Por Lorenzo Souza (lorenzosouza@usp.br)
O primeiro dia do 9º Festival Piauí de Jornalismo contou com a presença de Kourtney Bitterly, executiva do YouTube que atua como Líder Global de Parcerias de Notícias da empresa. A mesa — que também contou com Clara Becker, do Redes Cordiais, e Guilherme Amado, do Amado Mundo — abordou a atuação do YouTube como gigante da tecnologia, suas políticas de segurança e as formas de divulgação do jornalismo audiovisual.
Hoje, com a quase impossível separação da vida humana das redes sociais, mídias de impacto mundial – como o YouTube – geram grande alcance para todas as produções veiculadas. Por isso, a empresa incentiva grandes esforços para que seus usuários utilizem seus canais de forma responsável.
Para Bitterly, esse é o “coração” do trabalho que envolve tanto ela quanto outras equipes. “Fizemos coisas como criar experiências supervisionadas, evoluir continuamente nosso produto e trabalhar bem perto dos ecossistemas que apoiamos. Seja com pessoas da educação ou veículos de mídia, é ter certeza que as pessoas estão acessando informação de alta qualidade de maneira responsável”, comentou.

Jornalistas e influenciadores
Uma das discussões principais foi a relação entre jornalistas e influenciadores. Como abordado por Clara e Guilherme durante as perguntas, cada vez mais empresas têm investido em influenciadores para a cobertura de eventos específicos – como as Olimpíadas –, com o intuito de resgatar uma audiência que não tem sido abraçada pela mídia tradicional.
Bitterly apontou que essa mudança recente no comportamento dos consumidores está relacionada com a confiança. “Às vezes é muito difícil entender o que é uma marca, quais são seus valores. Acredito que o que estejamos vendo é que as pessoas procuram por informações vindas de pessoas que elas confiam. E essas podem ser influenciadoras ou até jornalistas”.
Como exemplo, a executiva citou Johnny Harris, jornalista americano que já trabalhou para a Vox e lançou seu próprio canal de notícias no YouTube. De acordo com ela, Harris começou a falar mais de si como forma de construir a confiança necessária que os usuários devem ter nele ao reportar tópicos pesados e complexos. “É uma mudança. Quando eu era jornalista, nós nunca dizíamos ‘eu’, nós nunca nos colocamos nas histórias”, explicou.
Bitterly também citou o caso do The New York Times (NYT) com o jornalista Ezra Klein. A informação passada por um único indivíduo — neste caso, Klein— se tornou tão popular que o seu canal é separado da versão oficial do NYT no YouTube. Para ela, casos como esse são de enorme potencial para jornalistas individuais e veículos de mídia.
Ascensão dos podcasts
Um dos produtos jornalísticos mais consumidos através do YouTube — com 41% da fatia de mercado, de acordo com a executiva — é o podcast. Apesar do Spotify ser seu maior concorrente (com 26% da fatia), Bitterly destacou que o YouTube tem algumas características que garantem o crescimento desse produto na rede. Dentre eles, estão a possibilidade de descoberta, de compartilhamento e o crescimento das televisões conectadas.
De acordo com a executiva, mais de um terço da audiência americana descobriu novos podcasts através do YouTube. “Seja porque podcasts estão fazendo clipes para o shorts, ou pela mania de compartilhar links da rede, definitivamente há um poder nisso”, explica. “A plataforma de consumo número um dos Estados Unidos é a televisão. E quando estamos vendo podcasts em vídeo, isso também levou a um aumento”.
Bitterly explica que o ponto de vista do YouTube é ser uma plataforma aberta. “Vamos receber o conteúdo de qualquer um e continuar a investir em ferramentas para criadores que os façam querer vir para nossa plataforma, e investir em experiências de usuários que façam com que usuários queiram assistir”.
Eleições e governo
Com a parceria entre veículos de mídia e o YouTube, momentos complexos como eleições tendem a se tornar focos de maior atenção para as redes sociais. Ao discutir o assunto, a executiva comentou sobre o impacto das eleições de 2024 e as preparações para 2026, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
O ano de 2024 foi excepcional para a política mundial e para o YouTube. De acordo com Bitterly, naquele ano, mais de 50% da população mundial foi às urnas para eleger um político. Do conglomerado de informações de diferentes países e línguas que surgem na rede, o objetivo central do YouTube foi garantir que os eleitores tivessem acesso à informação. Uma das formas de cumprir esse objetivo que a rede promove foram os “painéis de informação”.
De acordo com a executiva, esses painéis reúnem informações que as pessoas estão procurando como onde votar, como votar, como se registrar para votar. “Em alguns dos momentos-chaves, queremos ter a certeza que as pessoas têm acesso a isso. Em noite de debates, por exemplo, colocamos essas produções no início e no centro da homepage”.

A relação da empresa de tecnologia com o governo americano também foi palco de discussões. A executiva explicou que o YouTube procura e tem um histórico de relações produtivas com o governo. Para ela, o foco é “trabalhar de perto com os veículos de mídia e jornalistas. É menos sobre nossa relação com Donald Trump e mais sobre trabalhar de perto com esses indivíduos que estão promovendo uma cobertura essencial do que acontece no país”, explica.
[Imagem de capa: Luana Riva/Jornalismo Júnior]
