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Tássia Reis e Baco Exu do Blues se unem em uma só frequência na Casa Natura Musical

Foto: Léo Lopes / Jornalismo Júnior Com pouco mais de um ano de vida, a Casa Natura Musical já conseguiu estabelecer seu nome aqui em São Paulo pelo capricho da sua curadoria na montagem de seu calendário de shows. No último sábado (18), o Sala33 foi até lá para cobrir mais uma edição do Frequências. …

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Foto: Léo Lopes / Jornalismo Júnior

Com pouco mais de um ano de vida, a Casa Natura Musical já conseguiu estabelecer seu nome aqui em São Paulo pelo capricho da sua curadoria na montagem de seu calendário de shows. No último sábado (18), o Sala33 foi até lá para cobrir mais uma edição do Frequências. Este projeto busca levar ao palco da Casa sempre dois artistas que possuam características em seus sons que dialoguem entre si, para que este encontro possa ser de construção e transformação para o público. A escolha dos nomes para aquela noite foi certeira: Tássia Reis e Baco Exu do Blues.

Seja pela sua carreira solo, seu projeto “Salada das Frutas” com Liniker e As Bahias e A Cozinha Mineira, ou pelo coletivo feminino de hip-hop Rimas e Melodias, o fato é que Tássia Reis, nos últimos anos, vem demarcando cada vez mais seu espaço no rap nacional como uma das maiores artistas que temos. Completar o line-up com o Baco Exu do Blues, que após lançar um dos melhores discos da história – o aclamado “Esú” – se tornou um dos rappers com maior destaque no país, deixou evidente que haveria algo de especial naquela noite.

A versatilidade na voz de Tássia Reis impressiona durante o show inteiro. (Foto: Léo Lopes / Jornalismo Júnior)

Eram pouco mais de 22 horas quando as cortinas do palco se abriram e ficamos diante da Tássia Reis e sua gigante banda de apoio. Quem estava a assistindo pela primeira vez provavelmente foi ludibriado pela sua voz doce e melódica ao cantar o começo de seu último single “Xiu!”. No entanto basta um pouco de atenção na letra para logo entendermos que o buraco é mais embaixo, “Não sabem do que eu sou capaz.” ela já avisava. O show seguiu com “Desapegada”, onde ela abre um espaço maior para apresentar sua rima afiada, a música faz parte de seu primeiro álbum “Outra Esfera” que compõe a maior parte do repertório.

Ao longo da noite, ela ainda aproveitou para lançar mão de todas suas influências para além do rap. Canções como “Good Trip”, “No Seu Radinho” e “Se Avexe Não” revelam suas raízes no soul e R&B aliadas à brasilidades do samba e MPB, a última aliás – seu maior sucesso do último álbum – foi introduzida com o anúncio empolgado de seu aniversário que tinha acontecido recentemente. A constante oscilação entre uma Tássia concentrada e muito ciente da seriedade das mensagens que passava ao cantar, e outra sorridente que interagia o tempo todo de forma descontraída com o público e sua banda, criou um clima intimista e de entrega mútua total que conquistou a todos.

Antes de apresentar “Calma Preta”, ainda brincou com sua amiga Liniker que estava na plateia, ameaçando revelar sua “identidade secreta”. A sensação de fim de show já começava a surgir, então, em um dos momentos mais emocionantes de toda a noite, ela anunciou “I’m Gonna Leave You” com um cover perfeito de Nina Simone. Para encerrar de vez o espetáculo, Tássia ainda fez questão de nos dar o último tapa na cara com “Ouça-Me”, um grito colérico sobre privilégios, e forçar a sociedade a ouvi-la, “Eu tentei falar baixinho mas ninguém me ouviu/ Eu tentei com carinho e o sistema me agrediu/ Então eu grito!”.

Baco Exu do Blues entrega suas canções de forma muito mais enérgica ao vivo. (Foto: Léo Lopes / Jornalismo Júnior)

Mal havia recobrado os sentidos depois da pancada em forma de show – o qual me recuso a classificar como “de abertura” – que a Tássia nos deu, quando as cortinas da Casa Natura abriram novamente para que o DJ Bebezão que acompanha Baco Exu do Blues ao vivo começasse a requentar o público. E foi só começar o sample de introdução de “Abre Caminho”, que o público já se amontoou na beira do palco para ver o rapper mais aclamado de 2017. Quando Baco surge e os primeiros versos enfim começam a ser esgoelados, a energia que atinge o público é tão grande que não lembro de ver uma pessoa que não estivesse pulando.

Muito se engana quem acredita que todo o hype que surgiu ao redor do Baco veio exclusivamente do sucesso de “Te Amo Disgraça”. Não é à toa que é difícil encontrar uma lista de melhores álbuns do ano passado que não inclua o “Esú”, seu primeiro disco. Cada canção que atirava ao público era exaltada como hit do ano e cantada palavra por palavra. Acompanhado também de Shan Luango na segunda voz, a apresentação era uma montanha-russa de emoções. Momentos eufóricos como em “Esú” e “Senhor do Bonfim”, na qual até mesmo formava-se mosh pit no meio do público, eram alternados com momentos mais calmos e afetuosos como na recente “Sinfonia do Adeus” e, logicamente, “Te Amo Disgraça”.

Desde a época que estourou a polêmica música “Sulícidio”, Baco sempre se mostrou um grande reverenciador de suas raízes nordestinas, e talvez a música que escancara melhor isso é justamente a escolhida para fechar o show. Ele ainda pede que todos se afastem alguns passos para formar a maior roda punk da noite, e é só começar a guitarra característica do manguebeat de “Capitães da Areia” para todos se atirarem ao caos ordenado gritando “Somos homens e mulheres livres!”. Quando acaba, faltam forças até mesmo para erguer os braços e aplaudir, se existiam dúvidas se o Baco conseguia empolgar o público ao vivo tanto quanto escutando no Spotify, minhas cãibras argumentam a favor dele.

A empolgação e sintonia entre Baco e Shan surpreende. (Foto: Léo Lopes / Jornalismo Júnior)

No fim das contas fica bem explícita a tal frequência que os dois artistas da noite se encontram para dialogar suas semelhanças. Usando de exemplo alguns versos da Tássia como “De todas as coisas que fiz/ Desobedeci bem do jeito que pude/ Todas as coisas que quis/ Só me vi feliz quando tive atitude”, ou os de Baco “Abre caminho deixa o Exu passar/ Não foi pedindo licença que cheguei até aqui”, vemos dois artistas incríveis que por muito tempo foram compelidos pela sociedade a serem incógnitos, e tiveram que dar com o pé na porta para serem ouvidos. Sorte a nossa que conseguiram.

Por Léo Lopes
leo.lopes@usp.br

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