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‘Para o Lobo’: o livro para os vorazes leitores de fantasia

Releitura de clássicos, a história tem referências interessantes que são bem aproveitadas, despertando a vontade de ler a continuação

“A Primeira Filha é para o Trono
A Segunda Filha é para o Lobo
E os Lobos são para Wilderwood

Para o Lobo, Hannah Whitten p. 4

Inspirado em contos de fadas como A Chapeuzinho Vermelho e A Bela e a Fera, Para o Lobo (Suma, 2022) é um livro dark fantasy que surpreende pela qualidade, mas não pela inovação. A história se passa no universo fantástico de Valleyda, reino assombrado por uma maldição: enquanto a primeira filha da rainha deve subir ao trono, a segunda é enviada para a floresta de Wilderwood, onde vive o temível Lobo. Cem anos após a ida da última Segunda Filha, Redarys atinge os 20 anos e deve seguir a profecia, deixado para trás sua irmã gêmea, Neverah. 

Sozinha, vestida em seu manto vermelho, Redarys chega a Wilderwood carregando consigo alguns livros e o conhecimento de lendas muito antigas, as quais ela não vivenciava a correspondência com a realidade. A personagem procura entender se a floresta significa sua morte e se isso representa a redenção de seu reino diante da maldição. Redarys quer saber que tipo de poder ela carrega consigo.

“À medida que crescemos, queremos recontextualizar as histórias que cresceram conosco; queremos cutucá-las e tentar fazer com que elementos tão familiares se encaixem em novos paradigmas, encontrando partes que possamos carregar conosco. Isso é basicamente o que tentei fazer com Para o Lobo – reconstruir pedaços de contos de fadas, transformando-os de lições desatualizadas em algo útil para mim agora.” 

— conta a autora, Hannah Whitten, em apresentação do livro 
O livro tem muitos trechos interessantes que valem a pena ser marcados por post-its [Imagem: Reprodução/Editora Suma via Amazon]

Muito parecido, mas diferente

Aos leitores de fantasia, Para o Lobo não entrega muitas novidades, mas também não segue os caminhos clichês que costumam tornar todas as reviravoltas esperadas. A inspiração nos contos de fadas, recurso amplamente utilizado em livros da atualidade, como nas sagas As Crônicas Lunares (Rocco, 2013) e Corte de Espinhos e Rosas (Galera, 2015), é uma das partes responsáveis pela situação.  O leitor, já acostumado com esse tipo de adaptação da narrativa, tende a esperar muitos dos recursos utilizados. A própria divulgação do livro ajuda na presunção de alguns acontecimentos, uma vez que o coloca como um romance slow burn – que não é o foco principal – e com a presença de irmãs gêmeas, que despertam a ideia de dualidade.

A maior parte da história é na perspectiva de Redarys, no entanto, há um narrador onisciente neutro que também acompanha Neverah. Alguns capítulos se passam em Valleyda, onde a Primeira Filha permanece sem a irmã, aguardando a hora de subir ao trono. Os capítulos de Neverah são importantes para a história, mas quando comparados aos de Redarys passam a ficar um pouco monótonos, e o desejo é de que passem rápido.

Redarys é uma protagonista agradável, de personalidade forte e motivações muito interessantes, assim como as personagens que conhece ao longo da narrativa, que se destacam pela coragem e paixão. Enquanto isso, Neverah é uma jovem inocente e mimada que, apesar de não ser ruim, não tem um apelo muito grande e não conquista simpatia, o que também acontece com seus parceiros de cena. 

Apesar disso, a obra entrega uma escrita fluida, o que facilita muito a leitura. Livros que se passam em universos fantásticos geralmente são mais densos no início, devido a introdução de um universo com nome e regras de vivência completamente diferentes do habitual. Neste livro, Hannah Whitten consegue imergir o leitor na história em poucos capítulos, fugindo da sensação confusa comum no gênero, o que o torna perfeito para aqueles que não estão familiarizados com as fantasias. 

Parte desse sentimento de entendimento e pertencimento do leitor se dá pela descoberta constante junto com a protagonista. A jovem deixou seu mundo comum para adentrar no desconhecido, um arco clássico da jornada do herói, o que faz com que o leitor descubra e explore os segredos da floresta de Wilderwood junto a ela. 

Uma floresta viva e seu guardião

Wilderwood é uma das gratas surpresas do livro. Não é incomum ver florestas mágicas na literatura, mas, aqui, a conexão com a natureza é, literalmente, sobrenatural. A floresta age como uma entidade, sempre tomando atitudes de acordo com o que lhe é conveniente, então, ela acaba se tornando uma das protagonistas da obra. Unida ao Lobo, Wilderwood é uma lenda que assombra todos em Valleyda, mas é tão importante que não se pode ignorar.

“Nem boa nem má, apenas faminta. E desesperada”
 
Para o Lobo, Hannah Whitten p.240
A qualidade gráfica do livro é impecável, a estética com destaques em vermelho faz dele um tesouro na estante [Imagem: Reprodução/Editora Suma via Amazon]

Quanto ao Lobo, o personagem não demora a aparecer, outro ponto positivo do livro. Assim como na introdução, a narrativa não é arrastada até chegar o momento mais aguardado: a ida de Redarys para Wilderwood. O Lobo está longe de ser o que as lendas prometiam, e sua magia tem a peculiaridade de ser conectada diretamente à floresta, fazendo dele um ser poderoso, mas somente dentro daquele perímetro. 

Para o Lobo tem um desenvolvimento encantador, que segue um ritmo relativamente lento, que se acelera mais para a metade do livro e prende o leitor no curioso e sombrio reino de Valleyda. A obra termina sem uma resolução completa, e sim com um gancho enigmático e de tirar o fôlego para a continuação, Para o trono (Suma, 2023), que chegou ao Brasil em junho deste ano. 

Vale ressaltar que o livro não apresenta classificação indicativa, mas se enquadra na categoria de fantasia adulta e contém cenas de magia com descrições de automutilação, por isso muitos recomendam que a leitura seja feita apenas por maiores de 16 anos. 

Nota final: 4.5

*Imagem de capa: Reprodução/Revelando Sentimentos]

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