Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

A formação e a carreira dos homens do apito: entrevista com Wilson Luiz Seneme

Por João Victor Escovar Não é fácil ser árbitro de futebol no Brasil. As pressões por um bom desempenho, a falta de condições ideais para isso e a o constante olhar negativo lançado acompanham os que escolhem essa função. No entanto, a paixão em ser parte constituinte do futebol é fator decisivo para que cada vez …

A formação e a carreira dos homens do apito: entrevista com Wilson Luiz Seneme Leia mais »

Por João Victor Escovar

Não é fácil ser árbitro de futebol no Brasil. As pressões por um bom desempenho, a falta de condições ideais para isso e a o constante olhar negativo lançado acompanham os que escolhem essa função. No entanto, a paixão em ser parte constituinte do futebol é fator decisivo para que cada vez mais jovens se interessem em apitar profissionalmente. Para tratar do tema, o Arquibancada entrevistou o ex-árbitro paulista Wilson Luiz Seneme, que figurou no quadro da FIFA de 2006 a 2014. Formado pela escola de árbitros Flávio Iazetti, da Federação Paulista de Futebol, Seneme hoje trabalha na formação de novos árbitros, acumulando os cargos de coordenador de instrução da CBF, membro da comissão de arbitragem da CONMEBOL e instrutor da FIFA. Confira:

Seneme se aposentou em 2015 (Imagem: O Estado de S. Paulo)
Seneme se aposentou em 2015 (Imagem: O Estado de S. Paulo)

Arquibancada: Quando lhe ocorreu o desejo de ser árbitro? Por que acredita que isso aconteceu?

Seneme: Sempre fui um apaixonado por futebol. Essa paixão que se acendeu quando criança me acompanhou ao longo da vida. Fui jogador de futebol, começando nas categorias de base, com 15 anos, e cheguei até o profissional em times do interior paulista. Tenho inclusive uma convocação para a seleção brasileira sub-17. Porém, percebi que seria muito difícil tornar-me um jogador de ponta, e realmente são muito poucos os jogadores que ganham bem no Brasil. Nesse momento, enquanto me formava em Educação Física, recebi convites para apitar alguns jogos e então ingressei aos poucos nesse mundo até desejar participar do futebol profissional. Além disso, meu pai foi árbitro no futebol amador. Mesmo nunca tendo me dado conta disso, acho que inconscientemente herdei a vontade e o talento dele.

A: Qual o procedimento para se tornar um árbitro de futebol profissional?

S: No caso da Federação Paulista, deve-se contatar a escola de árbitros, que é no prédio da entidade, e passar por uma seletiva de conhecimentos prévios, além de ter no mínimo 16 anos. Após receber o diploma, o árbitro começa apitando jogos de categorias de base e de menor importância. Se seu desempenho for bom, ele vai subindo o nível dos jogos que apita. Como todo atleta, ele deve buscar a constante evolução para estar nos grandes jogos e campeonatos.

A: Existem muitas pessoas interessadas em participar da arbitragem?

S: Sim, existe um interesse muito grande na carreira de árbitro, visto que só em SP contamos com mais de 600 federados. Por outro lado, há uma mudança no perfil dos que procuram a função, como muitos jovens e mulheres. Isso pode renovar a arbitragem, mas é difícil conscientizar os jovens de que o árbitro deve aparecer o mínimo possível, manter o jogo estável. Eles querem mostrar serviço.

A: O senhor obteve sucesso na sua carreira, pois chegou à FIFA e inclusive foi cotado para apitar em uma Copa do Mundo. Há muitas dificuldades para conseguir esse êxito? Ele esbarra na questão da profissionalização?

