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A pandemia para o vitorioso time de futsal down do Corinthians

Após uma crescente de vitórias, o primeiro time de futsal down do país enfrenta novos desafios para se reinventar durante o isolamento social

  *Imagem de capa: Jogadores do Corinthians abraçam o técnico na quadra [Reprodução/@jr.corinthians]

 

Com o intuito de integrar as pessoas com síndrome de downocorrência genética em que o indivíduo nasce com três cópias do cromossomo vinte e um –, em 2008, uma parceria entre a Associação Paradesportiva JR e o Sport Club Corinthians Paulista resultou no primeiro time de futsal down do Brasil: o JR Corinthians. Por meio dele, dezenas de jovens apresentam crescimento pessoal. O técnico do time, e da seleção brasileira, Cleiton Monteiro fala sobre desenvolvimento subjetivo dos atletas: “A melhor ferramenta para a educação de uma pessoa é o esporte, pois ele contém todas as diretrizes básicas da educação”.

A prática de exercícios é fundamental para a qualidade de vida do ser humano. Em razão disso, desde os primeiros anos de vida, as pessoas buscam formas de se movimentar, seja nas aulas de educação física no Ensino Básico, ou com atividades alternativas, como jogos em campos de futebol e em quadras públicas. 

Muito além dos benefícios à saúde, é por meio do esporte que diversas crianças e adolescentes iniciam relações sociais de cooperação e de respeito às regras de convivência. Por isso, essa atividade mostra-se como arma fundamental para efetivar uma ação que as pessoas com deficiência intelectual, historicamente excluídas, têm lutado: a inclusão.

Jogadores recebendo instruções na quadra.[Imagem: Reprodução/@jr.corinthians]


Mais do que uma equipe de futsal

O mais importante é que no JR Corinthias os jogadores aprendem a pensar como atletas, pois a rotina semanal de treinos e as competições nacionais exigem preparação física e mental. 

Para se construir o primeiro time de futsal de jogadores com trissomia do cromossomo 21, a equipe técnica teve que ser responsável por um papel além da criação de estratégias esportivas, visto que a maioria dos jovens não entendia a própria deficiência. “No primeiro momento foi difícil, pois muitos nunca tinham vivenciado aquilo que eu ia passar pra eles, muitos não sabiam nem que existiam outras pessoas com down”, afirma Cleiton. 

Além do autoconhecimento, foi na equipe que a maioria dos atletas começou a quebrar a dependência dos familiares para realizar atividades básicas, como relata o treinador: “Alguns tinham que entrar com pai no vestiário para se trocar, porque não se trocavam sozinhos com vergonha do companheiro, primeira coisa que eu percebi que teria que cortar, pois eles precisam ter a independência deles”. 

O trabalho da equipe técnica, agregado à confiança dos familiares e à força de vontade dos meninos, em poucos anos, acarretou grandes resultados ao mundo esportivo, com o desempenho apresentado pelo time do JR Corinthians como referência nacional. 

O alto rendimento em quadra é notável, a equipe passou 11 anos sem perder uma partida, sendo denominado como “o time que nunca perdeu”. Atualmente, com 13 anos de existência, o JR Corinthians  conta apenas com 2 derrotas.

Material de divulgação do time do Corinthians de Futsal Down, com três jogadores e a frase "O time que nunca perdeu"
O time que nunca perdeu. [Imagem: Instagram/jr.corinthians]
A performance quase perfeita do JR Corinthians possibilitou que a equipe fosse base do time nacional, em 2011, nos jogos Special Olympics, sagrando-se campeã mundial na Grécia. Em 2019, os jogadores do elenco foram também para a Seleção Brasileira de futsal Down no Mundial no Brasil, onde mais uma vez conquistou o título, dessa vez sobre a Argentina. 

O jogador Érico Eda relembra o sentimento de representar o país em jogos internacionais:  “Quando eu fui convocado para a seleção de futsal down, minha mãe ficou com muito orgulho de mim”.


Hora de se reinventar 

As constantes competições disputadas pelos jogadores do JR Corinthians tiveram que ser pausadas, por causa do isolamento social adotado como medida contra a pandemia do Covid-19. Com isso, surgiu a insegurança de que modo ficaria a situação dos atletas, acostumados a manter uma rotina com práticas esportistas. 

