No camarim, as dançarinas conferiam se as camadas de roupa estavam na ordem correta. Não teriam tempo de voltar e se trocar. Ali, na coxia, entre uma coreografia e outra, acontece um espetáculo a parte. Os bastidores de qualquer apresentação são marcados pela correria e pela emoção, já que o caminho para chegar até ali não é curto, nem fácil. “O palco é a cereja do bolo”- diz Evelyn, uma das dançarinas, minutos antes do espetáculo – “a plateia muitas vezes fica mais curiosa em saber o que acontece aqui, nos bastidores, do que o que acontece no palco.”
Em meia hora, as bailarinas do Grupo de Pesquisa em Dança Contemporânea estarão em cima do palco, fazendo a apresentação de encerramento do espetáculo “Dançando Chico Buarque”. Durante um ano, elas dançaram músicas como “Cálice”, “O que será” e “Vai Passar” nos mais diversos espaços, desde palcos de teatros até praças ao ar livre. Juntar a dança contemporânea, ainda pouco conhecida, com Chico Buarque, ajudou na comunicação com o público, conta Giovana Romero – “As pessoas se interessam por ser Chico Buarque”.
![Bailarinas fazem a marcação de palco. No centro, a bailarina Giovana Romero, com a camiseta de Chico Buarque. Foto: Natália Belizario Silva.](http://jornalismojunior.com.br/sala33_old/wp-content/uploads/2015/07/IMG_3.jpg)
A dança contemporânea é construída a partir da soma de diversas outras danças. Muitas vezes a estética é deixada de lado e a prioridade é a transmissão de sentimentos e ideias. As coreografias não tem tempo contado, como no ballet clássico e, além disso, o perfeccionismo da execução dos movimentos é deixado de lado. Parece fácil, mas não é. A expressão corporal do bailarino é construída gradativamente e os movimentos não devem ser apenas executados, mas sentidos. A dança moderna é parte importante dessa construção, como conta a bailarina Isabel de Mauro – “Durante a nossa formação tivemos que estudar bailarinos de dança moderna, como Martha Graham e José Limón. A partir dessas referências, construímos uma coreografia. Aprendemos de tudo um pouco.” O clipe da música “Elastic Heart”, de Sia é um bom exemplo da expressividade que a dança contemporânea tem.
Dançando Chico Buarque é um espetáculo feito pela Escola Livre de Dança de Santo André, na qual a formação principal é a dança contemporânea, é pública e existe desde 2004. Vânia Ribeiro é administradora financeira do espaço e revela que a Escola passa por dificuldades e precisa de mais investimentos para estrutura física e para contratação de pessoas – “Essa é uma parte que é comum em escolas públicas, tanto as de arte, quanto as convencionais”. Apesar das dificuldades, a escola tem hoje 460 alunos e tem feito projetos de sucesso.
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O professor Luiz Ramos, responsável pelo espetáculo Dançando Chico Buarque, se formou na escola em 2006, em seguida começou a lecionar e nunca mais parou. Luiz conta que teve a sorte de sempre trabalhar com arte, apesar de todas as dificuldades da carreira – “eu me alimento de arte” -, revela o bailarino que também é formado em teatro. O “processo de construção” na arte – como ele diz – começou aos 12 anos, quando Luiz teve certeza de que trabalharia com isso. Sobre a carreira de professor, diz que é uma “troca constante”- “eu acho que aprendo com elas mais do que elas aprendem comigo”. Luiz conta que deixa as bailarinas “com os pés no chão” sobre a carreira artística, mostrando a sua tragetória e as dificuldades que enfrentou.
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Beatriz Gomes está na escola há 8 anos e hoje, aos 16, só não está na formação avançada porque a idade minima de ingresso é 18 anos. Enquanto termina a maquiagem, Beatriz diz que a dança contemporânea difere do ballet clássico por não ser tão “marcado” – “Contemporâneo não tem tempo, não tem marcação, você desconstrói o seu corpo. Você pode simplesmente estar parado em um espaço e estar dançando contemporâneo, dependendo da proposta.”. Muitas vezes a platéia não entende o significado do movimento, confessa Beatriz, mas isso faz parte da desconstrução que a dança contemporânea propõe.
Thaís Wondrak é a única do grupo que pretende seguir carreira como bailarina. Ela conta que tem o apoio dos pais, principalmente da mãe, que não pôde seguir carreira por falta de apoio. A dançarina diz que, no Brasil, a profissão não é tão valorizada – “As pessoas perguntam ‘você dança e faz mais o que?’, não vêem isso como uma carreira.”. A dança contemporânea é mais desvalorizada ainda, concordam as bailarinas, pois muitas vezes as pessoas desconhecem não só a proposta do contemporâneo, mas de danças em geral. Thaís confessa que não sabe explicar o que é a dança contemporânea, já que a proposta é resultado da soma de diversos tipos de dança. Isabel de Mauro completa, dizendo que, durante da formação, elas não aprendem somente a dança contemporânea – “a gente passa por outros tipos de dança, como danças brasileiras.”.
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A dança contemporânea é, portanto, uma construção ainda em curso. Caracterizada pela expressividade e por instigar o público a pensar sobre o seu significado, ela vêm ganhando cada vez mais espaço e representatividade. Em 2014, a cidade de Santo André teve a sua 1ª Mostra de Dança Contemporânea, na qual o grupo apresentou o espetáculo reduzido, apelidado de “Mini Chico”. No segundo semestre, o Grupo de Pesquisa em Dança Contemporânea apresentará um novo espetáculo, ainda em construção.
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Por Natália Belizario Silva
nabelizarios@gmail.com
Adorei a matéria