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I Congrefut: Tá na hora de repensar o futebol

Por André Martins, André Romani, Beatriz Gatti, Bruna Arimathea e Henrique Votto Foi realizado, na última semana, o Congrefut, o primeiro congresso de gestão do futebol, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP). A FEA Sports Business (FSB), organização estudantil formada por alunos da própria faculdade, e a Armatore Market + …

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Por André Martins, André Romani, Beatriz Gatti, Bruna Arimathea e Henrique Votto

Foi realizado, na última semana, o Congrefut, o primeiro congresso de gestão do futebol, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP). A FEA Sports Business (FSB), organização estudantil formada por alunos da própria faculdade, e a Armatore Market + Science organizaram o projeto, que contou com diversos nomes importantes do mundo futebolístico, incluindo empreendedores, representantes de clubes brasileiros, jornalistas esportivos, dentre outros.

Durante dois dias de discussões ー quinta (03) e sexta-feira (04) ー acerca de temas que envolvem o futebol desde sua visão como negócio até os desafios da prática esportiva feminina, o congresso apresentou formatos variados, incluindo mesas de debate, painéis e palestras. A iniciativa surgiu do presidente do FSB, Adailton Junior, que assumiu o posto em 2016 e buscou deixar o projeto como legado para a entidade. Ele enxerga nos temas uma possibilidade de debater o futebol de formas diferentes, acreditando no retorno que essas discussões podem trazer. “O que levamos muito em conta para a realização do evento foi o poder de transformação e impacto social do futebol”.        

Gestão, governança e profissionalização

Não só de jogadores vive o esporte. Como o próprio nome do evento sugere, a questão administrativa foi assunto quase onipresente nos dois dias de Congrefut. A presença ilustre de Eduardo Bandeira de Mello, atual presidente do Flamengo, foi o grande destaque do congresso e trouxe brilho ao debate, principalmente porque seu trabalho à frente do rubro-negro é visto como modelo de gestão esportiva no país.

Bandeira criticou a extensa falta de profissionalização na administração dos times brasileiros, com poucas pessoas de conhecimento acadêmico nos grandes cargos. Por outro lado, elogiou os novos agentes do futebol nacional que preconizam boas práticas de gestão e governança, tais como a Lei Pelé, o Profut, o Licenciamento de Clubes da CBF, o Pacto pelo Esporte, e também a LRF Rubro-Negra, uma emenda ao estatuto do Flamengo, promovida pelo próprio presidente, que consolida práticas de responsabilidade no clube.

Eduardo Bandeira Mello, Presidente do Flamengo, foi homenageado com uma placa simbólica (Imagem: Henrique Votto/Jornalismo Júnior)

Antes dele, a mesa de “Governança e Responsabilidade”, mediada pelo prof. Michel Matar (FIA), trouxe um proveitoso debate entre especialistas da área, marcado pelas críticas do ex-CEO do São Paulo FC, Alexandre Bourgeois, ao modelo do futebol brasileiro.  Bourgeois defendeu que o problema é a base do esporte nacional, ou seja, os vários clubes de pequeno porte que continuam reféns do jogo de poder das federações, e que se deve pensar além das 12 equipes de elite. A postura do ex-CEO destoou do espírito otimista dos outros estudiosos da mesa e foi marcante no evento.

Em outro painel, o CEO da Universidade do Futebol, Eduardo Tega, fez questão de ressaltar o ponto da especialização, mostrando uma série de oportunidades de estudo, através de cursos, para quem quer, por exemplo, virar técnico. Pode-se perceber o grande esforço do evento em trazer à tona o debate sobre a profissionalização no esporte, citando várias vezes o licenciamento de times que será feito para a Libertadores do ano que vem.

Marketing e Economia nos clubes

O tema agitou os debates especialmente na quinta-feira. O painel “Valor de Marca dos Clubes” avaliou o potencial comercial das agremiações brasileiras, resumindo-o a três nichos de análise: torcida, mercado e receita. O palestrante Pedro Daniel, da BDO Brazil, ainda levantou a questão da internacionalização da marca, segundo ele, um dos grandes agravantes do abismo atual entre times brasileiros e europeus.

Um pouco mais tarde, César Grafietti, gerente-geral de crédito da Itaú BBA, aprofundou o assunto, com seu painel de “Análise Econômico-Financeira”. O palestrante apresentou estudos econômicos sobre alguns dos principais clubes do país, com destaque para os “modelos” Palmeiras e Flamengo. Ele também constatou que, atualmente, os times brasileiros gastam muito mais do que arrecadam, e que a tendência, com isso, é de acontecer uma seleção natural no futebol nacional, reduzindo o número de agremiações de ponta na modalidade.

Fernando Ferreira, fundador da SportFood, a primeira franquia de restaurantes relacionada a times, discorreu sobre como aproveitar as oportunidades de mercado que o futebol proporciona, algo muito pouco explorado pelos próprios clubes. O  empreendimento começou com uma hamburgueria do Grêmio e expandiu-se para outras equipes brasileiras. O sucesso se dá com restaurantes personalizados e com a busca em integrar a região do clube e sua história aos cardápios. Utilizando estratégias de marketing para conquistar o torcedor, o objetivo é ganhar ainda mais o país e até abranger outros esportes, através dos sabores de cada região e equipe.

