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Uma noite no Titty Twister: vampiros, muito sangue e tudo que o trash pode oferecer

Por Daniel Drumond Ribeiro rd.drumond@gmail.com “Regra número um: sem barulho. Sem perguntas. Se você fizer barulho… O Sr. 44 também irá fazer barulho. Se você fizer uma pergunta, o Sr. 44 responderá. Agora, você entendeu clara e perfeitamente a regra número um?”  O filme Um Drink no Inferno (From Dusk till Dawn, 1996), escrito e …

Uma noite no Titty Twister: vampiros, muito sangue e tudo que o trash pode oferecer Leia mais »

Por Daniel Drumond Ribeiro
rd.drumond@gmail.com

“Regra número um: sem barulho. Sem perguntas. Se você fizer barulho… O Sr. 44 também irá fazer barulho. Se você fizer uma pergunta, o Sr. 44 responderá. Agora, você entendeu clara e perfeitamente a regra número um?”

 O filme Um Drink no Inferno (From Dusk till Dawn, 1996), escrito e estrelado por Quentin Tarantino e de direção de Robert Rodriguez é, pelo menos, surpreendente. Não apenas devido aos baldes e baldes de sangue, típicos dos filmes trash – nos filmes de Tarantino, tão presentes quanto – ou pela notável perturbação mental do personagem interpretado pelo escritor do roteiro. Aos que não leram sinopses e não conhecem a história de Robert Kurtzman, na qual foi baseada a obra cinematográfica, há uma quebra impactante de expectativa ao longo do desenvolvimento da trama.

Os irmãos Seth e Richard Gecko, estrelados, respectivamente, por George Clooney e Quentin Tarantino, fugiam da polícia norte-americana. O primeiro deles foi preso devido a um assalto a banco em 1988, no qual assassinou dois oficiais. O segundo, ladrão e estuprador conhecido, organizou a fuga em plena luz do dia do irmão encarcerado.

Engana-se quem pensa que as cenas mais fortes do filme se passam em seu início, no assalto a uma loja de bebidas na qual um Texas Ranger é morto com um tiro na cabeça e, em seguida, o barman da loja é queimado vivo em uma empreitada na qual os irmãos atiram em garrafas de bebida do bar e arremessam um rolo de papel higiênico em chamas, ateando fogo em todo o estabelecimento. A cena, na verdade, compõe a metade não-trash­ de Um Drink no Inferno, que, nesse momento, mais parece um thriller sério, semelhante às obras consagradas de Tarantino.

Ainda na primeira metade, os irmãos sequestram uma família que viajava em um trailer, composta por Jacob, um senhor que já fora pastor, e seus filhos Kate e Scott. Não há grande aprofundamento na personalidade e nos conflitos internos dos reféns. É reforçado várias vezes, porém, que Jacob perdera boa parte da sua fé devido à morte de sua esposa em um acidente de trânsito, em que ela, antes de morrer, ficou presa por seis horas nas ferragens. Richard e Seth Gecko tinham traços mais marcados: enquanto este era um criminoso mais controlado e “profissional”, Rich era sádico, impulsivo e perturbado – um psicopata que não via problema em deixar grandes rastros de sangue (e de sêmen) por onde passava.

A intenção dos Gecko era, com a ajuda do ex-pastor e de seus filhos, atravessar a fronteira entre os EUA e o México. Em um bar chamado Titty Twister, eles encontrariam, pela manhã, Carlos, que seria responsável por levá-los a El Rey, “santuário” que, por uma salgadíssima quantia de dinheiro, eles se refugiariam e “tirariam a barriga da miséria”. A promessa era que após esse acontecimento os reféns estariam libertos, todos eles com vida.

 

Apesar dos entraves na travessia da fronteira, os cinco conseguem chegar ao Titty Twister, onde passariam a noite comemorando até o encontro com Carlos. O bar recebe motoqueiros e caminhoneiros aos berros de “All right! Pussy, pussy, pussy, come on in, pussy lovers!”, com belas dançarinas de peitos nus, música ao vivo, pancadaria e muita bebida por toda a noite, mas as coisas não correm tão bem.

Ao fim da apresentação sensual da principal dançarina, Satânico Pandemonium, interpretada pela atriz Salma Hayek, Um Drink no Inferno parece um novo filme: tandãããã… A moça se transforma num monstrão e cai no pescoço do Richard. Enquanto Seth vai amparar o irmão ensanguentado, os seguranças mortos na briga e as dançarinas do bar ficam com feição parecida com a da ex-dançarina e, aos poucos, todo mundo vai virando comida de vampiro. Tanto as dançarinas quanto os funcionários do bar vão devorando todos os clientes numa sequência de cenas de assassinatos bizarríssimos com tudo que o trash do trash pode oferecer.

No primeiro tempo da briga, para os heróis rebeldes da resistência, pé de mesa, lápis, bengala e qualquer coisa relativamente cilíndrica e de madeira viram estaca pra matar vampiro. No segundo tempo, depois de se abrigarem num armazém dentro do bar, o fight fica mais profissional, já que os poucos sobreviventes montam armas anti-vampiro. A partir de objetos que um dia foram cargas dos caminhoneiros que viraram comida de morcego, foram montadas armas que iam de uma espécie de arco-e-flecha atirador de estacas até uma espingarda de água benta.

Depois de muito sangue – e de tudo mais que circular em corpo de morto-vivo -, vencem aqueles para os quais a luz solar, que, ao amanhecer, atravessa buracos na parede do bar, não é letal. É um final bem tosco para um filme tão curioso, mas ainda vale a pena assisti-lo para conferir toda a ironia tarantinesca em cada fala dos irmãos Gecko somada ao melhor que o lado B tem para oferecer, o que inclui ex-pastores atirando em vampiros utilizando uma escopeta que, junto de um bastão, forma uma cruz, e personagens de nomes como “Sex Machine”, donos de pistolas localizadas na virilha que simulam um pênis.

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