Jornalismo Júnior

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‘Who The F*** Are Arctic Monkeys?’: a explosão antes da calmaria

Banda inglesa de indie rock continua fazendo sucesso mesmo após 21 anos e drásticas mudanças de estilo

Em 2002, na cidade inglesa suburbana de Sheffield, Alex Turner, Matt Helders, Jamie Cook e Andy Nicholson se juntaram para formar a banda de indie rock responsável por sucessos como 505 (2007) e I Wanna Be Yours (2013): o Arctic Monkeys. Apesar de terem iniciado sua trajetória em 2002, os britânicos só passaram a integrar o cenário internacional quatro anos depois, com o lançamento de seu primeiro álbum de estúdio, Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006).

Com letras que os jovens da época se identificavam e um estilo musical intenso, rápido e hipnotizante, a banda não demorou a ganhar espaço na indústria mundial e segue até hoje com uma base de fãs sólida e crescente. Mesmo que grande parte dos admiradores mais recentes do grupo prefira os álbuns mais antigos, que periodicamente têm suas músicas viralizadas no Tiktok, os artistas não abrem mão de seu perfil de constante mudança. 

A cronologia dos álbuns da banda deixa explícita a transformação de estilo que se dá ao longo dos anos. Com músicas animadas e fortemente influenciadas pelo rock e seus subgêneros, a discografia do início de sua carreira foi responsável por conquistar seu público e por sua rápida ascensão. Lentamente, a banda fez a transição para seu estilo atual, com o lançamento de Tranquility Base Hotel & Casino (2018) e, mais recentemente, The Car (2022), que dividiu opiniões com suas influências de jazz e blues, indicando um conforto da parte dos artistas de lançar produções completamente novas em relação ao que já haviam feito, sem perder de vista características intrínsecas à banda, como o liricismo marcante e as notáveis linhas de baixo.

Apesar de manterem a essência da estética rocker, The Car é um álbum mais maduro. [Imagem: Reprodução/Facebook/Arctic Monkeys]

“Lady, where has your love gone?”

O grupo iniciou sua carreira ascendente não com um álbum, mas com um Extended Play (EP), Five Minutes with Arctic Monkeys (2005). O EP conta com regravações de dois de seus singles mais famosos na época, que mais tarde foram incorporados em seu primeiro álbum de estúdio, Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006). 

Outro mini-álbum, chamado Who The F*** Are Arctic Monkeys (2006), foi divulgado após o grande sucesso do álbum de lançamento. Com todas as faixas escritas e compostas pelo vocalista e guitarrista Alex Turner, o EP apresenta quatro músicas inéditas, além de uma regravação da música, The View From the Afternoon, que abre seu disco de estreia. Ambos os EPs seguem o perfil inicial da banda, com faixas animadas e intensas, letras joviais e influências claras do rock.

“Got too deep, but how deep is too deep?”

O primeiro álbum de estúdio da banda e também o que levou à sua explosão de sucesso, Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006) pode ser considerado um álbum conceitual, uma vez que todas as faixas tratam de algum aspecto da vida noturna da juventude britânica. O álbum possui influências de indie rock, garage rock, post-punk revival, punk rock, rock alternativo, e post-Britpop.

Criticamente aclamado no mundo todo, considera-se que o álbum foi crucial para o ressurgimento do indie rock britânico, o que lhe rendeu uma série de prêmios e emplacamentos em charts como os “100 Melhores Álbuns de Estreia de Todos os Tempos”, publicado em 2022 pela revista Rolling Stone. No dia de seu lançamento, o álbum vendeu pouco menos de 120 mil cópias, tornando-se a estreia que vendeu mais rápido na história da música britânica.

Todas as faixas narram acontecimentos de várias perspectivas dentro do contexto da vida de clubbers (frequentadores de baladas, em tradução livre) da Inglaterra. I Bet You Look Good on the Dancefloor, Still Take You Home e Dancing Shoes são cantadas a partir do ponto de vista dos próprios baladeiros, descrevendo a forma como se comportam na situação. From the Ritz to the Rubble trata dos seguranças de tais baladas, ao mesmo tempo em que When the Sun Goes Down mostra a realidade das prostitutas que ficavam perto das salas em que a banda praticava.