S: Dificuldades existem, como em qualquer carreira. O Brasil, por exemplo, tem direito a 10 vagas no quadro da FIFA.  Apesar disso, é possível crescer na profissão, desde que se tenha uma outra paralela, pois é muito difícil sobreviver de arbitragem apenas. A carreira não é profissionalizada, as remunerações são por partidas e não há estabilidade quanto às oportunidades de exercer a função. Além disso, não se tem registro de carteira ou direitos trabalhistas. Portanto, é muito arriscado largar o emprego ou a faculdade apenas para ser árbitro. No meu caso, eu era professor de Educação Física. Conforme eu ascendi na arbitragem, ela começou a me exigir muito mais tempo disponível, visto que eu tinha de fazer viagens longas. Dei prioridade, arrisquei, e deu certo, mas nem sempre isso acontece, e então as pessoas retornam às suas profissões. Hoje existe apenas a regulamentação da profissão, mas na prática não muda em nada o que era antigamente: uma prestação de serviço. Nossa luta é para que haja ao menos um grupo de árbitros profissionais no Brasil, atletas que treinem como os jogadores. É preciso dar mais atenção à arbitragem. No começo dos campeonatos, ela é sempre ignorada, mas conforme os erros ocorrem, querem nos cobrar.

A: O árbitro rotineiramente aparece de forma negativa na mídia e na concepção dos torcedores. Isso atrapalha no desempenho de sua função?

S: Atrapalha muito, mas não efetivamente dentro do jogo. O maior problema é a cultura estabelecida, de que o árbitro não é um ser humano, mas sim uma máquina que não pode errar, sentir, se lesionar, etc. Aquele que apita deve ser visto com o mesmo respeito que aqueles que jogam. O árbitro deve ser um atleta que treina todos os dias e se dedica, para conseguir seu objetivo no jogo, que é conduzi-lo bem e não interferir no resultado. Cada vez mais o futebol evolui: estádios, equipamentos, tática, preparação física. O árbitro deve acompanhar essa evolução. Quando o atacante perde o gol, ele não é crucificado como o árbitro que erra, prejudicando um time. A quebra desse paradigma e a mudança de visão no mundo do futebol são algo interessante para o futuro.

A: Tem sido cogitado o uso da tecnologia, como o vídeo, para o auxílio da arbitragem. Qual sua opinião sobre o tema?

S: Acredito que tudo que venha para legitimar situações é bem-vindo. No entanto, antes disso o árbitro deve ter boas condições de trabalho e treinar diariamente, com simulações e preparação física, pois a repetição reduz o erro. Assim, ele irá bem e o vídeo será usado apenas em situações especiais, de maneira que o juiz não se torne um fantoche.

A: Existe algum tipo de influência externa, no trabalho do árbitro, por exemplo, em grandes “caldeirões”?

S: Não posso falar por todos os árbitros, pois não somos robôs, mas sim seres humanos, e cada um reage de uma maneira. Pessoalmente, isso nunca me influenciou muito, aliás, meu nível de concentração subia em grandes decisões com a presença de grandes torcidas. Há pressões muito maiores, como as inúmeras câmeras que flagram todo erro e o volume exorbitante de dinheiro que os clubes de futebol investem.

A: Árbitro tem time?

S: Claro que sim. O árbitro é uma pessoa que adora futebol e está inserido nesse mundo, não é uma figura alheia. Eu, por exemplo, estou desde os cinco anos com uma bola no pé e tenho meu time.O fato de eu torcer não influencia nas minhas decisões, já que meu interesse pessoal e profissional é maior do que o time: ali está meu ganha-pão. O mesmo ocorre com o jogador que atua contra um ex-clube no qual é ídolo: por ser profissional, ele defende o clube atual, sem sentimentalismos. O nível de consciência do árbitro com relação a seu papel é tão grande que ele separa as duas coisas. São muitos paradigmas a serem quebrados. É preciso uma mudança na cultura de como se vê o árbitro do século XXI.

O curso da Escola de Arbitragem Flávio Iazzetti tem duração de 18 meses. Após esse período, faz um estágio supervisionado nas categorias de base. As inscrições normalmente abrem ao fim do mês de junho. Para conferir o edital de seleção da truma 2015/2016, clique neste link:

http://www.fpf.org.br/arquivos/201506/1161840120.pdf

Endereço: Rua Federação Paulista de Futebol, 55 – Barra Funda – São Paulo/SP

CEP: 01141-040

Telefone: (11)2189-7000

E-mail: fpf@fpf.org.br

Site: www.fpf.org.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima