Criado no fim da década de 30 por Bill Finger e Bob Kane, o super-herói Batman teve sua primeira aparição na HQ Detective Comics #27. Desde então, vem se tornando um dos personagens mais populares da DC Comics, contando com diversas adaptações para a televisão e cinema.
Batman, O Homem Morcego (Batman, 1966)
O primeiro ator a assumir o personagem foi Adam West, que faleceu neste último sábado, dia 10 de junho, aos 88 anos de idade. O filme de 1966 foi lançado entre a primeira e segunda temporada da icônica série Batman (1966 – 1968) que também contava com o ator como protagonista. Batman, O Homem Morcego (Batman, 1966) apresenta tom paródico e não foi feito para ser levado a sério. A quantidade de piadas e “tiradas” feitas pelos personagens,o ataque do tubarão de borracha no início do filme e o próprio uniforme do Batman, que foi feito apenas com tecidos e com uma cartolina servindo para colocar o símbolo do homem morcego, são alguns dos vários aspectos que comprovam essa intenção. Além disso, a complexa psicologia de Bruce Wayne quase não aparece nessa versão, algo que torna a adaptação mais leve e divertida.
Junto com a série, o filme foi responsável pela maior popularização do personagem, que antes era mais conhecido entre os fãs de histórias em quadrinhos.
Tim Burton
Batman (1989) e Batman O Retorno (Batman Returns, 1992)
A escolha de Michael Keaton para o papel principal inicialmente foi motivo de polêmica. Por ser um ator de comédia e devido a seu porte físico ser menor do que o do personagem nos quadrinhos alguns fãs ficaram bastante irritados. Esse último detalhe foi resolvido facilmente: o novo uniforme do Batman era uma “armadura” de borracha que aumentava consideravelmente a estatura do ator. O uniforme não foi a única mudança que ocorreu, já que o tom desses filmes é muito diferente: suas cenas são mais sombrias e violentas (seguindo o sucesso do quadrinho The Dark Knight Returns de Frank Miller) e até mesmo um pouco fantasiosas, característica do diretor. Bruce Wayne tem mais destaque, o seu passado trágico e o trauma da perda dos pais é enfatizado e a personalidade de bilionário excêntrico também tem maior participação, apresentando, assim, maior desenvolvimento do personagem.
Entretanto, em ambas as produções os vilões apresentam maior destaque do que o super-herói. Em Batman (1989), por exemplo, boa parte do longa metragem é dedicada ao desenvolvimento do Coringa, para no final, haver o embate do personagem e Batman, chamado por Tim Burton de “duelo de loucos, uma luta entre pessoas perturbadas”, e apesar de o psicológico não ser o maior foco de sua adaptação, reforça a ideia de que ambos os personagens são bastante transtornados.
Joel Schumacher
Batman Eternamente (Batman Forever, 1995) e Batman e Robin (Batman & Robin,1997)
Com a recusa de Michael Keaton para voltar a interpretar Batman/Bruce Wayne ( ele não gostou do roteiro), Val Kilmer foi escolhido para viver o personagem no filme de 1995 e após problemas com a agenda do último ator e supostos desentendimentos com o diretor, George Clooney assumiu o posto de homem-morcego no filme de 1997, o ator inclusive se considera responsável pela “morte” da franquia de filmes do homem morcego por quase 10 anos. Ambos os filmes são leves e humorísticos, sendo que ninguém os leva a sério (talvez essa tenha sido a intenção): as piadas são péssimas, o uniforme possui “batmamilos”, que é motivo de piadas até hoje, e os vilões lembram bastante a série de 1966, ou seja, parecem que saíram de uma comédia pastelão.
Porém, há pontos bastante interessantes quanto ao desenvolvimento de Bruce Wayne. O primeiro é o fato de ele se identificar com Dick Grayson , o Robin, pois ambos perderam os pais de forma trágica e procuram justiça. O segundo é o seu relacionamento com o mordomo Alfred que até aqui não havia sido explorado. Em Batman e Robin (Batman & Robin, 1997), Alfred se encontra doente e vemos como Bruce Wayne o considera um pai, sendo que no final faz um acordo com Mr.Freeze para salvar a vida do homem que o criou.
