Bruna Buzzo
Assistir ao novo longa dos irmãos Coen nesta 32ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo não foi tarefa fácil. Super badalado, o filme lotou as salas de cinema em todas as exibições que teve até agora (fato que deve se repetir em sua última exibição na Mostra, que acontece amanhã (24)). Queime depois de Ler (Burn after reading – intelligence is relative) é garantia de sucesso para os diretores, boas risadas para o espectador e vale todas as filas que você enfrentará se quiser vê-lo antes de sua estréia nos cinemas brasileiros, prevista para o dia 28 de novembro deste ano.
O enredo usado para o longa poderia cair em um filme qualquer de ação, bandidos e policiais que você já viu tantas vezes, mas não nas mãos desta dupla de diretores e roteiristas. Segundo algumas sinopses, este filme retrata um ex-agente da CIA que começa a escrever suas memórias com importantes detalhes sobre a agência e a ação se desenrola no momento em que as informações caem nas mãos de “dois inescrupulosos funcionários de uma academia de ginástica que tentarão ganhar com isso, vendendo as informações.”
Uma sinopse assim afasta qualquer espectador! Olhando de maneira simplista é exatamente isto que ocorre no filme, com o detalhe de que os tais funcionários da academia não são nem espertos, nem malvados o suficiente para serem tachados de inescrupulosos. Suas atuações (e não só dos atores, mas o papel que os personagens representam) são mais cômicas do que qualquer outra coisa. Estes são Linda Litzke (Frances McDormand) e Chad Feldheimer (Bras Pitt), o núcleo desencadeador de toda a ação que gira em torno da atrapalhada perseguição destes dois ao ex-agente Osbourne Cox (John Malkovich, em ótima atuação).
Queime depois de Ler é, antes de qualquer outra coisa, um retrato da sociedade dos EUA e das paranóias que o povo norte-americano criou e com as quais ele não sabe lidar. Muitas destas paranóias não dizem respeito apenas a um fator local, mas são perceptíveis em qualquer país, o que permite ao filme extrapolar as fronteiras de sua língua e localidade, para levar a uma reflexão de fatores globais como o terrorismo, as bipolaridades políticas, a busca pela beleza a qualquer custo, a segurança e as liberdades individuais.
Toda a trama começa por que Linda, uma moça que se acha feia, quer fazer cirurgias de alto custo que seu convênio não cobre. Em sua busca desesperada pela verba necessária à realização de seu plano de beleza, ela envolverá desde seu inocente e caricato amigo Chad até o paranóico Harry Pfarrer, agente de segunrança brilhantemente interpretado por Georgie Clooney.
Da inocência de Linda e Chad aos inescrupulosos agentes da inteligência nacional norte-americana, Ethan e Joel Coen construíram um retrato que se assemelha a Onde os Fracos não tem vez. Com bom humor, ironia e uma pitada de maldade, o espectador se vê na tela e pode questionar as mazelas de uma sociedade decadente e em busca de um rumo para o futuro.
Nota: a estréia do filme em São Paulo foi confirmada para o dia 28/11/2008, em grande circuito.