Jornalismo Júnior

logo da Jornalismo Júnior
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Feminismo pelas estantes

O feminismo está, há muito tempo, presente em diversas manifestações artísticas. Afinal, não se trata apenas de uma ideologia, mas de todo um modo de viver: uma vez que se enxerga a desigualdade, não é possível encarar mais nada da mesma forma. Para ilustrar isso, selecionamos quatro expoentes da literatura feminista – ainda que algumas …

Feminismo pelas estantes Leia mais »

O feminismo está, há muito tempo, presente em diversas manifestações artísticas. Afinal, não se trata apenas de uma ideologia, mas de todo um modo de viver: uma vez que se enxerga a desigualdade, não é possível encarar mais nada da mesma forma. Para ilustrar isso, selecionamos quatro expoentes da literatura feminista – ainda que algumas delas não se identifiquem como tal – que representam muito bem esses ideais. Os livros estão ordenados quase que de forma gradativa, para ilustrar como o feminismo se manifesta em diferentes idades e momentos da vida de uma mulher.

Mesmo que não tenha lido nenhum dos livros de Meg Cabot, é provável que você já tenha visto O Diário da Princesa, filme baseado na série de romances mais longa da autora. Mesmo com diversas passagens problemáticas – como a adaptação da aparência de Mia ao look de princesa, em que ela alisa os cabelos e deixa de usar óculos -, a série fez parte da formação de inúmeras meninas ao redor do mundo. Essa influência da autora sobre seu público feminino e pré-adolescente não pode ser ignorada em nossa lista, já que essa fase tem um peso considerável na personalidade de uma pessoa.

Montagem Meg2
Livros Meg Cabot. Foto: Reprodução.

Em seus livros, Meg Cabot tende a criar personagens femininas “fortes”. Uma das constantes em suas histórias é a personagem principal que não leva desaforos para casa e, muitas vezes, resolve seus problemas com violência. Em Desaparecidos, Jessica tem o dom de descobrir, em sonhos, onde estão pessoas desaparecidas. Além disso, ela é uma entusiasta de motos e constantemente entra em brigas na escola. Ao lerem suas aventuras, as leitoras são conduzidas à vontade de saber defender a si mesmas – uma grande diferença em relação ao ideal da menina passiva que geralmente se constrói nessa fase da vida.

Um possível problema desse modelo de personagem é o incentivo à competição feminina – será que a menina que não tem medo de brigar pelo que acredita deve se sentir melhor do que a menina vaidosa? Em Cabeça de Vento, Meg Cabot aborda justamente essa discussão. A personagem principal, Emerson Watts, é nada vaidosa e gosta de jogar videogames com seu melhor amigo. Depois de um acidente, contudo, ela se vê no corpo de uma supermodelo, a personificação máxima da menina considerada fútil e superficial. A partir daí, a autora constrói a trama de modo a demonstrar que ambas têm seus problemas e nenhuma é superior à outra – mais uma lição valiosa para a pré-adolescência.

e-lockhart
E. Lockhart. Foto: Reprodução.

Quando falamos sobre personagens fortes em livros juvenis, uma das maiores indicações atuais é O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks, da autora E. Lockhart. Frankie é a típica personagem de livros adolescentes: inicialmente, era muito inteligente, mas sofria por ser invisível na escola. Então, ela passa por uma transformação – nesse caso, a própria puberdade – e, além de inteligente, agora é uma das meninas mais bonitas do colégio. Ela começa a namorar o menino mais popular. Mas esses clichês são só o começo da história.

Uma vez no círculo dos populares, Frankie começa a se incomodar com a sua posição social: mesmo sendo bonita e inteligente (supostamente, todos os atributos que uma menina poderia ter), ela nunca é completamente inclusa no grupo. A relação que ela tem com o seu namorado não se compara, nem de longe, ao laço que ele tem com os seus amigos. A trama se torna ainda mais densa quando se descobre que eles integram um clube exclusivo, a Leal Ordem dos Bassês – da qual Frankie não pode participar simplesmente por ser mulher.

20151023_155748
O Histórico Infame de Frankie Landau-Banks, de E. Lockhart. Foto: Reprodução.

De forma leve e envolvente, a autora constrói uma metáfora sobre o patriarcado e a dificuldade de sair da caixinha de expectativas em que muitas meninas se encontram nessa idade – mesmo que ainda não saibam. Frankie, em muitos momentos, fica em dúvida entre questionar a injustiça que observa em seu cotidiano ou manter seu status, pelo qual tanto se esforçou. Trata-se de uma iniciação sutil (ainda que muito eficaz) ao feminismo.

Um outro livro que introduz sutilmente os ideais feministas é Eu sou Malala. Ainda que a garota só tenha sido reconhecida mundialmente após sofrer um ataque do talibã, sua luta pela educação de meninas paquistanesas é longa. Filha do dono de uma escola, Malala sempre teve o apoio da família na sua busca por educação, o que não se aplica a realidade da maioria das garotas do Paquistão. Ao longo do livro ela descreve as dificuldades enfrentadas pelas meninas que queriam estudar e por suas respectivas famílias, que eram constantemente ameaçadas por apoiar algo que ia contra as leis que o talibã impunha. Conforme a história evolui, Malala se questiona cada vez mais sobre a dificuldade do acesso a educação e sobre as diferenças de tratamento entre meninos e meninas.

malala-yousafzai
Malala Yousafzai. Foto: Reprodução.

Lendo “Eu sou Malala” é possível entender o quanto o feminismo é uma construção, não algo que surge da noite pro dia. A paquistanesa que, antes do tráfico incidente, pretendia “apenas” aumentar o acesso a educação das meninas de seu vale e seu país, hoje é a voz da luta pela educação de meninas do mundo todo. Por esses e muitos outros motivos esse livro é um bom caminho para quem quer entender melhor como o feminismo se dá e como ele cresce aos poucos dentro de cada uma de nós, mulheres.

O último livro dessa lista é de Simone de Beauvoir, “A mulher desiludida”. Ele é composto por três contos que problematizam de maneiras muito diferentes os conflitos enfrentados pelas mulheres modernas. O primeiro conto, “A Idade da Discrição”, conta a história de um casal de esquerda que se sente traído pela posição política do filho, muito conservadora. A mãe não consegue perdoar o filho e se sente frustrada por ele não ter se tornado aquilo que ela esperava. O pai consegue perdoar o filho mais facilmente e é ai que Beauvoir problematiza, sutilmente, como os papéis de “mãe” e “pai” são (injustamente) diferentes.

O segundo conto, “Monólogo”, é sobre a solidão de uma mulher em uma noite de Ano Novo. Contrastando duas personagens com realidades completamente diferentes em contos que compõe um mesmo livro, Simone parece nos tentar nos dizer que elas não são tão diferentes assim. Cada uma a sua maneira, as personagens enfrentam conflitos (infelizmente) inerentes ao papel social imposto a mulher. O terceiro e último conto leva o nome do livro e é, de longe, o mais denso. Ele conta a história de uma mulher que descobre que está sendo traída e, por apego ao casamento, aceita a situação. A evolução da história se dá através da degradação da personagem, que se submete a situações humilhantes em nome do seu casamento e da sua família. Simone de Beauvoir nos mostra com esse livro o motivo pelo qual o feminismo era, é e sempre será necessário.

Independentemente do público alvo, a literatura é uma forma muito eficiente de se propagar um modo de pensar – e com o feminismo não é diferente. As obras aqui citadas são apenas alguns exemplos de como a arte reflete a luta e vice-versa.

Por Luiza Missi e Natália Belizario

missiluiza97@gmail.com | nabelizarios@gmail.com

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima