para o sétimo lugar, e Ítalo do 13º para o 17º. Porém, ambos já atingiram o mínimo de pontos para passar pelo corte. Vale lembrar que Miguel Pupo não competiu na primeira etapa da Austrália devido a uma lesão adquirida em Peniche. Assim, os irmãos Samuel e Miguel ocupam, respectivamente, o 21º e 25º lugar na tabela e precisarão de desempenhos excelentes na próxima etapa para escapar do corte.
Pela quarta vez na temporada, Gabriel Medina foi eliminado nas oitavas de final. Agora, ele ocupa a 11ª posição. Além dele, Yago Dora, Michael Rodrigues e João Chianca também foram eliminados nesse estágio. Yago é outro já a salvo do corte, na nona posição, diferente de Michael, que ocupa a 26ª colocação e que irá para Margaret River extremamente ameaçado. Já Chianca se encontra em uma situação completamente diferente e muito vantajosa. Mesmo eliminado, ele conseguiu pontos o suficiente para ultrapassar o então primeiro colocado Jack Robinson (eliminado no round de 32 por Xavier Huxtable) e assumiu a lycra amarela da temporada.
O brasileiro que permaneceu mais tempo disputando o título da etapa foi Filipe Toledo. O atual campeão mundial foi eliminado nas semifinais por Ethan Ewing em uma bateria que gerou muita polêmica. O surfista, sua família e seus fãs protestaram contra uma suposta supervalorização das notas obtidas pelo rival australiano na bateria, em ondas muito inferiores às surfadas por Filipinho. Ainda nas quartas de final, Toledo virou a bateria já fora da água, após mostrar sua indignação contra outra nota alta que destoava da performance apresentada pelo adversário Jackson Backer.
Final masculina: Ethan Ewing x Ryan Callinan
A bateria final da etapa mais tradicional do surfe mundial foi disputada entre dois australianos. A primeira onda foi surfada por Ethan Ewing, que realizou algumas manobras e batidas e recebeu nota 5.33. Sua onda seguinte, não muito bem formada, acabou o engolindo. A manobra simples que conseguiu realizar lhe rendeu 3.83 pontos. A essa altura do dia, a maré cheia já tinha atingido seu ápice e começava a baixar, deixando o mar cada vez menos propício para o surfe. Maré cheia total, começando a descer. Ryan Callinan, que ainda não havia surfado, escolheu uma onda muito ruim, não conseguiu surfar e acabou perdendo a prioridade.
Ethan, na dianteira, não se acomodou. Surfou uma onda executando muito bem suas manobras e conseguiu a maior nota da bateria até aquele momento: 6.67. Ryan tentou reagir e surfar uma primeira onda completa, mas errou a manobra de reconexão logo no início. Na segunda tentativa, ele escolheu uma onda que acabou se formando muito pequena, permitindo-lhe apenas duas manobras com uma execução longe da ideal. Calligan recebeu as notas 2.10 e 1.33.
Restando 10’, os surfistas australianos realizaram suas melhores ondas até então: 6.83, para Ethan, e 4.23, para Ryan. Calligan passou a precisar de 9.27 pontos para se manter vivo na final. Muito próximo do fim, os dois se superaram novamente: Ryan primeiro, com um 5.73, e Ethan em seguida, com 7.67. A última onda surfada foi quando o relógio marcava os últimos 15 segundos de bateria: Ryan, em uma tentativa final, surfou uma onda mediana que recebeu nota 5.27.
Com o resultado, Ethan foi campeão de Bells Beach exatamente 50 anos depois que sua mãe realizou o mesmo feito. O placar final foi de 14.50 (7.67 + 6.83) a 11.00 (5.73 + 5.27). Ewing passou a ocupar o quarto lugar no ranking.
Final feminina: Molly Picklum x Tyler Wright
A bateria final feminina também foi disputada entre duas atletas da Austrália: Molly Picklum, detentora da lycra amarela, e Tyler Wright. Nos primeiros minutos, as duas atletas surfaram pequenas ondas e tentaram algumas manobras. Molly conseguiu notas maiores, ficando a com somatória de 4.50 (4.00 + 0.50), contra 1.80 (1 + 0.80) de Tyler.
Tyler aproveitou a oportunidade de uma boa formação de ondas para fazer boas rasgadas e, apesar de chegar atrasada na junção, conseguiu finalizar a performance, recebendo 7.83 pontos. Pouco depois, ela surfou outra boa onda e corrigiu o erro da finalização, ganhando dos jurados a nota 8.17. Com o somatório de 16.00, ela disparou na liderança, jogando Molly para a combinação.
Molly Picklum, buscando o mínimo de 6.00 pontos, conseguiu fazer boas rasgadas em uma onda, mas chegou atrasada para fazer a manobra de finalização. Ela recebeu nota 5.83, o que não a tirou da combinação. Em seguida, surfou outra onda e, dessa vez, conseguiu realizar melhor as manobras, recebendo nota 6.17. Ainda que tivesse saído da combinação, precisaria de uma nota mínima de 9.83 para virar a bateria.
As ondas seguintes não atingiram notas altas o suficiente para entrar na somatória das surfistas. Experiente, Tyler se aproveitou da marcação e da prioridade adquirida em alguns momentos para segurar o resultado e vencer a etapa de Bells Beach.
Molly Picklum, apesar da derrota, segue na primeira colocação do ranking. Tyler Wright, que ocupava o quarto lugar, subiu para o segundo.
*Imagem de capa: Divulgação/WSL