Na última sexta-feira, dia 27 de outubro, a 36ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo exibiu o filme Carmel (Idem. 2009.). O local de exibição, que deveria ser o CINUSP Paulo Emílio, foi alterado para o Auditório A do Departamento de Cinema, TV e Rádio, o Prédio 4 da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, por conta da ausência de um projetor adequado na sala de Cinema do CINUSP. Apesar da transferência inesperada e o atraso da sessão, que foi iniciada um pouco depois das 16h, o auditório estava cheio.
Carmel foi lançado em 2009, roteirizado e dirigido pelo israelense Amos Gitai e produzido em Israel, França e Itália. O filme é um documentário bastante inovador, já que não conta com a estrutura de entrevistas diretas ou o olhar e falar diretamente com a câmera. A maneira como o tema é abordado remete a um filme de ficção, impressão essa que só é quebrada para quem pesquisa um pouco mais sobre a produção.
O documentário empenha-se em mostrar passado e presente das guerras contra os judeus, construindo um histórico que parte da Roma antiga e vai até os dias de hoje. Na atualidade, Gitai visita um acampamento do Exército Israelense onde seu filho presta serviços. Ele lamenta a situação pela qual o filho passa, tentando levá-lo de volta para casa.
Ao mesmo tempo, a história da mãe de Gitai é contada, assim como partes da infância dele próprio. Ele expressa seu descontentamento a respeito da vida que leva e de suas aflições, possibilitando diversas reflexões sobre a validade dessa guerra que perdura há tantos séculos e que é praticamente injustificada.
Em uma conversa, Gitai diz que é possível que um homem esteja em dois lugares ao mesmo tempo. Não só possível, mas natural: um homem sempre estará no presente e no passado. Talvez essa ideia seja a principal do filme, afinal duas histórias são retratadas: Gitai sendo filho e sendo pai. Obviamente, as preocupações e os tempos mudaram. Enquanto sua mãe vive na poesia londrina, seu filho vive nos riscos e perigos inerentes a uma guerra.
A narração poética nas cenas, principalmente nas cenas de batalha, transforma uma situação tensa em um quadro bonito, e este é o ouro da obra. A poesia do filme é quase capaz de fazer o público esquecer que há uma guerra por trás, assim como houve um grande massacre do povo judeu. A mistura de política e belas palavras, em um formato que caminha entre ficção e documentário, foi a grande ideia de Amos Gitai.
A beleza também se encontra na arte do filme, uma sensação de leveza e pureza o permeia. As imagens sobrepostas são a chave dessa leveza nas cenas mais pesadas, ao mesmo tempo que as cores branco, bege e laranja são responsáveis pela pureza e limpeza transmitida. Cenas em primeiro plano e close são essenciais para passar ao público a emoção de cada pessoa envolvida. Para completar o pacote, a trilha sonora é incrivelmente emocionante, elevando os níveis de tensão do espectador e tornando as cenas ainda mais comoventes.
Para mais informações sobre a mostra, consulte nossa publicação com a programação.
Por Rúvila Magalhães
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