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Resistir com Arte: feminismo e a infância fora dos padrões

Foi nesta quinta-feira (04/08) o terceiro dia da 1ª Mostra de Mulheres e Cinema, e o debate continuou engrossando com o tema Pra lá das formas prontas: o empoderamento de crianças, gêneros e feminismos. O evento consistiu na exibição de quatro curtas (Fábula de vó Ita, A festa de Joana, Parece Comigo, e Corpo Manifesto), …

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Foi nesta quinta-feira (04/08) o terceiro dia da 1ª Mostra de Mulheres e Cinema, e o debate continuou engrossando com o tema Pra lá das formas prontas: o empoderamento de crianças, gêneros e feminismos. O evento consistiu na exibição de quatro curtas (Fábula de vó Ita, A festa de Joana, Parece Comigo, e Corpo Manifesto), seguido de um fecundo debate com as suas respectivas diretoras.

 Os primeiros dois curtas foram produções para o público infantil. Fábula de vó Ita, de Thallita Oshiro e Joyce Prado, apresenta o empoderamento racial de forma lúdica; narrando, em encantadora animação, a fábula contada por uma avó de família negra à sua neta para que ela aceite seu cabelo crespo de jeito que ele é. Já A festa de Joana, de Kelly Cristina Spinelli e Vera Vasques, trabalha conceitos de homofobia e quebra dos padrões de gênero com a história de Joana, uma menina de 9 anos que gosta de jogar de futebol e brincar com bonecos de super-herói, e que quer uma festa de aniversário com tema de Batman, para o desespero de sua mãe.

 Os últimos curtas foram documentários, explorando de forma mais aprofundada os temas apresentados pelos anteriores. Parece Comigo, também de Kelly Cristina Spinelli, questiona a falta de bonecas com as quais meninas negras possam se identificar, e ao entrevistar bonequeiras especializadas em produzir bonecas negras, uma psicóloga social, e rappers negras (com participação de MC Soffia), aborda a questão da representatividade e da interiorização de preconceitos na infância. Corpo Manifesto, de Carol Araújo, é uma reflexão poética quanto às ondas do movimento feminista, o conceito de gênero, e um grito pela autonomia das mulheres sobre seus próprios corpos, que traz à tona a luta pela legalização do aborto. Conta ainda com entrevistadas ilustres, como a professora doutora Margareth Rago, a cartunista Laerte, e a secretária-adjunta da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Djamilla Ribeiro.

Após a exibição dos filmes, a mediadora Bianca Santana (jornalista, graduada e professora da Faculdade Cásper Líbero, além de doutoranda em Ciência da Informação e mestra em educação pela Universidade de São Paulo) abriu o debate introduzindo as diretoras Vera Vasques, Kelly Cristina Spinelli, Thallita Oshiro e Carol Araújo, e as debatedoras Gabriela Romeu (jornalista especializada em textos sobre a infância) e Helena Bertho (jornalista feminista e subeditora executiva da revista AzMina).

 Logo nas apresentações, ficou claro um consenso entre as diretoras: a importância de programas que estimulem a produção audiovisual feminina. Vários dos curtas exibidos foram produzidos para o Edital Carmen Santos de Cinema de Mulheres, criado por apenas um ano, em 2013. Helena Bertho se mostrou especialmente preocupada com o corte de programas como esse – processo que, em sua opinião, vai na contramão da progressiva democratização da mídia. Na visão das convidadas, iniciativas como esta ultrapassam a função de transformar o ambiente predominantemente masculino do audiovisual, como também servem para fomentar a produção de obras representativas das mulheres, possibilitando que estas contem suas próprias histórias.

 Uma vez que a mesa se abriu para perguntas da plateia, essa ideia pareceu se confirmar, com uma chuva de elogios de mulheres que disseram que se sentiram “representadas” pelos curtas. No entanto, a mediadora provocou: “Nenhuma dessas mulheres negras aí na plateia quer falar que se sentiu impressionada que eu sou a única negra aqui em cima?” De fato: apesar da temática racial de dois dos filmes exibidos, Bianca era a única negra entre as palestrantes, salvo talvez apenas por Thallita Oshiro, de ascendência tanto oriental quanto negra. Quando questionadas sobre isso, as diretoras aparentaram estar bem conscientes do quão problemática essa questão pode ser. Kelly disse ter sentido toda uma variedade de inseguranças quanto à ausência de negros na direção de Parece Comigo, ao ponto de ter tornado Djamilla Ribeiro a supervisora narrativa da produção; para certificar-se de que não tinha exposto no curta preconceitos dos quais ela própria não tinha consciência. Thallita também disse ter uma equipe composta por muitas pessoas negras, além da co-diretora de Fábula da vó Ita Joyce Prado; mas que isso ocorreu espontaneamente – não foi uma escolha consciente. A princípio, o curta teria a intenção de rever os “padrões estéticos que aprisionam as mulheres”, e só depois tornou-se nítida a relevância da perspectiva negra para o filme.

 Interseccionalidade foi a palavra da noite, com falas da plateia que ressaltaram a necessidade de o movimento feminista continuar se ampliando e abarcando todas as diferenças e especificidades entre as mulheres. Ouviu-se a história de uma estudante negra e periférica em seu terceiro ano da faculdade de Cinema, e de uma mulher branca que se aproximou do movimento negro ao sofrer discriminação estudando no exterior. Para esta última, “o feminismo está na moda”, e as mulheres devem aproveitar esse momento para saírem às ruas e reivindicarem seus direitos. Carol Araújo ecoou esse pensamento, porém, apontou o papel também considerável do “feminismo da internet” para a expansão do movimento, e demonstrou sua felicidade ao ver a criação das mais variadas “redes virtuais de acolhimento”. Kelly também disse estar contente por ver a ampliação do debate feminista, e foi além: “Eu quero que isso seja mainstream”. Ela reconheceu o impacto da cultura de massa na juventude e seu caráter formativo, e aposta na remodelagem desse conteúdo para a libertação das próximas gerações.

 Embora a conversa estivesse apenas se esquentando, Bianca precisou direcionar o debate a suas considerações finais. Todavia, ela realmente não acreditava que aquela era uma discussão para algumas horas apenas – pode e deve ser muito maior. A mediadora chamou a finalização do evento como o “fim do começo”, e convocou todos os presentes a continuarem a conversa nas redes sociais.

Programação do ciclo de encontros Resistir com Arte

05/08 – Empoderamento e Raça: o protagonismo da mulher negra na produção audiovisual

06/10 – Mulheres e Dança

Por Fredy Alexandrakis
fredy.alexandrakis@gmail.com

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