Por Maria Eduarda Oliveira (marieduarda@usp.br)
Estreia nesta quinta-feira (10) Regras de Amor na Cidade Grande (대도시의 사랑법, 2024), a adaptação cinematográfica do romance homônimo escrito por Sang Young Park e, agora, dirigido por Lee Eon-hui. O elenco conta com a presença de grandes estrelas coreanas, como Kim Go Eun, conhecida por seu trabalho em Goblin – O Solitário e Grande Deus (2016-2016), e Steve Sang-hyun Noh, da aclamada série Pachinko (2022-presente).
A trama acompanha Jae-hee (Go Eun), uma jovem de espírito livre com comportamentos que fogem das normas sociais, e Heung-soon (Sang-hyun), que guarda um grande segredo – ser gay –, que acaba sendo descoberto por Jae-hee. Juntos, os dois desafiam o preconceito e criam um vínculo de amor nada convencional.

A cultura coreana tomou conta do mundo na última década. Desde a música até a culinária, o forte investimento desse pequeno país asiático em formato de tigre tem se mostrado um enorme acerto. Entretanto, em meio a tantos lançamentos e sucessos, a hegemonização desses produtos pode apagar a grandeza de histórias como as de Regras do Amor na Cidade Grande.
Os “doramas” se tornaram uma febre mundial, mas a própria nomeação não é exatamente correta, pois tem sua origem em uma expressão japonesa. Na verdade, a diversidade dentro do audiovisual coreano tem grande êxito, feito que se repete na produção de Lee Eon-hui.
Ainda que foque na amizade de Jae-hee e Heung-soon, o longa ganha mais carga dramática ao explorar as faces do preconceito em uma sociedade retrógrada que oprime a liberdade de cada um ser o que deseja. Na Coreia do Sul, por exemplo, o casamento LGBTQI+ não é legalizado, o que demonstra o atraso de uma nação que tem conquistado o mundo. Saber sobre esse contexto social faz com que quem assiste entenda melhor a angústia carregada por seus personagens.

Enquanto Heung-soon possui um enorme medo de mostrar quem é, Jae-hee abraça sua personalidade rebelde, criando um excelente contraponto dentro dessa relação que passa por diversos altos e baixos.
A química entre os protagonistas poderia facilmente convencer o público de que, assim como os seus personagens, os atores são amigos íntimos há anos. Em tela, os dois mostram porque fazem parte da elite da indústria cinematográfica coreana e entregam performances excepcionais, tanto em seus momentos juntos quanto nos que estão separados.
Em relação ao roteiro e à direção, a sutileza com que abordam dramas profundos torna a produção um bom exemplo de como se pode explorar a complexidade do cotidiano e das relações humanas, sem apelar para grandes reviravoltas. Apesar de contar com seu momento de clímax, o filme não se limita a esse aspecto.
O humor, carregado de um leve tom sarcástico, se destaca ao quebrar o clima triste das situações. Assim como na realidade, a história encontra uma maneira de sorrir entre as adversidades, trazendo leveza a elementos que poderiam tornar o longa desgastante emocionalmente. Dessa forma, a trama tem êxito ao tornar cada acontecimento tangível.

Outro recurso técnico que chama atenção ao conduzir a comédia romântica é a trilha sonora. As músicas pop embalam as alegres festas noturnas, enquanto os momentos melancólicos são acompanhados de sons que levam o telespectador a embarcar nos sentimentos dolorosos dos personagens. E, claro, como uma boa produção sul-coreana, a cena em um karaokê não poderia faltar.
O único problema no aspecto do roteiro é a eventual pressa, pois, mesmo com quase duas horas de duração, é difícil contar sobre tantos anos de relacionamento dentro do tempo limitado que o cinema convencional oferece. Felizmente, ainda que precise acelerar algumas narrativas em certa altura, a história não se perde no que deseja mostrar.
Regras do Amor na Cidade Grande tem êxito ao utilizar um enredo completamente mundano para debater sobre a amplitude do que é o amor. O cuidado da produção com a construção da obra transborda em um resultado positivo e faz do filme um grato lançamento.

O filme já está em cartaz nos cinemas brasileiros. Confira o trailer: