A manhã do dia 30 de julho começou amarga para os brasileiros. A seleção feminina de Futebol foi derrotada em jogo válido pelas quartas de final das Olimpíadas Tóquio 2020, dando adeus à competição e à chance de medalha.
O jogo, realizado no Miyagi Stadium, reeditou a disputa pela medalha de bronze dos Jogos Olímpicos Rio 2016 e, mais uma vez, as canadenses saíram com a vitória. A derrota de hoje foi extremamente dolorosa para as brasileiras, pois pode significar o fim de um ciclo.
O jogo foi equilibrado, mas é possível dizer que a seleção brasileira foi ligeiramente superior. O Brasil tentou explorar mais suas jogadas pelo lado esquerdo, combinando Tamires e Marta nas construções de suas jogadas. Entretanto, o time abusou das ligações diretas, em sua maioria sem sucesso, e não gerou muito perigo à zaga canadense, que contou com Gilles em uma partida muito sólida.
A seleção do Canadá concentrou a maior parte do seu jogo no lado direito, aproveitando a ótima atuação da camisa 10, Lawrence, que liderou a saída de bola da equipe e também foi bem defensivamente. O time canadense teve a sua principal jogadora, Sinclair, apagada, e apostou nas armações rápidas para tentar surpreender o Brasil, que também foi consistente no setor defensivo.
O Canadá acertou uma na trave aos 58 minutos após uma cabeçada da zagueira Gilles e assustou em uma bola rápida para a atacante Rose, que foi travada pela brasileira Erika. Já o Brasil desperdiçou alguns vacilos da zaga canadense, com Debinha e Ludmila, e tentou alguns arremates de média distância com Andressinha, Marta e a própria Debinha. Apesar desses momentos, a partida não teve chances claras de gol.
O jogo se encaminhou para os pênaltis e o Canadá avançou para as semifinais por 4 a 3 nas cobranças das penalidades. A seleção brasileira começou vencendo após a defesa da goleira Bárbara no arremate de Sinclair, mas Andressa Alves e Rafaelle desperdiçaram as duas últimas cobranças do Brasil, o que decretou a vitória canadense.
A derrota foi um baque para o time brasileiro por tudo que essas Olimpíadas representavam. Mais uma vez o sonho foi impedido pelo Canadá, em uma partida que poderia ter tido qualquer uma das duas equipes como vencedora, o que deixa o grupo brasileiro com um sentimento de que poderia ter feito mais.
É possível questionar alguns fatores que corroboraram a derrota brasileira, a vontade de vencer não foi um deles. O time entregou-se em campo, mas pequenas decisões foram determinantes.
A seleção brasileira alcançou uma evolução tática considerável sob o comando da Pia Sundhage, que deixou o time muito organizado e disciplinado no quesito tático. No entanto, algumas decisões da técnica sueca podem ser questionadas. A primeira delas é a manutenção de Marta jogando fixa pelo lado esquerdo do campo. A camisa 10 é muito técnica, mas não tem a mesma velocidade e intensidade que já teve, muito por conta da idade.
Além disso, a atacante Ludmila vinha mostrando-se uma ótima alternativa ao ataque brasileiro, mas começou mais um jogo no banco de reservas. A demora ao colocar em campo a meia-atacante Andressa Alves também é intrigante, já que ela vinha entrando bem no decorrer dos jogos e foi a melhor em campo na última partida, diante da Zâmbia.
Em síntese, não é de se jogar fora todo o desempenho da equipe do Brasil. A derrota veio nos pênaltis e as comandadas de Pia ainda têm muito a evoluir. Apesar dessa esperança acerca do futuro da seleção, não é possível descartar as perdas e possíveis ausências de algumas atletas nas próximas competições.
Formiga é a principal delas, que disputou 7 Jogos Olímpicos vestindo a amarelinha e hoje deu adeus ao sonho do ouro. A presença da jogadora de 43 anos foi um dos grandes incentivos para o Brasil. Mas o esporte é assim, alguns grandes atletas não conquistam certos títulos, apesar de merecerem por toda a história construída.
Além de Formiga, a presença de Marta na próxima Olimpíada não é tão provável. A eterna camisa 10 tem 35 anos no momento e não se sabe se até a próxima competição ela ainda estará em condições físicas e com nível técnico para representar o Brasil.
De um modo geral, o sentimento é de que o Brasil poderia ter feito mais pelo esquema bem montado de Pia e pela qualidade técnica de suas jogadoras. Agora, o brasileiro deve manter a esperança e, aos poucos, a ficha vai caindo ao perceber que essa pode ter sido a última vez que Marta e Formiga atuaram juntas nos Jogos Olímpicos.
*Imagem de capa: [Reprodução Twitter/@SelecaoFeminina]