Turner conta que o título do álbum foi retirado do livro Saturday Night and Sunday Morning (W. H. Allen Ltd, 1958), de Alan Sillitoe. Traduzido livremente para  “O que quer que as pessoas digam de mim, é isso que eu não sou”, a frase é certeira em retratar a situação da banda no momento em que passou  a lidar com todo  tipo de comentários e boatos sobre os quais não tinha nenhum controle, vindos do sucesso mundial. Além disso, o próprio título do livro se relaciona com o álbum, que tem a maioria de suas músicas se passando no intervalo de sábado à noite para domingo de manhã — a tradução livre de Saturday Night and Sunday Morning.

“I’m going back to 505”

O lançamento de Favourite Worst Nightmare (2007), o segundo álbum de estúdio do Arctic Monkeys, ficou marcado por ser mais ambicioso que o anterior e por mostrar o amadurecimento das composições de Turner, segundo críticos. O álbum também foi a estreia do atual baixista, Nick O’Malley, após a saída de Nicholson da banda.

Quando comparado com o primeiro álbum do grupo, Favourite Worst Nightmare é mais rápido e caótico, descrito até como “mais malvado”. Suas letras refletem o crescimento da banda, remetendo a histórias de viagens e experiências não locais,  que divergem da temática do álbum de estreia.

A música 505, uma das mais conhecidas da banda, trata dessa internacionalidade. A letra aborda a viagem que o eu lírico faria para reencontrar uma garota em um quarto de motel, deixando evidente o caráter instável de sua permanência em um só lugar, exemplificado no verso I’m going back to 505 / If it’s a seven hour flight / Or a forty-five minute drive (Estou voltando para o 505 / Mesmo que seja um voo de sete horas / Ou 45 minutos dirigindo, em tradução livre). A faixa ainda tem traços de filmes antigos, uma das principais influências do álbum. A introdução é um solo de órgão, replicado da trilha sonora do longa Três Homens em Conflito (The Good, the Bad and the Ugly, 1966).

O álbum também conta com os singles Brianstorm e Fluorescent Adolescent, ambos emplacadores de posições no ranking de “10 melhores músicas do Reino Unido” de 2007. Além disso, todas as 12 faixas do álbum entraram no chart de “200 melhores músicas do Reino Unido” no mesmo ano.

“Outside the cafe by the cracker factory”

Humbug (2009), o terceiro álbum da banda, foi, curiosamente, lançado primeiro no Japão, no dia 19 de agosto de 2009, seguido de Irlanda, Brasil, Alemanha e Austrália no dia 21. Seu lançamento oficial no país natal dos artistas foi feito apenas no dia 24, cinco dias depois, e de forma impactante: no festival de Reading e Leeds.

Musicalmente, as faixas começam a se diferenciar das anteriores pelo uso de xilofones, sinos e chocalhos, além de ser um álbum mais lento e com vocais mais comedidos. Ao contrário dos outros álbuns, Humbug tem mais influências do rock psicodélico, hard rock, stoner rock e desert rock, incorporando efeitos de guitarra característicos dos estilos nos solos, além de a banda ter ido ao deserto para gravar o álbum, no estúdio Rancho de La Luna, em Joshua Tree, Califórnia.

O álbum é carinhosamente lembrado pelos fãs, que brincam que o videoclipe de Crying Lightning ficou com todo o orçamento do álbum, deixando Cornerstone com apenas “Alex Turner, um radinho e um sonho”.

“She’s thunderstorms”

Considerado pelos críticos o mais romântico da discografia do grupo — e também o menos vendido —, Suck It and See (2011) foi escrito e gravado em Nova York, durante o relacionamento de Alex Turner com a modelo britânica Alexa Chung. O álbum marca uma transição visível da banda para estilos mais serenos, com influências do indie pop e pop psicodélico, além de referências a discos e filmes de faroeste norte-americanos, como Butch Cassidy (Butch Cassidy and The Sundance Kid, 1969), na faixa Black Treacle. O álbum também é repleto de coloquialismos e gírias britânicas, que muitas vezes passam despercebidas para ouvintes de outras nacionalidades, e até mesmo fizeram com que o álbum fosse censurado nos EUA: o título Suck It and See pode ser traduzido livremente para “chupe e veja”, o que foi considerado indecente no país, mas, para os britânicos, é apenas um modo de dizer “experimente e veja o que acontece”.

