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A formação da arte brasileira a partir da miscigenação cultural

A construção das características regionais foi marcada pela interculturalidade sofrida pelo país Por Carolina Shimoda (carol.shimodab@gmail.com) A diferenciação da arte entre as regiões de um país parte de vários fatores, mas, principalmente, das referências culturais que tal lugar recebe. Segundo Robson Santiago, professor de História pela FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da …

A formação da arte brasileira a partir da miscigenação cultural Leia mais »

A construção das características regionais foi marcada pela interculturalidade sofrida pelo país

Por Carolina Shimoda (carol.shimodab@gmail.com)

A diferenciação da arte entre as regiões de um país parte de vários fatores, mas, principalmente, das referências culturais que tal lugar recebe. Segundo Robson Santiago, professor de História pela FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP), tendo-se como pressuposto que a arte é a forma como o artista expressa sua ideia, “ele parte de referências pessoais que o identificam como pertencente a um grupo específico dentro de uma cultura específica”.

Dança dos mascarados
A arte identifica seus praticantes como pertencentes de um grupo. Foto: Fotos da Terra

Influência do colonizador

No caso do Brasil, o processo colonizador foi o que iniciou a mistura de referências na arte regional que existe atualmente. Durante esse período, a preocupação era de tirar o máximo de riquezas que fosse possível das terras brasileiras. Caso houvesse elementos de resistência (e a cultura local é um deles), eles seriam domados, ou até destruídos. Dessa forma, para Santiago, “a imposição cultural está ligada diretamente à hegemonia ou ao imperialismo de uma nação mais poderosa economicamente sobre outras mais frágeis”. Como ele mesmo ressalta, a cultura europeia veio como dominante e sua base cristã católica impôs costumes e comportamentos tanto aos indígenas que já estavam aqui, quanto aos africanos que vieram para serem usados como mão de obra escrava.

Literatura de cordel
A literatura de cordel remonta aos trovadores medievais. Foto: G1

A marca colonial na região Nordeste é vista de forma acentuada na literatura, principalmente na literatura de cordel, que tem origem na Idade Média europeia e veio para o Brasil com a chegada dos portugueses. Ela possui um referencial regional e tem muita aceitação do público para o qual é voltada, mesmo sendo apreciada por outras partes do país. O professor destaca que a interpretação é diferenciada quando as pessoas identificam-se com o universo retratado. Somadas a essa literatura de cordel, estão diversas manifestações artísticas de caráter popular, como os repentes, cuja origem remonta aos trovadores medievais.

Na região Norte, a figura do europeu colonizador deixou sua marca na primeira expressão de teatro popular brasileiro: o “boi-bumbá”, uma das variações do “bumba meu boi”. Essa forma de distração popular foi introduzida pelo europeu e permanece como tradição até os dias de hoje. Divulgando essa forma de manifestação cultural, o Festival de Parintins tem três noites de apresentação, nas quais são abordados rituais indígenas, costumes ribeirinhos, lendas e outros aspectos regionais.

Bumba-meu-boi
Representação do Bumba-meu-boi no Festival de Parintins. Foto: divulgação

Além de trazerem danças da Europa, esses colonizadores ainda contribuíram culturalmente enquanto modificavam e adaptavam as danças originalmente indígenas (primeiros habitantes da região). Um exemplo disso é a Dança dos Mascarados, vinda de costumes dos índios e enriquecida por espanhóis e portugueses na região Centro-Oeste. Os europeus, em sua maioria portugueses, ainda mantém sua presença viva em eventos culturais como a Carvalhada, na porção central do Brasil. Ela é uma apresentação teatral ao ar livre, em que homens montados a cavalo representam uma luta medieval entre mouros e cristãos.

A figura do negro africano

Marcada pela forte influência indígena e africana, a dança nordestina conta com muitos ritmos que misturam aspectos dos dois povos, como o ritmo “coco”. O frevo, comum nos estados do Pernambuco e Paraíba, caracteriza-se pelos passos que lembram a capoeira. E, além desses dois ritmos, o samba teria surgido ainda de um ritmo africano (“semba”) e de referências de diversos outros ritmos tribais da África.

A África também deixou seu legado na representações artísticas da região Norte. O carimbó, muito marcante no estado do Pará,  é um estilo musical que simboliza a criatividade artística desse povo. Inicialmente criado pelos índios, foi aperfeiçoado com a chegada dos escravos, e hoje chega a representar um batuque africano. Esse ritmo chegou a contagiar até mesmo os colonizadores portugueses, que eram a favor dessa manifestação cultural e até mesmo participavam da dança, misturando aspectos europeus a ela, como o castanholar dos dedos vindo das danças folclóricas lusitanas.