Jornalismo Esportivo e o Torcedor

Mediada pelo professor Dr. Ary Rocco, da Escola de Educação Física da USP (EEFE), a mesa composta por Rodrigo Capelo (Época), Paulo Calçade (ESPN) e Maurício Noriega (SporTV) conduziu os congressistas a uma reflexão sobre a função jornalística no futebol. Ao abordar temas como a mudança na forma de falar do esporte e o trabalho dos jornalistas como formadores do conhecimento, o debate ainda contemplou a questão do futebol como entretenimento para os torcedores. Noriega pontuou: “Existe diferença entre entretenimento e o jornalismo que entretém”, afirmando que o produto entregue pela mídia influencia diretamente no consumo do futebol.

Este consumo, inclusive, foi a temática apresentada na palestra “Torcedor – Consumidor”. Quem banca o futebol é torcedor? Ou será consumidor? Ao apontar esse dilema (até onde o esporte é produto?) e a relação econômica do torcedor com seu clube, foram abordados, inclusive, os programas de sócio-torcedor e suas vantagens. O evento proporcionou aos participantes uma nova perspectiva sobre o assunto, levando o público a refletir sobre o seu papel no estádio. Um debate acalorado marcou essa primeira mesa da tarde de sexta-feira. Mauro Cezar (ESPN) e Fernando Fleury (ESPN) discutiram acerca do valor do torcedor ao clube e até que ponto pode considerá-lo como um consumidor da indústria do futebol.

Rodrigo Capelo, Mauro Cezar e Fernando Fleury recebem o certificado do presidente da FSB, Adailton Junior (Imagem: João Victor Escovar/Jornal do Campus)

Futebol feminino e Categorias de Base

Ainda foi possível assistir a debates que foram além da esfera da gestão esportiva, garantindo, também, um espaço para a questão social envolvida no futebol.  Abrindo o segundo dia, um painel sobre futebol feminino discutiu o futuro e as perspectivas da modalidade. A mesa contou com a presença de três profissionais inseridas no mundo do futebol de diferentes formas: Aline Pellegrino, coordenadora do Departamento de Futebol Feminino da FPF e ex-jogadora da Seleção Brasileira; Alline Calandrini, jogadora do Santos FC; e Gabriela Moreira, jornalista da ESPN.

Também foram abordados, durante a discussão, o preconceito e o descaso que o esporte feminino ainda sofre por parte da imprensa e público, e as possíveis alternativas a serem buscadas. Assim, o futebol feminino não é passível de ser vitimizado, mas deve ser alvo de investimento na base, nos familiares e nos espaços, com fins de vencer o desafio cultural e se tornar mais popular.

Os desafios do futebol feminino também foram discutidos durante o congresso (Imagem: João Victor Escovar/Jornal do Campus)

O futuro do futebol brasileiro foi mais um tema do evento. O Diretor da sede de São Paulo do Barcelona, Agustín Peraita, contou como seguem os métodos consagrados das categorias de base do clube catalão, que consistem em manter uma mesma ideologia de jogo para todas as categorias. O projeto está levando uma série de jovens para as divisões de base de diversos clubes brasileiros.

Direito Desportivo e Direitos de Transmissão

O esporte mais popular do mundo também tem suas aplicações jurídicas. As áreas do direito desportivo e dos direitos de imagem possuem grande impacto em questões vitais para o futebol, como em sua profissionalização e na potencialização de seus aspectos financeiros. Os palestrantes afirmam que existem poucas disciplinas sobre direito desportivo no mundo acadêmico brasileiro e que o país, mesmo após sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, continua amador no que se diz respeito ao esporte em sua totalidade.

A banca da palestra sobre direito desportivo defendeu que, para elevar o patamar do futebol no Brasil, é necessário gerir os clubes com responsabilidade. Contratos com emissoras, direitos de imagens, fornecimento de material esportivo e o setor financeiro devem ser administrados e regularizados corretamente, como afirma Heleno Torres, professor de direito da USP. José Chiappin, professor da FEA, finaliza que toda essa mudança na forma de tratamento e de gerenciamento são imprescindíveis para que o Brasil desenvolva infraestrutura e organização interna para deixar de ser fornecedor de “matéria prima” e ascenda novamente à sua posição de prestígio.

O evento também contou com um julgamento do STJD ao vivo e com a presença, no segundo dia, do Diretor de Direitos de Transmissões da Esporte Interativo, Felipe Aquilino. Recentemente, a emissora conseguiu os direitos para transmitir a Liga dos Campeões e está com o projeto de, a partir de 2019, televisionar também os jogos do Campeonato Brasileiro. Para que isso ocorra, é necessário que o EI adquira os direitos de transmissão de mais clubes brasileiros, visto que uma partida só pode ser televisionada se o canal possuir os direitos de ambos os clubes.

Repercussão e perspectivas

Apesar das dificuldades de apoio, o evento obteve grande sucesso e resultados até inesperados para Adailton, que teve de remanejar o local de alguns painéis por causa da quantidade surpreendente de espectadores. Segundo o presidente da FSB, a associação com a agência Armatore Market + Science foi fundamental para a realização do congresso, por intermédio do professor de Gestão do Esporte e dono da empresa, Fernando Fleury. A Liga Paulista de Futsal (LPF) também foi parceira do projeto e sorteou ao público uma bola autografada pelo atleta Falcão ao final do último painel de sexta-feira.

Sobre as perspectivas futuras, a meta é que o Congrefut se torne um evento anual ー a próxima edição está prevista para setembro do ano seguinte, logo após a realização da Copa do Mundo na Rússia. Uma intenção para 2018 é que o congresso conte com stands de empresas parceiras para que possa desenvolver uma integração maior entre os espectadores e os gestores. Dessa forma, o evento seria mais enriquecido, com temas mais diversos a serem debatidos e, também, uma relação mais interativa entre os envolvidos.

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