Alex Turner esquece carta para Alexa Chung ao sair às pressas de um bar, e mesmo doze anos depois é tida como uma grande declaração de amor. Tradução aqui. [Imagem: Reprodução/Tumblr/alexa-alex]

Apesar das letras românticas de She’s Thunderstorms e Love is a Laserquest, o sentimentalismo não se traduz tão claramente nas melodias, que seguem espalhafatosas e repletas de linhas intensas de bateria e guitarra. O álbum é também uma prova de que o grupo é capaz de se divertir enquanto trabalham: com fortes influências do estilo de rock americano e piadas internas por todas as faixas, a produção é uma sátira sobre o que o Arctic Monkeys seria caso fosse uma banda de rock estadunidense. 

“I want to be you vacuum cleaner”

Se Suck It and See foi um álbum inspirado pelo sucesso do relacionamento de Turner e Chung, AM (2013) é um tributo ao término e uma expressão de frustração do vocalista. O álbum mantém suas inspirações no rock psicodélico e hard rock, ao mesmo tempo em que empresta características do R&B e soul, com a inclusão de instrumentos inéditos como o piano e o órgão, tocados pelo próprio vocalista.

Até hoje, é o álbum mais bem sucedido da banda, e grande parte de suas faixas mais famosas pertencem a ele, como Do I Wanna Know?, R U Mine? e Why’d You Only Call Me When You’re High. O álbum é considerado uma conciliação entre os estilos anteriores da banda, misturando o caos de Humbug ao pop recém incorporado em Suck It and See.

Arctic Monkeys – Why’d You Only Call Me When You’re High? (Official Video)

Uma das músicas mais conhecidas do álbum e também da banda, I Wanna Be Yours, é, na verdade, um poema de John Cooper Clarke de 1982, que recebeu novos versos na adaptação de Turner.

“Let me be your vacuum cleaner


Breathing in your dust


Let me be your Ford Cortina


I will never rust”


Poema original por John Cooper Clarke

“The World’s First Ever Monster Truck Front Flip”

Após um hiato de 5 anos, Arctic Monkeys retornou focado em entregar um conceito de ficção científica e reflexões acerca do comportamento humano com Tranquility Base Hotel & Casino (2018). O disco se aproveita de influências do lounge pop, soul e rock progressivo para dar vida à ideia de um resort de luxo na lua a partir da perspectiva de vários personagens.

Ainda que desvie um pouco do estilo habitual da banda, o álbum conceitual não é algo completamente inesperado do grupo, e serviu de preparação para a real ruptura: The Car, o álbum posterior.

A ideia de fazer uma produção conceitual com um tema menos subjetivo e mais ficcional surgiu após um bloqueio criativo do vocalista que, com o sucesso mundial de AM, não conseguiu mais escrever músicas de amor. O álbum tem participações especiais de diversos artistas, como James Righton, Tom Rowley e Josephine Stephenson, algo que não acontecia tão frequentemente nas produções anteriores.

“Don’t get emotional”

Explorando mais a fundo diferentes gêneros musicais introduzidos em Tranquility Base Hotel & Casino, The Car (2022) parece ser o passo final e inevitável da banda rumo ao amadurecimento musical. Influenciadas pelo art rock, rock sinfônico, bossa nova, jazz, soul e pop barroco, as faixas de The Car revelam um distanciamento dos artistas — em especial de Turner — de suas eras anteriores, relembrando-as com nostalgia e irreverência, quase como uma despedida.

A faixa Big Ideas deixa o saudosismo nítido, assumindo um tom quase autobiográfico, em que Alex Turner expressa sua incapacidade de retornar às origens musicais da banda. Na letra, o vocalista se mostra reflexivo e lamenta não se lembrar de como voltar ao que foram, ainda que tenha sido emocionante. Turner conta que, em 2020, se isolou em sua casa em Los Angeles com o intento de compor de forma mais similar a álbuns anteriores, com riffs intensos de guitarra e melodias mais caóticas, mas “a música simplesmente não queria ir para lá”.

“It’s been a thrill.”
Arctic Monkeys em Big Ideas

Por outro lado, o álbum deixa nítida a independência musical da banda e seu conforto em produzir o que realmente querem, sem preocupação com o que o público espera. The Car marca os 20 anos da banda.

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