Carimbó
O carimbó, de origem indígena, hoje chega a simular um batuque africano. Foto: Helder Torres

A aprovação dos senhores de terras perante as manifestações artísticas trazidas pelos escravos também pode ser observada com a Marujada. Agradecendo seus benfeitores por terem permitindo a organização de uma festa em louvor a São Benedito, os negros começaram a dançar de casa em casa, dando origem a esse ritmo.

A figura nativa na cultura regional

Apesar da grande dominação do colonizador, alguns aspectos da cultura nativa ainda permanecem vivos no folclore brasileiro.

A forte presença da figura indígena na região Norte mostra suas formas de expressão, principalmente através de pinturas no corpo e acessórios usados durante suas celebrações. Grande parte da matéria-prima do artesanato dessa região vem da natureza local, prática que veio também dos índios, os quais produzem enfeites para o corpo e utensílios domésticos com elementos naturais.

Esse tipo de atividade ultrapassa as fronteiras regionais e é fonte de renda de milhares de habitantes, revelando uma variedade imensa devido às diferentes tradições presentes nos estados. Há  produtos feitos de argila ou de madeiras e fibras típicas da região, redes tecidas, além de artefatos feitos para os turistas, como as garrafas com imagens feitas em areia colorida.

Artesanato da região Norte
A origem do artesanato da região Norte é em grande parte indígena. Foto: divulgação

A origem da prática é basicamente a mesma: indígena. Entretanto, o que diferencia essa atividade nas regiões é a matéria-prima utilizada. Normalmente retirada da natureza, ela varia de acordo com o tipo da vegetação de cada lugar.

Movimentos migratórios e as várias formas de miscigenação

Com a chegada dos imigrantes (italianos, alemães e asiáticos, sobretudo), acrescentaram-se ainda mais aspectos diferentes à cultura brasileira. Alguns desses grupos mantiveram as tradições de suas regiões de origem, evitando interferências culturais externas, o que os diferenciou do local onde se encontravam. Isso também aconteceu com as migrações internas. Já que a cultura é algo vivo, ela vai se transformando e se recriando com todas essas transmissões de tradições e costumes.

A região Centro-Oeste recebeu diversas contribuições culturais de indígenas, europeus, fazendeiros mineiros e paulistas, bandeirantes, gaúchos, bolivianos e paraguaios, além dos migrantes que foram à região com a criação de Brasília. Um reflexo dessa miscigenação é a dificuldade de identificar a origem de certos aspectos culturais. O cururu é uma manifestação cultural marcante no estado do Mato Grosso na qual os únicos participantes são os homens, que saem homenageando santos padroeiros de cidades do interior do estado. É uma dança que, segundo alguns historiadores, veio dos indígenas. Outros, porém, afirmam que ela foi trazida pelos bandeirantes paulistas. Há, ainda, quem diga que ela é uma mistura geral de misticismo indígena, religiosidade jesuíta e ritmos africanos.

A música da região é bem representada pela música caipira (sucessos mais antigos), modas de viola do interior, além das duplas sertanejas, vindas principalmente do estado de Goiás e que fazem sucesso no país inteiro. O forró também é forte devido à grande quantidade de nordestinos que vivem ali. Nas regiões metropolitanas, há influências diversas, do rock ao tecnobrega.

Blumenau
Blumenau (SC) possui forte arquitetura europeia. Foto: divulgação

A região Sul teve sua formação cultural mais influênciada por imigrantes europeus do que por índios ou africanos. As colônias de alemães, italianos, poloneses e ucranianos, por exemplo, enriqueceu as tradições e expressões culturais da região. Além das danças fortemente marcadas por características europeias, a arquitetura sulista é outra parte da arte dessa região bastante influenciada por imigrantes. Em Santa Catarina, por exemplo, há uma grande quantidade de casas que ainda mantêm a arquitetura tipicamente europeia.

Talvez a região mais diversificada do país, o Sudeste recebeu e continua recebendo influências constantes de povos nativos, povos que passaram e se fixaram, povos que apenas passaram ou que ainda passam pela região. Recebeu cortes europeias, imigrantes (europeus, asiáticos, africanos, americanos), migrantes de todas as outras regiões do país e ainda tem a presença do indígena nascido nela.

4 comentários em “A formação da arte brasileira a partir da miscigenação cultural”

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