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Quando Tudo Estiver Pronto: em busca de respostas e conclusões

Vamos “lavar roupa suja” assim, no meio do teatro? Sim. A peça Quando Tudo Estiver Pronto, dirigida por Isser Korik, é o retrato de uma família contemporânea “lavando roupa suja”, ou seja, resolvendo os seus problemas de convivência e comunicação. Em cartaz no Teatro Folha até 15 de setembro, a comédia dramática segue as consequências …

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Vamos “lavar roupa suja” assim, no meio do teatro? Sim. A peça Quando Tudo Estiver Pronto, dirigida por Isser Korik, é o retrato de uma família contemporânea “lavando roupa suja”, ou seja, resolvendo os seus problemas de convivência e comunicação. Em cartaz no Teatro Folha até 15 de setembro, a comédia dramática segue as consequências da morte banal da jovem mãe de uma família judia que vive em São Paulo. O roteiro simples acompanha os membros desse núcleo familiar e explicita uma série de questões que, embora sejam desencadeadas pela morte e posterior retorno da personagem, têm como ponto central mostrar as nuances das relações interpessoais ali presentes. 

Já de início, o palco é preenchido por um ritmo frenético de diálogos que não comunicam: a avó correndo para todo lado na tentativa de arrumar cada detalhe, o filho lançando a todo momento comentários irônicos, o pai numa constante tentativa de manter as coisas do seu jeito, a tia procurando apaziguar a situação. Mesmo um pouco caricatas, os personagens são eficientes para transmitir a ideia da peça, e é fácil identificar-se com suas atitudes. Não demora para que pai e filho sejam deixados sozinhos, e é aí que se torna óbvia a superficialidade da relação. O ritmo rápido, quase descontrolado, que antes tomava conta do palco, logo é substituído por um silêncio desconfortável e, depois, por conversas forçadas e histórias contadas mais para o público do que de um personagem para o outro.

Até que a mãe retorna. Se está morta, se ressuscitou ou representa uma aparição, não se sabe, e não é de interesse do autor especular isso. O que importa é a incapacidade da personagem de ir embora enquanto não estiver tudo bem resolvido e arrumado. E, embora seja a chave para a comunicação entre os membros da família, a presença da mãe traz à tona vários aspectos da história familiar. Entre segredos, ciúmes, dúvidas e ressentimentos, questões de diversos temas são discutidas e resolvidas. 

A peça discute os limites entre a vida e a morte de forma divertida, com um humor, por vezes, exagerado. Atuações consistentes trazem sinceridade às questões familiares, mas não fica claro se a artificialidade nos momentos de tristeza e raiva é uma opção de roteiro ou falha dos atores. As tradições judaicas permeiam fortemente as primeiras cenas, inclusive com a presença excessiva de termos específicos, que tornam alguns diálogos um pouco confusos para um espectador não familiarizado com o universo judeu. Tais aspectos, contudo, não prejudicam o bom andamento da história e as discussões que o roteiro propõe.

A produção é, na verdade, tradução do roteiro original de Donald Margulies, autor americano. Entretanto, não falha em se aproximar da realidade brasileira, ao trazer aspectos próprios da nossa cultura. Não se pode dizer, contudo, que a peça traz um retrato metonímico da família brasileira. Pode até levantar questões comuns e alarmantes, no que tange à dificuldade de comunicação entre os familiares, mas retrata uma família branca, de classe média-alta, que não representa a realidade geral brasileira. A ausência de atores negros chama atenção, mas é justificável diante da descendência da família fictícia. De qualquer modo, os personagens retratados ocupam o mesmo universo daqueles para quem se apresentam: a classe média-alta paulistana. O preço do ingresso (variando entre R$ 50,00 e R$ 70,00 a inteira), embora mais baixo do que o de muitos espetáculos, é, assim como o local onde se encontra o teatro, dirigido para pessoas com certa condição financeira. Então, mesmo que apresente, em alguns momentos, conflitos reconhecíveis, a peça não é, de fato, o retrato da família brasileira.

Quando Tudo Estiver Pronto parte de uma situação curiosa para abordar questões universais, trazendo um roteiro interessante e leve. Os diálogos de um núcleo familiar, ao mesmo tempo particulares e gerais, podem não constituir um espetáculo de altíssimo investimento, mas são uma boa diversão para um domingo à noite. Afinal, para muitos, domingo é dia de lavar roupa suja. 

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