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Políticas públicas de acesso ao esporte transformam a relação dos brasileiros com as práticas esportivas

O contato com o esporte desde a juventude e o subsídio de auxílios governamentais podem alavancar a vida esportiva de milhares de pessoas

É preciso muito dinheiro para ser um atleta de alto nível no Brasil. Segundo a avaliação de Ciro Winckler, pesquisador associado da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os valores superam a casa dos milhões de reais. Os gastos envolvem deslocamentos e instalações, equipe técnica, assessoria médica, equipamentos e diversos outros requisitos que contribuem para um melhor rendimento durante as performances esportivas. Para suprir essas necessidades, atletas contam com patrocínios de empresas privadas e/ou com auxílios governamentais.

O Bolsa Atleta, instituído em 2004, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é um programa da Secretaria Especial do Esporte, subordinada ao Ministério da Cidadania, e “tem como objetivo garantir condições mínimas de preparação esportiva aos atletas brasileiros”. As bolsas contemplam atletas de seis diferentes níveis: Atleta de Base, Estudantil, Nacional, Internacional, Olímpico e Pódio, de acordo com alguns pré-requisitos.

Ainda de acordo com a pasta, são elegíveis, prioritariamente, atletas de alto rendimento praticantes de esportes que compõem os programas dos Jogos Olímpicos e dos Jogos Paralímpicos. Em seguida, o benefício é destinado aos atletas de modalidades não olímpicas. Os pré-requisitos mudam de acordo com a categoria de bolsa. 

A manutenção do pagamento do auxílio é realizada mediante o preenchimento de um relatório bimestral, no qual os contemplados devem fornecer informações sobre os destinos da verba, seus desempenhos técnicos e outros dados de suas rotinas esportivas. Também são realizadas visitas periódicas aos centros de treinamento a fim de monitorar os reflexos da utilização da verba concedida.

O Superintendente de Programas Esportivos da Subsecretaria de Esportes do estado de Minas Gerais, Frederico de Oliveira Motta Pessoa, explica a importância desse programa de auxílio para a carreira esportiva dos beneficiários: “A gente imagina que para um atleta de nível estadual, cuja bolsa é num valor menor, já é uma ajuda, porque nunca passou pela cabeça dele ganhar algum dinheiro [com o esporte], já que ele ainda está num nível muito inicial da carreira esportiva.” O benefício auxilia também atletas que já estão presentes no mundo esportivo há mais tempo, como os atletas olímpicos e paralímpicos. : “Com esse dinheiro, eles compram material esportivo. Tem atleta que não precisa, porque o clube que ele treina já oferece isso. Então, ele usa esse dinheiro para pagar a taxa de inscrição num campeonato. Existem tantas situações que os atletas de alto rendimento precisam de uma retaguarda, de uma equipe multidisciplinar por trás, que com certeza eles arrumam um destino muito bom para esse dinheiro. Seja em suplemento alimentar, em uma melhoria da equipe técnica deles ou no pagamento de uma viagem importante que eles precisem participar”, relata.

 Dados do Governo Federal revelam que  6.723 atletas serão contemplados no edital de 2022, o que representa um investimento de R$128 milhões. O Arquibancada conheceu a história de Evelyn Oliveira,  atleta beneficiária do programa.

  

Conquistando o mundo com a bocha

Evelyn Vieira de Oliveira (34) é natural de Mauá, no ABC paulista. Jogadora de bocha paralímpica,  é portadora de uma deficiência genética rara, denominada atrofia muscular espinhal. O diagnóstico concreto veio apenas em 2019, ao participar de um projeto de pesquisa realizado pela Universidade de São Paulo.

Durante a infância e a adolescência, Evelyn e o irmão, também portador da doença, viveram uma vida permeada de incertezas: “Meus pais procuraram oferecer o melhor que  podiam para o meu desenvolvimento e para minha qualidade de vida, sem saber ao certo o que eu tinha e quais os possíveis tratamentos. Era muito difícil manter as terapias necessárias para que a doença não tivesse uma evolução tão rápida, já que ela é progressiva. Eles tinham que fazer uma opção,. Ou eles trabalhavam, ou eles nos acompanhavam nas terapias”, conta.

A atleta também relata como a falta de informação e de recursos, à época, interferiram no desenvolvimento social dos dois: “A gente não teve muito acesso a atividades sociais. Eu mal saía de casa. Ia para casa de parentes, mas sempre de carro. A gente não tinha muita exposição à sociedade, até  por conta da curiosidade das pessoas. Era muito difícil para os meus pais, porque eles não tinham respostas, mas tivemos uma infância feliz, dentro do possível e do que podíamos ter acesso”

Devido a situação, Evelyn não foi aceita em escolas durante a infância. Foi alfabetizada pelos pais aos 7 anos. O primeiro contato com a sala de aula e o convívio social vieram depois dos 18, quando concluiu os estudos do Ensino Fundamental e Médio por meio do programa ENCCEJA. A experiência transformou sua vida: em 2010, uma das professoras de Evelyn a apresentou  ao esporte e a abordou para perguntar se conhecia as modalidades paradesportivas que a unidade oferecia e se gostaria de fazer um teste.

“Jamais imaginei ser esportista. Lembro que, quando estava terminando o ensino médio, fazia projeções das carreiras que gostaria de seguir, mas nunca me vi como atleta, porque, até então, não entendia o esporte adaptado ou algo que me desse condições de praticar.  Eu nunca tinha ouvido falar sobre a bocha. Na minha cabeça, enquanto ela falava, eu pensava:nossa, ela deve estar viajando. Eu não tenho a menor condição de fazer esporte”.

Evelyn decidiu abraçar a oportunidade. Encontrou na bocha uma possibilidade de realização quanto à independência pessoal. Assumiu um compromisso para com o SESI, conheceu novas pessoas e passou a ser sujeito ativo na escrita de sua história.

Já nos primeiros anos da carreira esportiva, Evelyn ocupava posições importantes em competições, demonstrando seu potencial. Em 2013, após ficar entre os três primeiros colocados do campeonato brasileiro de bocha, a atleta tornou-se apta a pleitear o Bolsa Atleta. 

 

Evelyn Oliveira e Roberto Ferreira, auxiliar técnico da equipe de Bocha Paralímpica [Imagem: Reprodução/Instagram]

Evelyn comenta que sua evolução nas performances esportivas tornou-se mais rápida após começar a receber o auxílio. O dinheiro tornou possível o investimento em melhores materiais esportivos, bem como em profissionais qualificados que a ajudassem em sua preparação, como médicos, fisioterapeutas e nutricionistas . “É muito importante que o atleta se preocupe em chegar no dia de treino e desempenhar os fundamentos necessários, com recurso para comprar material, para poder viajar e se hospedar ou para poder costurar uma equipe multidisciplinar”, relata.

Sobre a importância da luta social em torno do acesso à educação e ao esporte, a  atleta ressalta  que os recursos funcionam como ferramentas de transformação social. “Para mim, tem tudo a ver. Eu sempre digo: antes de ser uma atleta, eu fui uma aluna”, finaliza.

atleta Evelyn Oliveira
Palestra de Evelyn Oliveira [Imagem: Reprodução/Instagram]

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