Exemplo disso é contado por Eliane Bortoletto, mãe do jogador André Bortoletto: “Meu filho treina desde os 9 anos e quando ele mudou de escola, o que facilitou o contato com os outros alunos foi que ele jogava o futebol muito bem”.                      

André correndo com a tocha Olímpica. [Eliane Bortoletto/Arquivo pessoal]
No entanto, esse primeiro choque causado pela quarentena foi logo convertido em novas ideias para prática de atividades físicas. O ala André, por exemplo, após algumas semanas sem poder ir à quadra, começou a treinar em casa, com o intuito de não perder o foco e o condicionamento físico. “Treino todo dia em casa com o meu pai, eu gosto muito”, relata o jogador.

Com a incerteza da pandemia, e a percepção de que ela se estenderia por mais tempo do que o imaginado, a equipe técnica também começou a buscar maneiras para manter o time ativo: “Achamos que era uma fase, mas depois vimos que não era e começamos a pensar que precisávamos fazer algo diferente, tivemos que nos reinventar, porque se eles ficam em casa e deixam de treinar isso acaba virando um problema”, afirma o treinador. 

Nos primeiros meses, o treinador propôs um “karaokê down” via Instagram, com o intuito de que os atletas estivessem em contato com os colegas da equipe de forma descontraída, bem como para não se sentirem sozinhos: “A gente se assustou, pois não podia mais realizar os treinos, alguns ficaram em começo de depressão, porque não entendiam o que era uma pandemia”, declara Cleiton. 

Ao notar o engajamento dos jovens, a equipe técnica iniciou reuniões online semanais, com propostas de treinos e atividades teóricas. Para manter o contato coletivo, o treinador propôs que compartilhassem vídeos e fotos dos treinos feitos em casa, para manter o espírito de competição e de união na equipe. 

Para Shisuka, mãe de Érico Eda, essa interação foi fundamental: “O Cleiton teve uma disposição muito grande para estar perto dos atletas, ele criou um grupo para montar planos de treinamentos e de estímulo, não só na parte do condicionamento físico, mas também para não perderem o pique e nem ficarem deprimidos.”                         

Érico Eda, jogador do Corinthians de Futsal Down, levantando a bola em um campo
Érico treinando em casa. [Érico Eda/Arquivo pessoal]
Após mais de um ano do isolamento social, os jogadores não desistiram de realizar as atividades online, pois perceberam que elas eram muito importantes para que eles continuassem exercitando o corpo. Sobre isso,  Érico aponta: “Dentro do Corinthians é diferente, pois eu e os jogadores ficamos concentrados para os jogos e a pandemia foi surpresa para a gente, mas eu estou treinando futebol em casa todo dia. Eu tive que ter muito foco”


Esperança do retorno

Com o avanço da vacinação no estado de São Paulo,  pessoas com síndrome de down já tiveram a primeira dose da vacina aplicada, por isso cresce o entusiasmo para o retorno dos treinos e jogos presenciais. 

Mesmo que as atividades virtuais tenham sido um sucesso entre os jovens, a saudade de estar fisicamente com o grupo é grande, uma vez que o convívio no time possibilitou a criação de laços e, principalmente, viabilizou o sentimento de pertencimento. “O Corinthians abriu as portas para a gente jogar, foi muito bom para os síndromes de down, eu fiz muitos amigos lá”, relata Érico.

Não somente os jogadores, mas também a equipe técnica e os familiares perceberam os benefícios advindos da convivência competitiva no JR Corinthians. Com relação a isso, Cleiton afirma: “A família começou a perceber a evolução, pois os meninos melhoraram no serviço, na escola e no tratamento dentro de casa, hoje eles chamam a responsabilidade”          

Érico Eda, jogador do Corinthians de Futsal Down, comemorando um gol
Érico correndo na quadra. [Érico Eda/Arquivo pessoal]
Enquanto a pandemia ainda não chega ao final, permanece o desejo e a esperança de Érico: “Logo tudo vai voltar ao normal, eu estou torcendo muito”.

2 comentários em “A pandemia para o vitorioso time de futsal down do Corinthians”

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