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USP Talks – Transtorno do Espectro Autista: utilização de minicérebros avança estudos

No dia 29 de outubro, o Masp abriu espaço para o USP Talks, cuja proposta é aproximar as pesquisas acadêmicas da comunidade através de palestras de 15 minutos comandadas por especialistas em diversas áreas. Dessa vez, a pauta escolhida foi o autismo ou o transtorno do espectro autista, patologia presente no consciente coletivo popularmente representada …

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No dia 29 de outubro, o Masp abriu espaço para o USP Talks, cuja proposta é aproximar as pesquisas acadêmicas da comunidade através de palestras de 15 minutos comandadas por especialistas em diversas áreas. Dessa vez, a pauta escolhida foi o autismo ou o transtorno do espectro autista, patologia presente no consciente coletivo popularmente representada por figuras ilustres como Lionel Messi, Leonardo da Vinci, Albert Einstein, entre outros. Porém, portadores que apresentam alguma genialidade correspondem a menos de 1% do grupo.

Bióloga molecular Patrícia Beltrão Braga. Fonte: Agência Brasil

Primeiramente, Patrícia Beltrão Braga, professora de biologia molecular, subiu ao palco para trazer ao público os avanços na pesquisa sobre o autismo. A bióloga revela a baixa eficiência das pesquisas padrões em laboratório. Segundo ela, o estudo do sistema de indivíduos que apresentam o transtorno do espectro autista é dificultada pois os dois métodos de análise, experimento em cérebros pós-morte e de cobaias animais, possuem aspectos limitantes em pontos determinantes. Na primeira, a ausência de sinapses no tecido, transmissão de impulsos nervosos entre os neurônios; a segunda, as grandes diferenciações quanto aos genes, apesar da possibilidade da utilização de animais transgênicos (geneticamente modificados). 

Para contornar esse impasse, os pesquisadores precisaram “improvisar” a procura de alternativas para acessar o sistema nervoso vivo de indivíduos autistas. Iniciaram a produção do que Patrícia denominou de minicérebros. Para tal, recolheram células da polpa de dentes de leite pertencentes a indivíduos portadores do transtorno através de um projeto da USP chamado “fada do dente”, por causa da maior capacidade de diferenciação dessas estruturas. ‘’Costumamos dizer que a fada do dente existe e mora na USP”, afirma a professora orgulhosa. A partir disso, utilizaram a técnica de reprogramação gênica, ou seja, introduziram genes embrionários em células virais e infectaram o material recolhido para formar células pluripotentes, ou seja, que podem se tornar qualquer tecido. Desse modo, produziram os cérebros in vitro, fora do sistema biológico, ou mini cérebros a fim de aumentar a eficácia dos estudos.

Através desse processo os estudiosos observaram a ocorrência de menos sinapses e conexões entre os neurônios nessas massas cinzentas, fato que explica a dificuldade cognitiva desses indivíduos. Além disso, a partir da produção de astrócitos, tecido que ocupa a maior área no sistema nervoso, identificou-se células inflamatórias em excesso. Após haver o bloqueio dessas inflamações, observou-se melhora no funcionamento neural. Entusiasmada, Patrícia destaca a importância da descoberta para a busca de tratamentos mais eficazes e a procura de razões externas durante a gestação que influenciam na ocorrência do autismo.

 

Médica psiquiatra Rosa Magaly. Fonte: Tribuna do Norte

Logo após, foi a vez da médica psiquiatra Rosa Magaly, com toda a sua simpatia, abordar o assunto revelando informações importantes. Segundo ela, a área de estudo dedicada ao transtorno foi durante muito tempo negligenciada “fiz medicina e psiquiatria e demorou dez anos para eu ter minha primeira aula sobre autismo”. 

Rosa revela ao público que o CDC (centro de controle e prevenção de doenças), órgão responsável pelo controle de diagnóstico nos EUA, em 2018 revelou que 1 em 59 indivíduos apresenta o transtorno. Existe um consenso que, nos países desenvolvidos, 1,5% tem TEA independente de ser diagnosticado ou não. No Brasil, são dois milhões até agora diagnosticados. Apesar do aumento no número de diagnósticos, ainda há resistência por parte dos profissionais pois os sintomas são muito diversos e não há um tratamento definitivo, fato que dificulta o trabalho dos médicos, revela.

A psiquiatra aponta uma questão ao público, “como tratar algo cuja causa é desconhecida e cujos sintomas são diversos?”. Segundo ela, em um mundo ideal, haveria um perfil e um atendimento individualizado, mas infelizmente isso não existe. Há o tratamento de sintomas atípicos, de forma não medicamentosa, através de uma equipe multidisciplinar e que utiliza, principalmente, a análise do comportamento, método da área da psicologia cuja evolução dos pacientes é provada. Por último, a médica destaca que autismo não se cura, se trata.

Por fim, o evento abriu espaço para o debate. As especialistas responderam às perguntas do público por intermediação do jornalista Herton Escobar. Nessa fase, as pesquisadoras abordaram o tratamento através de remédios à base de canabidiol e a necessidade de mais pesquisas capazes de provar a eficácia do medicamento; as fake news que relatavam o vínculo das vacinas públicas ao autismo; a ausência de políticas públicas para tratar autistas adultos e idosos; além de apontar as diferenças entre timidez e autismo. 

Durante essa fase, as pesquisadoras foram interrompidas por um ouvinte da plateia, segundo ele mesmo, portador do transtorno do espectro autista. Com o tom de voz exaltado, o jovem apresentou algumas críticas que foram, prontamente, mediadas por Herton. Ao final da palestra, o rapaz teve espaço para conversar com as especialistas sobre as suas críticas, entre as quais estava a ausência de indivíduos autistas no palco e de acessibilidade aos próprios indivíduos.

Sobre a primeira crítica, Herton respondeu “o espaço é reservado para que especialistas exponham os avanços de sua pesquisa, caso soubessem de algum pesquisador autista estudante do assunto, ele estaria presente”. Já sobre o segundo apontamento, Rosa Magaly admitiu faltar um espaço no auditório responsável por  tornar a palestra mais acessível justamente aos indivíduos mais afetados pelo assunto da palestra. A psiquiatra destacou “uma sala isolada que diminuísse os estímulos externos, ao mesmo tempo em que permitisse a visão do auditório, resolveria o problema”.

A indignação exposta destaca que o USP Talk está alcançando o seu objetivo, propondo o debate entre a universidade e a sociedade. 

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