Christopher Nolan
Batman Begin (2005); Batman: O Cavaleiro da Trevas (The Dark Knight, 2008) e Batman: O Cavaleiro da Trevas Ressurge (The Dark Knight Returns, 2012)
Christopher Nolan foi o que mais dedicou tempo ao desenvolvimento desse complexo personagem, que na trilogia foi interpretado por Christian Bale. No primeiro filme, Batman Begins (2005), é mostrada a origem do super-herói e é explicado o motivo da escolha do morcego para ser seu símbolo: Quando pequeno Bruce Wayne tinha medo de morcegos e escolher esse animal como símbolo foi um modo de enfrentar esse medo e de impor medo em seus adversários. Há também enorme foco nos transtornos e traumas do personagem e no fato de ele ter criado uma personalidade falsa para sua identidade secreta a fim de proteger o Batman, afinal ninguém suspeitaria que o egocêntrico playboy Bruce Wayne tivesse algo a ver com o cavaleiro das trevas de Gotham. Durante os três filmes é possível ver o desenvolvimento do personagem e aspectos não abordados em outros filmes: o modo como ele se importa com Gotham e como ele é capaz de desistir de tudo para proteger a cidade, os fatores que o motivaram a virar o Batman (morte dos pais, desejo por justiça, cidade dominada pelo crime) e seu longo treinamento com o vilão Ra’s Al Ghul.
Outra preocupação do diretor foi a de se basear nos quadrinhos, já que várias cenas dos filmes foram inspiradas pela HQs. Batman Begins (2005), por exemplo, foi praticamente inteiro baseado na Batman: Ano Um, de Frank Miller, enquanto Batman: o Cavaleiro da Trevas (The Dark Knight, 2008) foi bastante influenciado pela minissérie O Longo Dia das Bruxas, de Jeph Loeb e pela HQ A Piada Mortal, de Alan Moore, que também apresenta a ideia de enlouquecer um “homem bom”. Batman – O Cavaleiro da Trevas Ressurge (The Dark Knight Returns, 2012) foi inspirado na minissérie Batman O Cavaleiro das Trevas, também de Frank Miller. Ambos introduzem um Bruce Wayne mais velho que já deixou de ser Batman há anos.
Essa trilogia, diferente dos outros filmes lançados conta a história do homem morcego em um arco fechado, com começo, meio e fim.
Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice, 2016)
A escolha de Ben Affleck para interpretar o personagem foi alvo de polêmica e até hoje o ator recebe críticas. Essa nova versão do super-herói apresenta uma mudança no personagem em relação às outras adaptações cinematográficas, ele está mais velho e cansado e parece não ter nenhuma paciência com seus vilões, chegando a ser bastante agressivo e até mesmo a matá-los, o que também foi outro motivo para a polêmica envolvendo o filme. Mas essa característica do Batman já estava presente nas HQs de Frank Miller, que foram de grande influência para o filme dirigido por Zack Snyder. Além disso, o trauma da perda dos pais aparece de novo, porém dessa vez com um foco especial na mãe, Martha Wayne. Apesar do recurso pobre de roteiro, o modo como um simples nome afeta Bruce Wayne, após tantos anos do assassinato de seus pais, mostra como o personagem ainda sofre bastante com o trágico evento que moldou sua vida. Mais recentemente, Ben Affleck voltou a ser fonte de polêmica ao anunciar que não irá mais dirigir o filme solo do Batman para, assim, dar maior foco a sua interpretação do homem morcego. A direção do próximo filme solo do super-herói ficou, então, para Matt Reeves.
Filmes Animados
Desde 1968 são produzidas animações com o personagem. Porém foi apenas na década de 90 que o reinado das produções sobre o homem morcego começou, foram feitos ao menos 6 seriados e diversos filmes animados que tiveram enorme alcance com o público infantil e, assim, apresentaram o personagem para uma nova geração.
Nos últimos anos, foram para o cinema duas animações. Uma delas, A Piada Mortal (The Killing Joke, 2016), de classificação 18 anos, é uma adaptação da HQ de mesmo nome, uma das histórias mais emblemáticas do super-herói. A outra foi LEGO Batman: O Filme (The LEGO Batman Movie, 2017), claramente feita visando um público mais novo.
A única dúvida que fica é o porquê de esse personagem ser tão popular. O que o torna tão icônico? O que faz as pessoas se interessarem por uma história que já foi contada tantas vezes e de maneiras diferentes?
A resposta provavelmente reside no fato de o personagem ser humano em todos os sentidos. Ele não precisou vir de outro planeta ou ser picado por uma aranha radioativa para ser um super-herói. Bruce Wayne se transforma de um garotinho assustado que presenciou o assassinato dos pais em um combatente do crime. Ele não é perfeito, o personagem sofre com os traumas de infância e provavelmente possui transtornos psicológicos, algo que faz com que as pessoas se identifiquem ainda mais com ele.
Por Nathalia Giannetti
nathaliagiannetti@usp.br